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Escrevendo pelas palavras é uma compilação de exercícios que visam desenvolver a minha escrita criativa e consistem, basicamente, em selecionar uma ou mais palavras aleatórias, escrevendo um pequeno texto baseado nestas.
Para saber mais da proposta deste quadro no blog, e conferir a lista completa de todos os exercícios ou excertos publicados até corrente data, clique aqui!
As farpas dançavam pelos seus dedos rugosos, criando um tirlintar encantador quando batiam entre si. Parou diversas vezes para se certificar que a pequena meia que construía estava no tamanho ideal, caso contrário, teria que parar a dança que suas agulhas proferiam em suas mãos e recuar o processo, desfazendo o entrelaçar da linha e desperdiçando mais linha e tecido.
Croché sempre fora sua paixão desde a juventude. Já fizera imensas coisas ao longo da vida, desde tapetes de cozinha até pegas para remover as coisas do fogão, e seus trabalhos eram deveras apreciados em torno da aldeia, tanto que chegou a vender para fora, aceitando encomendas enormes e entregando peças ousadas.
Subitamente, soltou a agulha da linha, e, quando tentou corrigir o erro que cometera, fincou-a na carne do seu indicador.
Respirou fundo. Suspirou. Sentia-se triste pela sua visão já não ser mais o que fora em tempos. Em breve não podia servir mais aquele oficio que tanto lhe era especial. Desmotivada, deixou a peça de lado, a pousando por cima da mesa central da sala, e certificando-se que as agulhas estavam bem visíveis para mais ninguém se magoar. O que lhe valia é que os netos não estavam em casa, e ela tinha tempo de sobra sozinha sem aqueles pares de mãozinhas enfiando-se nos mais diversos perigos pelos quais não eram chamados.
Ela sentia mesmo que precisava de pausar a meio do serviço, mas algo a fazia sempre voltar atrás e dar uma olhada por cima das agulhas no local onde as guardara, como se estivesse a adivinhar qualquer coisa. Sua intuição nunca falhava, pois ela tinha a certeza que mais um par de olhos além dos seus estavam à espreita.