Posted by : Shiny Reshiram 31 de jan. de 2023

Fechei os olhos, respirando o ar abafado da manhã.


As rodas da carroça que me mantinham em cativeiro continuavam o seu ritmo monótono do costume, nunca aceleravam, nem nunca abrandavam. Por vezes, eu mal notava que estávamos em constante movimento.


O céu claro conservava seu horizonte pintado por uma montanha distante, limpa, sem nuvem alguma a encobrindo. Meus avós sempre diziam: Quando nuvens dominassem aquela montanha em questão, adotando o formato semelhante a um chapéu no seu cume, era sinal de chuva intensa nos próximos dias – quantos mais dias a montanha continuasse descoberta, mais meses a terra não seria refrescada pelas lágrimas sagradas de O Todo-Poderoso Sinnoh.


E nosso povo temia tal superstição, pois não existia sinal de nuvem nenhuma há semanas, para não dizer meses.



Grande parte do continente estava a passar por uma fase de seca extrema, o que não era usual tendo em conta o seu típico clima frio. Colheitas secaram, reinos caíam, pessoas e Pokémon morreram à fome e sede. A onda de calor misteriosa estava a obrigar muitos povos e Pokémon a adaptarem-se a novos estilos de vida, ou então, tal como nós, saírem de suas casas e partirem para outros lados da região em busca de abrigo e melhores condições.


Sentia muito a falta da neve e gelo que cobria toda a minha terra natal. Nossa aldeia fora literalmente reduzida a areia por causa do calor abrasador que o sol assombrava por cima de nossas cabeças. Era difícil perceber para onde tanta água oriunda da neve derretida fora parar, mas não dava para fazer nada quanto a isso, além de procurar por um novo lar.


Muitos mistérios ficariam para sempre por resolver – uma verdade que muitos tinham que aprender a engolir.


Rumores vindos de todos os lados descreviam batalhas entre monstros gigantes no litoral, provocando tremores de terra aterradores, que logo faziam pedaços enormes de rocha se separar do continente, formando ilhas cujo mar bravio levava para longe, muito longe.


Mas não passavam de rumores e não tínhamos opção de sobrevivência se ficássemos naquele deserto escaldante. Queríamos descobrir a verdade por nossa conta em risco e só então temeríamos tais desgraças.


Pegamos em todas as nossas coisas, abrigámos nossos Pokémon, montámos carroças, e parti-mos, cautelosos, para destino incerto.


Em nossas poucas paragens, negociávamos por comida e água, trocando ou vendendo o pouco que tínhamos em mãos e ajudando outros.


De momento, estávamos afastados de quaisquer civilizações, caminhando por uma área outrora lamacenta.


Tentai não olhar para fora.


Era muito triste avistar, em pleno dia, vários tipos de Pokémon esqueléticos esfregando as patas na terra em busca de comida. Estes evitaram migrar, pois dependiam do pântano que aqui existira para sobreviver, mas, mais tarde ou mais cedo, iriam ceder ao chamado da natureza, afinal, já se encontravam a contrariar seus comportamentos diurnos.


Respirei fundo outra vez.


Não sei se foi a minha respiração ou não, mas senti a lona que me encobria a mover-se. Dentro da carroça estava, mal por mal, mais fresco do que lá fora, e isso era uma das poucas coisas boas que me mantinham presa naquela escuridão solitária e sufocante.


Senti a aragem outra vez, passando pelo tecido grosso e impermeável, tocando na minha nuca.


Não.


Não estava a sonhar.


Persenti toda a carroça abrandar, em segundos, até se imobilizar completamente. Ainda esperei para saber se estava mesmo imaginando, mas não estava. O guincho das rodas rudimentares da carroça, resultante da madeira e metal sobre a terra, deixou de penetrar meus ouvidos.


Olhei para fora, espreitando por uma pequena fissura da lona na parte da saída da carroça. Vi meus cabelos serem movidos por uma brisa fresca.


Vento.


Um vento frio.


Finalmente vento!


Nossas faces foram inundadas por um longo sorriso. Uma alegria descontrolada inundou-nos a todos! Vi meus familiares saírem das suas carroças e saltitarem de emoção.


Era um bom sinal.


Só foi uma pena que o momento milagroso durara pouco.


Muito pouco.


Minha família encontrou-se apreensiva. Eles realmente acreditaram que, com aquele vento forte, viriam as nuvens, e, com as nuvens, a chuva tanto cobiçada.


Olhando para o céu, lambi os meus lábios ressequidos, ainda jurei sentir neles o refresco da rasada fria que me inundara a face escassos momentos atrás.


Meu pai fumava um cachimbo, encostado na sua carroça, mais á frente. Eu mal tinha notado sua presença folgada no exterior. Ele olhou para mim, com desdém.


– Volta para dentro – mandou, de modo inegável. Sua voz era árida, tal como o solo seco que pisávamos.


E, sem pestanejar, obedeci á sua ordem.


Minha família decidiu acampar mesmo ali naquela noite. Prepararam, em diversos pontos estratégicos, inúmeros baldes de madeira vazios para coleta de água. Esperavam desejosos o início da tempestade, uma presença futura que o vento pareceu sussurrar-lhes nos ouvidos.


Ainda era difícil saber se aquele vento fora imaginação nossa ou não, mas uma rajada daquelas era sempre sinal de tempestade eminente. Apesar de eu não acreditar. Se fosse mesmo para chover, já estava a chover a potes – a montanha sem nuvens estava ali para provar isso.


Não sai, nem me juntei aos meus familiares ao jantar. Era a ordem do meu pai. Não podia.


Estava de castigo.


Ele sabia o meu segredo.


Minha irmã foi a responsável em me trazer o jantar, mas eu fui privada de lhe falar, ouvir sua voz, acariciar, abraçar, tocar, ou até mesmo de ver a sua face carinhosa. Mantive-me, por obrigação, de costas viradas, no momento que ela penetrou os pratos no interior da minha carroça.


Não te tivesses metido em bruxarias, só vais sair quando cumprires o castigo – As palavras escuras do meu pai ainda me assombravam a mente.


Toda a nossa discussão, a bofetada que ele me dera na face…


Era uma sorte eu ter direito ao pouco alimento que tínhamos em mãos, sabia que ele tinha sido – e ainda estava a ser – bem generoso a medir o peso das minhas ações.


Junto com o jantar, minha irmãzinha deixara um diário seu, o mesmo que ela usava para escrever, desenhar e anotar tudo um pouco sobre as nossas viagens. Ler aquelas páginas e recordar momentos antigos era uma viagem encantadora. Encontrei algo interessante quando esfolheava-o só para passar o tempo. Uma folha seca de uma árvore cujo nome eu ainda desconhecia encontrava-se escondida entre as páginas.


Que melhores tempos venham – Esta era a descrição, em letras bem bonitas, gravada na superfície amarelada, por debaixo do local da página de onde removi a folha seca.


Analisei aquele pedaço ressequido na ponta dos meus dedos, procurando aponta-lho para a lanterna que pendia no teto da carroça. As chamas entregavam uma luz que penetrou na folha, tornando-a quase translúcida, e era interessante analisar a mesma nesta perspectiva: a folha parecia um coração, com seu rebordo recortado, quase como uma asa perdida de uma borboleta.


Liberdade – Foi a única coisa que aquilo me lembrava, apesar de nunca ter avistado um Butterfree na minha vida. Vários locais por onde passei tinham Venomoths, não as imaginava assim tão diferentes – Borboletas são símbolos da liberdade.


Eu sabia que aquelas árvores eram vistas como tão antigas como este mundo, significavam a vida, a longevidade. Minha irmã as conhecera e ficara encantada por elas, sua beleza e seu significado na nossa última paragem.


Só era uma pena que a única árvore exemplar que eles tinham na aldeia estava a morrer, com as folhas caídas encobrindo o chão, e os ramos parcialmente nus. Mas ela ainda assim considerou aquele exemplar esplêndido, e isso foi algo que eu apreciei bastante vindo dela.


Olhei os alimentos. Não estava com fome alguma.


Sabia que alguém precisava daquele pão e daquele naco de carne mais do que eu.


Estava a ficar cansada de seguir ordens. Cansada de continuar presa sem o ver.


Encarei a folha seca… Liberdade… A palavra continuou a ressoar no pensamento, como se a mesma fosse a força necessária que eu precisava para me mover.


Esperei mais umas horas. Até a noite encobrir todo o acampamento completamente e certificar-me que todos já dormiam a sono solto.


Eu podia ser apanhada por alguém em plena fuga, e sabia que era muito perigoso me afastar do acampamento à noite, com tanto Pokémon esfomeado por ai a caçar pela calada da penumbra.


Mas eu não tinha medo nenhum do escuro.


E também não estava totalmente sozinha na travessia.


Certifiquei-me que todos já se encontravam a dormir. Agarrei numa bolsa de couro onde guardei a comida e amarrei-a à minha cintura.


Respirei fundo, saí da carroça em rebeldia, apesar de reconhecer todos os riscos que eu tomava, estava mais do que na hora de ser a Venomoth que eu sentia que era.


Mantive passos vagarosos para ninguém me sentir, esgueirando-me por detrás das outras carroças enfileiradas em semicírculo pelo local.


Fugia dali.


Para o mais longe possível.


Não sabia bem para onde iria dirigir-me primeiro. Mas isso não importava.


Ele seguia-me. Ele vinha atrás de mim para todo o lugar.


Ele estava sempre comigo. De qualquer das maneiras, eu o iria encontrar.


Mais cedo ou mais tarde.


Ele levar-me-ia até lá.


Eu visitaria novamente o meu Paraíso.


E, nem que demorasse uma eternidade, estaria novamente nos braços do meu amor.



Fica aqui em Paldea, comigo – Ouvi sua voz doce, sussurrar-me no ouvido.


Espreguicei meu corpo, abraçando-o mais para mim. Apenas um fino lençol branco separava o corpo dele do meu.


Ao nosso lado, dois lagartos repousavam, com a cabeça pousada por cima das patas dianteiras, e, para nós dois, serviam como um género de parede de proteção. Uma muralha impenetrável que nos separava do restante mundo, tal como todas as altas paredes de cristal que nos circundavam.


Estava no meu mundo mais precioso… O meu Paraíso…


Do meu lado, via a cabeça do lagarto escarlate coroada por penas brancas e azuis, que por vezes se transformavam em asas. E do outro lado, do lado do meu companheiro, o lagarto violeta, coroado com raios por cima dos olhos, que exibiam o único feixe de luz que clareava todo o local. Esta luz ao atingir as paredes claras de cristal, faziam todo aquele cantinho do mundo brilhar em arco-íris.


Não estava demasiado frio, nem um calor abrasador. Era um clima agradável e reconfortante, nada parecido com o da minha terra natal – nem antes quando esta era dominada por frio e neve, nem agora, com seu sol doentio.


Eu sabia que estava longe, muito longe da terra que eu conhecia. Ainda não entendia como, nem porquê, mas sabia. E, ao mesmo tempo que estava ali, desfrutando, no meio da penumbra multicolorida, daquele espacinho tão especial com ele, sentia que não podia permanecer por ali para sempre.


Infelizmente... Não era a lei da vida.


Fica aqui em Paldea, comigo – ouvi sua voz doce, sussurrar-me no ouvido, questionando-me mais uma vez a mesma pergunta. – Por favor… Fica comigo…


Seu tom parecia desesperado, pois queria manter-me sempre ao seu lado.


– Desculpa… – murmurei, entristecida, enquanto lhe respondia. Uma lágrima escorreu-me pelo rosto, cintilando, até ele a limpar numa carícia com as costas da sua mão. – Não posso…


Desde o momento que eu encontrara aquela fenda no tempo e aqueles Pokémon, que tem sido sempre assim. Eles levam-me para todos os lugares que se podem imaginar. Corríamos outros tempos, outros espaços. Quando montava no lagarto escarlate e entrava na fenda de cristal, era como se eu recuasse no tempo, e depois, quando montava no lagarto violeta e entrava na mesma fenda de cristal, era como se eu avançasse no tempo.


Umas vezes, eles atendiam meus desejos, já em outras, eles levavam-me apenas para onde eles próprios desejavam que eu fosse. Em muitas circunstâncias, as viagens eram uma questão de segundos, outras, pareciam horas que não teriam fim.


Muitas vezes, eu não entendia nada do lugar que visitava, nem sua história, nem as suas pessoas nem contextos. Já em outras, estava demasiado familiarizada com o ponto histórico onde me encontrava.


Mas não importava quanto tempo demoraria, por mim, podia ser todo o tempo que fosse preciso. Para mim, podia ser a minha vida inteira. Eram viagens viciantes, repletas de autêntico conhecimento. Poder ir onde eu quisesse e quando eu quisesse, sem me preocupar com muita coisa, e sentir a história dos meus descendentes e dos meus antepassados passar-me sobre a pele.


Ao lado daqueles Pokémon de outras eras, ao lado daquele homem, e sabendo que éramos os únicos que conhecíamos aquele Paraíso, eu sentia que dominava o mundo todo.


Obrigado querida, pela comida, estamos a passar imensas dificuldades – comentou ele – Não sabes o quanto eu estou grato por te ter agora nos meus braços.


– Eu também… Espero que me perdoes. Queria mesmo ficar contigo para sempre… - respondi, segurando a respiração para não desatar em mais lágrimas.


Eu sentia que eu era verdadeiramente feliz ao seu lado. Não me queria separar dele! Não me queria afastar dele! Nunca mais!


Enquanto lhe acariciava o rosto, deliciava-me como o picadinho da sua barba na ponta dos meus dedos. Ele encostou os lábios aos meus, e senti suas mãos suaves cercarem o meu corpo.


Não sei se sobreviveria mais tempo sem ti, não vás agora… Fica mais um bocadinho… Por favor… Fica.


Ele sentia o mesmo que eu sentia, compartilhávamos a mesma vontade em ficar. Nossos interiores gritavam revoltados com as leis da nossa existência.


Ele era o amor da minha vida, e eu, o amor da vida dele. Mas eu sabia que ele era uma pessoa de outro tempo ou de outra dimensão, que eu encontrara nas minhas viagens. Nunca entendi bem de onde ele veio, nem suas origens, mas uma coisa eu tinha certeza, depois de todo o nosso tempo juntos: Ele era o meu maior achado!


Mas eu não podia ficar com ele para sempre…


Abri-me, retribuindo as caricias, envolvendo meus braços em seu pescoço, puxando-o mais para mim, deixando que ele me dominasse enquanto trocava-mos mais beijos escaldantes.


Queria tornar-me um só, mais uma vez, com ele.


Pelo menos… Só mais uma vez… Uma última vez…


Estremecia de prazer, desejosa por mais. Desesperada em aproveitar todo o tempo que eu podia ao lado dele.


Nós dois sempre ambicionávamos mais.


Muito mais.


Queria ficar ali assim com ele. Queria que isto durasse para sempre.


Mas um trovão ressoou ao longe, e foi como se eu fosse atingida pelo raio.


Foi o trovão que me trouxe de novo à realidade.


À minha realidade.


As paredes de cristal que nos rodearam tremeram, e, lentamente, iam deixando de brilhar e tremeluzir seus sons encantados. Os tremores se intensificavam, e as rochas iam caindo uma após outra até se tornarem numa chuva sem fim.


Toda a nossa ousadia… Já tinha sido… Demasiada para aquele poder.


Afastei-me dele, parecia que nós dois nunca antes nos havíamos tocado de tão distantes que agora nos encontrávamos.


CORRE! SALVA-TE – o ouvi gritar, na minha direção, um grito que terminou em apenas um eco distante, cujo final ninguém conseguia ouvir.


O lagarto escarlate rugiu, tomando-me nos seus braços face ao perigo que agora sentíamos quando tudo estava para se desmoronar. Quando dei por mim, estava montada no seu lombo, e ele, lá ao longe, seguindo uma estrada completamente oposta na gruta de cristal, montado no lagarto violeta. Ambos éramos separados por uma barreira impenetrável de cristal invisível e uma chuva de estalactites.


O Paraíso estava a se desmoronar.


O nosso Paraíso...


E eu… Eu não podia. Não podia deixar-me levar novamente ao seu toque. Não podia ceder novamente àquela paixão incontrolável.


Respirei fundo. Aguentava não desatar a soltar rios de lágrimas.


Nossas respirações pesavam de tristeza. Sentia a dele, angustiante, e a minha.


Dois corações destroçados. Dois corações loucamente apaixonados, tão longínquos um do outro.


Meu interior lamentava. Tal igual como o dele por estar tão longe de mim agora.


Ainda fugi da proteção do lagarto escarlate e tentai alcançá-lo, ainda tentai esticar o meu braço na sua direção, ainda corri, corri… Corri tanto, tanto até ele. Mas tropecei, e caí… E o lagarto escarlate alcançou-me, e, mais uma vez nos braços dele, puxou-me para mais longe, para mais longe dali, na direção contrária ao do meu amado.


Não consegui. Todo o esforço fora em vão.


Não segurei a sua mão.


O lagarto escarlate acelerou, acelerou tanto sua fuga até ficar sem fôlego, escalando as paredes e fugindo dos cristais que caíam por todo o local e se estilhaçavam por todo o chão, tornando-se numa fina poeira branca.


Toda a minha vida passou-me em frente aos olhos, cegada pelo espectáculo intemporal.


Eu ainda era nova, muito nova, talvez devia ter ligado ao que meu pai dissera, talvez não me devia ter metido naquelas aventuras.


Aquelas malditas aventuras… Ou bruxarias, como meu pai as chamava.


Parecia que estava tudo sobre controlo, seguindo o trilho marcado de regresso à realidade. Ao passar por um caminho estreito, o lagarto escarlate rugiu alto, quando parte de seu corpo fora atingida por uma pedra pesada do teto, que havia cedido em poucos instantes. O chão inteiro, debaixo de nós, estremeceu outra vez e desmoronou-se devido ao peso súbito da queda da pedra e do lagarto sobre sua superfície.


E nós os dois caímos num abismo tão escuro que pareceu um poço sem fim.



Nós dois tínhamos que aceitar, por muito que nos custasse.


Tínhamos que abraçar a realidade do presente que nos encobria.


Eu era do Passado.


Ele era do Futuro.


Vivíamos um amor proibido.


Vivíamos um amor impossível.


Há muito tempo que eu não recordava o quanto era difícil sentir o meu corpo assim tão dolorido.


Abri os olhos devagar, tentando processar o que acontecera. O meu Pokémon estava deitado no chão, mesmo ao meu lado. O dragão continha partes do seu corpo enfaixadas, mas parecia bem e saudável tendo em conta o brilho das suas escamas escarlate.


Pisquei os olhos novamente, ainda a tentar retornar à consciência.


Não façam barulho, ela está a acordar – ouvi alguém dizer, próximo do sítio onde eu me encontrava deitada.


Quando dei por mim, encontrava-me no interior de uma casa, só que era uma casa muito estranha, cujas paredes pareciam revestidas totalmente por metal. Objetos estranhos e de dimensões variáveis enfeitavam o meu redor, soltando bipes que mais tarde vim a descobrir serem máquinas que mediam meus sinais vitais. Pessoas de uniforme branco me rodeavam, com olhares curiosos e um tanto hesitantes.


Olhei com medo para a multidão de espectadores curiosos.


De onde vieste? Sentes-te melhor? Encontramos-te desmaiada ao lado daquele Cyclizar estranho – disse um deles na minha direção, quando sentiram ser a melhor altura para falar.


Neguei com a cabeça. Não conhecia aquele homem de parte nenhuma, nem mais ninguém. Devia confiar neles? O idioma de cada um também era muito estranho, e eu nem tinha a certeza como eu o compreendia. Pisquei os olhos várias vezes, e mais umas quantas outras. Eles deram-me água, calculando eu estar com sede. Aquele líquido transparente era a única coisa que vi como familiar no meio de tudo aquilo, que logo saciou-me a cede, apesar de, mais tarde, ter notado um quadro com vários exemplares de mariposas exposto na parede, entre eles um Venomoth de tamanho colossal.


Por instantes esqueci-me da minha real identidade, mas minha mente ainda ia avivando aos poucos.


Chamo-me Clavell – apresentou-se o único pesquisador do grupo que se aproximou, com um sorriso, apesar de não ser o sorriso mais indicado para a ocasião, transmitiu uma sensação de conforto indescritível. – O teu Cyclizar foi avistado a sair da cratera contigo nos braços, estavas inconsciente, e te resgatámos.


Cratera? Cyclizar? Do que eles estavam a falar?


Pisquei os olhos mais uma vez, apesar da minha incerteza se devia ou não confiar naquelas pessoas estranhas, meus lábios abriram-se, automaticamente, entregando-lhes a resposta que eles ansiavam ouvir e que eu própria não soubera bem porque viera.


– Sada. Chamo-me Sada. É um prazer conhecer-vos.


Fiquei vários dias ali com eles, aprendendo sobre aquele estranho mundo e eles aprendendo mais sobre o passado mundo que era o meu.


O mais estranho de tudo isso foi que, quando exposta a testes, aquela equipa de pesquisadores rapidamente viu algo na minha inteligência que não haviam encontrado em mais nenhum lugar. Era algo que eles gostavam de chamar de dom ou talento, pois, sem saber bem como, eu tinha a capacidade de solucionar quaisquer problemas ou equações cuja resposta muitos não conseguiam lá chegar. Não sei se era por isso, ou por eu ser uma completa estranha, mas eles me tratavam sempre muito bem. Eles me davam uma atenção e carinho bem especial e é difícil exprimir-me no quanto sou lhes grata por isso.


Na altura, eu não sabia, mas agora posso garantir a todos vocês: foi, a partir daquele fatídico encontro e naquela maré nova de aprendizado e amizade, que as minhas asas se abriram nas correntes que me levariam ao caminho da luz.


O caminho que me faria quebrar todas as normas, e tornar o meu paraíso impossível na mais bela das realidades possíveis, ao lado do meu amor.




{ 12 comentários... read them below or Comment }

  1. DALEEEE!

    Finalmente começamos os trabalhos aqui em Paldea! Ter participado acompanhando de perto esse seu começo com a história foi uma experiência muito positiva pra mim, até porque a inspiração que você está tendo com a fic tem me causado certa ansiedade pra voltar a escrever alguma coisa também. E assim um vai contagiando o outro até que todos estejam escrevendo novamente kkkkkkkkk

    Acho que o que mais me surpreendeu nesse prólogo foi a virada de chave que você deu de uma hora pra outra, pelo menos pra nós que estivemos acompanhando todo o seu processo de criação de Paldea desde o início. De repete, Santiago e Juliana são deixados um pouco de lado e o prólogo foca intensamente na Sada! Quando eu estava revisando eu demorei um pouco a entender isso, e quando me dei conta acabei tomando até um susto kkkkkkkkk Acho que foi uma boa jogada, assim você traz a história tendo como cartão de visita logo uma das personagens mais intrigantes da geração, para depois apresentar os protagonistas com mais calma, e também para que você refresque a mente um pouco com focos diferentes na história, já que trabalhar os mesmos personagens a todo momento pode acabar ficando desgastante com o passar do tempo.

    Há um ponto nessa trama do prólogo que eu nunca tinha parado pra pensar. Esse amor intertemporal entre a Sada e quem eu acredito ser o Turo pode gerar consequências para o mundo. Não sei se seria algo catastrófico, mas certamente pode ocasionar incômodos. Fico curioso pra saber se ao longo do plot principal a Sada vai continuar buscando reencontrar esse seu amor perdido, ou se vai seguir com a vida. Digo, ela já foi parar em um tempo que não é o dela. Será que isso já não é perigoso o bastante para o equilíbrio do mundo? Tudo que sei é que isso vai dar muito pano pra manga pro pessoal de Paldea continuar pesquisando o tempo e sua influência nas características da região. E dependendo do quão a fundo forem essas pesquisas, pode acabar sendo perigoso. Ou seja, manda bala! kkkkkkkkk

    Ótimo prólogo, Shii! É muito bom ver você motivada de novo. Pode contar com a gente pra manter o ânimo em alta, vamos fazer Paldea mostrar a sua história!

    Até a próxima! õ/

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    1. Sombrinha! É sempre bom e muito inspirador ver alguém comentar que somos a sua inspiração! (Ok, esta frase ficou um pouco confusa, mas estendes-te a ideia, acho eu). Vamos lá escrever e escrever cada vez mais! PRODUÇÃO!!

      Os Capítulos ficaram ainda melhores depois de passarem pelos teus olhos cuidadosos. EU NÃO SEI QUE MACUMBA FOI ESSA, mas eu fiquei muito abismada depois de receber a versão revisada. Estes dois Capítulos estão incríveis, e tens a minha profunda gratidão! QUE MAIS CAPITULOS VENHAM, POIS AGORA O SOFRIMENTO COMEÇA OFICIALMENTE.

      Achei melhor mudar o foco de personagem para começar. Queria algo relacionado com o plot principal para o Prologo e assim a Sada chegou com sua obsessão. Este romance sobre a nossa queria cientista maluca por bichos de outra linha temporal ainda vai ter umas ideias que se lhe digam. Só espero que elas agradem as pessoas kkk

      Este Prólogo é um dos meus melhores trabalhos de escrita dos últimos meses, não sei se foi por ter mudado um pouco a minha forma de escrever, já que é muito raro criar algo na 1º pessoa, mas o resultado ao qual eu cheguei foi todo graças a vocês! Sempre me puxando a orelha.

      Comecei esta fanfic com o pé direito, agora vamos caminhar até os próximos Capitulos!

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  2. Demorei mas cheguei!

    Primeiramente parabéns pela oportunidade
    Shii e também pelo que apresentou com isso.

    Dá para entender a razão em ter sido a escolhida para Paldea. Então manda ver!

    Calamidade ambiental, viagem no tempo e amor proibido. Este prólogo trás consigo algumas questões que espero ver sendo trabalhadas com mais calma nos capítulos seguintes e também uma perspectiva que não estava acostumado a ver em Pokémon, contudo que é instigante. Estou curioso para ver onde vamos parar.

    Como leitor me sinto-me bem dirigido ao ponto que quer focar e também as idéias as quais articula, em razão de sua boa escrita e também direção de roteiro. Fora que é super legal ver o cuidado que teve com as ilustrações para ambientar mais quem está lendo. A atmosfera é mais imersiva.

    Assim a experiência se torna mais edificante.

    Seu trabalho está maravilhoso, espero de coração que não se pressione e aproveite a trajetória enquanto escreve e nos entrega este projeto.

    Te vejo no próximo cap 0/

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    1. Hei Vinnie! Não esperava ver a tua presença por aqui!

      Eu peguei em Paldea para praticar escrita, nada melhor que aumentar o nível de dificuldade e misturar desenho também! Fico muito feliz por o pessoal estar a receber meu trabalho tão bem! Estou fazendo o meu melhor. Até a próxima!

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  3. Oi, Shii! Já faz alguns anos que não comento em nenhum blog de fanfics, apesar de sempre sentir um gostinho familiar quando venho aqui. Foi um tremendo prazer trabalhar no layout para Paldea, eu sinceramente nem tinha certeza se alguém iria querer assumir uma história nova e até onde se mostrariam determinados a ir, mas eu fico feliz de poder enxergar a sua vontade transbordando. Estou muito orgulhoso do resultado!

    E fiquei encantado com o que li no seu Prólogo. Desde que comecei a escrever fanfics em 2010, meu sonho era poder ilustrar meus próprios capítulos. Fiz isso na Liga Pokémon em 2015, mas foi uma parceria com a Nyx que se repetiu em Matéria, então eu mesmo nunca consegui ir além e desenhar minhas próprias histórias. Ver esses desenhos que você trouxe me fez pensar como eles ficariam lindos num livro ilustrado por você, como comentamos uma vez que nem em "Como treinar seu dragão". Minha arte favorita foi aquela da mão segurando a pequena planta, é de uma delicadeza tremenda.

    Como eu joguei o Violet, vou adorar ver um pouco mais da Sada (minha personagem favorita) e de sua visão sobre o passado, assim como o detalhe deles ainda chamarem Arceus de Todo-Poderoso-Sinnoh. Estou intrigado para conhecer mais sobre tudo! Por ser um Prólogo, funcionou muito bem a escrita em primeira pessoa, e eu teria adorado acompanhar a jornada de alguém que veio do passado e suas impressões sobre o mundo total.

    Eu espero que você se divirta muito com Paldea, da mesma forma que se divertiu com os jogos. Não há nada melhor do que ter uma ideia, e então ela martelar por tanto tempo na nossa cabeça que a vontade de escrever só cresce. Eu sinto que AeP será um tremendo aprendizado para ARDA, então peço que continue escrevendo, continue tendo ideias maravilhosas e se empenhando. O blog está aqui para sua diversão, para você explorar seus limites, acertar e errar; contanto que não deixemos a escrita de lado, ela vai nos acompanhar por mais muitos anos.
    E eu espero estar aqui para ver.

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    1. CANAS! É um prazer muito grande chegar aqui e receber um textão de uma das pessoas que mais me inspira! Não vou mentir, já estava cheia de saudades de ter um blog onde eu pudesse publicar e escrever as minhas coisas à minha maneira!

      Meu sonho é ilustrar meu próprio livro, eu tenho que começar a praticar à séria de alguma maneira. Ainda tenho um longo caminho a trilhar, tanto na escrita como no desenho, e estes dois Capítulos são o inicio de muito que está para vir!

      Eu sou sincera, eu nunca me tinha aventurado desta maneira, no sentido de fazer por conta própria de uma maneira mais prática o que eu idealizo. Assumi Paldea para praticar, então, nada melhor que treinar o que eu realmente quero que seja o tipo de história que irei publicar um dia. Estou trabalhando no duro para melhorar a cada dia!

      Eu pensava que estava pronta para escrever uma história longa, um projeto sério que envolvesse livros, editoras, essas coisitas todas de publicação e afims, mas agora vejo que eu não estava. No final, foi isso que privou a minha liberdade de brincar e evoluir com os desenhos, as histórias, e os universos que eu crio. Ao lado das fanfics eu me sinto muito diferente, e sinto que sou capaz de escrever sobre qualquer coisa, sem preocupações.

      Só tenho que aprender a tirar proveito disso e ir para a frente com o livro no futuro. O importante é nunca desistir!

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  4. O QUE FOI ISSO???
    Eu vim aqui esperando uma versão revisada do capítulo que já tinha lido do Santiago, ou alguma cena que me remetesse ao inicio do jogo. ATÉ ALGO COMO O PRÓLOGO DE AEH, QUE LI ESSA SEMANA, MAS NÃO!
    Eu fui COMPLETAMENTE surpreendido por esse prólogo, meu Arceus, que incrível! Eu sabia que era a decisão certa deixar Paldea em suas mãos, mas não imaginava o quão certo eu tava!
    Esse capítulo foi BRILHANTE (sem trocadilho com os critais)! Eu comecei completamente perdido (e ainda meio que estou), mas ao longo do capítulo eu consegui ir entendendo uma coisa ou outra, até a hora que entendi que era Sada esse tempo todo (E provavelmente Turo com ela ali na caverna) E MEU ARCEUS! Esse prólogo foi tão bom que me deu a sensação de entender boa parte do que vem por aí na história, e ao mesmo tempo me fazer questionar se eu sei mesmo.
    Eu nunca teria pensado nada que chegasse próximo a isso para uma fanfic em Paldea, e com seu estilo de escrever e seus desenhos, fazem parecer uma fábula, só que tem algo a mais. As coisas que acontecem, e a forma como tudo é descrito, e a sensação que me passou, me fez pensar em um filme chamado "Labirinto do Fauno" (Acho que é o mesmo nome em Portugal), não sei se você já assistiu (se fosse animação as chances seriam incrivelmente altas), mas tem essa "vibe" de fábula sombria, em que o mundo é mágico e super-interessante, mas que as coisas não vão dar certo (pelo menos não do jeito que queremos/imaginamos). NOSSA, espero continuar acompanhando a história assim que possivél! Continue assim, nossa BRILHANTE Reshiiiram!

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    1. TEM CALMA HOMEM.

      ok... eu entendo.... não me quero gabar.... mas eu sinto que este prologo foi uma das melhores coisas que eu escrevi nos últimos tempos e eu sinto muito orgulho dele. O PODER NEGRO DAS MADRUGADAS ME ATINGIU CERTA NOITE, e escrevi este Capitulo nesse mesmo momento. É claro que eu revi e fui adicionando coisas aqui e ali, tanto que a parte final eu adicionei antes de mandar para o sombrinha.

      DÊ CREDITOS AO SOMBRINHA, ele fez a macumba como revisor e o capitulo voltou para minhas mãos ainda melhor! Acho que não vou conseguir fazer uma coisa tão boa assim muito em breve.

      Muito obrigado por todo o seu apoio e sua presença! Vocês não sabem o quanto as vossas palavras são tão especiais e inspiradoras para mim! Que venham próximos capítulos! E ONDE ANDA AVENTURAS EM KANTO? Não desista! Continue! Oiça o poder da noite e crie Capítulos incríveis!

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  5. Oi Shii

    Acabei de ler seu prólogo para Paldea e gostei muito do que vi!

    Acho que você fez um ótimo trabalho em reencontar da sua maneira o passado dos Professores da Região, confesso que no começo estava um pouco confuso, mas logo me apaercebi de quem era. Adorei a premissa do prólogo, apresentando uma combinação intrigante de temas como calamidade ambiental, viagem no tempo e amor proibido.

    Além disso, acho que sua escrita evoluiu bastante. Está muito envolvente e eficaz em transmitir as emoções dos personagens. Também gostei das ilustrações que você incluiu, pois elas ajudam a criar uma atmosfera mais imersiva e a tornar a experiência de leitura muito mais rica.

    Sei que pode ser difícil manter a inspiração em alta às vezes, mas espero que você continue acreditando em si mesma e aproveite o processo de criação. Gostaria de lhe dar os parabéns pela dedicação e motivação em escrever esta história.

    Mal posso esperar para ver o que vem a seguir!

    Até logo!

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    1. Ei Welfie! Que bom te ver por aqui nas terras de Paldea! Espero que não esbarre em nenhum pinto verde ou seja atropelado por algum dragão moto kkk

      Acredite ou não, este Prologo é um dos meus maiores orgulhos nos últimos meses! Muitas das suas frases ressoam na minha cabeça como se eu tivesse mentalizado o texto inteiro. Já desisti de muita fanfic no passado, mas esta eu não quero abandonar e espero conseguir levar até o fim.

      Os desenhos são um pouco complicados, porque nem sempre eu tenho a '''musica''' certa a tocar em mim para os fazer, mas foi uma maneira que eu encontrei de praticar histórias ilustradas e tentar continuar produtiva.

      Fico muito feliz em saber que tenha gostado! Abraços!

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  6. Eita que prólogo longo, finalmente terminei.

    Amei muito a narração deste capítulo, sério, achei incrível os elementos ao longo desse capítulo, faz parecer que se passa mesmo em um passado muito distante e nos introduz a Sada, assim como o Turo de um jeito um tanto orgânico, além de nos mostrar um cenário desolado, a luta da Sada em manter seu amor proibido e seu paraíso. Sério, você me conquistou com esse comecinho, já quero ler os próximos capítulos.
    E os desenhos ilustrando cada cena, simplesmente perfeitos, amei os Venomoth e como você pegou isso e comparou à Sada e o desejo dela de liberdade.
    Ansioso pelo que pode vir à seguir.

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    1. Este Prologo foi uma das minhas melhores coisas. Lembro de escrever o primeiro rascunho antes dos jogos saírem, baseada em leaks e rumores. Acontece que depois tive que adaptar umas coisinhas para encaixar na história, mas este Prologo ainda vai ter muito que se lhe diga.

      Venomoths são muito comuns na Área Zero, então eu pensai: porque não?

      Obrigado pela presença, Leucro! Até a próxima.

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