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- Capítulo 2 – A Música da Padaria
O sol do meio-dia
atingia a superfície calma das águas, fazendo estas refletir sobre todo o
horizonte como um manto de purpurina. Ela sabia que estava um pouco atrasada
nas suas tarefas domésticas, mas não se importava. Com sorte, graças ao bom
tempo daquele dia, a roupa já se encontraria toda seca a meio da tarde.
A mulher
encarou a paisagem breves instantes, antes de retornar a sua rotina. A roupa
que pendurava pouco a pouco no estendal balançava com a suave brisa que
provinha do mar. Tentava fazer com que as peças mais longas não roçassem no seu
avental cheio de farinha, o que era uma tarefa praticamente impossível, mas não
se deixou abalar por isso.
Nunca se cansara da paisagem
que Cabo Poco tinha para oferecer. A senhora Haruka amava acordar bem cedo
graças aos piar dos Wingull que esvoaçavam sobre a falésia, e ser embalada
pelas ondas rebentando na costa nas noites mais tempestuosas. Há cerca de vinte
anos que se instalara naquela casa pacata do litoral, e, pelo menos para ela,
não existia melhor moradia.
Uma rapariga
de pijamas sujos e cabelo castanho todo emaranhado surgiu debaixo do alpendre
das traseiras da casa. A mulher olhou a jovem de cima a baixo, com um pequeno
sorriso na face para a receber. A jovem tinha a típica cara de quem acabara de
vir de uma longa noitada com amigos.
– Buenos días, mi madre – saudou-a, quando
a mais velha a encarou.
A senhora Haruka
virou sua atenção novamente ao estendal, colocando a mola de madeira na última
peça de roupa que precisava de estender na linha. Só então respondeu-a.
– Buenos días, Juliana, como estás hoje?
Dormiste bem? – a mulher estava pouco
insatisfeita pela irresponsabilidade da filha no incumprimento de seus
horários, mas procurou o disfarçar com um tom de voz agradável.
Ainda
ensonada, a jovem levou a mão à testa, como quem tinha uma grande dor de cabeça
logo depois de acordar num mundo novo. Endireitou parte dos seus cabelos
emaranhados. A mãe fitava o seu comportamento e o estado lastimável dos seus
pijamas, todos cheios de nódoas e terra.
Só naquele
gesto da filha, a mãe obteve a resposta que sabia que iria ouvir.
– Que horas já
são?... – questionou a jovem, em voz baixa.
A mulher
passou o seu olhar por leve no relógio de pulso, e respondeu à filha pouco
antes de segurar na cesta de roupa vazia.
– Meio-dia,
certinhos – agora, o tom de voz da mulher não pareceu assim tão agradável.
– humm… Porque
não me acordas-te mais cedo para eu te ajudar nas tarefas domésticas?...
– Não tivesses
ficado acordada até tanto tarde. Sabes bem que tens que mudar os teus hábitos.
– Mas mãe… Eu
não podia perder a live da Líder de Ginásio Iono por nada! – Juliana começou a
teimar.
– Vais começar
as aulas na Academia. Férias não duram para sempre, querida.
– Mas era o
combate mais cobiçado do século e…
Enquanto ouvia
a desculpa dada, balançou a cabeça, tentando compreender as modas dos jovens
dos tempos de hoje, mas a senhora Haruka sabia perfeitamente que não fora isso
que sua filha andara a fazer na noite passada. Ouvir tamanha mentira a deixou
ainda mais insatisfeita. Acordara bem-disposta num belo dia como aquele, e
agora precisar de mandar sua criança lavar a boca com sabão.
– Um combate
às cinco da manhã, não me digas… – desdenhou. – E então a caçada ao Cyclizar
estranho? Aposto que o teu quarto está cheirando pior que um alambique. Se eu descubro
que andas mesmo metida no álcool…
Juliana
revirou os olhos. Para a mãe, as caçadas ao bicho que incomodava as noites de
Cabo Poco e Los Platos eram sempre sinónimo de noitadas e regresso tardio a
casa sem sua autorização.
– Mãe, eu juro
que eu o vi! – disse, ainda com a mão na testa, e tentando desviar o assunto ‘’álcool’’.
– Eu levei estes pijamas para a praia,
por isso estão sujos. Vais começar outra vez com isso?
– Eu sei que é real, eu também o vi, estava contigo numa dessas vezes, lembras-te Juliana? – comentou. – Mas quando vais começar a assumir mais algumas responsabilidades? Depois não fiques para ai a choramingar pelos cantos depois de fazeres as coisas sem noção das consequências, como é o costume.
Juliana e sua mãe tinham um relacionamento
normal entre mãe e adolescente, pois suas personalidades e pensamentos vez ou
outra entravam em conflito. O tom da senhora Haruka até que não era um tom
assim tão zangado por ai fora. Era o típico tom de voz de uma mãe exaltada que
se preocupava, mesmo que ela nem sempre conseguisse expressar da forma mais
correta.
Mas para a
filha… Nem todos os jovens gostavam de conselhos, levar sermão dos pais, como eles costumavam chamar a isso por
palavras menos agradáveis.
– …fazer as coisas sem noção das
consequências… pfff… – Juliana imitou a voz da mãe, e a mulher não gostava
nada quando a filha a provocava dessa maneira.
Antes da mãe e
filha iniciarem uma briga matinal de argumentos e desculpas que podia atingir
outras proporções, um grupo de Pokémon papagaios chamados Squawkabilly pousaram
no telhado da casa.
Os
Squawkabilly começaram a fazer uma grazinada infernal, pedindo migalhas de pão
ou berries que lhes eram sempre entregues. E com o piar deles, ouviu-se a
campainha da casa a tocar em alto e bom som.
A mulher abriu
a boca para dizer algo mais à sua filha, mas esta se fechou completamente após
ouvirem o som típico da semana, pois ela ainda não lhe tinha dito o mais
importante no seu ‘’sermão’’. Agora preferia deixar que a filha descobrisse
sozinha.
Juliana olhou
para os papagaios, que, agitados, piavam na direção do lado frontal da casa,
denunciando visitas.
– Clientes na
nossa loja? Hoje? – Juliana disse, admirada. O barulho súbito a despertou mais
à realidade.
A mulher de
avental cheio de farinha sacudiu o pó branco que cobria suas roupas. Juliana
olhou para ela.
Fazeres as coisas sem noção das
consequências… A jovem engoliu as palavras, ao se aperceber o que elas
queriam dizer naquele contexto.
– Mãe… Que dia
é hoje? Diz-me que ainda é domingo…
– É melhor
voltarmos para dentro… – comentou Haruka, apontando para a porta da casa – Não
quero deixar mais clientes esperando.
Apesar da
mulher se afastar devagarinho, a filha, num impulso, agarrou-a pelos braços, encarando-a
com os seus olhos embriagados envoltos em pânico.
– MÃE. DIZ-ME
QUE AINDA É DOMINGO!
A mulher
manteve os modos, para não se zangar mais com a filha por causa daquele gesto
impulsivo muito mal-educado. Não ia mentir que, com o aperto, Juliana a magoara
um pouco no braço, mesmo que fosse sem intenção.
– Terça-Feira. É o segundo dia consecutivo que
faltas ao teu primeiro dia na Academia, filha… – disse, com um suspiro que mais
lembrava um pesar.
Juliana, numa
pontada de nervosismo, soltou um suspiro ainda mais considerável do que o
suspiro da mãe.
Apesar da sua
rebeldia, ela reconhecia tudo o que a sua mãe tinha dado e tudo o que ela tinha
poupado até ali para conseguir a vaga na melhor e maior Academia da região,
pois rezava que a filha tivesse uma oportunidade melhor para o seu futuro.
Apesar de não
ser amante de estudos e de não lhe agradar nada a ideia de acordar cedo e ir
para Mesagoza todos os dias, Juliana sentia obrigação nessa tarefa… Pela sua
mãe.
Então, seguiu
na direção da porta da casa atrás dela, cabisbaixa.
Choramingar depois de fazer as coisas sem noção das consequências… Era mesmo o seu costume.
A porta dos
fundos fora dar diretamente à cozinha da casa, onde a verdadeira magia
acontecia no topo daquela falésia. Era notável a quantidade de sacos espalhados
por cima das bancadas que, apesar de um pouco sujas de farinha, ainda davam à
cozinha e suas paredes um charme próprio, que se enquadrava com a beleza do
jardim exterior em perfeição.
Podia-se dizer
que a entrada de ambas fora silenciosa, se as duas humanas estivessem sozinhas.
A pequena padaria
Sonhos de Dachsbun era conhecida em Cabo Poco e Los Platos por seu elemento
particular: a mãe de Juliana, a proprietária daquele negócio, ajudava Pokémon
abandonados ou feridos que encontrava pelas ruas a se readaptarem.
Muitos desses
Pokémon ajudavam na cozinha da padaria até ficarem saudáveis e encontrarem um
novo lar. Eram da mais variada espécie que se podia imaginar realizando um
trabalho daqueles, e, quem consumia o que era produzido nesta padaria, sempre
dizia que o sabor tinha um toque diferente e especial pelos cozinheiros serem,
na sua maioria, Pokémon.
Mal a porta
dos fundos fora aberta, um pequeno Skwovet com as bochechas cheias de bolachas
desceu a parede e recebeu a dupla com excitação. Entre as bolachas, estava um
pequeno temporizador em formato de Capsakid, que entregara à dona.
– A fornada está quase a sair? Obrigado por avisar, Senhor Nozes, meu pequeno – dona Haruka agradeceu-lhe com uma caricia. – Mas agora tenho que atender os clientes.
Senhor Nozes
fez um barulhinho e então voltou a tomar o seu posto em cima das prateleiras
dos temperos. Apesar dos Skwovet serem gulosos e muitas vezes vistos como
irrelevantes, ali dentro aquele Skwovet era o segundo que estava no comando,
auxiliando o chefe nas decisões que a cozinha tomava.
Sonhos de
Dachsbun tinha esse nome, pois, por debaixo da prateleira que era o posto do
Skwovet, estava deitado um Dachsbun muito velho, cuja pelagem já não era tão
brilhante como a dos Dachsbun juvenis. Seu nome era Manjar, e fora o primeiro
Pokémon da mãe de Juliana, e, portanto, assumia a ordem em todo o local, apesar
de, no momento, estar a tirar uma pausa, pois a sua idade avançada já não o
tornava tão ativo como antes era.
A campainha
tocou outra vez, quando o temporizador do forno decidiu tocar. Foi possível
ouvir, lá fora, os Squawkabilly iniciando seus piares de excitação mais uma vez.
Manjar agitou-se na sua cesta, dirigindo um latido soturno a outro Pokémon que
trabalhava na cozinha.
– Já vou! Já
vou! – dona Haruka disse, num tom mais alto que o usual. A casa era pequena,
como também a cozinha, de certeza absoluta que quem tocara a campainha ouvira
lá fora a voz do seu aviso.
A senhora
Haruka dirigiu-se para o exterior em passos apressados, deixando a fornada nova
a cargo de um Pokémon cor de rosa, conhecido por Tinkatuff, a quem o chefe
Dachsbun dera a ordem e supervisionava. A Tinkatuff contava com um braço
enfaixado, mas mesmo assim foi ao forno de lenha e removeu uma fornada de pão
acabado de cozer com o seu enorme martelo que mais lembrava uma pá.
A jovem
contornou o local onde o Dachsbun se encontrara, numa distância segura à dele,
e procurou um espacinho nas bancadas mais longínquas do centro da cozinha, onde
pudesse tomar qualquer coisa que a ajuda-se a despertar mais. Ao mesmo tempo,
não queria que sua presença incomodasse nas tarefas da padaria.
A fornada
inundou o ar com um cheirinho delicioso. Juliana começou a verter água da boca,
e sua barriga roncou, relembrando-lhe que ainda não comera nada. Sentou-se na
bancada, em silêncio, refletindo sobre as horas tardias que acordara, e, sobre
o mais importante: perdera os primeiros dias de aulas na Academia e o quanto
aquilo podia ter um custo desastroso.
Preparou um
café bem forte com uma máquina que tinha nas proximidades, e mesmo ainda
escaldante, estava tão ansiosa que engoliu o líquido da chávena num trago.
Depois foi
preparar outro.
Enquanto
misturava a saqueta de açúcar no seu segundo café e mordiscava uns biscoitos,
ao seu lado, um grande saco de farinha moveu-se. Do seu interior saiu um
pequeno focinho de um crocodilo cor de areia.
O Pokémon
contava com uma risca negra na área dos olhos, e observava a jovem com toda a
sua atenção.
– Bom dia,
Tolya – Juliana disse, ao se aperceber da presença da pequena Sandile ali
dentro do saco, só com suas narinas e parte da cabeça de fora – Não te
esqueces-te de lavar as patinhas antes de começar a trabalhar, pois não? –
questionou, botando o dedo indicador na ponta do focinho da pequena crocodilo.
Tolya moveu o
focinho para cima e para baixo, como quem respondia um ‘’sim’’, mas aquele
observar tinha algo mais, pois era bem pesado, como se a Sandile a julgasse.
– Eu sei, eu
sei, não devia beber tanto café… – Juliana esfregou os olhos ensonados.
A Sandile fez
uma careta, como quem não gostava de café. Depois de ouvir a reação da humana, deu
um salto para fora do saco, espalhando farinha com as patas numa área
significativa da bancada em frente a Juliana.
– Querem usar
esta parte da bancada? Se eu estiver incomodando aqui sentada podem avisar que
eu saio. Mas quando eu acabar de comer quero ajudar vocês, ok?
Depois de
organizar a nova fornada de pão no expositor, a Tinkatuff voltou para o
interior da cozinha, chegando ali com um recipiente cheio de farinha, manteiga
e ovos, para fazer massa. Depois de feita, esticou-a por cima da bancada, com o
auxílio de Tolya que fornecia mais farinha. Quando via que era necessário, a
fada usava seu martelo para amassar e esticar ainda mais a massa, depois largou
seu martelo e separou a massa em várias bolinhas, sempre com a ajuda da pequena
crocodilo.
O velho
Daschbun abriu a boca, ensonado, e se elevou da sua cama, com o Skwovet em cima
do seu lombo. O esquilo misturou açúcar e canela numa taça das proximidades,
para já ficar pronto. O Daschbun idoso sentou-se ao lado das bolinhas, fazendo
com que sua energia corporal ajuda-se as mesmas a levedar. Os Daschbun e suas
pré-evoluções, os Fidough, eram Pokémon cachorro muito úteis em pastelarias e
padarias devido a esta habilidade única, que acelerava em muito todo o processo
de produção.
A humana
observou os movimentos dos Pokémon com toda a sua atenção.
– O que estão
a fazer? – Juliana questionou, encolhida devido à presença do cão e dos seus
poderes curiosos.
Juliana sempre
se encolhia na presença de Manjar, o conhecia toda a sua vida e mesmo assim não
superara seu medo de cães. Senhor
Nozes, como se já esperasse aquela pergunta vinda da jovem, se encontrava com
um livro de receitas agarrado a sua felpuda cauda de esquilo.
Colocou o
livro em frente da jovem, abrindo as receitas sagradas da padaria numa página
em específico.
– Filhoses? Que
santo caiu do altar para vocês hoje quererem fazer filhoses? – Juliana arqueou
a sobrancelha ao ler a página e ver a ilustração que compunha a receita. Depois
de bocejar, relembrou-se de algo. – Haa! É verdade, tinha aquela encomenda para
terça-feira…
Terça-feira.
A palavra
pesou-lhe na consciência.
Como ela se
esquecera, por uma segunda vez, de configurar o despertador e comparecer na
Academia?
Enquanto isso,
as bolinhas cresciam num ritmo animador, porém, precisavam de mais farinha para
não ficarem muito apegadas à bancada. Tolya, como parte do seu serviço, saltou
do saco para a bancada e da bancada para o saco, para pulverizar a superfície,
como se de um deserto de areia a farinha se trata-se.
Com todo o seu
entusiasmo, deixou sem querer parte do conteúdo saco cair nos azulejos do chão.
O serviço de
limpezas estava a cargo de um outro Pokémon crocodilo cor de areia, um pouco
maior do que a Sandile, mas muito parecidos. O Krokorok, mal avistava uma
migalha no meio do chão, vinha logo com o balde e a esfregona. Uma das regras
da cozinha era manter tudo sempre muito bem limpo e em organizado, quando
possível, logo, o Krokorok tinha um dos trabalhos mais importantes em manter
tudo muito bem higienizado. Também era ele que tratava de lavar a loiça suja
para que esta não acumulasse, apesar dos Pokémon do tipo Ground abominarem
água.
Todos aqueles
Pokémon tinham um ar bem feliz e se dedicavam bastante às tarefas da pacata
rotina da padaria.
Juliana já
estranhava a demora da sua mãe lá fora no bar da loja atendendo o cliente, e
isso a deixava ainda mais ansiosa para quando ela regressasse. Os Squawkabilly
também não paravam de piar, famintos. Depois se apercebeu da aproximação do
Krokorok, que trazia um instrumento musical consigo, preso à suas costas por
uma correia.
– Oh, olá
Tamar. O que estás fazendo com minha guitarra?
O Krokorok
removeu a correia de si, entregando o instrumento musical à humana com o gesto
mais cordial que conseguia realizar.
– Hum… Queres
que eu toque?
Ela recebeu
seu instrumento precioso, mas logo o pousou em cima da bancada, numa área que
não incomodasse tanto os trabalhos dos Pokémon. Deu uns acordes, procurando
combater bloqueios e iniciar alguma melodia enquanto bebericava o seu café.
– Desculpa,
acho que gastei minha energia toda ontem à noite, não estou agora com muita
disposição para tocar.
Tanto Tolya
como Tamar fizeram uma carinha de chantagem. Até mesmo Manjar, Senhor Nozes e a
Tinkatuff sem nome mostraram-se desanimados. Lá fora, os papagaios pararam de
piar para prestar atenção ao som melancólico que viera dos breves acordes, como
quem pedia mais música, uma música a sério.
–
Não olhem assim para mim!… – mas Juliana logo pensou melhor e sentiu-se mal por
lhes estragar os ânimos, era impossível resistir à carinha fofa deles – Okay, okay, posso tentar qualquer coisa.
Os Pokémon
fizeram uma pequena festa, animados com a decisão, tanto que Tolya espalhou
mais farinha pelo chão e lá teve Tamar que limpar o pavimento outra vez. Depois
de rir pela reação dos companheiros, Juliana posicionou então a guitarra em seu
peito.
– Ok. Esta é a
música que eu estive a trabalhar ontem à noite, quando procurava o Cyclizar
estranho.
E iniciou a sua
melodia enquanto cantava.
Talvez, ela
precisava mesmo daquele incentivo para relaxar e começar a tocar, pois as notas
saíram harmoniosas e lindamente.
Olhei para trás, e me vi, no meio do mar;
Nem as estrelas, conseguiam, me guiar;
Dia e noite, à deriva, indo lés a lés;
Quando o ventoo-o-o arrancou o paraíso a
meus pés.
Cintilante as estrelas lá no ar;
O único farol a faiscar;
Mas eu tola e cega nem as conseguia olhar;
Só sentia toda a torre a se desmoronar…
A
guitarra parou sua vibração, dando lugar a vários segundos de silêncio que mais
pareceram horas. Os funcionários da padaria observavam, satisfeitos. Juliana
tinha uma gota de suor a cair-lhe da testa, mas esperava que o seu breve
espectáculo tivesse sido do agrado daquilo que aqueles seus amigos Pokémon
desejavam.
– Acho que era
algo assim a letra… – disse, indo com sua mão ao seu Rotom Phone – Deixem eu
confirmar…
Mas antes de remover
o objeto do bolso, sentiu um bater de palmas atrás de si.
Os Pokémon
copiaram o gesto dos humanos que acabaram de entrar na cozinha, da forma mais
desajeitada possível. Manjar até, apesar de rouco devido a sua idade, deu um
pequeno uivo como quem queria cantar ao som da canção.
– Oh, mãe!
Voltas-te! O que os clientes…
A adolescente
olhou para trás, para ver quem mais a aplaudia, fechando logo a boca quando
notara uma presença bastante intimidadora ao lado da sua. O homem tinha um
sorriso de satisfação gravado na sua face por assistir ao pequeno espectáculo.
Portava uns óculos que se encaixavam bem na cara e uma roupa engomada que se
dividia em duas cores. De um lado, roxo como uva, e, do outro laranja.
– Oh… Hum…
Olá… – a jovem encolheu os ombros.
Juliana não
esperava que alguém entrasse assim na cozinha, e muito menos uma pessoa tão
importante como aquela.
– Juliana,
este é o Diretor Clavell – apresentou Haruka – Ele deseja falar connosco acerca
da Academia.
– É um prazer
conhece-lha, minha jovem, e já me encanta descobrir suas habilidades com música
– disse ele, com uma breve vénia.
Era óbvio que
Juliana já sabia quem era aquele senhor de meia-idade, mas era sempre bom ter
aquela confirmação para se certificar que não estava mesmo a sonhar. Afinal, o
Diretor da Academia Naranja e Uva estava mesmo à sua frente e era o tipo de
pessoa que se avistava ao longe devido a sua postura irreconhecível.
Ali estava o
Diretor! Logo depois deste ser o segundo dia consecutivo que ela faltava às
aulas. Sem saber bem como reagir, procurou esconder parte de seu corpo com o instrumento.
Algo também lhe viera à mente de forma repentina: não podia se apresentar em
frente ao Diretor com aquelas roupas de dormir miseráveis, cheias de terra e
com aroma a álcool derramado. Ela sempre ia para a praia de pijamas, na solidão
da noite ninguém a via, e estava toda suja devido a sua longa caçada ao
Cyclizar.
– Ma… Mãe… Eu…
Eu… Eu ainda estou de pijamas! – gaguejou.
O Diretor nem
sequer tinha notado esse detalhe, tal fora seu encanto com o dom da jovem.
Começou a rir como reação a tanta preocupação da pequena.
– Não faz mal,
menina, imagino o quanto é um incómodo. Vá lá se trocar e demore o tempo que
precisar, enquanto isso irei tratar dos assuntos com a tua mãe.
– Mas primeiro
vamos subir para um local mais adequado, pode ser? – sugeriu dona Haruka.
O Krokorok,
num ato de gentileza, aproximou-se do Diretor, apontando para um envelope com
papéis, um arquivador pesado e um casaco que o mesmo trazia consigo. Pelo ar,
era óbvio que o arquivador pesava bastante, e não existia gesto mais simpático
que auxiliar um convidado com a sua bagagem. Tamar adorava ter o papel de
mordomo da casa.
– Não te
importas mesmo de levar por mim? Oh que gentileza a sua, senhor Krokorok –
disse o Diretor, com admiração.
Juliana prendeu
a correia da guitarra em suas costas, e para tornar os pijamas menos óbvios,
segurou em Tolya no seu colo, a apertando contra o peito. A Sandile não deu
nenhum grunhido, já estava habituada em ser apertada pelos braços de Juliana
daquela maneira em situações do género, onde ficava pior que fillet de Veluza
em lata.
Até que gostava do mimo extra, e podia fazer
ciúmes a Tamar.
Sua sorte é
que sua mãe ia em frente com Tamar ao lado, guiando o Diretor pela casa, o que
a fez soltar um suspiro de alívio por saber que ia avançar atrás dos dois e
assim suas roupas desagradáveis não dariam tanto nas vistas.
A parte
debaixo da casa era dedicada à padaria, sendo que mãe e filha viviam nos
andares de cima, e para lá chegarem, tinham que subir uma longa escadaria
existente num dos extremos da cozinha, perto da porta que daria ao jardim das
traseiras.
As paredes da
escadaria eram recheadas de fotografias, retratando cenas do quotidiano e da
cultura de Paldea, paisagens do famoso farol de Cabo Poco, mas, principalmente,
fotografias de família, muitas delas já de cor desvanecida, comida pelo sol. A
maior parte delas eram de Juliana com a mãe em férias por Paldea, outras com
alguns familiares e tios distantes aqui e acolá.
Para Juliana aquelas
fotografias não eram assim tanto especiais, mas para sua mãe eram recordações
belíssimas de tempos que não voltavam mais. Como é usual, qualquer estranho
encontraria algo de interessante nelas, e Diretor Clavell endireitou os óculos,
abrandando um pouco a subida mal dera pelas fotografias emolduradas.
Os degraus de
madeira rangiam, como se estivessem a apodrecer, e o Diretor desequilibrou-se
no preciso instante que passava por duas fotografias em específico.
Uma delas era
uma criança pequena, muito sorridente, segurando uma guitarra (a mesma que
Juliana tocara minutos antes), sentada nos braços de um adulto, cujo rosto fora
rasgado do papel, mas, tento em conta sua estatura, era um homem. A outra
fotografia tinha apenas Juliana de bikini
numa praia, tirando uma selfie ao
lado de Tolya e Tamar, que pareciam atacar a câmara, pois o ângulo centralizava
suas bocarras e dentes afiados.
– Senhor Diretor,
está bem? – questionou dona Haruka, preocupada, após sentir um pequeno estrondo
causado pelo Diretor a se apoiar no corrimão, após tropeçar numa das tábuas
afundadas do degrau.
Juliana quase
caiu para trás com o desequilíbrio do homem em sua frente. Tamar foi até ele o
auxiliar, pois era um Krokorok muito bem educado e não queria causar má
impressão.
– É preciso
ter mucho cuidado. Peço desculpa se
não avisei mais cedo, mas algumas tábuas já estão a afundar e alguém pode
tropeçar e cair. Já marquei um carpinteiro para arranjar mas ele está a demorar
e…
– No se preocupe, Señora Haruka,
escadarias é o que eu mais estou acostumado – o Diretor disse com um sorriso, recompondo
a pose, endireitando os óculos e suas roupas enquanto fitava as fotografias
mais de perto. – E meus preciosos alunos também.
– Lembro-me
bem dos meus tempos na Academia Naranja e Uva, aquela escadaria ainda é uma
lembrança traumatizante – a mulher recordou-se, a rir.
Ela acompanhou
a atenção do Diretor face à parede, apontando para uma fotografia mais antiga,
onde era possível ver uma Haruka adolescente sentada nos famosos degraus com um
grupo de velhos amigos. As torres da Academia embelezavam o plano de fundo da
imagem.
– Se eu
soubesse bem o que eu sei hoje, não me importaria nada de a ter subido mais
vezes… – acrescentou, nostálgica. – Aih… Como os tempos voam!
Juliana já vivera
tempo suficiente naquele mundo para saber que o adulto fingiu desequilibrar-se
para ver melhor a parede e assim ter um pretexto mais educado em mexericar a
casa.
Se ele estava habituado a escadarias, então
como tropeçou?
Ele não estava
apenas a apreciar aquelas fotografias: estava as avaliando, e queria arranjar
um pretexto para questionar alguma coisa que visse, e essa ideia a desagradou
imenso.
Depois de
algum silêncio ali parado a recompor a pose, os olhos do Diretor desviaram sua
atenção das molduras e das palavras que a mulher dizia e foram até a expressão
séria de Juliana.
– O Krokorok e
a Sandile são seus? – o Diretor apontava para a fotografia da selfie na praia, ao lado da fotografia
da criança com a guitarra.
Juliana ficou
corada, e apertou mais a Sandile.
Otima fotografia, entre todas tinha que ser
logo essa, onde estou de bikini – pensou, tentando não falar o pensamento
em voz alta como era o seu defeito, e respondeu ao homem apenas com um gesto da
sua cabeça.
O Diretor mostrou-se
muito admirado.
– Oh… Muito
bem – apenas disse, dando uma caricia na cabeça de Tamar.
Se o crocodilo
fosse humano, era provável ficar mais vermelho que um pimento.
A jovem
sentiu-se ainda mais intimidada com o tom que aquilo saiu. Só esperava que sua
mãe não se lembrasse de contar a história de cada uma das outras fotografias
expostas, pois se tinha alguém que adorava mesmo aquelas fotografias ali dentro
era ela.
– Foram os
primeiros Pokémon dela – acrescentou a mãe, enquanto todos retomavam o ritmo da
subida. – Ela os capturou no Deserto Asado certa vez quando foi visitar os avós
a Porto Marinada.
– Oh, estou a
ver… Nossas primeiras escolhas são sempre as mais importantes.
Graças a Arceus, não ficamos parados no
corredor mais trinta minutos – pensou a jovem, mordendo os lábios e
apertando os punhos a cada degrau.
Mas, ao mesmo
tempo, ela não soube bem o porquê, sentiu que a frase do Diretor era apenas um foreshadowing para um sermão que ai
vinha mal chegassem todos lá em cima. Por breves instantes, desejou mesmo que a
mãe tivesse exposto toda a história da família para fora só para não tocarem no
assunto mais recente.
Pelo menos, não ainda.
No topo da
escadaria existia uma porta, que, depois de aberta, dava acesso à sala de
estar. O local era simples e muito bem mobilado, enfeitado com plantas
belíssimas, os sofás tinham um aspeto moderno e muito confortável, daquele tipo
que nos fazia querer deitar lá e adormecer durante horas. Pelo tamanho da
televisão, que cobria uma parte significativa da parede, era de se imaginar que
Juliana e a mãe tinham uma situação financeira estável.
Num dos
extremos da sala existia um espaço com uma garrafeira, uma bancada com uma
placa eléctrica, microondas e uma máquina de café, prateleiras com loiça,
caixas de cereais ou aperitivos, uma mesa redonda e duas cadeiras e um
frigorífico, tornando aquele pequeno espaço semelhante a mini cozinha ou sala
de jantar.
Servia para brindar convidados ou tomar alguma
coisa rápida só para não descerem até à cozinha de baixo a meio da noite devido,
ao risco de cair na escadaria. Dona Haruka apontou para os sofás enquanto já estava
a meio caminho da bancada, onde iria remover uma chaleira para aquecer água e
preparar qualquer coisa para petiscarem.
– O senhor
sente-se, esteja à vontade. Vou preparar qualquer coisa para nós… Quer dizer,
se o senhor não se importar e gostar de chá.
– Não
precisava de se preocupar com nada, Señora.
Não queria ser muito mais incómodo… A senhora fechou a porta da frente da loja
para atender somente esta reunião, me sinto lisonjeado por isso e isso basta.
– Tem a
certeza que não quer mesmo nada? – insistiu Haruka, com um tom provocativo nas
palavras, pois ela bem sabia as manhas que as pessoas tinham nas casas dos estranhos.
– Bom… Para
ser sincero, eu não consigo rejeitar um bom chá.
O Krokorok pousou
os pertences do Diretor num bengaleiro, depois seguiu Juliana. A sua treinadora
fora na direção de um corredor com várias portas, que deviam ser os quartos,
com o objetivo de tomar um banho rápido e se trocar.
Apesar de
saber que era má educação, Juliana adorava coscuvilhar os outros na sua
ausência, e, para isso, deixou a porta que dividia a sala de estar e esse
corredor entreaberta, se encostando atrás dela para ouvir a conversa. Tamar não
gostou nada daquilo, e começou fazer sinal e a puxar pelas vestes da humana,
tentando a levar até a casa de banho, sem sucesso, para ela se despachar.
Após uns dez
minutos, o chá ficou pronto, e a mãe distribuiu o líquido quente pelas
chávenas. Foi ai que o silêncio entre os adultos fora, por fim, quebrado.
– Parece que
esse chá está uma delícia! – disse o Diretor, apreciando o aroma. – Bom… Como
eu estava a dizer lá em baixo…
– Senhor Diretor.
Não precisava de se preocupar em vir até aqui, só por causa de um papel. –
Haruka comentou, enquanto esperava seu chá arrefecer mais. – Podia ter
telefonado, eu dava um salto a Mesagoza num instante. Não é assim tão longe.
– Não! Não! Vou
direto ao ponto: os secretários da Academia se atrasaram com os papéis
relacionados com a matrícula da Juliana.
Ao ouvir seu
nome, a jovem encostou mais o ouvido à fissura da porta.
– Como Diretor
e representante da Academia Naranja e Uva, eu assumo todas as responsabilidades
– e neste momento levantou-se, expondo os papéis por cima de uma mesa que
existia no centro da sala. – Portanto, vim entregar os papéis em falta pessoalmente.
Só preciso que a senhora, como encarregada de educação da Juliana, assine aqui,
aqui e aqui.
– Então a
Juliana não perdeu nenhuma aula?
– Receio que
não, como seu nome ainda não estava registado como aluna no sistema da
Academia, se tivesse comparecido ontem ou hoje, era provável que não a deixassem
entrar sequer pelo portão. Mas amanhã ela não pode faltar de maneira nenhuma!
– Até parece
que ela estava adivinhando… – acrescentou Haruka, sem saber bem o que pensar
sobre tudo aquilo.
Só quem passa
por momentos de sorte que são assim caídos do céu sabe bem da sensação de
alívio que fora arrancada do peito da Juliana. Menos uma coisa na lista de
coisas pelas quais ela sabia que iria levar sermão. Enquanto isso, Tolya ainda
estava cheia de farinha em seus braços, prestes a espirrar, Juliana teve que
agarrar no focinho da crocodilo para abafar o barulho e não ser descoberta.
Tamar continuou a empurrar a jovem e a manda-la embora dali, sem sucesso.
Vocês parem quietos – sussurrou Juliana
para eles.
– Só vou
precisar que a Juliana escolha o seu lado da Academia e esta parte burocrática fica
concluída – Ouviu o Diretor dizer. – Em situações normais ela ficaria na Casa
Uva, tal como todos os jovens que nascem no lado Oriental de Paldea. Mas agora,
com aquilo que eu vi aqui hoje, tenho minhas dúvidas e prefiro que seja ela a
tomar a decisão.
Naranja. Naranja. Naranja, sussurrou Juliana,
como se tivesse já a decisão tomada na ponta da língua. Ela sempre preferiu a
ideia de ir para o lado Naranja do que a ideia do lado Uva, como se isso
fizesse uma grande diferença social entre os grupos de adolescentes e jovens de
Mesagoza.
– Mas… Qual é
a sua dúvida, senhor Diretor? É claro que ela ficaria na Casa Uva!
Lá está a mãe estragando tudo…
– Ela canta e
toca muito bem – o homem observou. – Diz-me, se não for muito incomodo, existe
algum motivo específico para ela ter escrito aquela música em português?
– O que o
senhor quer dizer?
– Só estou
curioso. É que… Sabe, não é todos os dias que se encontra uma jovem de Paldea
Oriental recitando frases de Paldea Ocidental… Ela é bastante fluente na
língua.
Dia e
noite, à deriva, indo lés a lés… – atrás da porta, a jovem cantarolou parte
da letra da música. Pela primeira vez, desde a chegada do Diretor, que sentira
um certo orgulho por ele ter testemunhado seu talento.
Neste momento,
Tolya cansou-se de estar no colo, pois sentia-se aborrecida, e queria descer, tentando
fugir dos braços da jovem, que a começou a apertar ainda mais, ansiosa por
continuar a ouvir rumo da conversa. O Krokorok abominou a ideia de ver a
carpete encarnada daquele corredor cheia de pegadas de farinha, e mostrou os
dentes na direção da pequena Sandile.
Não te atrevas a botar os pés no chão,
criança, vais tomar banho tal como Lady Juliana – rosnou ele.
Banho?! Não mandas em mim! Eu não vou tomar
banho! – a Sandile assoprou de volta.
O diálogo
prosseguia, entretanto.
– O senhor Diretor
está a perguntar se Juliana já escreveu músicas no nosso espanhol? – Haruka
expôs sua dúvida – Sim, claro… Ela já tentou, mas ela volta sempre ao maldito português.
Eu sou sincera, eu não gosto…
– Humm… É a
paixão dela, dá para ver ao longe no seu olhar.
– Eu sei – Haruka
suspirou – Eu não a quero privar disso, ela é feliz assim e reconheço que ela é
muito boa no que faz mas… Meus avós são de Kitakami, se mudaram para cá à muitos
anos. É por isso que meu nome é de origem japonesa, mas eu nasci e cresci aqui
em Paldea e não conheço outra realidade. Eu não quero privar a Juliana das suas
origens da mesma maneira que eu fui privada das minhas.
Neste momento,
Tolya e Tamar já se encontravam brigando, de tal maneira que fora difícil
Juliana continuar a dar atenção ás falas dos dois adultos.
Parem com isso, vocês dois, ou voltam para as
Pokéball, caralho – Juliana sussurrou-lhes.
– Cantar é
saudável, ela só está se expressando. – disse
o Diretor.
– Mas… Eu não
gosto que ela goste de algo que lhe lembre o mal… As vezes, parece que ela está
a se atormentar a si própria… O senhor não vai compreender.
Fez-se um
breve momento de silêncio na sala, que só era quebrado pelo sussurro vindo do
corredor.
As pisadas de
dois crocodilos de areia se perseguindo um ou outro às corridas já deixavam
suas marcas: a carpete encarnada logo ficou toda sarapintada de branco. Um
extra na corrida atrás de ambos era Juliana tentando parar a dupla com uma
raiva desenfreada, tanta que só lhe apetecia gritar.
O corredor
contava com um tapeçaria antiga pendurada na parede, uma das poucas heranças dos
bisavôs paternos de Juliana. A tapeçaria retratava um grande mapa de Paldea. A
Sandile deu um pulo e agarrou-se a ele, a rir. O Krokorok gritou, horrorizado,
quando viu a criança escalando aquela peça antiguíssima.
– Acho que
estou a compreender… – comentou o Diretor, enquanto tentava ler as entrelinhas.
– Está?... –
Haruka surpreendeu-se, pois não esperava que ele chegasse logo ao ponto que ela
se referia.
– Eu pesquiso
um pouco sobre cada família de cada aluno antes das suas entradas… Pode chamar
bisbilhotar, o que preferir, mas quero que saiba que olhar a vida privada dos
nossos alunos e seus parentes não é o tipo de coisa de que eu me orgulho… Mas
muitas vezes compreendemos os problemas e encontramos soluções é pelas suas
raízes. Foi chocante… Posso dizer que lamento imenso o que vos aconteceu.
– É difícil
explicar… Senhor Diretor, se estivesse no meu lugar, o que faria?
– Eu nunca fui
pai a sério, mas considero todos os alunos que passam pela Academia como meus verdadeiros
filhos. Eles passam tanto tempo lá que a Academia tornou-se a segunda casa
destas crianças, e, portanto, eles tem que a ver como tal. Nas nossas mãos já
passaram casos devastadores, e tivemos que lidar com cada um de uma maneira
muito singular… – E fez uma pequena pausa para beber o chá, o líquido clareou a
sua garganta.
A mãe olhou na
direção da porta, estranhando a demora toda e a zaragata que não era comum,
como se uma batalha enorme estivesse a ser travada fora dos quartos. O barulho
da tapeçaria a cair gerou um estrondo devastador, e mesmo sacrificando o
tesouro da família e lamentando a destruição que criaria quando o derrubasse, Tamar
não apanhara a pequena desordeira.
Apesar do
barulho todo, o Diretor continuou tranquilo na conversa, fingindo ainda não
notar os sons sinistros e os grunhidos.
– Senhora
Haruka, só digo para a senhora acreditar mais em si e na sua filha e se
manterem unidas, que encontrarão as duas a solução certa para os vossos
problemas. A Juliana ainda é uma adolescente a conhecer o mundo e…
Apanha-me se puderes! – brincou Tolya.
SAI DE CIMA DA CARPETE! CACETE! – rosnou
Tamar.
EI, PAREM QUIETOS! O QUE VOS DEU HOJE? –
Juliana soltou, tentando agarrar na cauda de Tolya.
Na tentativa de parar a Sandile, que era a que estava a se divertir mais no meio de tudo aquilo, o Krokoroc desferiu um poderoso Bite na cauda dela, segurando-a no ar com boca a meio do corredor. Como Tamar era mais forte, a dentada magoou bastante a Sandile, que imobilizou-se, a choramingar. Tolya não esperava tanta violência por parte do mais velho, mas era um castigo muito bem dado. Para Tamar, o castigo ficaria mais perfeito ainda quando conseguir fazê-la limpar toda a bagunça gerada… Após o seu banho.
Porém, o pobre
Tamar mal teve tempo de reagir quando notou Juliana correndo em sua direção e
tropeçando em seu corpo.
A humana voou
até a porta.
A porta abriu-se
com o estrondo.
Tanto o Diretor
como a mãe olharam para o lado, bem a tempo de verem a jovem cair com a cara no
meio do chão da sala.
– A Juliana
ainda é uma adolescente a conhecer o mundo e… e é uma grande coscuvilheira!
Estou a ver, estou a ver! – disse o Diretor, um pouco chocado com o sucedido.
– Juliana,
querida, estás bem? – a mulher correu até ela para a amparar. – E quando vais
aprender a não ouvir as conversas privadas?
– Mas eu não
estava ouvindo… – ela resmungou entredentes, ainda deitada no meio do chão.
De facto, não
era totalmente mentira. Desde o momento que a briga entre seus Pokémon
começara, que seus ouvidos se desligaram ao que os dois estavam a falar.
– Hum… Vou
fingir que vou acreditar – a mãe arqueou a sobrancelha olhando melhor para as
roupas da filha. Ela se mantinha igual, nem sequer trocara a blusa, que além de
terra, agora estava cheia de farinha por causa da Sandile. – Pensando bem… Quando
os Capsakid deixarem de ter dentes eu acredito.
Os dois
crocodilos apareceram fora da porta, com ar de culpados devido ao sucedido e
preocupados com Juliana. Quando se levantou, a primeira coisa que fez foi ver
se sua preciosa guitarra estava intacta, e depois, foi com a mão às suas
Pokéballs, botando ambos de castigo.
Já o Diretor aproximou-se
devagar da jovem e tocou-lhe no ombro.
– Bem. Esquece
os pijamas… E a sujidade… Veste um casaco cumprido que cubra essas roupas sujas,
e vem comigo. Vamos à rua abafar a energia desses dois. Pode ser assim?
Juliana
seguiu a ideia. Correu até o armário e procurou o casaco de inverno mais
cumprido que por lá tivesse, longo o bastante para cobrir o tronco por inteiro.
Quem a visse iria se admirar por esta portar tal roupa pesada num dia quente
como aquele, mas a sorte é que sua mãe sugerira o pátio das traseiras da casa,
logo estaria longe dos olhares da vizinhança.
O exterior da
casa era colorido, seguindo um sistema de decoração semelhante ao do interior
com suas plantas e paredes cheias de azulejos. O jardim era muito floridos e
continha vários cultivos aqui e ali de legumes, verduras e tubérculos variados
em uma cultura sustentável, apesar de muitos estarem destruídos devido ao
Cyclizar estranho que patrulhava as redondezas. Também existia muitas árvores
de fruta, como laranjeiras antigas numa quinta dos arredores, onde Juliana na
sua infância explorava muitas vezes.
O pavimento ao
redor da casa, até a encruzilhada na rua mais abaixo de Cabo Poco era
preenchido pelas pedras de calçada típica paldeana. A mãe dirigiu-se ao
estendal, para certificar-se ver se as peças de roupa que estendera à meia hora
atrás já estavam secas. Depois arranjou um espacinho para pendurar a tapeçaria
numa linha á parte, já que aquela peça antiga não podia ser lavada, iria aspirá-la
ao ar livre para remover a farinha.
O
Diretor foi para o meio do pátio das traseiras, com Juliana atrás de si, onde a
calçada era mais ampla. Respirou fundo, enquanto observava o mar brilhante e
todo o horizonte, e as flores e plantas do jardim.
–
Menina Juliana, peço-lhe o favor. Solta a tua Sandile e o teu Krokorok, eles
precisam de apanhar esta maresia – pediu-lhe com educação.
Apesar
de não querer mais problemas hoje com aqueles dois, assim o fez. A jovem soltou
os seus Pokémon. Tolya e Tamar ainda estavam muito zangados um com o outro,
quase a se atacarem, mas o som distante do mar acalmou-lhes as atitudes e os
pensamentos.
– É tradição
da Academia, oferecer um companheiro aos alunos novos que acabaram de se
matricularem e nunca tiveram um Pokémon só seu antes – começou o Diretor para
Juliana e seus dois amigos. – Acontece que isto sofreu uma modificação meses atrás,
que é a seguinte: se o aluno já tem em pose mais de dois Pokémon, não teriam
direito ao presente, pois este é mais visionado a jovens que nunca antes se
familiarizaram com um Pokémon próprio.
A
rapariga sentiu-se decepcionada. Era óbvio que ela queria um companheiro novo,
e já ouvira falar antes na grande tradição da Academia, uma das poucas coisas
que ela mais ansiava acontecer quando fosse a Mesagoza pela primeira vez.
Ai Juliana
lembrou-se: mesmo se tivesse direito a algo, era possível não o receber, pois,
além de ser apanhada a coscuvilhar e faltar aos dois primeiros dias da Academia,
provara-se uma péssima treinadora: destruiu o corredor da casa pois mal
conseguiu controlar uma Sandile irrequieta cheia de farinha e um Krokorok que
fica dando uma de mordomo educado que gosta de banhos quentes.
O
Diretor esboçou um sorriso no canto da boca, pela surpresa da jovem.
–
Mas, como és uma jovem bem especial, considera isto uma oferta.
Diretor
Clavell atirou ao ar três esferas bicolores e três criaturas de ar engraçado
saíram do feixe de luz.
Juliana
observou-os, completamente maravilhada com o que estava acontecendo, enquanto
os três pequenos também analisavam a sua potencial treinadora.
O inicial do
tipo Grass era um gato de pelo curto, com uma grande mancha de verde mais
escuro na cara, pescoço e orelhas. Seus olhos redondos lembravam bagas de uva,
e o pequeno nariz rosa lhe enchia a expressão com ainda mais vida.
Depois surgiu
um patinho vaidoso e de ar confiante. Tinham patas azuis e o cabelo na cabeça
lembrava em muito o chapéu de um velho marinheiro de outros tempos.
Ao lado do
patinho vaidoso, estava um crocodilo de pele encarnada e de face pálida, com
uma expressão folgada. Ele bem ficou uns breves instantes olhando a jovem, mas
logo caminhou na direção de uma laranja caída de uma das árvores. O sol fazia a
pequena crista no topo da sua cabeça brilhar intensamente.
– Seus nomes, Sprigatito,
Quaxly e Fuecoco, repectivamente. Digam olá – apresentou o Diretor, e os três
reagiram á humana, que se agachou para os receber. – Vá lá! Escolhe à vontade!
Um deles será teu! E um novo amigo para toda a vida – e depois olhou para a
Sandile e o Krokorok, a rir – Se esses dois darem-te autorização para a
presença de um companheiro novo, é claro.
Um de vocês, como desejo de Lady Juliana,
será bem-vindo a nossa humilde casa – Tamar grunhiu, realizando uma vénia
cordial.
Oh, mais um desgraçado para fazer sofrer –
sorriu Tolya, mostrando os dentes de forma paranóica, mas sendo ignorara pelos
três com sucesso.
Como qualquer
jovem, que ficava meses a pensar em qual seria a escolha do inicial antes da
chegada do grande dia, era claro que Juliana já sabia o que fazer. A jovem
pulava de alegria, tanto que Tolya e Tamar sentiram-se envergonhados pela sua
treinadora começar a disparatar, mas eles próprios também estavam curiosos em
conhecer mais sobre as visitas. Ao longe, Haruka sorria, relembrando-se do entusiasmo
tudo o que sentira no dia que recebera o seu Fidough.
A
adolescente sentou-se no meio do chão de calçada em frente aos três, já com a
sua guitarra posta ao peito. Se era uma escolha tão especial, queria um
companheiro que partilhasse do mesmo gosto musical que ela tinha, tal como
Tolya e Tamar, que adoravam cada canção que ela tocava.
Os Pokémon
papagaios saíram das árvores e pousaram no telhado da casa, e os funcionários
do interior da padaria espreitaram pela janela, mal ouviram os primeiros
acordes.
– Então. Qual
de vocês os dois gosta de música? – Questionou ela para a Sprigatito e o
Quaxly.
Fuecoco mordeu
a sua laranja, sem se importar de ter ficado excluído. Bem lá no fundo ele
sabia que não seria escolhido. Juliana já tinha dois crocodilos, não precisava
de mais um crocodilo desordeiro para lhe pôr os cabelos em pé.
Quaxly
observava as nuvens, distraído, depois foi até uma torneira de água numa
pequena fonte ao pé da mangueira do jardim, brincando com a água que se
acumulava na bacia a cada gota que caia.
A Sprigatito
lavava a face com a sua pata, sem se importar se a humana estava a falar com
ela ou não. Também seguiu uma direção que lhe interessasse, no caso, dirigiu-se
a um enorme canteiro do jardim, onde apreciaria o perfume das flores coloridas.
– Publicou
difícil… – a rapariga murmurou, começando a tocar nas cordas da guitarra.
Talvez tocar despertasse naqueles monstrinhos alguma coisa que a ajudasse na decisão. No início daquele dia sua vontade para a música estava uma lástima, mas ali fora, com aqueles novos amigos e olhando melhor o bom tempo do dia, o chamado da inspiração fez-lhe um arrepio maior na pele. No interior da padaria, Manjar começou com alguns uivos para acompanhar as notas. Tolya e Tamar batia nas pedras da calçada. A Tinkatuff sem nome e o Skwovet pegaram em vários utensílios de cozinha, para fazerem seu próprio barulho acompanhando a melodia da jovem. Os Squawkabilly do topo do telhado pararam seus piares de excitação, fazendo seus corpos serem levados pelo ritmo do som da guitarra como pequenos bailarinos.
– Como é que a
sua filha… – o Diretor começou, abismado.
– Ela passa
muito tempo em casa. Eles praticam – respondeu a mãe, em tom baixo, para não
interromper.
O grupo
rapidamente transformou-se numa orquestra coordenada pela rapariga. Não era das
melhores das orquestras, nem das mais talentosas, mas um grupo bem casual, onde
a música que saia de todos era feita de paixão.
A Sprigatito
piscou os olhos na direção de Juliana, Quaxly também aproximou-se. O Fuecoco
não ligou nenhuma, e continuou a tentar descascar a sua laranja, chamuscando-a
com suas chamas por completo.
A rapariga
estava prestes a fazer a sua escolha, enquanto media a aproximação dos dois e o
interesse destes por aquilo que ela fazia. Porém, o som que saia do seu instrumento
musical foi interrompido rapidamente, obrigando-a a parar.
O telefone do Diretor
Clavell estava a tocar.
– Oh, a esta
hora? Deve ser importante, se me derem licença, preciso de atender – e o homem
foi com a mão ao telefone para atender.
Ele afastando-se,
decepcionado, um pouco mais para o interior do jardim, onde iria ter mais
privacidade.
Haruka olhou
para a filha de modo bem pesado, como quem dizia ‘’nem tentes ir coscuvilhar’’.
De qualquer das maneiras, Juliana tinha boa audição e conseguiu captar boa
parte daquilo que o Diretor discutia.
– Sim?... Aconteceu alguma coisa?... O QUÊ?...
Mas ele… Ele está bem?... No Hospital?!...
Oh… Sim… Estou a perceber… Sim… Sim… Okay… Ambos podem ser transferidos para a
enfermaria da Academia, se for esse mesmo o desejo dele. Ok… Ok… Ok… Vou já a
caminho.
E desligou a
chamada, olhando para mãe e filha com imensa preocupação no olhar.
Tamar
entendera logo que o Diretor se ia embora, e apressou-se em ir buscar as coisas
dele ao interior da casa. Quando o Diretor as recebeu de volta, começou a se
despedir.
– Oh, parece
que chegou a hora de me ir embora… Aconteceu um imprevisto grave com um aluno
que está debaixo da minha tutela. Vou ter que regressar a Mesagoza
imediatamente.
– Mas… Já? A
Juliana ainda nem escolheu o seu Pokémon – senhora Haruka comentou,
decepcionada.
– Gostaria imenso
de ficar mais um bocadinho e ver qual deles ela vai escolher. Me desculpem – e
realizou uma vénia educada, olhando para a mulher – Mas isto é muito importante
e não posso gastar nem mais um segundo… Obrigado pelo chá, gostei imenso de
conhecer a senhora e ouvir a música da sua filha. Sua casa é bem agradável, e
confio que sua filha ainda será um dia uma das nossas melhores alunas.
– Eu que
agradeço, senhor diretor – a mulher acenou-lhe, ainda processar toda aquela
pressa.
O homem então
começou a se distanciar. Juliana notara que ele não iria levar os Pokémon consigo,
pois não os retornara para a Pokéball de cada um.
– Espera, senhor
Diretor! O Diretor tem a certeza que eu posso ficar com os três aqui?! –
Juliana gritou na direção dele, que se afastava cada vez mais de tão apressado
que os seus passos eram.
– Escolhe um,
Juliana. Apenas UM! Os restantes leva-os até Nemona, que depois eles voltam
para mim através dela. Vê se não os perdes! Ou então, devolve amanhã! Meia hora
antes de ires às aulas, passa pelo meu escritório! – e repetiu o aviso. – MEIA
HORA ANTES DAS AULAS! VÊ LÁ SE NÃO FALTAS!
O Diretor já
se encontrava a contornar a casa, e mal se apanhou na rua da frente da padaria,
longe da vista de Haruka e Juliana, correu devido a sua pressa toda,
desaparecendo no trilho entre as árvores em direção a Los Platos e Mesagoza.
Juliana voltou
para o lado dos três Pokémon, que estavam cada vez mais inquietos, desejosos em
explorar melhor os arredores. Como ela iria cuidar daqueles três? Qual deles
iria escolher?
E, o mais
importante, acima de tudo…
– Mãe… Tens ai
o mapa de Paldea à mão, não é?
– Sim, estou a
limpar a tapeçaria do corredor da sujidade que aqueles dois fizeram – comentou,
fitando diretamente os crocodilos de areia, que se encolheram, sentindo a culpa
pesar-lhes. – Porque perguntas?
– Mãe… Podes
ver ai onde fica Nemona?
Tanto a jovem
como a mãe analisaram a tapeçaria, mas não viram nada com esse nome nos
arredores nem nada parecido no mapa. Juliana procedeu então a modernidades,
confirmando os locais com recurso a seu Rotom Phone, mas não valia muito, pois
o mapa de Los Platos e Cabo Poco ou não era atualizado no sistema fazia anos – ou
então o local não existia mesmo de maneira nenhuma. Juliana explorava todo o
local desde que se lembrava, se existisse algo assim, ela sabia-o.
– Acho que
Nemona não é um local, filha – comentou a mãe.
– Talvez seja
uma pessoa, o nome não me é estranho, tenho certeza que já o ouvi em algum
lugar…
– Talvez podes
perguntar à vizinhança – sugeriu a mulher.
Quando olhou
para o lado, para ver o que a Sprigatito, Quaxly, e Fuecoco andavam a fazer,
Juliana entrou em choque. A Sandile e a Krokorok olharam ao redor, pois também
se tinham distraído uns miseráveis segundos.
Os três
Pokémon do Diretor ainda agora estavam ali.
Mas tinham
desaparecido… Eles bem estavam inquietos para desaparecer de vista.
– Só faltava
mais essa agora… – bufou.
– Tenho que
voltar a abrir a porta, acho que já perdi clientes na loja… E ver se aqueles me
destruíram a cozinha – senhora Haruka apontou. – A Sprigatito, o Quaxly, e o
Fuecoco agora são tua responsabilidade. Vai á procura deles.
– Ótimo… –
Juliana resmungou entre dentes, por ver que não teria ajuda da mãe e iria se
virar sozinha.
Agarrou a sua
guitarra, recitando alguns versos improvisados na companhia de várias notas.
Não eram rimas lá muito boas, mas foi o que o, no momento, lhe surgiu melhor na
ponta da língua.
Entre o pão e o farol;
O gato, o pato, e o crocodilo;
Debaixo de um sol escaldante;
Caminham um rumo errante;
Malditos sejam.
–
AGIAHHHHH AGIAHHHH – O som súbito não
fora proferido pela jovem.
Naquele mesmo instante,
sua espinha arrepiou-se, quando um rugido foi sentido por entre as árvores, lhe
interrompendo o verso.
Era um rugido
bem alto. Juliana olhou para cima, avistando grupos de Pokémon voadores a
levantarem voo, preenchendo o céu.
Ela conhecia
bem aquele som. O som de um predador enorme nas proximidades.
O som do seu
tão ambicionado Cyclizar estranho.
Ele estava
perto.
Bem perto.
E daria um toque muito especial e ainda mais entusiasmante a toda a sua busca.
E para piorar;
Lá está o grito triunfante;
E assim, esta tarde;
Uma caçada vai se iniciar;
De um lagarto;
Preparando um almoço repugnante;
Com suas novas… Presas.
Diga Shii!
ResponderExcluirDepois da breve introdução no capítulo anterior, agora sim temos a devida apresentação da Juju! Até aqui, sem sombra de dúvida, a personagem mais cativante que você nos trouxe. Não lembro se comentei isso no capítulo passado, mas fazer dela uma personagem intimamente relacionada com a música é um toque de originalidade que a torna muito interessante. E essa é justamente a rota de fuga dela de sua própria dificuldade em participar de interações sociais.
A aparição do Clavell já deu aquele frio na espinha da nossa querida matadora de aula, mas aqui foi provado que Juju não fez nem cerimônia de já começar a história abusando da sua sorte de protagonista kkkkkkkkkkkk Espero que a partir daqui ela comece a frequentar as aulas, até pra não causar problemas.
E quando uma coisa dá errado, tudo começa a dar errado junto. Os três Pokémons do diretor sumiram, o Cyclizar esquisito voltou a andar por aí grasnando igual louco em plena luz do dia, e a coitada da Juliana ainda não sabe nem o que é uma Nemona.
Ótimo capítulo, Shii! Vamos continuar nesse ritmo.
Até a próxima! õ/
Sombrinha! Juliana é uma personagem que eu criei uma afeição muito rápido, espero estar a conseguir deixar ela consistente! Sempre tive problemas com personalidades de personagens, e as vezes é complicado analisar e manter tudo no seu padrão, mas pouco a pouco eu vou conseguir! Já foi um começo dar a Juju este traço tão único, apesar dela ser a tipica adolescente irresponsável que se distrai e por causa disso falta às aulas.
ExcluirPerdi a conta das vezes que estas sortes loucas aconteciam comigo na época quando estudava, decidi dar um toque disso em Paldea também!
Obrigado pela sua presença TAMARAVILHOSA aqui, Shadow! QUE VENHAM os próximos capítulos!
AMEI!! Esse capítulo foi muito bom!! Eu tô cheio de teorias e curioso, para ver como tudo vai se desenvolver!
ResponderExcluirFuecoco parece que vai ser o conquistado pela música, o que me anima muito já que a evolução dele é um cantor e seria ótimo ver ele junto com a Juli cantando.
Do Diretor, eu acho suspeito essa ida ao hospital, deve ter algo rolando 👀
Quanto a mãe da Juli, me preocupo um pouco com o passado dela :/ ela parece ter sofrido algum trauma, o que deve ter haver com Ex, que espero eu, se aparecer não seja um babaca, de eu não eu mesmo dou uma coça nele!
Finalizo, dizendo que estou adorando o lado musical da Juliana, ele tem uma personalidade muito cativante e me anima imaginar ela cantando, outro ponto que gostei foi haver tanto Uva como laranja, e não só uma das academias, o que pode dar uma dinâmica legal de rivalidades ou não, estou ansioso para descobrir nos próximos capítulos, penso se veremos um pouco mais da escola em capítulos futuros e como será a interação de Juliana e Nemona (minha segunda personagem Favorita dos jogos) perdendo apenas para Penny que também espero ver em breve, tendo amizade com a Juli.
<3
AAA OBRIGADO! Fico muito feliz que gostou <3<3
ExcluirPassado da mãe da Juju e da própria Juju ainda é um ponto muito novo na minha cabeça que eu não faço a mínima ideia como vou desenrolar. Já me habituei à ideia que hoje em dia é quase uma regra protagonistas terem algum tipo de trauma, de qualquer das maneiras, estou seguindo o que meu coração e as próprias personagens dizem para eu fazer.
Sobre a Nemona, ela é uma personagem complicada de trabalhar, mas como é uma das favoritas do pessoal, espero que a minha versão dela seja do agrado de todos! Posso dizer que no Capitulo 3 ela já vai dar a cara kkk
Abraços! E até a próxima!
Oi Shii!
ResponderExcluirAcho que percebi uma mudança de ritmo neste capítulo, em comparação aos dois últimos. Este capítulo pareceu ter mais elementos cômicos, o que não é necessariamente algo ruim, mas é uma observação interessante a se fazer.
É ótimo ver que a Juju está se tornando uma personagem querida e que a sua abordagem original de relacioná-la com a música está sendo apreciada.
Digo desde já que acho que ela irá ficar com Fuecoco, acho que a personalidade de ambos combina bastante sem contar que será incrivel ver mais um crocodilo se juntar ao bando.
Estou super animado para ver o tão aguardado encontro entre Juliana e Nemona! A personagem da Nemona vem conquistando meu interesse cada vez mais, e mal posso esperar para ver como a dinâmica entre elas irá se desenrolar. Embora tente não criar expectativas muito altas, estou curioso para ver como elas vão interagir, já que parecem ter personalidades semelhantes, pelo menos se compararmos com a Nemona dos jogos.
Parabéns pelo capítulo e estarei aqui para o próximo! Um abraço.
Até logo!
Eu sou horrível a escrever comédia. Não era bem minha intensão, mas de certa maneira fico feliz em ver que acharam alguma coisa engraçada aqui kkk
ExcluirEu tenho medo quando alguém menciona mudança de ritmo, porque significa que alguma coisa está a descambar para o lado kk Eu já reparei que não consigo manter certas coisas a longo prazo, mas é para isso que estamos aqui a escrever e a praticar. A cada dia aprendo algo novo sobre criar histórias! O que fazer ou como evitar algo, e isso me faz apreciar ainda mais as histórias de quem me rodeia, pois eu admiro muito a forma como todos enfrentaram aquilo que para mim é uma dificuldade e entregam um trabalho incrível!
Nemona está um pouco difícil de escrever. Mas ao mesmo tempo, estou a gostar de me desafiar com ela! Não sei se ela vai ser tão marcante como nos jogos, mas espero fazer algo no mínimo decente com ela.
Até a próxima!
Bom dia Shiii
ResponderExcluirParece que chegamos ao meu primeiro comentário por aqui, sim acabei por não comentar o prólogo que contava a história da menina Sada, ou o capítulo um e as consequências que Arvim vive por causa do livro falando de sua mãe.
Mas hoje eu estou aqui e venho dizer que estou me inspirando em sua viajem por Paldea, devo até dizer que você me motiva a reviver Neo Sinnoh.
Caracas, menina mal começou as suas aventuras e já tem 3 jacaré!
Nem venha me dizer que é só dois pq eu sei que a cantora vai escolher o cantor, Juliana vai ser a treinadora de lagartixa!
Por enquanto é isso, logo leio mais de sua história!
Juliana treinadora de lagartixas é uma ideia tão boaaaa AAAAAAAA mas será que a personagem quer mesmo isso para sua vida? Só o tempo vai dizer kkk Tenho uns bons planos para ela, mesmo que não seja o que o pessoal pensa que vai ser, acredito que vão gostar.
ExcluirE eu fico muito feliz em ver que estou sendo inspiração para alguém! Estou a dar meu melhor como escritora e quero aprender mais e melhorar no que faço! VAMOS PRODUZIR!
Muito Obrigado pelo comentário Anan! Até a próxima! E quem sabe, voltaremos a nos reencontrar em Neo Sinnoh!