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- Capitulo 3 – O Cyclizar Estranho na Praia
Juliana mal
teve tempo de vestir algo decente e disparou porta afora. Quem visse aquela
adolescente toda esgadelhada, com um casaco de inverno, recitando canções numa
guitarra, percorrendo as ruas de Cabo Poco naquela tarde quente, diria que a
filha da padeira tinha enlouquecido de vez.
A jovem tinha
que se apressar. Sabe-se lá se os três iniciais já tinham sido engolidos pelo
Cyclizar estranho, onde quer que ele estivesse na sua caçada. O bicho
misterioso rugia alto, e o som ecoava por todos os lados devido ao eco, logo
era difícil de o localizar.
Mais abaixo da
sua casa, Juliana parou numa encruzilhada. Um dos caminhos subia por uma mata até
o farol, outro descia até umas ruas de Cabo Poco mais abaixo no promontório,
terminando numa mansão que ela sempre via fechada desde que se lembrava.
Porém, naquele
dia, achou curioso os portões abertos, mas não fez muito caso, pois tinha outras
prioridades – em situações normais, ela ia por lá o nariz, pois a família rica
que vivia naquela mansão era um mistério para os próprios habitantes locais.
O rugido do
Cyclizar estranho ecoou outra vez, Juliana tinha que se decidir, mas estava
difícil escolher que caminho seguir na encruzilhada. Ainda permaneceu um bom
tempo ali parada no meio da estrada – muito a contragosto – olhando para todos
os lados, envolta numa terrível indecisão.
– Por Arceus…
Por Arceus… Para onde eu devo ir, SENHOR?! Cyclizar estranho, onde estás?... –
dizia ela para si própria, vezes consecutivas e de diversas maneiras, mas com o
mesmo tom desesperante.
O tempo que
ficou ali parada fora o suficiente para apanhar o caminho de uma rapariga que
surgiu de repente, saída da icónica mansão. Esta subiu a estrada numa correria,
indo até ali e parando mesmo ombro a ombro ao lado de Juliana.
Juliana mal
dera pela presença súbita dela. O olhar penetrante da jovem não parava de
encarar Tamar, o pobre Krokorok seguia sua treinadora ao lado de Tolya, a
Sandile.
– Buenas! És a treinadora desses dois? – a
recém chegada questionou-a, apontando para os dois Pokémon que, como se deve
notar, adoram atenção.
Juliana deu um
salto quando notou a voz súbita ao seu lado, mas aquele susto não era mais
aterrador que os urros que se faziam sentir vez ou outra nos ares. A rapariga
de casaco pesado olhou-a de cima a baixo.
A jovem era
alta, muito mais alta do que ela, apesar de ambas terem aproximadamente a mesma
idade. Juliana nunca tinha visto uma outra adolescente com um corpo tão bem
definido como esta. Além do sorriso contagiante, o seu rosto também era marcado
por uma madeixa verde de cabelo. Ela portava o uniforme roxo da Academia
Naranja e Uva, e, de certa maneira, isso lhe dava o ar de uma jovem importante.
Seu braço direito contava com uma espécie de luva ou cotoveleira ortopédica que
subia da mão até o antebraço.
Juliana tinha
um pequeno problema, além de falar os seus pensamentos em voz alta e agir sem
pensar em consequências, ela era péssima a se comunicar com pessoas quando
estava sob pressão. Quando ajudava a mãe na padaria, se reservava sempre no
interior da cozinha e nunca ia atender diretamente os clientes ao exterior,
pois era difícil lidar com a tensão que os serviços de recepção lhe proporcionavam
sobre os ombros. A presença súbita de alguém ali, falando com ela, enquanto ela
se preocupava em procurar os Pokémon perdidos, fê-la serrar os dentes de modo
automático.
– És a
treinadora, de estos peques? –
questionou a rapariga do uniforme da Academia, outra vez, apontando para o
Krokorok e a Sandile após endireitar sua luva. – Vá lá! Responde-me, estou
mortinha por saber!
A recém-chegada
saboreava uma barra de cereais com chocolate, fitando os crocodilos cor de
areia com um brilho intenso no olhar, até ouvir outra vez o rugido que parecia
cada vez mais distante. Juliana estava com pressa, e aquele era o sinal de que
ela tinha que se despachar.
– Oh… Que
pena… Pensava que esse som forte vinha dele – comentou, um pouco decepcionada, apontando
para o Krokorok, quando notou que ele não abria nem um pouco a boca quando o
som alto surgiu.
Tamar fez uma careta, pois sentiu-se ofendido
com as palavras. Ele também era forte e podia provar. A recém-chegada não ficou
intimidada com a cara de mau do crocodilo, e continuou a puxar diálogo da
outra, interessada nesta e nos seus companheiros, já que os mesmos ouviram o
mesmo grito suspeito que ela.
– Deve ser um
Pokémon selvagem bem poderoso a rugir por estas bandas. Não posso perder este
combate!
– Nem penses
nisso! Essa Motoca é minha! – de súbito, Juliana fez uma careta, irritada, mais
feia que a do seu crocodilo de areia. O género de expressão facial desagradável,
que não se dá a desconhecidos quando estes tentam conversar.
– Quero saber
que tipo de Pokémon é! Nadie me detiene
de una buena batalla! – a desconhecida cruzou os braços, com cara amuada.
– Espera… – Juliana
mostrou-se surpresa por ver que a estranha não desconfiava das origens do som.
– Não ouviste falar sobre o Cyclizar estranho que assombra as noites por aqui
ultimamente?
– Eu não estou
dentro dos mexericos de Cabo Poco e Los Platos, amiga – e piscou o olho com ar
provocador, reconhecendo a silhueta de Juliana de cima a baixo. – Por acaso não
és a filha da padeira Haruka? Eu estava mortinha para te conhecer! E porque
estás com esse casaco com tanto calor que está hoje? E já agora, no outro dia
eu fui lá à Padaria Sonhos de Daschbun e…
– AAGHIIAAAAA
– o som súbito quebrou as palavras dela, que, pelos vistos, era alguém que
adorava conversar.
O topo do
farol era visível por entre o farfalhar da copa das árvores mais altas, pois a
altura da falésia onde o mesmo se instalava era muito mais acentuada que a
falésia de Cabo Poco. Juliana julgou, pelo canto do olho, ver um vulto lá,
descendo pela parede como um gigantesco lagarto descendo um muro.
A jovem de
casaco pesado correu então pelo trilho entre as árvores, ao se decidir finalmente
qual das estradas devia seguir, não se despedindo da rapariga que a abordava. O
problema era que a jovem era persistente no que queria, e não aceitou ser
largada assim do nada por alguém tão interessante para ela, que acabara de
conhecer.
– EI! ESPERA
POR MIM! EU TAMBÉM QUERO VER OU LUTAR CONTRA UM CYCLIZAR ESQUISITO OU SEI LÁ O
QUE É! – gritou a desconhecida, correndo atrás da jovem.
– Vai-te
embora! Estou no meio de uma missão importante! – exclamou Juliana, ofegante.
Juliana cansou-se
demasiado depressa durante a sua corrida, estava habituada a sua mãe lhe levar
para tudo o que era lugar montada num Revavroom velho que ela tinha na garagem
da padaria. A jovem desconhecida, nessa questão, parecia mais resistente
fisicamente, como quem estava habituada a andar longas distâncias ou fazer caminhadas
matinais. O peso da guitarra presa às costas e o calor do casaco de inverno também
não ajudavam no fôlego de Juliana, sem falar que ela só comera uma ou duas
bolachas uma hora antes.
– Muchacha, tem calma ou ainda vais desmaiar
– disse a desconhecida, partindo um quadradinho da sua barra de cereais com
chocolate para lhe dar. – Toma, para te dar energia. Vamos sentar e descansar
um bocadinho. Sí?
Ela torceu o
nariz, mas aceitou, pois sentia-se mesmo muito cansada, esfomeada, e reconhecia
seus limites. Observou o local onde se encontrava dentro da mata e procurou uma
pedra cheia de musgo que lhe parecesse bastante confortável. Costumava vir ali
com sua mãe fazer piqueniques ao fim de semana, por isso, já conhecia mais ou
menos os melhores troncos caídos de árvores que podia usar para se sentar ou
como mesa, e as pedras com superfícies cheias de plantas fofas que não
magoassem as nádegas.
O trilho que
subiam era conhecido por Poco Path, e
era a única estrada que ligava Cabo Poco ao restante mundo, apesar do seu
carácter bem rudimentar. A natureza dominava com o cantar dos Fletchling, que,
se não tivessem tanto apavorados com a presença do lagarto alado, inundavam o sítio
com um piar ainda mais musical. Vários Tarountula penduravam-se em teias nas
árvores, alheios ao perigo, enquanto os Lechonk grunhiam vez ou outra, de modo
abafado, em seus esconderijos.
– Amiga, conta
mais ai sobre o Cyclizar estranho ou então vamos a uma batalha! – a estranha pediu-lhe,
sentando-se na rocha ao lado dela.
– Nem penses!
Sei que queres roubá-lo de mim! – Juliana reclamou, e depois olhou para a
barrinha meia comida da jovem. – Tens mais chocolate?
– Queres ficar
com o resto? – questionou, a sorrir, apontando a barra de cereais na direção
dela.
– Estou CHEIA
de fome! – Juliana comentou, com água na boca. De facto, comera pouco,
praticamente nada naquela manhã.
– Okay! Só te
dou quando me contares mais sobre o Cyclizar ou depois de uma batalha!
Juliana
realizou outra careta, então, decidiu chamar por Tolya e Tamar, que andavam a
caminhar de um lado para o outro, como dois seguranças do local, no meio da
estrada mais à frente a ambas. A desconhecida encolheu os ombros, indiferente,
e comeu então o resto do chocolate, já que a filha da padeira se rejeitara ao
acordo.
– Vocês
conseguem arranjar alguma coisa para eu comer? – Juliana pediu educadamente a
seus dois Pokémon.
O Krokorok fez
uma vénia cordial, e a pequena Sandile acenou com entusiasmo, mostrando os
dentes afiados.
Era perigoso
deixar aqueles dois sozinhos com um grande predador à solta, mas Juliana,
apesar de saber que ambos podiam brigar entre si como os dois irmãos que eram,
confiava neles.
E quando o
pedido era um serviço direto para a sua treinadora, pouquíssimas coisas
costumavam dar errado.
O silêncio
instalou-se rapidamente entre ambas as humanas enquanto esperavam por eles. Tamar
foi o primeiro a aparecer, nem durou uns cinco minutos fora do campo de visão.
Numa das patinhas ele trazia uma folha grande em formato de concha carregada de
orvalho, que serviria como bebida. Na outra, uma folha limpa que adotava o
papel de bandeja a vários alimentos muito bem condicionados, que incluíam uma
laranja cortada a várias metades, cogumelos frescos de ar bem apetitoso, e
várias berries silvestres.
– Parece muito
saboroso! Pokémon são mesmo seres inteligentes e incríveis! – a desconhecida
comentou, com espanto. – Depois podemos fazer uma batalha? Por favorrr.
Porquê é que essa estranha só pensa em
batalhas? – Juliana refletiu, em voz alta, sem saber exatamente que aquilo
só estava a começar.
– Que
disseste? – a estranha olhou-a.
Antes de
Juliana responder com seu ar apanhado por comentar os pensamentos em voz alta,
o Krokorok então revelou uma surpresa que a salvara do diálogo constrangedor:
ele trazia suportado em sua cauda uma porção extra da comida, que entregou à
nova amiga de Juliana com bastante apreço.
– Whoa… Obrigado
Krokorok! Mas não precisava! Eu comi antes de sair de casa.
Apesar disso,
o crocodilo insistiu.
A desconhecida
sentiu-se na obrigação de aceitar face a tamanha gentileza, não contava que o
Krokorok gentil arranja-se algo para ela sem ser a ordem da sua treinadora.
Enquanto isso,
Juliana devorava a sua dose como se não comesse nada fazia anos. As berries
eram muito suculentas e estavam a cair muito bem, e, por incrível que pareça,
os cogumelos provaram-se um otimo acompanhamento. Depois de mastigar tudo,
bebeu o conteúdo da folha em pouquíssimos tragos, derramando parte do líquido refrescante
por toda a sua cara.
Quando
terminou, soltou um suspiro longo de satisfação, enxugando as mãos com parte do
casaco, já que ela não trazia nada para se limpar.
– Muito
obrigado, Tamar! – disse-lhe, com um longo sorriso.
De seguida,
segurou sua guitarra. Como agradecimento, começou a cantar para ele, o que foi
uma surpresa bem agradável para o crocodilo.
Crocodilo meu amigo;
Bem-disposto, sempre me servindo;
E é com imensa gratidão;
Com este beijo te ataco o coração!
Logo depois de
Juliana recitar aquelas breves rimas numa canção, Tamar levou com um beijo repentino
na ponta do focinho, o que o deixou completamente sem jeito por tamanha caricia
de sua treinadora.
A desconhecida
soltou uma gaitada com a cena que apanhara o Krokorok desprevenido. Juliana
olhou para ela, segurando a barriga de tanto rir, e depois dirigiu sua atenção
para os alimentos que o Krokorok também lhe dera.
– Vais comer
isso?
A adolescente
da academia deu-lhe a comida, a sorrir, quase sem poder rir mais. Poucos
segundos depois, sentiram um farfalhar enorme, e a pequena Sandile surgiu por
entre os arbustos, com algo na boca.
Tolya não era
tão higiénica como Tamar, sem falar que o que esta deixara na terra aos pés da
treinadora – como um Meowth que caça um pássaro para dar ao dono, deixando-o
acima do tapete – era algo de ar bem duvidável.
A desconhecida
segurava o riso, pois estava prestes a morrer outra vez no meio de uma
gargalhada, enquanto Juliana encarava aquilo: era o resto de uma sanduiche
tirada diretamente de um balde do lixo mais próximo. O pão já estava duro e
bolorento, o seu interior já tinha um ar repugnante, cheirando muito mal de tão
podre que o recheio já estava.
Os olhos da
pequena Sandile fixaram Juliana, desejosos em saber o que ela achava quando a
rapariga segurou no ‘’alimento’’. Era claro que ela ouvira a canção que o
Krokorok ganhara, e imaginou um beijo no final, e isso despontou nela uma
pontada imensa de ciúmes.
– Oh… Hummm…
Obrigada Tolya. Mas sabes, vou guardar isto para mais tarde, não tenho fome
agora que já comi a refeição que o teu irmão me deu, como ele chegou até aqui
primeiro – comentou, torcendo o nariz e guardando no bolso.
Guardou no
bolso pois não queria que ela lhe visse deitar aquilo fora, e o faria mais
tarde, longe do olhar penetrante da pequena Sandile. Apesar disso, Tolya ficou
com um ar tristonho, o que fez Juliana voltar a agarrar a sua guitarra, para a
alegrar, pois odiava ver seus dois amiguinhos tristes.
Dois irmãos de um deserto vieram;
Tão dedicados, tão especiais;
Apesar das diferenças, que os lideram;
São os meus melhores amigos;
Meus amigos mais leais.
E assim, tal
como fizera com Tamar, dera um beijo repentino na Sandile. Apesar de, depois da
pequena crocodilo dar meia volta toda sorridente, Juliana limpar os lábios: uma
coisa era agarrar numa Sandile cheia de farinha, outra era beijar uma Sandile
que andara numa lata de lixo nas proximidades.
–
Como te chamas, muchacha? – a outra jovem
questionou, com curiosidade.
– Juliana –
respondeu ela, mordiscando as berries. Já se sentia mais calma, portanto,
conseguiu ser um pouco mais agradável do que aquilo que fora originalmente no
momento em que se conheceram na encruzilhada. – E, como sabes, eu sou a filha
da proprietária da padaria Sonhos de Daschbun.
– Sabes tocar
guitarra muito bem! E esse português é do
caralho.
A Sandile e o
Krokorok começaram a rir com a imitação barata de Nemona, que não tinha lá
muito jeito para a coisa. De facto, Nemona soltara aquelas palavras copiando o
idioma de Juliana e seu sotaque sem ter bem a noção do significado verdadeiro
das palavras, mas ouvia sempre os jovens da Academia a dizer a expressão, logo,
calculou que não devia ter mal nenhum.
O elogio fez a
adolescente de casaco pesado dar uns acordes breves no instrumento. Pelo menos,
antes de se assustar com o berro que a desconhecida deu no seu ouvido, que
quase a fez cair para o lado.
– ESPERO QUE
SAIBAS COMBATER TÃO BEM COMO CANTAR E TOCAR GUITARRA! Eu chamo-me Nemona, e
desafio-te para uma batalha! AQUI! AGORA!
– Não podes
estar a sério… Certo? – Juliana prendeu a guitarra nas suas costas, com um ar
extremamente sério.
– O Diretor
Clavell falou-me muito bem de ti! Não sabes o quanto eu estava inquieta para te
conhecer! Quero combater contra esses dois crocodilos!
– Nemona… – a
adolescente de casaco pesado saboreou, lentamente, a forma como o nome se
formava na sua língua. – Não podes estar
a sério certo?
– A sério como
assim? Eu sou apaixonada por batalhas! Vamos!
Batalla! Ahora!
– ENTÃO TU É
QUE ÉS A NEMONA?
– A própria,
amiga!
Juliana
encolheu os ombros, quase a choramingar.
– OHH por
Arceus… OHH por Arceus… Porque me fizeste isto… Logo agora que eu os perdi…
– Que se
passa? O que perdeu? – Nemona questionou-lhe, com seu típico ar inocente.
– Os três Pokémon
iniciais do Diretor… – Juliana murmurou o seu pensamento, cabisbaixa.
Não estava
para lhe dizer, para já, mas as palavras saíram-lhe da boca como lhe era usual
em situações assim, e então, explicou parte da situação, ao ver que Nemona
esperava por uma resposta mais coerente.
– O Diretor
veio hoje a minha casa com um Sprigatito, Quaxly e um Fuecoco para eu escolher
um, ele saiu porque recebeu uma chamada importante, e eu os perdi… Eles
fugiram. Não sei para onde foram…
Nemona acenava
com a cabeça, seu sorriso ia-se desvanecendo entre os lábios à medida que
Juliana explicava, entendendo bem o que tudo aquilo significava. Se tinha
alguém que já testemunhara situações do género com o Diretor envolvido, era
ela.
E, pela
expressão dela, ver que a situação ainda era mais séria do que imaginava,
Juliana soltou um:
– Puta madre…
Nemona já
sabia muito bem sobre o Diretor ter ido a casa dela, pois ir à mansão da sua
família também estava nos planos dele, se bem que, diferente da mãe da Juliana,
sua família fora avisada previamente da visita para poderem abrir os portões
frontais do casarão. Neste momento, ainda deviam estar no aguardo, ou o Diretor
já havia cancelado o encontro com um telefonema.
Juliana
continuou a comer a refeição que o Krokorok preparara para Nemona, enfiando os
pedaços de laranja e as berries pela boca abaixo como reação à ansiedade que
sentiu quando notou a expressão facial de terror da sua nova companheira, e que
se traduzia da seguinte maneira: se não os encontrar, teria graves consequências.
– Não se
preocupe. Vou te ajudar! Vai ser num instante que vamos encontrar eles! Vai ser
canja! – Nemona disse, após retornar sua compostura, toda sorridente.
Naquele mesmo
instante, um som alto, como uma explosão, inundou o ar.
– O que foi
isso? – Juliana arrepiou-se com o som súbito, quase se engasgando com os
alimentos que consumia.
Ela passava as
últimas noites a caçar o Cyclizar estranho nas praias de Cabo Poco, o que por
vezes lhe proporcionou uns momentos bem assustadores e avistamentos de coisas esquisitas,
principalmente coisas que outras jovens faziam na socapa da noite às escondidas
dos adultos, mas nunca tinha sentido nada igual em sua vida.
O som
aterrador foi como algo grande a se partir em milhares de estilhaços.
– Acho que
veio do farol – Nemona apontou por entre as árvores, e, por sua vez, também
tinha seus sentidos despertos.
Não se via
nada e muito menos cheirava a fumo, mas, tal como a jovem que a acompanhava,
Juliana achou algo estranho na inclinação do topo do edifício, como se, pouco a
pouco, as vigas que o suportam estivessem a inclinar a torre para o lado.
Pessoas que
nunca tivessem olhado para o farol não encontrariam muita diferença. Talvez,
ambas estivessem apenas a imaginar coisas. Mas não estavam. Principalmente para
Juliana, que conhecia bem o farol e o via quase todos os dias, a ligeira
inclinação na estrutura era uma diferença tremenda para a imagem que ela estava
habituada a ver marcada na sua rotina.
Juliana,
engoliu tudo de uma vez só e voltou então à correria, atrás do seu objetivo,
com Nemona atrás de si e com a Sandile e o Krokorok lado a lado.
Quanto mais corriam
na direção do farol atravessando o trilho de terra batida entre as árvores de Poco Path, mais rápido tentavam ser, pois,
o que avistaram ao longe não era flor que se cheira-se.
Quando ambas chegaram,
pararam, então, no meio do terraço do miradouro, abismadas, olhando a torre de
cima a baixo.
Parte frontal
da base do farol encontrava-se destruída.
Dava para
notar entre os destroços uma mesa de jantar, secretárias, cadeiras, um frigorífico,
um sofá e um amontoado de computadores e maquinaria pesada despedaçados,
faiscando, em perigo de curto-circuito. Foi como se uma bola de demolição
tivesse penetrado por um quarto dentro, deixando apenas duas paredes do
interior e pouco mais em pé.
Era claro que
o que havia atingido aquela área não era uma destruição causada por uma
explosão qualquer. Se o impacto tivesse sido maior, podia ter derrubado o farol
completamente, mas as paredes e o telhado que restara ainda conseguiam suportar
bem a torre.
– Afasta-te! Acho
que o farol pode ruir a qualquer instante! – Nemona avisou.
– Mas o que…
Quem foi que decidiu fazer isto?... – Juliana foi com a mão à boca, chocada,
por ver a base da estrutura danificada.
Para Nemona, o
farol destruído não tinha o mesmo tipo de impacto que tinha em Juliana, que se
lembrava de o ver erguido desde sempre. Era apenas uma parede, mas mesmo assim,
ainda era chocante ver um grande elemento da sua infância com a base naquele
estado. Sua mãe a levava até ali todos os fins-de-semana, e subiam sempre o
farol até à varanda que circundava o seu topo para avistarem a paisagem. Foram
inúmeros os por do sol assistidos e os momentos felizes passados ali em cima.
Ela respirou
fundo procurando se acalmar, enquanto Tolya e Tamar lamentavam ao seu lado,
pois os dois crocodilos também tinham uma afeição muito grande àquela torre.
Por precaução,
a adolescente viciada em batalhas foi com a mão ao bolso para agarrar numa
esfera bicolor, dando alguns passos em frente, mas ainda mantendo uma distância
segura.
Uma marmota,
cujo o pelo era de tom de laranja bem claro, saiu do raio de luz da esfera. O
topo da sua cabeça tinha um tufo de cabelo, as bochechas eram amarelas,
enquanto a boca, cauda e os dedos de suas patas rechonchudas eram bege. O
Pokémon tinha uma expressão energética, pronto para ajudar.
– Pawmo.
Consegues absorver ou redimensionar a electricidade para evitar um incêndio e
danos maiores? – Nemona questionou, apontando para as faíscas que saiam dos
cabos de electricidade quebrados que pendiam no local da parede derrubada, e
também dos fios já encontrados no chão, todos cardados.
O Pokémon
esfregou as patas frontais nas suas bochechas, produzindo electricidade na
palma das mesmas como se estas fossem um desfibrilador. Era sinal que aceitava
o desafio!
Correu para o
interior do quarto e agarrou nos fios sem problemas, absorvendo a electricidade
que corria nos mesmos graças a umas almofadas amarelas que existiam na palma
das suas mãos. Depois colocou-se na rua. Com uma das patas fincava os fios, e,
com a outra, apontava na direção do céu, desferindo com pouco esforço várias
descargas eléctricas que ressoavam como trovões. Enquanto realizava o serviço,
o Pokémon parecia mais vivo, graças à sua habilidade, o Volt Absorb.
– Parece que alguém
quis assaltar o quarto do pescador e derrubou a parede. Será que tem alguém
ferido? – notou Nemona.
– Pescador?
Isso não é a casa de um Faroleiro? – Juliana questionou-lhe, confusa.
– Não parece
nem um nem outro. Mas melhor não irmos ver lá dentro, podemos correr perigo. Mas
vamos ver se alguém se feriu por aqui. Talvez foi obra dos Pokémon do Diretor…
– Precisamos de
chamar as autoridades – Juliana sugeriu, com a voz trémula. – Não podemos
deixar o farol assim!
– Autoridades???
Pffff… – Nemona olhou para ela, a rir – Para quê autoridades se… SE O MUNDO ME
TEM A MIM! O que quer que tenha causado isto não pode ter ido longe. HORA DE UM
POUCO DE AÇÃO! – depois encarou o seu Pokémon marmota – Pawmo, aguentas aí mais
um bocadinho?
O Pokémon
acenou, entusiasmado, desferindo outro trovão que cortou o céu.
Era claro que
Juliana tinha sangue de fofoqueira correndo em suas veias, e, apesar do seu
medo, não hesitou muito naquela ideia maluca de Nemona. O mais correto a se
fazer era sim chamar as autoridades e explicar o ocorrido, pois a zona estava
instável para os visitantes recorrentes que ali vinham, mas a caça ao Cyclizar
podia ficar comprometida se isso acontecesse.
O bicho estava
perto, muito perto, e ela sentia-o, apesar de não saber bem como nem o porquê.
Nemona corria
pelos arredores do farol em busca de culpados ou vítimas, olhando o arvoredo e
espreitando para as praias e rochedos pontiagudos lá em baixo entre a falésia e
o mar, enquanto Juliana tentava espreitar vagamente o que restara do interior
do quartinho.
Apesar dos
avisos da companheira de que era perigoso, ela tomou uma aproximação maior dos
escombros. O Pawmo continuava na sua tarefa com perícia, e parecia preocupado
em ter a humana ali tanto perto dele, mas não podia abandonar o posto, por
isso, procurou se conter e desferir pouca carga eléctrica de cada vez.
Mesmo com todo
o perigo eminente que aquilo transmitia, Juliana sempre teve interesse em saber
o que se podia encontrar dentro daquele quarto. Era o tipo de curiosidade que
alimentava desde a infância, pois o quarto sempre esteve ali, tão perto mas tão
inalcançável, e ela nunca o vira por dentro, portanto, perdera a conta das
vezes que o seu eu criança deixava a imaginação viajar quando o farol recebia
visitas suas.
Umas pedrinhas
e fios de areia caiam vez ou outra da parede de cima, por isso, Juliana tinha
noção que tinha que ter extrema cautela se decidisse subir os destroços e
entrar lá dentro – ou, pelo menos, dentro do que restava do quarto.
Olhou para
aquele amontoado de entulho, reconhecendo o que eram alguns dos equipamentos de
cozinha, mas antes de avançar mais em direção a maior perigo e notar os
documentos e computadores entre os escombros, avistou parte da porta de madeira
daquele quarto, com o seu vidro partido.
A superfície
estava cheia de marcas de garras enormes, lascas foram arrancadas da tinta e da
madeira, deixando a porta num estado irreconhecível. A jovem passou os dedos na
sua superfície, analisando a profundidade de um dos enormes arranhões.
– Acho que
estamos a lidar com um Cyclizar mais perigoso do que aquilo que eu pensava,
amiguinhos – comentou ela para sua Sandile e seu Krokorok.
Daquela dupla,
Tolya parecia mais entusiasmada com tudo aquilo, enquanto Tamar reprovava a
aproximação de Juliana o tempo todo, e procurava puxar sua treinadora para a
zona de segurança. Para sorte do Krokorok nervoso, aquela pequena exploração
nem durara uns cinco minutos, pois Nemona chamou por eles pouco depois.
– Juliana! Crocodilos
fofos! Achei algo estranho! Tem algo ali em baixo, na praia! E fica avisada,
amiga… TU. VAI. A D O R A R!
Juliana
apressou-se a ir até ela, já imaginando do que se tratava a partir do momento
que ouvira o ‘’tu vai ADORAR!’’.
Nemona
encontrava-se a poucos metros mais abaixo na falésia, além dos limites da
vedação. Uma das estradas de Poco Path
formava ali uma bifurcação, enquanto um dos caminhos dava acesso direto ao
farol, o outro descia por uma encosta que não dava a lugar nenhum, pois se
tratava de um beco sem saída numa área mais restrita do miradouro. Uma baía bem
estreita existia lá em baixo entre as paredes altas, contando com uma pequena
praia de areia branca. Pelos vistos, não existia maneira de descer até lá,
sendo o local apenas acessível por mar.
– Segura no
teu Rotom Phone, eles podem manter-te segura se caíres aqui sem querer, mas
presta atenção ao passar por estes penhascos de qualquer das maneiras! – Nemona
sugeriu, e assim ambas fizeram. – E… Ta-ta-tachán! E ALI ESTÁ ELE!
Nemona apontou
para a direção exata, e Juliana seguiu o dedo indicador desta. A jovem de
casaco pesado encarou então a criatura encarnada que se encontrava deitada no
meio da areia. As duas andaram ainda mais em frente no caminho, para analisar o
Pokémon um pouco mais, bem em cima dos limites que a geografia do local lhes
permitia.
Desde que
iniciara a caçada àquela criatura, fora a primeira vez que Juliana o via em
pleno dia.
E, por isso,
fora difícil conter-se de tão especial que o breve momento fora.
– É O CYCLIZAR
ESTRANHO! É O CYCLIZAR ESTRANHO! – Juliana começou a gritar de entusiasmo, mas
depois parou para prestar atenção aos detalhes – Mas ele parece… Diferente. Ele
era muito maior e tinha uma cabeça grande cheia de penas enormes!
A criatura
ainda era grande, mas parecia menor em comparação ao que Juliana avistava nas
noites anteriores. Parte da cauda do Pokémon estava mergulhada na água do mar,
e nem as ondas frias embatendo nas suas patas traseiras o faziam acordar
daquele sono profundo.
– Ele parece
ferido e fraco… Coitadinho! – Juliana murmurou, um tanto decepcionada.
– Olha! Ele
não está sozinho! – Nemona notou. – Temos que o ajudar! E depressa! HORA DE
BATALHA!
Um pouco mais à
frente, estavam dois pontinhos negros no meio da praia, indo na direção da
criatura ferida. Os dois cães de pelagem negra eram muito menores do que o ser
ali deitado, mas, apesar do tamanho, tinham uma expressão de pouquíssimos
amigos. No topo da cabeça, os Pokémon portavam uma espécie de crânio, enquanto duas
costelas de osso desciam por seu lombo. A pelagem encarnada do focinho e da
barriga destes cães os deixavam com um ar ainda mais intimidante devido ao
contraste de cor que o efeito trazia.
– São Houndour
– Nemona analisou. – Mas o que eles estão a fazer aqui fora? Pelo que eu sei eles
não costumam sair das cavernas profundas que existem por aqui no litoral. E
pelos vistos também não são amigos dele.
Quando prestou
atenção a essa visão mais detalha, o entusiasmo de Juliana sobre e Cyclizar
estranho fora substituído por um tremor da cabeça aos pés.
Finalmente
tinha encontrado o seu maior tesouro, mas o mesmo contava com um pequenito
elemento extra que ela abominava.
– Aquilo s… são…
Cães!? – Juliana recuou um passo.
– Sim, Juju,
uns perritos! – Nemona sorria
enquanto dizia, depois de endireitar os cabelos da frente dos seus olhos – No se preocupe, eles são fofos depois de
amestrados. Mas primeiro precisamos de lutar contra eles! HORA DE BATALHA, YAY!
– Eu tenho
medo de cães, Nemona – ela disse, ainda a tremer. – Muito medo.
– Mas é só uns
perritos…
– Nemona, por
favor, tenta não brincar com a minha fobia.
– Oh… Tens
fobia a cães? – questionou, com surpresa. Era sempre bom aprender curiosidades sobre
alguém que se acaba de conhecer, e isso deixou Nemona com um certo gostinho de
‘’quero mais sobre Juliana’’ na boca.
– Eu… Eu… Eu
não sei como vou ajudar ali o meu amigo – Juliana observou, com os olhos fixos
na dupla negra que se aproximava cada vez mais do Cyclizar caído. – Eu não consigo me aproximar de cães. Chegar
perto do Dachsbun da minha mãe já é uma vitória.
– Tem calma,
amiga. Estou contigo. Sou das melhores treinadoras nestes lados! Confia! Vais
ficar a salvo dos perritos. E já
agora, posso continuar a te chamar Juju?
– Sim,
podes?... – Juliana acrescentou a pensar, um pouco avermelhada, depois voltou a
observar o Cyclizar, sem tirar os malditos Houndour da cabeça.
– Okay… Então
vamos a isso! Juju! Esses dois sabem escavar? – a jovem viciada em batalhar
questionou, dando umas pancadinhas nas costas do Krokorok, que se encolheu todo.
Nemona mal podia aguentar em finalmente ver aos dois em ação. – Será que vocês
acham seguro escavar aqui em cima um túnel que podemos usar para descer até lá
abaixo?
Tolya e Tamar
entreolharam-se. Não era uma má ideia, e eles podiam arriscar.
Os dois crocodilos
de areia foram assim os primeiros a descer a encosta, indo na direção do
Cyclizar estranho. Não tiveram dificuldades na descida, pois, como Pokémon do
tipo Ground, conseguiram fincar bem
suas garras no solo e escavar um túnel que descesse até lá abaixo. Ambos recorreram
a uma técnica conhecida como Dig para
fazer essa proeza, que utilizaram de forma conjunta.
Quando a dupla
saíra por um buraco no promontório, botando os pés na praia, não contavam era
com o que iria ocorrer a seguir.
Os Houndour estavam muito próximos do
Cyclizar.
Rosnavam
intensamente e suas bocas espumavam de raiva. Quando a dupla de cães estava
prestes a desferir um golpe para atacar o pobre lagarto moribundo, o mesmo usou
o resto das suas forças para erguer a cabeça para cima, rugindo na direção dos
dois enquanto mostrava os dentes afiados.
Foi o mesmo
rugido que Juliana ouvira durante todo aquele dia, e o mesmo durante os últimos
tempos, mas, devido à proximidade e força toda que o mesmo fora solto, o som
era mais intenso do que nunca.
O Cyclizar deu
tudo de si naquele rugido.
Um rugido
enorme de sofrimento.
Aquela parede
da falésia estava fragilizada devido ao túnel dos crocodilos, e, de súbito,
cedeu parcialmente devido às vibrações de tamanho grito de desespero.
Nemona ainda
conseguiu notar as fissuras se formando debaixo dos seus pés bem a tempo de
recuar e correr até ao outro lado da estrada, onde ficaria em segurança. Mas já
Juliana… Essa não teve assim tanta sorte, sendo arrastada junto com a avalanche
de pedregulhos até a praia lá em baixo.
Os Houndour,
assustados com a queda súbita da parede, fugiram para o interior de uma gruta
nas proximidades. Tolya e Tamar correram para socorrer a treinadora, mas graças
a Arceus – ou a aviso prévio de Nemona – Juliana segurara seu Rotom Phone bem a
tempo, pois o poder de levitar do Rotom que habitava o objeto ajudou-a imenso a
amparar a queda longe do local onde as rochas caíram.
Juliana encontrou-se
então de ombros encolhidos, em pé. Atrás de si uma nuvem de poeira abaixava
lentamente, revelando enormes pedregulhos que a podiam ter atingido e soterrado
em cheio.
– Juju! Estás
ok? – Nemona gritou para ela lá de cima. – Não estás magoada, pois não? Eu não
me perdoaria se visse a minha mais recente nova amiga magoada!
Juliana piscou,
sentindo o seu próprio coração a disparar. A primeira coisa que fez foi
procurar olhar ao redor. Não existia sinais dos cães além das suas pegadas na
areia, o que foi um alívio enorme que ajudou-a a recuperar bem daquele tremendo
susto.
Depois,
encarou Nemona e todas as paredes altas que circundavam a baia, enquanto se
certificava que a sua querida guitarra não fora danificada.
– Estou bem,
sim! – respondeu-lhe, enquanto dava um ou dois acordes, não por querer tocar –
encontrava-se demasiado apavorada para isso – mas porque ela amava mesmo aquela
guitarra e não descansaria sem saber se ela estava em condições ou não.
– Graças a
Arceus! Fiquei mesmo preocupada se tinhas morrido!
Era arriscado
escalar e usar os poderes de Tolya e Tamar para subirem, pois podiam provocar
outra derrocada de tão instável que aquelas paredes parecia ser. Também era
perigoso ir a nado até outra praia dos arredores, pois a corrente forte podia
arrastá-los para longe da costa e ela não era lá muito boa nadadora.
Sua nova
preocupação foi solta nas seguintes palavras:
– Como eu vou
sair daqui?
– Amiga, estás
preocupada em sair daí? – Nemona disse num tom um pouco alto, para a se
certificar que a outra ouviria – Não eras tu que querias caçar um Cyclizar
estranho? E o ajudar? Aproveita que o bicho está inconsciente e ajuda-o
primeiro! Está no papo!
– Mas… E se
eles voltam…
– Voltam o
quê?
– Se aqueles Houndour
voltam!
– Voltam nada!
O teu bicho predilecto está ali a sofrer! Como é que tu o chamou? Motoca? Isso!
Motoca! Vai até a tua Motoca e deixa o resto comigo! Vou procurar alguma outra
maneira para te ajudar a subir a falésia. Talvez a gruta que tem ai em baixo
tenha uma entrada aqui em cima que podemos usar.
– Tu queres
que eu entre ali dentro? – Juliana começou a suar frio, imaginando a enorme
matilha de Houndour que poderia estar a repousar no interior da gruta,
espreitando a cada esquina das suas profundezas.
– Não tem
outra maneira. Amiga… E é só uns perritos!
– E é só uns perritos!… – imitou a voz
dela. – Para ti é fácil dizer… – Juliana resmungou para si própria, pois,
naquele instante, Nemona já desaparecera de vista à procura de alguma outra
gruta que pudesse usar para ir a seu alcanço.
Enquanto isso,
a pequena Sandile foi a primeira a se aproximar da enorme criatura que
repousava na areia, cheirando-lhe as narinas. O Krokorok puxou-a para trás pela
cauda, com medo de o grande bicho os considerarem um perigo e se defender, tal
como fizera aos Houndour.
Juliana pensou
nos dias todos que ansiava imenso por aquele momento.
Todas as
noites em branco que passara correndo atrás dele entre a penumbra, o
observando, forte e saudável, a correr e a voar pelas praias, saltando de
falésia a falésia, escalando precipício a precipício, comendo lixo… Mas
disfrutando e alimentando cada vez mais do seu título de lenda de Cabo Poco e
Los Platos.
E agora, ali
estava ele, ferido e inofensivo, quase a desmaiar.
Porém… Todas
as lendas um dia acabam sempre por ser esquecidas, como uma estrela a se
apagar.
Juliana não ia
mentir, sentiu-se um pouco triste de se aproveitar daquela oportunidade e o
capturar logo sem o ver dar mais luta, como se preferisse continuar a disfrutar
da visão que era tê-lo em liberdade, o perseguindo e o espiando a destruir os
jardins dos vizinhos e atordoando os Pokémon de Los Platos e Cabo Poco.
Juliana
aproximou-se devagar.
Ajeitou o
casaco de inverno, indo com a mão tremula ao bolso. Foi ai que se apercebeu
que… Esquecera-se completamente que saíra de casa sem suas Pokéballs vazias!
Não se sentiu decepcionada, até parecia que estava a adivinhar um inconveniente
destes.
Respirou
fundo, e ajoelhou-se ao lado dele.
A criatura
tinha uma cabeça enorme, e Juliana analisou o brilho das pequenas penas que
cresciam no topo, maravilhada. Encontrava-se a uns míseros centímetros dele, e
sentia o coração palpitar de tão emocionante que o momento estava a ser. A
criatura emanava um calor surreal.
– Eu
diverti-me imenso a correr atrás de ti estes dias, amigo.
O Cyclizar
elevou um pouco a cabeça, abrindo os seus olhos brilhantes de forma lenta e
demorada, na direção da rapariga, fazendo-a derreter-se. Naquele preciso
momento, ela esquecera-se por completo dos cães da praia, da queda que teve na
falésia, do farol com a parede destruída, dos três Pokémon perdidos que
buscava… Enfim, de todos os problemas que os ares moviam ao seu redor.
Só estava ela,
e aquele maravilhoso ser, no mundo inteiro.
Por breves
instantes, Juliana sentiu-se num paraíso.
– Gostas de
música? – Juliana perguntou, de súbito, e tirou a correia das costas, segurando
a sua guitarra com firmeza ao peito.
Sem esperar
por resposta, estava tão inspirada pela energia do momento que deixou-se levar,
e começou a tocar algumas notas, sem melodia cantada.
Notas baixas e
melancólicas, como uma canção simples de embalar.
Uma melodia que
não precisava de letra para ser bela.
– … Agia?… – A
criatura sacudiu a cabeça, fazendo um breve barulhinho doce como reação ao som
que saia do instrumento.
Isso fez
Juliana soltar um grande:
– ÉS TÃO
FOFINHOOO! – Comentou, num guincho, se derretendo toda.
Tanto Tolya
como Tamar temiam que o bicho atacasse. Juliana foi com a mão devagar na
direção do focinho dele, pois mal continha ansiedade em lhe tocar nas escamas
(bem macias, por sinal) e abraçar aquela cabeça grandona, enchendo de beijos,
abraços e caricias de todo o tipo possível.
Sua face foi preenchida por um enorme sorriso ao ver que o bicho lhe cheirou os dedos e se deixou tocar na ponta do focinho. O Cyclizar não tinha sinais de representar perigo algum, o que foi um alívio para os crocodilos, que se aproximaram de forma mais relaxada.
Rapidamente, a
rapariga envolveu-o num abraço ainda mais demorado e apertado.
– Como será
que eu te vou chamar? Rei Alado?... Motoca?... – comentou, entre algumas
risadas, enquanto deixava a enorme criatura cheirar-lhe a face e lamber-lhe a
bochecha.
O Cyclizar
continuou a lamber a cara de Juliana, vezes consecutivas. Ele fazia um esforço
para esticar o pescoço, pois não conseguia se levantar.
– Eii! Para
com isso! – comentou ela, entre gargalhadas, pois o Cyclizar não a largava de
maneira nenhuma.
Apesar do ‘’para’’,
Juliana queria que aquilo durasse para sempre, se bem que o Cyclizar era muito
maior que um Cyclizar comum, e ele quase a derrubou para o lado quando lhe fez
aquilo.
Algum tempo
depois, ele deitou-se para baixo, mostrando a barriga. Juliana atacou-lhe com
mais carícias no peito, e enquanto as fazia, começou a encontrar marcas de
ferimentos e dentadas, tanto na barriga como nas patas do dragão.
– Tadinho… Deve
doer, não é? Eu vou cuidar muito bem de ti! Vou-te levar para casa, dar-te um
banho, e a mãe vai ajudar nessas feridas e…
O Cyclizar foi
com o focinho á roupa dela, puxando pela área do bolso do casaco.
– Não puxes! –
pediu-lhe, a rir, mas não conseguiu dizer um não a parecer zangada, de tanto
que estava a amar a ousadia do bicho. – NÃO! Isso não! Vais rasgar-me o casaco!
Era tarde
demais, os dentes afiados penetraram no tecido, fazendo um rasgão enorme de
onde o dragão removera uma sanduiche.
A sanduiche
podre e bolorenta.
A mesma que
Tolya lhe tinha dado à meia hora atrás.
– Olha o que fizeste!
Rasgas-te o meu casaco! Por causa disso? Não queres comer isso?!... Não queres,
pois não?... – Juliana disse, observando atenciosamente os movimentos do grande
Pokémon encarnado.
O Cyclizar
estranho deixou a sanduiche cair na areia à sua frente.
Olhou para
Juliana, lambendo os lábios escamosos.
A face tão mimosa
do Pokémon para a humana era como um grande agradecimento pela refeição. Tolya
sorria imenso por saber que ele queria a comida dela, enquanto Tamar afastou-se
devagarinho com ar enojado, perturbado por imaginar que a treinadora ia levar
aquele grandão para casa.
– Amigo, vais
ficar intoxicado se comeres isso… – mas quando a humana deu o aviso, era tarde
demais.
O Cyclizar
arrancara a sanduiche da areia e a engolira toda sem mastigar.
A jovem recuou
mais, tal como o Krokorok, num mesclar de nojo vinda daquela visão. E a Sandile
deu um pulo, por ver que finalmente alguém a compreendia e gostava do que ela
fazia. Apesar da situação repugnante, sentiu um alívio grande por ver o dragão
recuperando suas forças em poucos instantes, já que agora ele conseguia pôr-se
em quatro patas sem esforço – algo que não parecia possível minutos atrás.
Começou a
sorrir, imenso, por ver que ele estava bem. Muito bem.
Pelo menos,
antes de notar que o bicho começara com náuseas.
O Cyclizar
estranho soltou todo o seu almoço no meio da praia. Juliana recuou antes de
apanhar com algum respingo de vómito.
Depois de
vomitar tudo o que tinha para vomitar, sacudiu o corpo todo, olhou para Juliana
com ar triunfante, passou por ela, lado a lado, e caminhou até a entrada da
gruta dos Houndour, onde ficou encarando a escuridão imensa e sinistra que se
podia notar no interior.
A humana
permaneceu, imóvel, observando todo o lixo que o dragão vomitara à sua frente.
– Parece que
ele estava maldisposto porque só quer comer… – Juliana murmurou, decepcionada,
pensando que o Cyclizar já se tinha ido embora. Por sorte, não ficara suja, de
tão próximo que o dragão soltou aquilo tudo dela.
O vómito
lembrava mais um amontoado de entulho do que outra coisa. Papéis, sacos, ervas
e folhas de árvores, e rochas eram visíveis em maior quantidade entre os restos
de comida. Não era de admirar o enorme ser estar deitado na praia, mal
disposto, com tamanha quantia de porcarias que ingeriu aqueles dias todos.
Mas Juliana
viu um movimento estranho, não dentro do vómito, mas próximo dele, o que a fez
agarrar sua guitarra com força – não por a querer tocar, mas para conseguir
controlar sua ansiedade face ao que via.
Ali, as suas
desconfianças sobre o sumiço súbito dos Pokémon do Diretor confirmaram-se.
Uma pequena
Sprigatito, com imensa dificuldade, saiu de um buraco que existia bem no sítio
onde o dragão estivera deitado, chegando-se perto de uns sacos de plástico, atordoada
e ofegante, procurando apanhar ar.
Se Juliana não
tivesse notado a aproximação da gata vinda do buraco na areia, e só a avistado
quando a mesma parou perto dos sacos de plástico, pensaria que esta teria sido
engolida inteira pelo Cyclizar, que a tinha regurgitado viva logo a seguir.
Correu até a
gatinha, lhe acariciando as orelhas. Apesar de não ter sido expelida, a pequena
gata encontrar-se, obviamente, ferida, e muito mal tratada.
Foi uma sorte
grande ela a ter encontrado viva. E graças a Arceus que o buraco a salvou de
ter sido esmagada pelo peso do enorme dragão. Juliana encarou a superfície da
areia, as marcas davam a entender que o dragão escavara um buraco fundo de
propósito para a proteger de alguma coisa. Ou então era uma tentativa do
lagarto de enterrar o almoço para consumir mais tarde, depois de ficar
bem-disposto.
De qualquer
forma, o que realmente acontecera já não era tão importante, agora que a
gatinha ficaria a salvo, e que a humana estava mais próxima dos outros dois Pokémon
perdidos.
– Se tu
estavas aqui… Então, sabes onde estão o Quaxly e o Fuecoco?
A gata estava
demasiado apavorada para lhe responder, tremendo de uma ponta a outra, com o
pelo todo eriçado.
Juliana notara
que uma das patas estava ferida, com sangue, e, quando analisou melhor, reparou
ser um tipo de dentada muito semelhante à que existia no corpo do Cyclizar.
Uma dentada de
Houndour.
Infelizmente
não tinha nada para curar as feridas, por isso, tomou a Sprigatito nos braços,
a envolvendo no seu casaco. Ter um casaco grande deu-lhe jeito neste momento
crucial, pois limpou o máximo que conseguiu do sangue da gata com uma das pontas
e a envolveu no conforto da outra.
Depois elevou
o corpo e olhou para trás.
O Cyclizar
ainda estava ali, de costas, mas a fitando, como se esperasse por ela.
A criatura
começou a brilhar, recuperando totalmente as suas energias. Seu corpo
modificou-se, ficando mais robusto, igual ao das silhuetas que Juliana avistava
nas noites todas que o perseguia. A coroa de penas da sua cabeça realçava-se à
luz do sol, junto com uma cauda vasta que chicoteava de um lado para o outro,
pronto para desferir um golpe cortante. O dragão agora tinha um ar bem mais
ameaçador, e não tão fofinho como antes quando estava deitado e fraco por cima da
areia.
A criatura
rugiu na direção da gruta, confiante, e deu umas passadas em frente até ficar
ainda mais próximo da entrada.
Juliana tentou
o seguir, mas suas pernas tremiam imenso, pois ali dentro encontrava-se o lar
de um dos seus maiores medos.
– Não queres
que eu entre ai dentro, pois não?
O Cyclizar
sacudiu a enorme coroa de penas, como se a incentivasse, e o som das penas embatendo
entre si ecoou pelas paredes e inundou a praia. A humana depois encarou a
gatinha ferida em seus braços, voltando a desviar a sua atenção para a entrada
escura entre os rochedos da falésia.
Chegou logo a
conclusões.
Conclusões que
ela não gostou nada de descobrir.
– Os outros
estão ai dentro, não estão?... – a pergunta que lhe inundou o pensamento, saiu
mais como uma certeza do que uma questão.
Engoliu a seco.
Se queria
ajudar a Sprigatito e salvar os outros do perigo eminente, tinha que entrar ali
dentro.
Juliana recuou.
Abominava a ideia. Não aceitava. Preferia ficar ali na praia a observar o mar e
esperar pelo retorno de Nemona do que entrar no buraco húmido cheio de cães.
Mas depois pensou nos pobres Pokémon do Diretor que não tinham culpa de nada e
que podiam virar jantar.
Pela expressão
do Cyclizar, como se lhe lesse os pensamentos, não existia tempo a perder.
O Cyclizar soltou
um enorme rugido outra vez, tão alto, intenso, e apavorante, como o seu último.
A Sandile
correu atrás do Cyclizar, que entrou em passos pesados, pronta para ação. O
Krokorok empurrou a treinadora, com todas as suas forças, na direção do
interior, antes desta levar com os enormes rochedos em cima, pois a parte de
cima da gruta começara a se desmoronar.
Outra parede
instável, frágil ao rugido do grande Pokémon. Por sorte, desta vez Juliana
notara a tempo o perigo que corria e deixou-se levar para onde Tamar a guiava,
cerrando os olhos e encolhendo os ombros.
Tossiu um
pouco ao respirar a poeira. Encontrava-se no meio do bafo da gruta, quando,
depois de muito tempo, tomou coragem para voltar a abrir os olhos.
O Krokorok
agarrava sua mão com bastante firmeza, lhe dando apoio, e a Sandile esfregava o
corpo no pé da treinadora, como forma de a encorajar a seguir em frente ao lado
deles.
Vai ficar tudo bem, Lady Juliana. Estamos
aqui! – foi a energia que o olhar atencioso do Krokorok lhe transmitiu.
Vamos a ação! Sim? – a pequena Sandile
abriu a boca, assoprando envolta de entusiasmo.
Atrás de si, a
única entrada que conhecia tinha sido bloqueada por uma derrocada. Uma pequena
fissura deixava claridade passar, mas era difícil e perigoso escalar as rochas
para passar por ela até o exterior.
Não tinha
volta a dar.
Juliana deu
umas caricias nas orelhas da Sprigatito, depois ajeitou melhor sua guitarra. O
Cyclizar estranho esperava por ela, metros à frente, com uma pose feroz capaz
de encorajar o mais cobarde dos humanos.
Não existia
mais nenhuma opção do que seguir em frente.
A humana
engoliu em seco, mais uma vez.
Ainda tinha
esperança de Nemona aparecer no virar da próxima esquina, mais à frente na
gruta, para a salvar daquilo tudo, já que Nemona parecia uma treinadora
corajosa e muito mais experiente, capaz de domar qualquer perrito que surgisse no caminho.
– Vamos então.
Quanto mais rápido sairmos daqui, mais depressa voltamos para casa.
Respirou fundo,
tomando coragem para iniciar então a caminhada na direção dos Houndour.
E começa a caçada da Juliana em busca dos iniciais perdidos. Pela cara que a Nemona fez, se o Clavell descobrir o que aconteceu a coisa vai ficar feia pra novata!
ResponderExcluirFoi legal demais ver essa interação inicial entre a Juliana e a Nemona. Elas são tão opostas que combinam perfeitamente! É aquele equilíbrio bem interessante entre duas personagens que você percebe que já tem uma química logo de cara. O jeito extrovertido da Nemona pode ajudar a Juliana a superar aos poucos suas próprias inseguranças, de modo que acelere o desenvolvimento e amadurecimento da protagonista.
E por último, mas não menos importante, já temos um novo traço da Juliana descoberto aqui: sua fobia a caninos! Você conseguiu trazer muito bem a sensação de alguém que possui uma fobia. Não ficou forçado, e ainda assim passou com clareza tudo que a Juliana estava sentindo nessa situação. Você está conseguindo trabalhar muito bem a personalidade dos personagens humanos, estão tão boas quanto as dos Pokémons!
Mais um ótimo capítulo, Shii!
Até a próxima! õ/
Se a Nemona está boa, é graças a si, senhor Sombrinha O Revisor magnifico! kkk
ExcluirAinda sinto muito a dificuldade em personalidades, por isso estou a tentar um cuidado extra, principalmente nos Capítulos seguintes. Ainda sinto que estou a descambar vez ou outra em algumas partes, mas praticando eu chego lá.
Minha regra numero um da fobia e timidez da Julie é evitar deixar isso um alivio cómico, estou cansada de ver as pessoas tratando esses problemas como tal. Admito que já cometi o erro (várias vezes, até) no passado, e por vezes eu ainda entro na ratoeira, mas estou a ver se mudo meus padrões.
Muito obrigado pelas palavras gentis! E todo o apoio! É sempre importante contar com ele! Fico muito feliz em saber que tenha gostado. Agora só esperar para ver se Julie consegue passar bem na Inlet Grotto. Com todo o nosso apoio, tu consegue, Julie! Vamos a isso!
Oi, Oi Shii!
ResponderExcluirEu não sei se essa coisa do desaparecimento dos starters é algo game, se for, está realmente muito legal e tem os meus parabéns, já se não for, lhe dou o dobro dos parabéns para a criatividade, de uma maneira ou de outra, está tudo perfeito.
Porque eu digo isso?
Porque a busca pelos iniciais perdidos se relevou ser um elemento crucial para o desenvolvimento da trama, e a introdução da fobia da Juliana em relação aos caninos acrescentou ainda mais profundidade à personagem, deixou ela muito mais humana e até me aproximei mais da personagem porque quando era pequeno já tive medo de cães kkkk.
Nemonaaaaa, adorei a maneira como está trabalhando com ela, e a sua visão sobre a personagem. A interação entre as duas, Juliana e a Nemona, também foi bem escrita e divertida, com um equilíbrio interessante com personalidades opostas, posso dizer opostas?
Enfim, ótimo capítulo e estou partindo para o próximo.
Não faz parte do jogo, no jogo tu desce Cabo Poco com os starters atrás do rabo até a casa da Nemona, e na casa da Nemona eles meio que ficam explorando o jardim da mansão. Ai eu pensai: e como seria se eles se aventurassem mais cedo e acabassem desaparecendo por causa disso? É que eles pareciam bem agitados kkk Eu precisava daquele toque na história que ajudaria a levar a Julie a encontrar tanto a Nemona como o Koraidon.
ExcluirAfinal nem todas as histórias das fanfics tem que seguir o jogo não é mesmo? Anyway, Obrigado pelo comentário Welfie!