Archive for janeiro 2023

Depósito de desenhos - Floresta do Grafaiai #03

     Técnicas utilizadas: Papel e Lápis, alguns coloridos digitalmente no Paint tool Sai

        Sobre os desenhos: Primeiros desenhos feitos da Juliana, como também para ilustrar páginas do blog.

Desenhos Aleatórios




Notas da Autora #01


 O desenho das personagens foi feito em 13 de Janeiro de 2023, no meu aniversário. Fui movida pelas palavras de um colega de trabalho que me disse ''Aproveita bem o teu dia.'' e então decidi praticar desenhos e rabiscar qualquer coisa, saiu isso, só para tentar ser produtiva. Dá para notar que foi só um aquecimento por o desenho estar bem inconsistente no traço.

Já o outro, Juliana versão Chibi, para ir mantendo sempre ilustrando as notas no final das Notas da Autora dos Capítulos. Pretendo ir alternando de vez em quanto.

Notas da Autora #01 - Prólogo e Capitulo 1


    Depois de um mês desde que abri o blog ao publico, finalmente cheguei com o Prólogo e o Capitulo 1 da Fanfic! Peço imensa desculpa pela demora, mas queria jogar primeiro e encontrar o estado de espirito certo para escrever o Capitulo 1. O Prólogo eu já tinha escrito à um bom tempo atrás, antes de jogar o jogo, mas precisava de saber a história do jogo e fazer  o Capitulo 1 primeiro para conseguir enquadrar num contexto mais adequado.


    Tenho o blog à mais de um mês, não queria publicar só o Prologo sozinho que só tem umas 3 000 palavras, e eu sempre gostei de publicar Prólogos junto com o Capitulo 1 como se fosse uma espécie de pacote extra, já que o Prólogo costuma ser uma introdução pequena e bem deliciosa. Então os dois Capítulos chegaram!

    Alguns talvez vão ficar surpreendidos por os Capítulos se encontrarem com ilustrações. Ilustrar já era algo que eu tinha na cabeça à muito tempo, mesmo que alguns dos desenhos não fosse perfeitos (muito pelo contrário, tem deles horríveis, eu sei kkk). Se eu quero escrever e publicar um livro ilustrado, tenho que praticar, então decidi deixar a preguiça de lado e dar meus primeiros passos para isso. Já é um bom começo, não acham? A partir de agora vou tentar fazer sempre algo para praticar e ir mantendo a produtividade.

    
    Quem me conhece sabe que eu não sou fã de romance. Portanto, espero que gostem do dia que eu me lembrai de escrever ROMANCE kkk


    As minhas origens criativas para a escrita do Prólogo foram bem interessantes, e, como não sei bem o que escrever mais nestas Notas iniciais, será o que por agora irei desbravar. Para começar, eu escrevi este Prólogo de rajada numa noite depois de ficar inspirada. Eu não escrevia à vários dias e ''záss'', acabei madrugando nesse dia. Foi uma noite bem louca. Depois adicionei pouca coisa, aqui e ali sempre que ia reler o texto. Não sei o que vocês acham, mas é um dos meus melhores trabalhos em nível de escrita nos últimos meses.


    A parte final deve ser uma das partes mais recente do Capitulo em termos de escrita. Eu o escrevi antes de mandar para meu revisor junto com o Capitulo 1. Ao Sombrinha - Autor de Aventuras em Hoenn - agradecimentos especiais, não sei que macumba ele faz mas os Capítulos depois de passarem pelas mãos dele ficaram ainda melhores. Antes o Prólogo só acabava quando a Sada dizia seu nome e era isso, mas achei que precisava de um final melhor, que relembrasse que a história é um romance recém publicado como decidi enquanto escrevia o Capitulo 1.


    Um rascunho inicial do Prólogo contava com uma cena final descartada onde  a Sada lia um livro ao seu filho,  Arven, semelhante a uma cena do filme de animação da Disney, Planeta do Tesouro (amo esse filme e essa cena, não me julguem, me inspira sempre). Decidi cortar essa parte, deixando bem em aberto quem seria o autor do romance. Foi também esse o final que me fez usar o Arven como protagonista do Capitulo 1, (re)escrevendo em outro contexto.


    Sobre a ideia do Prólogo em si: Para a minha base de inspiração principal na altura, utilizei um facto interessante de uma quest do jogo Pokémon Legends: Arceus. A quest em questão chama-se Traces of a Lost Village, onde diz que um membro da Guilda Ginkgo tem descendência de uma civilização antiga em Alabaster Icelands. Não utilizei a história indicada na mesma quest (que tem relação com Snorunt), mas serviu de referência para um background sobre as possíveis origens da Guilda, já que é a família do Santiago, um dos meus protagonistas futuros da fanfic. O Santiago protagonizou o Oneshot que utilizei para concorrer à vaga da região. Em breve pretendo dar uma polida e publicar por aqui no Blog esse Capitulo, não se preocupem.


    Então, imaginei, num antigamente muito distante, uma seca enorme que tenha sido o gatilho para famílias saírem de suas casas, começaram a se relacionar com outras trocando comida e abrigo para sobreviverem. Assim a Guilda fundou-se.


    Sempre imaginei que os restos de civilizações que se encontram por Hisui eram parte da velha Ransei, ou seja, a ‘’Pangeia’’ do mundo Pokémon, que foi a Região que eu escrevi antes aqui na Aliança. Assim, podemos considerar o Prólogo como uma espécie de ''transição'' minha como Autora de uma região para outra, pois no fundo, comecei a escrever este Prólogo a trabalhar com ambas as regiões ao mesmo tempo (apesar de agora desconsiderar isso na história da fanfic).


Um desenho com Juliana e Santiago, que fiz pouco antes de escrever o Capitulo 1.

    Sempre quis usar qualquer coisa com os Ginkgo fora de Hisui, e dar um toque especial meu a essa Guilda na tal Oneshot. O Prólogo começou por ser uma maneira de dar sentido à família do Santiago. Uma das referencias mais marcantes que deixei a essa ideia fora a folha da árvore. Palavras e nomes usados com relação a Hisui/Ransei foram removidas, para entregar a ideia de a Sada vir de um passado desconhecido e assim não tocar muito mais em outras regiões além de Paldea.


    Além de Legends Arceus que foi um jogo que adorei de inspiração, também me inspirei em lendas de amantes e lendas de amores proibidos, muito típicas de Portugal, isto inclui a lenda portuguesa do milagre das rosas e a lenda portuguesa das amendoeiras em flor, para dar um toque mais ‘’Paldea’’. O final era para ter uma referência maior a essas lendas, mas preferi a forma como terminou assim.


   Naquela altura eu não sabia nada sobre a história dos jogos, como já referi, mas eu via os rumores mencionarem um amor proibido sobre um casal que vive em linhas temporais diferentes. Ou seja, que Sada e Turo eram um casal. Acontece que os leaks se referiam era a eles serem pais de Arven (já que nunca são vistos juntos dentro do jogo).


    Bom, eu vou me arranjar para adaptar o verdadeiro significado do Prólogo mais tarde, tenho uma mão cheia de ideias que parecem promissoras, além disso, fanfics não precisam ser 100% fieis ao jogo. O que farei será consoante as ideias e inspiração me permitirem. Vários rascunhos foram feitos e descartados, mas cheguei a um bom caminho por onde começar graças a eles!

    

    Sobre o Capitulo 1, por muito que eu ame este jogo e suas História, tenho sempre um pouco de sal para alguns dos seus elementos. Um que não faz lá muito sentido é o Koraidon/Miraidon e Arven em Cabo Poco, pois o jogo não explica exatamente como Arven tem em mãos o Pokémon. Fui pegando em umas coisinhas que os diálogos do jogo indicam mais tardiamente, tentai fazer uma correção e adaptar à minha própria maneira esse encontro, como também as motivações que levaram o Arven até ''sua aventura''.

    

    Foi bem refrescante trabalhar com Arven, não era propriamente a personagem que eu queria usar para iniciar a fanfic, mas as coisas foram fluindo com natureza e adorei o resultado. Também consegui um pouco de espaço no meio das cenas para a nossa protagonista, que apareceu na sua caçada ao Cyclizar estranho. Próximo Capitulo em principio terá mais dela. Muito mais, e dos seus Pokémon.


Até a próxima!

Capítulo 1 – A Visita ao Farol




– Não acredito que eles tornaram a história da professora Sada num romance piroso – comentou um garoto, com reprovação – Botando uns bichos imaginários à mistura.


– A Sada não aparece na midia faz anos, eles tinham que lucrar com alguma coisa em nome dela – comentou outro jovem, na mesa do café das proximidades.


Um rapaz carregado com uma enorme mochila, descia a rua, cabisbaixo, acompanhado somente por um Pokémon cão de pelagem escura, de uma espécie conhecida por Mabosstiff. Era um dos poucos por ali que não tinha um livro daqueles em mãos.


Apesar de Los Platos ser uma vilazita pacata, quase insignificante, no meio do nada a sul de Paldea, as palavras do mais famoso Best-Seller do ano já chegaram às suas ruas, trazidas pelos alunos da maior Academia da região que por ali viviam.


A partir do momento que o livro fora publicado e tornara-se sucesso de vendas, o rapaz se apercebera que os seus dias de descanso estavam contados. E a chegada do novo livro sensação do ano a Los Platos significava que agora o descanso acabava mesmo oficialmente.


– Além de piroso, tem essa treta toda de passado e futuro, ainda por cima, já não basta levar com isso nos trabalhos da escola – debochou um dos alunos, com o livro na mão, esfolheando-o. O título Passado, Presente, Futuro era o nome gravado em sua capa encarnada, em longas letras douradas.


– Então se não gostas porque ainda estás lendo essa porcaria? – provocou uma outra rapariga, das poucas que não tinha os olhos no seu próprio exemplar.


– Eu sei lá, eu sei que não passa tudo de ficção, mas… Mas tem aqui qualquer coisa que… – e calou-se de súbito, quando notou o rapaz de mochila amarela e seu cão descendo a rua.


Por onde ele passava, as pessoas eram mesmo assim, paravam de falar normalmente como de costume, e começavam logo na troca irritante de olhares e sussurros desconexos, por isso, ele sentia um certo nível de pressão em cima dos ombros, o que aumentava seu olhar sério sempre que acontecia. O rapaz deu uma dentada numa berry que trazia, com ar insatisfeito. Até mesmo o Mabosstiff adotava outra pose, partilhando o mesmo sentimento do dono.


Essa pressão só não era pior que a presença de um certo grupo de jovens em específico, estes utilizavam fatiotas bizarras, tais como capacetes cheios de glitter e óculos de sol em forma de estrela. Era um grupo de adolescentes rebeldes formado à cerca de um ano, após uns certos problemas entre os jovens da Academia. Mas estes seres enfeitados como estrelas deviam ser os piores entre todos os adolescentes de lá. Os adolescentes normais, ou se distanciavam, ou dirigiam apenas olhares tortos com as bocas caladas.


Já aqueles, diferente dos demais, sempre que viam a oportunidade certa, tentavam abordá-lo da forma menos educada possível.


E ele odiava esse incómodo.


O Mabosstiff deu uma pequena latida, baixa o suficiente para seu dono só ouvir o sinal. Graças ao aviso soturno do seu Pokémon, o rapaz notou então um desses tais jovens, a espreita-lho ao longe, na esquina da rua mais abaixo, se preparando para uma emboscada, expondo seu capacete ao sol e fazendo-o reluzir como uma estrela toda cheia de mania.





Soltou o ar num suspiro muito prolongado, acelerando o seu passo e começando a formular algum plano na mente para evitar interagir com aqueles tristes. Hoje não estava mesmo nos seus dias, não tinha disposição nenhuma para os aturar outra vez.


A pior parte de passar por Los Platos para chegar a Cabo Poco – outra vila localizada no meio do nada mais a sul de Paldea, – era mesmo essa, aturar aqueles adolescentes malditos, pois, infelizmente, Los Platos era um dormitório infestado por estudantes infelizes que não conseguiam um quarto na grande Mesagoza, – a maior cidade de Paldea que abrigava a Academia Naranja e Uva.


– O melhor do livro é o Diretor Clavell dando uma de pesquisador importante no final do primeiro Capitulo – Comentou mais um jovem, com uma gargalhada irónica, sentado na esplanada do único Centro Pokémon de Los Platos, mesmo ao lado do local onde estava o maldito ser com capacete cheio de glitter.


De facto, este jovem conversava com ele, e, pelas vestes, pertenciam ao mesmo grupo arruaceiro.


– Sim, desde quando o velho diretor é assim tão heróico? – o tal adolescente, em questão, concordou com o companheiro.


Apesar dos seus passos rápidos, e não estar nada interessado em receber spoilers daquele maldito livro, seus ouvidos captaram algo deveras interessante: finalmente passava por jovens que não abaixavam o tom da conversa.


Mas logo lembrou-se: entre tantos, era uma quantidade insignificante… E de que valia essa dignidade se eles pertenciam àquele tal grupo.


O rapaz do capacete esquisito já estava a meio da rua, a escassos centímetros de si, pronto para puxar conversa. Mabosstiff deu um desvio para debaixo da mesa da esplanada sem ser percebido, e mordeu a perna do jovem que esfolheava o romance lá sentado.


Este soltou um pequeno ‘’ai’’ que fez o outro desviar sua atenção e atende-lho.


– O que foi?


– Alguma coisa mordeu-me! – e olhou para debaixo da mesa, o outro fez o mesmo.


– Mas não à nada aqui.


Entretanto, o rapaz de mochila amarela aproveitara a brecha de distração que o mesmo estava a ter no diálogo com o outro e dera uma corrida, contornando o Centro Pokémon pelo pátio de uma casa das traseiras e voltando à estrada através do outro lado, com o cão negro correndo atrás de si.


– Ei, viste para onde aquele puto foi? – comentou o jovem ao amigo, completamente atordoado pelo sumiço repentino da pessoa a quem ele tinha olho. Também devia estar confuso por não ter descoberto a origem do tal ‘’ai’’.


– Não… Não vi ninguém…– Respondeu-o, sem tirar os olhos do seu livro enquanto esfregava a mão na perna para aliviar a dor da mordida – Hasta la Vistar, a quem quer que fosse…


Arven não era um aluno com notas lá muito excelentes na Academia. E muito menos era um escritor ou autor afamado, mas tinha a impressão que o mundo voltara a o tratar dessa forma a partir do instante que aquele romance fora publicado.


Ser filho de uma pessoa famosa não era nada fácil.


Agora, em segurança, já ultrapassava a ponte pelo pequeno riacho que banhava as proximidades de Los Platos, se dirigindo para o grande farol distante no litoral. Por ali a caminhada era agradável. As árvores ofereciam uma sombra refrescante, e o aroma do mar se intensificava consoante a chegada ao seu destino.


O cão negro farejava o ar. Não estava se certificando se existia algum perigo à espreita, pois aquele trilho era sempre seguro. Apenas procurava algum Skwovet de ar delicioso que pudesse perseguir, ele adorava brincar com aqueles esquilos gulosos.



Ao fim de cerca de trinta minutos de caminhada, as árvores começaram a se dispersar ao longo do trilho, até uma estrutura elevada se erguer no topo de um promontório. O bom tempo e o sol brilhante banhando as águas do mar que se estendiam em todo o horizonte de Cabo Poco eram sempre um aspeto bem convidativo aos habitantes locais, que subiam o grande farol para receberem aquela bênção de Arceus.


Portanto, a primeira coisa que fez mal chegara, foi se certificar se estava, ou não, sozinho. Para isso começou por se atender ao silêncio. Quem ia até ali tinha o costume de ser bastante barulhento, um barulho que ecoava por todos os cantos, e parecia mais intenso que os grunhidos dos grupos de Lechonk que por ali existiam na mata. Depois olhou para o chão, os jovens eram pouco higiénicos e deixavam sempre qualquer papel, lata de refrigerante, ou qualquer outra coisa de ar duvidável pelo passeio da rua em vez do interior dos baldes do lixo. Por último, subiu o farol, só pela certeza se existia mesmo alguém lá em cima fazendo qualquer coisa na calada. Até mesmo o cão negro ajudou na tarefa, dando umas corridas nos arredores e inspecionando locais na orla do promontório onde era demasiado perigoso o seu humano ir.


Mas nada. Estavam completamente sós, então, o rapaz tentou ser o mais rápido que pode.


Foi com a mão ao bolso e tirou uma chave, que encaixou com perfeição na fechadura de uma das janelas que existia na base do farol, mesmo ao lado da escadaria que ia para o seu topo. Confundia-se como janela, por ser idêntica à janela do outro lado da parede, mas era, na verdade, uma porta de madeira velha, cujas cascas de tinta caiam aos montes pelo chão.


A porta estava dura, e, depois de destrancada, só se abriria com o auxílio de um pequeno empurrão.


A maior parte das pessoas que passavam sobre o sítio (que facilmente passava despercebido), achavam que era um simplório quarto de algum pescador, onde se guardavam varas ou linhas de pesca. Ou então pertencia ao faroleiro, e era onde este depositava todo o material relacionado à manutenção do farol.


Sim, já fora em tempos ambas as coisas, mas agora… Era algo… Algo mais.


Depois de investir, mais uma vez, seu tronco inteiro contra a porta, conseguira abrir a mesma por completo. O ar húmido e empoeirado fê-lo espirrar diversas vezes. Arven apressou-se a fechar a porta para não chamar a atenção de ninguém depois do seu Mabosstiff entrar. Foi então abrir a janela que estava virada para o mar, deixando os raios de sol penetrarem o quarto e a maresia purificar o sítio por inteiro com o seu aroma salgado.


O local era bem escuro, apesar da janela aberta com as cortinas arredadas. A única luz artificial existente era a de uma quantidade exorbitante de computadores ligados a um gerador próprio que se acumulavam ao lado de livros e documentos soltos numa grande secretária. Aquela parte do quarto era como uma grande sala de pesquisa privada, daquelas desarrumadas, que não eram usadas fazia anos. O quarto também tinha uma pequena cozinha, casa de banho e camas numa zona à parte.


Era um sítio muito pequeno e simples, mas tinha tudo o que era essencial para duas ou três pessoas viverem com seus Pokémon. E, se tudo fosse bem limpo, ficaria com um ar mais acolhedor.


O rapaz agradou-se com essa súbita ideia mirabolante. Pousou a sua mochila amarela em cima da mesa da cozinha, prendeu o cabelo comprido num rabo de Mudsdale, arregaçou as mangas e pôs mãos à obra na faxina do local, enquanto o seu Pokémon dormia numa cesta cheia trapos, demasiado pequena para ele nas proximidades do sofá.


Arven varreu o chão, lavou o chão, limpou o pó, sacudiu os tapetes, aspirou o sofá, lavou e mudou os lençóis das camas, limpou o frigorífico, deitando fora restos de comida estragada que estava para lá acumulada, e repôs com alimentos frescos que trazia no interior de sua grande mochila. Só não organizou melhor a papelada da secretária e os computadores pois achou que era melhor não tocar muito mais neles, os deixando assim, como ela sempre pretendia.


Sentou-se no sofá, atirando o corpo para trás, depois de terminar seu serviço. Já era o final do dia e o sol, baixo no horizonte, se preparava para o início do crepúsculo. Mabosstiff bocejou, e aproximou-se devagar, deitando-se aos pés do jovem. Ele deu-lhe uns biscoitos saborosos para Pokémon que removera do bolso.


– Talvez seja desta… – murmurou ele para o Pokémon, que pareceu responder num pequeno latido após sentir os dedos do humano roçando em seu lombo.


O quarto estava completamente diferente do estado degradado pelo qual este se encontrara antes. Estava mais fresco, novamente habitável, e o rapaz apreciava sua obra-prima, satisfeito.


Finalmente reconhecia a cara do seu antigo lar.


Naquele dia, não soube bem o que o moveu a voltar ali e fazer aquilo, pois, depois de se mudar para os dormitórios da Academia, se voltava ali uma vez por ano já era muito. Ele sempre teve um pequeno problema a pensar em organização, germes e sujidade, o que o levava a limpezas constantes no seu quarto na Academia de Mesagoza.


Como o livro fora um sucesso, o nome da sua mãe estava novamente nas bocas do povo de Paldea, talvez ela voltaria até ali. Talvez voltasse até ele, e o abraçaria e agradeceria por manter aquele pequeno cantinho tão especial limpo e arrumado após tantos anos.


Mas, tal como ele já imaginava… Ninguém que ele queria apareceu por ali nas semanas seguintes e nem apareceria nos meses vindouros…


Tal como todas as modas, o mal vinha e logo passava num piscar de olhos, portanto, agora que o livro já não era tão comentado e caíra no esquecimento algures nas prateleiras de alguém, Arven se preparava para selar novamente o local por tempo indeterminado.


Não iria por lá os pês outra vez assim tão cedo. Não valia a pena continuar a esperar por quem não aparecia.


Se ela não voltou naquela altura, não iria mesmo voltar mais.


Fez uma limpeza superficial, para pelo menos deixar uma ou duas coisas em condições antes da saída. Se bem que não precisava de nada profundo, em breve já estava tudo preenchido com poeira, teias de Tarountula, terra pelo chão e os vidros das janelas cheios de sal.


Numa breve pausa para descansar e beber água, lembrou-se de ir a um dos computadores, ver se recebera algum e-mail importante sobre algum trabalho ou qualquer coisa relacionada com a Academia Naranja e Uva.


Não tocou nas coisas da mãe, e abriu o e-mail num separador à parte. Aproveitou para ver se os mesmos computadores ainda funcionavam corretamente e se nunca se haviam desligado entretanto, como ela pretendia. O rapaz nunca entendera porquê, mas acreditava ter algo relacionado aos estudos dela. Não entendia absolutamente nada das equações nem dos dados expostos nos ecrãs, mas isso não importava muito para ele pois nunca fora fã de ciência nem matemática. Apenas imaginava que, se os computadores se desligassem, a mãe perdia tudo aquilo, e era um trabalho que devia ser valorizado.


Suas manias bateram forte, o que o fez organizar a papelada. Não era sempre, mas das raríssimas vezes que ia ao computador nas raríssimas vezes que voltava àquela casa, puxava sempre um papel aqui e ali e empilhava um livro ou outro que estivesse solto no topo da secretária numa posição que o incomodasse.


Mas naquele dia em particular, achara algo especial.


Puxou um pacote de papel bem farto com aquilo que julgou ser cartas importantes relacionadas com laboratórios aos quais a mãe colaborava, acontece que o envelope estava aberto, e, em vez de despejar uma chuva de cartas pelo meio do chão, como se era de esperar, do seu interior saiu um livro de capa encarnada.


O Livro Escarlate, ou Scarlet Book, como muitos também o tratavam, era um registo de uma expedição realizada na Grande Cratera de Paldea por um tal professor Heath. Fora em tempos um livro famoso devido às criaturas demasiado inacreditáveis que ilustravam suas páginas, mas agora as pessoas só o referiam nas aulas das escolas vez ou outra e pouco mais.


Porém, o rapaz estranhou o livro ali pois ele muito bem sabia o quanto a sua mãe amava aquele livro desde miúda, e ia sempre com ele para onde quer que ela fosse, como um amigo inseparável. Tanto que muitas coisas nele foram usadas de inspiração no tal romance publicado semanas atrás como homenagem a tamanha paixão.



O Pokémon cão do rapaz também encarava o objeto no chão, com muito espanto. Pegou nele com sua boca e entregou ao dono.


– Obrigado rapaz – agradeceu, dando-lhe uma caricia no focinho e umas palmadinhas no lombo depois de receber o livro. – É um pouco estranho a mãe não ter levado isto para a Área Zero consigo, não achas?


O Pokémon piscou os olhos, abanou a cauda diversas vezes, indo na direção da porta, rapando na mesma, pedindo para sair. O Mabosstiff estava certo, estava na hora de ir embora. Mas o rapaz sentiu um incomodo muito grande agora que encontrara o livro ali e o tinha em mãos.


Se bem se recordava, era um dos maiores tesouros dela…


E ali ele se encontrava, sempre esteve ali, aquele tempo todo, aqueles anos todos, e ela nunca fora à sua procura.


Mesmo que existisse uma quantidade enorme de exemplares igual àquele pelo mundo todo, sua mãe não iria trocar aquele em específico por nada.


Ela não aparecia na midia, não vinha a casa, não correspondia às homenagens por ser a estrela de um livro de ficção qualquer, não atendia telefonemas nem respondia e-mails, tanto que o rapaz já desistira de enviar-lhe algo pois não queria receber outra mensagem automática.


Algo não estava certo…


Nada certo…


Na soleira da porta, antes de a trancar, o jovem desviou o olhar para cima das árvores, como um gesto automático. Ao longe, entre as nuvens distantes, era possível ver o cume das montanhas mais altas que contornavam a longínqua cratera. A Grande Cratera de Paldea sempre contara com um poder anormal em despertar o interesse de humanos e Pokémon para o que quer que a mesma escondesse nas suas profundezas.


Então algo passou pela cabeça do rapaz.


Uma loucura.


O Mabosstiff encarou o dono, com entusiasmo, como se lesse o que lhe vinha no pensamento.


Ambos estavam prestes a infringir leis e a cometer um ato irracional.


Assim, Arven agarrou o livro escarlate e ao lado de Mabosstiff caminhou então em direção á aventura… Em busca das respostas que ansiava.



Tal como ele imaginava… Ninguém por ali apareceu nas semanas seguintes e nem apareceria nos meses vindouros…


Pelo menos… Ninguém que o rapaz esperava mesmo ver voltar.


Enquanto o rapaz e o seu cão se ausentavam nas semanas seguintes, lá na sua louca aventura e se expondo a morte certa, uma criatura alada cruzou os céus certa noite, pousando bem no topo do farol.


Após suas patas tocarem na calçada da superfície do topo do farol, o bicho estranho sacudiu as penas fazendo estas terlintar como peças de uma enorme armadura embatendo entre si. Depois, farejou o local, e desceu a parede até a porta lá em baixo, como se fosse um lobo inspecionando uma antiga moradia à luz do luar.


A chegada daquela criatura desajeitada deu nas vistas. Muito nas vistas. Muito mais do que devia ter dado originalmente.


Para começar, o pessoal da Academia Naranja e Uva o avistaram cruzando os céus na mesma noite da sua chegada, quando este ser saíra da cratera e planara em direção ao mar, sobrevoando as maiores torres da Academia Naranja e Uva. Um enorme vulto negro no céu chamava logo as atenções, principalmente se o mesmo surgisse bem por cima de um edifício histórico e muito frequentado, quer fosse dia ou noite.


Depois, vieram os ruídos estranhos que não deixavam a população de Los Platos dormir, nem a população de Cabo Poco. Os pescadores reclamavam do súbito desaparecimento de peixe no mar, pois a quantidade de peixe apanhado nas redes e mordendo os iscos já não era mais a mesma. Grupos de Pokémon que por ali habitavam também andavam agitados, como se persentissem a existência de um grande predador à solta, principalmente os Houndour que dominavam as grutas profundas que se estendiam pela costa.


 Uma lagartixa com penas, um Cyclizar estranho… Eram alguns dos nomes que as testemunhas inventavam quando tentavam descrever a enigmática criatura, que se tornara rapidamente uma lenda de Cabo Poco e Los Platos.


Parecia mesmo um bicho tirado dos livros e contos de fadas. Uns diziam que as criaturas fantásticas do romance ganharam vida. Já os mais velhos se recordavam da presença de um ser semelhante anos atrás, mas com uma comparência muito menos frequente e explícita, pelo infortúnio de muitos.


Se era ou não a mesma criatura, ninguém, por enquanto, podia saber.


Porém, Cyclizar selvagens não eram Pokémon lagartos que costumassem tomar Los Platos nem Cabo Poco como habitat, apesar de serem uma montaria bastante popular em toda a Paldea.


E em sítios onde aparece bichos raros e misteriosos, ou, neste caso, um Cyclizar selvagem, aparece sempre alguém aventureiro, com o desejo de domar um.


Tentai não olhar para fora.


Respirei fundo outra vez.


Nunca fora fã de livros. Na verdade, ela odiava ler. Mas, naquele mesmo dia, por coincidência qualquer, quando não tinha mais que fazer, pegara naquele romance para passar o tempo e o lera todo de uma ponta a outra em poucas horas.


O havia dado à mãe no seu aniversário à uns meses atrás, a mãe adorava livros de gente famosa, acontece que a mãe quando tocara naquele nunca fora muito além na leitura dos primeiros capítulos, e ela tinha interesse em saber o porquê, mesmo que a mãe afirmasse que amara o seu presente.


Será que aquele livro era, na verdade, assim tão mau?


Sentira ruídos estranhos na rua quando recomeçara a leitura uma terceira vez, e por isso, decidiu ir apanhar o ladrão por conta própria.


Já sabia sobre as noticias locais. Dias antes os vizinhos reclamavam sobre um Cyclizar peludo em Cabo Poco, e ela sempre sonhou em capturar um desses lagartinhos incríveis e com ele percorrer o mundo inteiro. Sua casa também aparecia com os jardins destruídos e os cultivos da sua mãe todos esgravatados. Os vizinhos reclamavam do mesmo em suas moradias. Não podiam ter nada cultivado que os legumes logo desapareciam.


Não.

                                                                              

Não estava a sonhar.


Enquanto narrava para si algumas das frases que mais a marcaram naquele que viria a ser um dos seus mais novos romances favoritos, (como se ela já tivesse lido uma biblioteca inteira em sua vida toda) a jovem caminhava, procurando ser mais leve que uma pena, indo sempre em frente de forma furtiva.


Sua perseguição e investigação a levara até uma praia mais abaixo de sua casa. A areia fria debaixo dos seus pés amansava o barulho dos seus passos, tanto que ela só conseguia ouvir as ondas da maré, o respirar da criatura, e o bater do seu próprio coração.


Ainda estava longe, mas conseguiu avistar o vulto, reconhecendo ser o mesmo dos rumores.


No sopé do promontório, um grande lagarto esgravatava numa lata de lixo caída, comendo restos de comida à boca cheia.



A rapariga tremia da cabeça aos pés. Ele era muito maior do que ela imaginava, principalmente quando aquele bicho abria a sua crista para cima, esticando a coroa de penas como um grande rei.


Queria ficar ali assim com ele. Queria que isto durasse para sempre.


Imobilizou os passos, e ficou analisando aquela coisa vários minutos que mais pareceram horas. Ela viu a parte do corpo que devia ser a cabeça a erguer-se para cima, com a coroa toda esticada.


Num movimento súbito. O lagarto olhou para trás.


Olhava para ela, surpreso, pois se apercebera finalmente que não estava sozinho.


A jovem amava música, e achava aqueles pequenos excertos do romance magníficos. Eram inspiradores. Enquanto pensava neles, deixou-se levar demasiado pelo ritmo que cada palavra formava em sua língua, pois falar sozinha e dizer em voz alta os seus pensamentos, era uma das suas características mais marcantes.


Mas um trovão ressoou ao longe, e foi como se eu fosse atingida pelo raio – narrou, baixinho, saboreando as palavras.


Deixar-se levar foi um pequeno erro que podia ser insignificante, mas em situações como aquela, foi um erro muito tolo.


O lagarto agitou-se, como se dança-se ao som da melodia que a humana soltara, e ela foi rapidamente com a mão ao bolso, agarrando uma esfera bicolor.


Ele não podia fugir agora que ela já estava tão perto!


Mas, infelizmente, foi o que acontecera.


Num abrir e piscar de olhos aquele bicho enorme deu um pulo e voou para além daquilo que a sua vista conseguia alcançar no meio da penumbra. Muito antes da Pokéball atingi-lho.


A rapariga fracassada começou a rir, a rir muito, para lá sozinha, a rir de nervosa, no meio da praia naquela noite particular. Riu tanto, mas tanto que deixou seu corpo cair para trás, ficando deitada na areia entre as dunas, de barriga para cima, observando as estrelas cintilando lá no alto.


Aquilo tudo fora uma das coisas mais assustadoras que já lhe acontecera na vida.


Queria que isto durasse para sempre…


Respirou fundo, continuando a cantarolar e a buscar as palavras certas para alguma melodia sua. Esfregou os braços e as pernas na areia, como se tivesse a desenhar algum anjo na neve. A luz do farol, vez ou outra, rasgavam o céu cintilante, e ao ser hipnotizada pelo fenómeno, a rapariga sentiu-se viva por experimentar uma noite tão selvagem como aquela.


Tirou do bolso o seu Rotom Phone e começou a anotar as letras da sua nova canção. Ficar acordada até bem tarde na madrugada dava-lhe sempre frutos na criatividade. Também tirou do bolso um pequeno cantil com um líquido suspeito.


Sua família ficaria decepcionada se descobrisse que ela bebia aquilo, mas no momento não se importava e não pensou nisso. Afinal, só um bocadinho não fazia mal.


Quando terminou de escrever no Rotom Phone, então, do nada, num gesto de revolta por saber que ela não devia ter cantado pois cantar estragara sua caçada ao Cyclizar, gritou tão alto, mas tão alto, que se tivesse mais perto de casa, de certeza absoluta que furaria os tímpanos dos vizinhos:


– ESTA MOTOCA UM DIA SERÁ MINHA!



Naquele mesmo dia, não era apenas uma adolescente louca qualquer no meio de uma praia distante a usar o romance para proferir uma canção.


Horas mais tarde, onde quer que estivesse, algo semelhante acontecera com Arven bem no final da sua pequena missão, que rapidamente se provou desastrosa.


Vento…


Um vento frio…


As palavras soavam como uma canção de embalar. O ar deixou de ser escuro e abafado, e, quando deu por si, estava muito mais além.


Voava além das nuvens.


Não se recordava de muita coisa do que acontecera. Sentia-se zonzo, como se acordasse a meio de um sonho. A claridade súbita da luz do sol não o deixava abrir os olhos, mas sentia que estava em cima de algum Pokémon voador, que atravessava o céu a uma velocidade impressionante.


Finalmente vento!


Em breve estaria longe do local onde tudo aquilo acontecera. Não sabia se tinha mais alguém com o Pokémon que o resgatara, mas sentia as suas feridas a latejar, e tinha certeza absoluta que o sangue ainda lhe escorria pela testa ou outros ferimentos que tivesse no corpo.


As letras da canção eram-lhe familiares, como também a voz de quem as cantava, mas não se lembrava. Não conseguia se lembrar de nada.


Pelo menos até, entre a melodia, ouvir um grunhido familiar.


Ma… Mabosstiff… – tentou dizer, reconhecendo o som do latido.


Só então se apercebera que tinha o seu cão ao seu lado.


Tentou forçar um pouco mais a vista para tentar ver como o seu companheiro estava após o incidente.


Mas sentia-se tão cansado, tão tonto, tão dolorido, que deixou-se ser embalado pelo vento, pela melodia, por toda aquela sensação de proteção e serenidade.


E então, apagou outra vez, muito antes de descobrir para onde o seu salvador o levava.



Prólogo – Passado, Presente, Futuro

Fechei os olhos, respirando o ar abafado da manhã.


As rodas da carroça que me mantinham em cativeiro continuavam o seu ritmo monótono do costume, nunca aceleravam, nem nunca abrandavam. Por vezes, eu mal notava que estávamos em constante movimento.


O céu claro conservava seu horizonte pintado por uma montanha distante, limpa, sem nuvem alguma a encobrindo. Meus avós sempre diziam: Quando nuvens dominassem aquela montanha em questão, adotando o formato semelhante a um chapéu no seu cume, era sinal de chuva intensa nos próximos dias – quantos mais dias a montanha continuasse descoberta, mais meses a terra não seria refrescada pelas lágrimas sagradas de O Todo-Poderoso Sinnoh.


E nosso povo temia tal superstição, pois não existia sinal de nuvem nenhuma há semanas, para não dizer meses.



Grande parte do continente estava a passar por uma fase de seca extrema, o que não era usual tendo em conta o seu típico clima frio. Colheitas secaram, reinos caíam, pessoas e Pokémon morreram à fome e sede. A onda de calor misteriosa estava a obrigar muitos povos e Pokémon a adaptarem-se a novos estilos de vida, ou então, tal como nós, saírem de suas casas e partirem para outros lados da região em busca de abrigo e melhores condições.


Sentia muito a falta da neve e gelo que cobria toda a minha terra natal. Nossa aldeia fora literalmente reduzida a areia por causa do calor abrasador que o sol assombrava por cima de nossas cabeças. Era difícil perceber para onde tanta água oriunda da neve derretida fora parar, mas não dava para fazer nada quanto a isso, além de procurar por um novo lar.


Muitos mistérios ficariam para sempre por resolver – uma verdade que muitos tinham que aprender a engolir.


Rumores vindos de todos os lados descreviam batalhas entre monstros gigantes no litoral, provocando tremores de terra aterradores, que logo faziam pedaços enormes de rocha se separar do continente, formando ilhas cujo mar bravio levava para longe, muito longe.


Mas não passavam de rumores e não tínhamos opção de sobrevivência se ficássemos naquele deserto escaldante. Queríamos descobrir a verdade por nossa conta em risco e só então temeríamos tais desgraças.


Pegamos em todas as nossas coisas, abrigámos nossos Pokémon, montámos carroças, e parti-mos, cautelosos, para destino incerto.


Em nossas poucas paragens, negociávamos por comida e água, trocando ou vendendo o pouco que tínhamos em mãos e ajudando outros.


De momento, estávamos afastados de quaisquer civilizações, caminhando por uma área outrora lamacenta.


Tentai não olhar para fora.


Era muito triste avistar, em pleno dia, vários tipos de Pokémon esqueléticos esfregando as patas na terra em busca de comida. Estes evitaram migrar, pois dependiam do pântano que aqui existira para sobreviver, mas, mais tarde ou mais cedo, iriam ceder ao chamado da natureza, afinal, já se encontravam a contrariar seus comportamentos diurnos.


Respirei fundo outra vez.


Não sei se foi a minha respiração ou não, mas senti a lona que me encobria a mover-se. Dentro da carroça estava, mal por mal, mais fresco do que lá fora, e isso era uma das poucas coisas boas que me mantinham presa naquela escuridão solitária e sufocante.


Senti a aragem outra vez, passando pelo tecido grosso e impermeável, tocando na minha nuca.


Não.


Não estava a sonhar.


Persenti toda a carroça abrandar, em segundos, até se imobilizar completamente. Ainda esperei para saber se estava mesmo imaginando, mas não estava. O guincho das rodas rudimentares da carroça, resultante da madeira e metal sobre a terra, deixou de penetrar meus ouvidos.


Olhei para fora, espreitando por uma pequena fissura da lona na parte da saída da carroça. Vi meus cabelos serem movidos por uma brisa fresca.


Vento.


Um vento frio.


Finalmente vento!


Nossas faces foram inundadas por um longo sorriso. Uma alegria descontrolada inundou-nos a todos! Vi meus familiares saírem das suas carroças e saltitarem de emoção.


Era um bom sinal.


Só foi uma pena que o momento milagroso durara pouco.


Muito pouco.


Minha família encontrou-se apreensiva. Eles realmente acreditaram que, com aquele vento forte, viriam as nuvens, e, com as nuvens, a chuva tanto cobiçada.


Olhando para o céu, lambi os meus lábios ressequidos, ainda jurei sentir neles o refresco da rasada fria que me inundara a face escassos momentos atrás.


Meu pai fumava um cachimbo, encostado na sua carroça, mais á frente. Eu mal tinha notado sua presença folgada no exterior. Ele olhou para mim, com desdém.


– Volta para dentro – mandou, de modo inegável. Sua voz era árida, tal como o solo seco que pisávamos.


E, sem pestanejar, obedeci á sua ordem.


Minha família decidiu acampar mesmo ali naquela noite. Prepararam, em diversos pontos estratégicos, inúmeros baldes de madeira vazios para coleta de água. Esperavam desejosos o início da tempestade, uma presença futura que o vento pareceu sussurrar-lhes nos ouvidos.


Ainda era difícil saber se aquele vento fora imaginação nossa ou não, mas uma rajada daquelas era sempre sinal de tempestade eminente. Apesar de eu não acreditar. Se fosse mesmo para chover, já estava a chover a potes – a montanha sem nuvens estava ali para provar isso.


Não sai, nem me juntei aos meus familiares ao jantar. Era a ordem do meu pai. Não podia.


Estava de castigo.


Ele sabia o meu segredo.


Minha irmã foi a responsável em me trazer o jantar, mas eu fui privada de lhe falar, ouvir sua voz, acariciar, abraçar, tocar, ou até mesmo de ver a sua face carinhosa. Mantive-me, por obrigação, de costas viradas, no momento que ela penetrou os pratos no interior da minha carroça.


Não te tivesses metido em bruxarias, só vais sair quando cumprires o castigo – As palavras escuras do meu pai ainda me assombravam a mente.


Toda a nossa discussão, a bofetada que ele me dera na face…


Era uma sorte eu ter direito ao pouco alimento que tínhamos em mãos, sabia que ele tinha sido – e ainda estava a ser – bem generoso a medir o peso das minhas ações.


Junto com o jantar, minha irmãzinha deixara um diário seu, o mesmo que ela usava para escrever, desenhar e anotar tudo um pouco sobre as nossas viagens. Ler aquelas páginas e recordar momentos antigos era uma viagem encantadora. Encontrei algo interessante quando esfolheava-o só para passar o tempo. Uma folha seca de uma árvore cujo nome eu ainda desconhecia encontrava-se escondida entre as páginas.


Que melhores tempos venham – Esta era a descrição, em letras bem bonitas, gravada na superfície amarelada, por debaixo do local da página de onde removi a folha seca.


Analisei aquele pedaço ressequido na ponta dos meus dedos, procurando aponta-lho para a lanterna que pendia no teto da carroça. As chamas entregavam uma luz que penetrou na folha, tornando-a quase translúcida, e era interessante analisar a mesma nesta perspectiva: a folha parecia um coração, com seu rebordo recortado, quase como uma asa perdida de uma borboleta.


Liberdade – Foi a única coisa que aquilo me lembrava, apesar de nunca ter avistado um Butterfree na minha vida. Vários locais por onde passei tinham Venomoths, não as imaginava assim tão diferentes – Borboletas são símbolos da liberdade.


Eu sabia que aquelas árvores eram vistas como tão antigas como este mundo, significavam a vida, a longevidade. Minha irmã as conhecera e ficara encantada por elas, sua beleza e seu significado na nossa última paragem.


Só era uma pena que a única árvore exemplar que eles tinham na aldeia estava a morrer, com as folhas caídas encobrindo o chão, e os ramos parcialmente nus. Mas ela ainda assim considerou aquele exemplar esplêndido, e isso foi algo que eu apreciei bastante vindo dela.


Olhei os alimentos. Não estava com fome alguma.


Sabia que alguém precisava daquele pão e daquele naco de carne mais do que eu.


Estava a ficar cansada de seguir ordens. Cansada de continuar presa sem o ver.


Encarei a folha seca… Liberdade… A palavra continuou a ressoar no pensamento, como se a mesma fosse a força necessária que eu precisava para me mover.


Esperei mais umas horas. Até a noite encobrir todo o acampamento completamente e certificar-me que todos já dormiam a sono solto.


Eu podia ser apanhada por alguém em plena fuga, e sabia que era muito perigoso me afastar do acampamento à noite, com tanto Pokémon esfomeado por ai a caçar pela calada da penumbra.


Mas eu não tinha medo nenhum do escuro.


E também não estava totalmente sozinha na travessia.


Certifiquei-me que todos já se encontravam a dormir. Agarrei numa bolsa de couro onde guardei a comida e amarrei-a à minha cintura.


Respirei fundo, saí da carroça em rebeldia, apesar de reconhecer todos os riscos que eu tomava, estava mais do que na hora de ser a Venomoth que eu sentia que era.


Mantive passos vagarosos para ninguém me sentir, esgueirando-me por detrás das outras carroças enfileiradas em semicírculo pelo local.


Fugia dali.


Para o mais longe possível.


Não sabia bem para onde iria dirigir-me primeiro. Mas isso não importava.


Ele seguia-me. Ele vinha atrás de mim para todo o lugar.


Ele estava sempre comigo. De qualquer das maneiras, eu o iria encontrar.


Mais cedo ou mais tarde.


Ele levar-me-ia até lá.


Eu visitaria novamente o meu Paraíso.


E, nem que demorasse uma eternidade, estaria novamente nos braços do meu amor.



Fica aqui em Paldea, comigo – Ouvi sua voz doce, sussurrar-me no ouvido.


Espreguicei meu corpo, abraçando-o mais para mim. Apenas um fino lençol branco separava o corpo dele do meu.


Ao nosso lado, dois lagartos repousavam, com a cabeça pousada por cima das patas dianteiras, e, para nós dois, serviam como um género de parede de proteção. Uma muralha impenetrável que nos separava do restante mundo, tal como todas as altas paredes de cristal que nos circundavam.


Estava no meu mundo mais precioso… O meu Paraíso…


Do meu lado, via a cabeça do lagarto escarlate coroada por penas brancas e azuis, que por vezes se transformavam em asas. E do outro lado, do lado do meu companheiro, o lagarto violeta, coroado com raios por cima dos olhos, que exibiam o único feixe de luz que clareava todo o local. Esta luz ao atingir as paredes claras de cristal, faziam todo aquele cantinho do mundo brilhar em arco-íris.


Não estava demasiado frio, nem um calor abrasador. Era um clima agradável e reconfortante, nada parecido com o da minha terra natal – nem antes quando esta era dominada por frio e neve, nem agora, com seu sol doentio.


Eu sabia que estava longe, muito longe da terra que eu conhecia. Ainda não entendia como, nem porquê, mas sabia. E, ao mesmo tempo que estava ali, desfrutando, no meio da penumbra multicolorida, daquele espacinho tão especial com ele, sentia que não podia permanecer por ali para sempre.


Infelizmente... Não era a lei da vida.


Fica aqui em Paldea, comigo – ouvi sua voz doce, sussurrar-me no ouvido, questionando-me mais uma vez a mesma pergunta. – Por favor… Fica comigo…


Seu tom parecia desesperado, pois queria manter-me sempre ao seu lado.


– Desculpa… – murmurei, entristecida, enquanto lhe respondia. Uma lágrima escorreu-me pelo rosto, cintilando, até ele a limpar numa carícia com as costas da sua mão. – Não posso…


Desde o momento que eu encontrara aquela fenda no tempo e aqueles Pokémon, que tem sido sempre assim. Eles levam-me para todos os lugares que se podem imaginar. Corríamos outros tempos, outros espaços. Quando montava no lagarto escarlate e entrava na fenda de cristal, era como se eu recuasse no tempo, e depois, quando montava no lagarto violeta e entrava na mesma fenda de cristal, era como se eu avançasse no tempo.


Umas vezes, eles atendiam meus desejos, já em outras, eles levavam-me apenas para onde eles próprios desejavam que eu fosse. Em muitas circunstâncias, as viagens eram uma questão de segundos, outras, pareciam horas que não teriam fim.


Muitas vezes, eu não entendia nada do lugar que visitava, nem sua história, nem as suas pessoas nem contextos. Já em outras, estava demasiado familiarizada com o ponto histórico onde me encontrava.


Mas não importava quanto tempo demoraria, por mim, podia ser todo o tempo que fosse preciso. Para mim, podia ser a minha vida inteira. Eram viagens viciantes, repletas de autêntico conhecimento. Poder ir onde eu quisesse e quando eu quisesse, sem me preocupar com muita coisa, e sentir a história dos meus descendentes e dos meus antepassados passar-me sobre a pele.


Ao lado daqueles Pokémon de outras eras, ao lado daquele homem, e sabendo que éramos os únicos que conhecíamos aquele Paraíso, eu sentia que dominava o mundo todo.


Obrigado querida, pela comida, estamos a passar imensas dificuldades – comentou ele – Não sabes o quanto eu estou grato por te ter agora nos meus braços.


– Eu também… Espero que me perdoes. Queria mesmo ficar contigo para sempre… - respondi, segurando a respiração para não desatar em mais lágrimas.


Eu sentia que eu era verdadeiramente feliz ao seu lado. Não me queria separar dele! Não me queria afastar dele! Nunca mais!


Enquanto lhe acariciava o rosto, deliciava-me como o picadinho da sua barba na ponta dos meus dedos. Ele encostou os lábios aos meus, e senti suas mãos suaves cercarem o meu corpo.


Não sei se sobreviveria mais tempo sem ti, não vás agora… Fica mais um bocadinho… Por favor… Fica.


Ele sentia o mesmo que eu sentia, compartilhávamos a mesma vontade em ficar. Nossos interiores gritavam revoltados com as leis da nossa existência.


Ele era o amor da minha vida, e eu, o amor da vida dele. Mas eu sabia que ele era uma pessoa de outro tempo ou de outra dimensão, que eu encontrara nas minhas viagens. Nunca entendi bem de onde ele veio, nem suas origens, mas uma coisa eu tinha certeza, depois de todo o nosso tempo juntos: Ele era o meu maior achado!


Mas eu não podia ficar com ele para sempre…


Abri-me, retribuindo as caricias, envolvendo meus braços em seu pescoço, puxando-o mais para mim, deixando que ele me dominasse enquanto trocava-mos mais beijos escaldantes.


Queria tornar-me um só, mais uma vez, com ele.


Pelo menos… Só mais uma vez… Uma última vez…


Estremecia de prazer, desejosa por mais. Desesperada em aproveitar todo o tempo que eu podia ao lado dele.


Nós dois sempre ambicionávamos mais.


Muito mais.


Queria ficar ali assim com ele. Queria que isto durasse para sempre.


Mas um trovão ressoou ao longe, e foi como se eu fosse atingida pelo raio.


Foi o trovão que me trouxe de novo à realidade.


À minha realidade.


As paredes de cristal que nos rodearam tremeram, e, lentamente, iam deixando de brilhar e tremeluzir seus sons encantados. Os tremores se intensificavam, e as rochas iam caindo uma após outra até se tornarem numa chuva sem fim.


Toda a nossa ousadia… Já tinha sido… Demasiada para aquele poder.


Afastei-me dele, parecia que nós dois nunca antes nos havíamos tocado de tão distantes que agora nos encontrávamos.


CORRE! SALVA-TE – o ouvi gritar, na minha direção, um grito que terminou em apenas um eco distante, cujo final ninguém conseguia ouvir.


O lagarto escarlate rugiu, tomando-me nos seus braços face ao perigo que agora sentíamos quando tudo estava para se desmoronar. Quando dei por mim, estava montada no seu lombo, e ele, lá ao longe, seguindo uma estrada completamente oposta na gruta de cristal, montado no lagarto violeta. Ambos éramos separados por uma barreira impenetrável de cristal invisível e uma chuva de estalactites.


O Paraíso estava a se desmoronar.


O nosso Paraíso...


E eu… Eu não podia. Não podia deixar-me levar novamente ao seu toque. Não podia ceder novamente àquela paixão incontrolável.


Respirei fundo. Aguentava não desatar a soltar rios de lágrimas.


Nossas respirações pesavam de tristeza. Sentia a dele, angustiante, e a minha.


Dois corações destroçados. Dois corações loucamente apaixonados, tão longínquos um do outro.


Meu interior lamentava. Tal igual como o dele por estar tão longe de mim agora.


Ainda fugi da proteção do lagarto escarlate e tentai alcançá-lo, ainda tentai esticar o meu braço na sua direção, ainda corri, corri… Corri tanto, tanto até ele. Mas tropecei, e caí… E o lagarto escarlate alcançou-me, e, mais uma vez nos braços dele, puxou-me para mais longe, para mais longe dali, na direção contrária ao do meu amado.


Não consegui. Todo o esforço fora em vão.


Não segurei a sua mão.


O lagarto escarlate acelerou, acelerou tanto sua fuga até ficar sem fôlego, escalando as paredes e fugindo dos cristais que caíam por todo o local e se estilhaçavam por todo o chão, tornando-se numa fina poeira branca.


Toda a minha vida passou-me em frente aos olhos, cegada pelo espectáculo intemporal.


Eu ainda era nova, muito nova, talvez devia ter ligado ao que meu pai dissera, talvez não me devia ter metido naquelas aventuras.


Aquelas malditas aventuras… Ou bruxarias, como meu pai as chamava.


Parecia que estava tudo sobre controlo, seguindo o trilho marcado de regresso à realidade. Ao passar por um caminho estreito, o lagarto escarlate rugiu alto, quando parte de seu corpo fora atingida por uma pedra pesada do teto, que havia cedido em poucos instantes. O chão inteiro, debaixo de nós, estremeceu outra vez e desmoronou-se devido ao peso súbito da queda da pedra e do lagarto sobre sua superfície.


E nós os dois caímos num abismo tão escuro que pareceu um poço sem fim.



Nós dois tínhamos que aceitar, por muito que nos custasse.


Tínhamos que abraçar a realidade do presente que nos encobria.


Eu era do Passado.


Ele era do Futuro.


Vivíamos um amor proibido.


Vivíamos um amor impossível.


Há muito tempo que eu não recordava o quanto era difícil sentir o meu corpo assim tão dolorido.


Abri os olhos devagar, tentando processar o que acontecera. O meu Pokémon estava deitado no chão, mesmo ao meu lado. O dragão continha partes do seu corpo enfaixadas, mas parecia bem e saudável tendo em conta o brilho das suas escamas escarlate.


Pisquei os olhos novamente, ainda a tentar retornar à consciência.


Não façam barulho, ela está a acordar – ouvi alguém dizer, próximo do sítio onde eu me encontrava deitada.


Quando dei por mim, encontrava-me no interior de uma casa, só que era uma casa muito estranha, cujas paredes pareciam revestidas totalmente por metal. Objetos estranhos e de dimensões variáveis enfeitavam o meu redor, soltando bipes que mais tarde vim a descobrir serem máquinas que mediam meus sinais vitais. Pessoas de uniforme branco me rodeavam, com olhares curiosos e um tanto hesitantes.


Olhei com medo para a multidão de espectadores curiosos.


De onde vieste? Sentes-te melhor? Encontramos-te desmaiada ao lado daquele Cyclizar estranho – disse um deles na minha direção, quando sentiram ser a melhor altura para falar.


Neguei com a cabeça. Não conhecia aquele homem de parte nenhuma, nem mais ninguém. Devia confiar neles? O idioma de cada um também era muito estranho, e eu nem tinha a certeza como eu o compreendia. Pisquei os olhos várias vezes, e mais umas quantas outras. Eles deram-me água, calculando eu estar com sede. Aquele líquido transparente era a única coisa que vi como familiar no meio de tudo aquilo, que logo saciou-me a cede, apesar de, mais tarde, ter notado um quadro com vários exemplares de mariposas exposto na parede, entre eles um Venomoth de tamanho colossal.


Por instantes esqueci-me da minha real identidade, mas minha mente ainda ia avivando aos poucos.


Chamo-me Clavell – apresentou-se o único pesquisador do grupo que se aproximou, com um sorriso, apesar de não ser o sorriso mais indicado para a ocasião, transmitiu uma sensação de conforto indescritível. – O teu Cyclizar foi avistado a sair da cratera contigo nos braços, estavas inconsciente, e te resgatámos.


Cratera? Cyclizar? Do que eles estavam a falar?


Pisquei os olhos mais uma vez, apesar da minha incerteza se devia ou não confiar naquelas pessoas estranhas, meus lábios abriram-se, automaticamente, entregando-lhes a resposta que eles ansiavam ouvir e que eu própria não soubera bem porque viera.


– Sada. Chamo-me Sada. É um prazer conhecer-vos.


Fiquei vários dias ali com eles, aprendendo sobre aquele estranho mundo e eles aprendendo mais sobre o passado mundo que era o meu.


O mais estranho de tudo isso foi que, quando exposta a testes, aquela equipa de pesquisadores rapidamente viu algo na minha inteligência que não haviam encontrado em mais nenhum lugar. Era algo que eles gostavam de chamar de dom ou talento, pois, sem saber bem como, eu tinha a capacidade de solucionar quaisquer problemas ou equações cuja resposta muitos não conseguiam lá chegar. Não sei se era por isso, ou por eu ser uma completa estranha, mas eles me tratavam sempre muito bem. Eles me davam uma atenção e carinho bem especial e é difícil exprimir-me no quanto sou lhes grata por isso.


Na altura, eu não sabia, mas agora posso garantir a todos vocês: foi, a partir daquele fatídico encontro e naquela maré nova de aprendizado e amizade, que as minhas asas se abriram nas correntes que me levariam ao caminho da luz.


O caminho que me faria quebrar todas as normas, e tornar o meu paraíso impossível na mais bela das realidades possíveis, ao lado do meu amor.




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