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- Capitulo 11 – Bienvenido al Academia Naranja y Uva
No início da
mudança, os primeiros passos são sempre os mais assustadores… Mas Juliana
rapidamente se apercebeu que os passos que vieram logo a seguir ao primeiro
também fariam parte de um dos seus maiores traumas em Mesagoza.
Mas que
remédio a adolescente tinha além de subir tudo aquilo? O famoso ‘’rito de
passagem’’, como sua mãe o chamou e como todos os alunos pareciam entender como
tal.
Outros estudantes,
já habituados, passavam por ela, despreocupados e sem problema algum, mas
vários deles também mostravam a mesma dificuldade de Juliana: a cada degrau que
subiam, era como se uma força anormal os puxasse para trás e tornasse seus pés
cada vez mais pesados.
Em certo
ponto, Juliana quase se arrastava, e, de facto, subir aquilo tudo de gatas
parecia deixar a tarefa bem mais fácil.
A subida
requeria mesmo muito esforço físico, pois os degraus eram enormes. Já havia
subido uns dez e ainda estava longe de chegar ao topo. A escadaria da escola
tinha cerca de cento e cinquenta e cinco degraus, mas Juliana não sabia o
número exato, portanto, eram milhares para ela, numa escalada sem fim à vista.
Queria poupar
seus Pokémon daquele inferno, mas a sua bagagem e a guitarra não estavam
ajudando em nada devido ao peso. Foi com a mão ao bolso, e materializou um
Krokorok gentil ao seu lado. Tolya e Rosa eram mais fracas, e ela ainda não
estava à vontade de mostrar Moto-Moto em público, logo, Tamar, entre todas as
opções que tinha, era o seu amigo mais adequado à ocasião.
O Krokorok
sorria olhando para todos os lados, disposto a ajudar. Juliana apoiou-se no
corrimão e largou suas coisas, exausta e arfando, e deu um trago numa garrafa
de água pequena que tinha consigo. Em casa, dissera à mãe que a garrafa seria
inútil, mas ela insistia ter sempre uma consigo pois água é essencial e nunca
se sabe quando a sede pode bater.
Naquela
altura, Juliana entendia perfeitamente os reais motivos. Quando deu por si, a
pequena garrafa ficara vazia.
– Ótimo… Ainda
vou a metade desta porcaria e estou cheia de sede e cansada e já não tenho mais
água… – resmungou para si própria.
Tamar foi uns
degraus acima. O Pokémon parecia fazer a tarefa com facilidade, e se Juliana o
tivesse visto a caminhar, de certeza que invejá-lo-ia. Poucos momentos depois,
regressou ao lado da treinadora e entregou-lhe uma garrafa com água, maior do
que a que a treinadora tomava.
Se tivesse
distraída, ela beberia tudo num trago, mas Juliana olhou o objeto alguns
instantes, pois ele tinha um nome que não era o seu marcado a tinta preta no
plástico da garrafa, perto da sua tampa.
– Tamar. Onde
arranjaste esta garrafa de água? – questionou ela, com tom severo.
O Krokorok
encolheu os ombros, sentindo um peso na consciência. Esfregou o cocuruto,
tentando passar despercebido.
– Não a
roubaste, pois não Tamar?
– HEY! Alguém
viu minha garrafa de água? – ouviu-se a voz de um aluno, cerca de uns vinte
degraus mais acima.
Juliana fitou
o seu Pokémon com bastante repreensão.
– Vai devolver
essa garrafa àquele menino. – ordenou.
E assim, o
Krokorok o fez, num jeito lento, mas sem pestanejar. O rapaz agradeceu ao
Krokorok, sem saber que o mesmo também fora o responsável pelo pequeno furto.
Quando
regressou à companhia da treinadora, Juliana entregou-lhe algumas das suas
coisas para ele carregar: a mochila e a sua mala de viagem. Pelo menos, de mãos
ocupadas, o Krokorok não iria conseguir incomodar mais ninguém.
– Não voltes a
por o focinho na água dos outros, okay? – repreendeu-o.
Enquanto
descansava, Juliana analisou melhor a principal vista que iria preencher os
seus dias a partir de agora.
No topo da
escadaria, o grande edifício histórico embelezava a paisagem com a sua enorme
torre. A vasta Pokéball de metal nesta exposta era inundada por um toque
cintilante da luz do sol, que disfarçava a cordilheira que ia além, pois a
Academia de Mesagoza se localizava mesmo próxima às montanhas da orla da Grande
Cratera de Paldea, na parte mais alta da cidade.
Depois olhou
para baixo. A grande praça central de Mesagoza era notável por um campo de
batalha inserida no meio de uma rosa dos ventos na calçada, cuja pedra em
mosaico de diferentes cores procurava representar os dezoito tipos de Pokémon
existentes. Na orla deste campo, cafés, bares, lojas e restaurantes se
amontoavam no rés-do-chão de altos edifícios antigos e suas explanadas eram
lotadas de gente.
Fios com
bandeirinhas multicoloridas estendiam-se de um edifício a outro ou de um poste
de electricidade a outro, por tudo o que era lugar. Diversos Starly, Swablu e
outros Pokémon voadores pousavam nesses fios, ou nos telhados, dando uma graça
selvagem.
Mas não tinha muito
mais tempo para mais contemplações.
A jovem respirou fundo, e seguiu então caminho ao lado do seu Pokémon.
O último
degrau, no topo da escadaria da Academia tinha um elemento particular: sua
superfície era composta por várias chapas metálicas estriadas, antes de dar continuação
à típica calçada Paldeana. O padrão destas chapas antiderrapantes servia para
sinalizar melhor o início da longa escadaria, e entregava uma maior aderência à
sola dos sapatos, evitando o risco de escorregamento, o que seria uma ajuda
subtil aos alunos no final daquele desafio terrível de escalada, pois os mesmos
podiam descambar devido ao cansaço.
Mas nem isso
evitou Juliana de se atirar com a cara ao chão, dando graças a Arceus por estar
viva.
– Espero não
enfrentar mais escadas se não eu vou exigir um elevador nesta porcaria –
resmungou para si própria, enquanto recuperava o fôlego.
Os estudantes
passavam por ela, alçando a perna, aos risinhos, mas Juliana os ignorou. Quando
elevou o corpo, seguiu os alunos com o olhar, para ter a certeza para onde
devia se dirigir primeiro. Existia um intervalo de espaço entre a escadaria e
um grande portão que dava acesso ao pátio principal da Academia. O portão tinha
um formato curioso, pois lembrava um livro, o objeto que sustentava todo o
conhecimento, e este se abria e fechava automaticamente, como um virar de
página, sem ruído algum, permitindo as entradas e saídas, sempre que os alunos
passavam um cartão de identificação de estudante numa pequena máquina que
lembrava uma campainha no muro.
Os pilares do muro
que sustentavam o portão eram adornados com os dois famosos símbolos da
Academia: no pilar do lado esquerdo, o emblema da Casa Naranja, e, por sua vez,
no lado direito, o emblema da Casa Uva.
Tamar foi em
frente. Juliana hesitou, pois ela não tinha cartão algum que fosse sua
permissão de entrada. A jovem forçou a vista, tentando ler as inscrições que
existiam debaixo de cada emblema, talvez elas tivessem alguma pista sobre o que
fazer.
– Tirando lições da tradição. Para crescer,
sempre fortes e cada vez melhores. – leu no lado esquerdo, em voz alta,
depois virou-se para o lado direito. –
Liderando o caminho para o futuro. Ao valorizar nossa individualidade…
Quando deu por
si, Tamar estava do outro lado dos portões, e ela nem dera conta disso. Agora,
ambos eram separados por aquela longa barreira metálica.
Juliana
começou a se desesperar ao notar o sucesso dele.
– Tamar!! Como
foste parar ai dentro? COMO ATRAVESSASTE ISTO??! – questionou bem alto, batendo
nas grades, quase em pânico.
Não existia
sinais no chão de nenhum buraco, por isso, o Krokorok não usara Dig. Juliana bateu com força nas grades,
com esperança destas se abrirem, mas as mesmas não se moveram nem um milímetro.
Esticou o braço entre as barras e quase ficara presa, para se certificar se
tinha alguma maçaneta oculta no outro lado.
O crocodilo
fez um gesto, para ela se acalmar, e apontou para um dos muros. Sua patinha
tinha um papel com uma senha, que a humana não conseguiu decifrar devido à
distância.
– Onde
arranjas-te isso?...
Juliana
procurou ver para onde ele apontava e onde arranjara aquele papel, com mais
atenção.
Foi ai que
notou que a campainha na lateral do muro era composta por dois botões, um
maior, por onde passava os cartões dos alunos numa rachadura, e outro um pouco
mais pequeno, quase camuflado no meio das pedras da parede.
Apesar da
diferença entre ambos não ser muita, este mais pequeno era um botão normal, sem
o orifício de passar um cartão. ‘’Alunos’’ e ‘’Visitantes’’ eram descrições que
podiam ser lidas, claramente, nos respectivos lugares, ao lado do horário de
funcionamento das instalações e números de telefone talhados em belas letras de
bronze.
Por instantes,
ponderou a diferença, mas logo soltou uma golfada de ar, aliviada pela solução encontrada.
As letras eram bem marcadas, e Juliana sentiu-se ridícula por não as ter
notado.
– Obrigado
Tamar, se não fosses tu eu acho que nunca ia entrar… – disse, ao tocar no botão
classificado como ‘’Visitantes’’, cuja cor mudou para um verde florescente,
assinalando a permissão.
Antes das
portas se abrirem, um papel saiu de um orifício que existia debaixo dos dois
botões da campainha. Juliana não viu o mesmo surgir quando os alunos de antes passaram
os seus cartões, logo calculou ser destinado a quem não era (ainda) estudante,
por isso, estava fazendo tudo correto. Agarrou no papel, fazendo os portões se abrirem
após a retirada dos mesmos.
Adentrou o local,
enquanto fixava o que existia escrito no pequeno bilhete. A senha era 1772 e continha,
em letras miúdas, a seguinte descrição: Aguarde sua vez na Recepção. O Krokorok
soltou uma pequena gargalhada, quando Juliana voltou para o lado dele, pois a
situação era mesmo simples.
Ela deu-lhe
uma pequena cotovelada no braço.
– Não gozes,
nunca tive jeito para estas coisas. Para a próxima espera por mim, ou chama
minha atenção se eu estiver distraída, para entrar contigo, okay?
Ali em cima,
dava para ter uma visão mais significativa de Mesagoza por inteiro e sua praça
central no centro da cidade, pois, afinal de contas, a Academia ficava no ponto
mais alto da cidade. Ao longe, parte do topo do farol de Cabo Poco cintilava
como um pequeno pontinho branco no meio de uma vastidão azul.
Juliana ficou imóvel
alguns minutos, analisando com calma toda a restante paisagem, calculando para
onde se dirigir a seguir. Não tinha muito que adivinhar.
Depois de
entrar no pátio principal, as pedras no chão formaram um círculo colorido que
relembrava uma rosa-dos-ventos, um pouco semelhante à que adornava o campo de
batalha na praça central de Mesagoza. O caminho seguia-se numa linha reta, até
o edifício, que, assim de perto, mostrou-se maior e mais intimidante do que
visto ao longe lá em baixo na cidade.
A jovem então
seguiu o passeio, com os olhos fixos na enorme porta de madeira antiga que
existia mesmo em frente, ciente que esta devia ser a entrada, pois não existia
mais nenhuma porta assim tão chamativa nas restantes paredes, além de janelas
de áspero antigo devido a sua arquitetura barroca. Por cima da porta principal,
era notável os dois emblemas da Academia na fachada. Inúmeros jovens e adultos
entravam e saíam pela porta, sempre a deixando fechada.
O pátio principal encontrava-se apinhado de gente, ciprestes cresciam livremente nas beiras dos passeios e em áreas de relvado, onde jovens brincavam com seus Pokémon ou descansavam sentados em suas sombras, esperando o início das aulas. Viu um menino acariciando um Cyclizar genuíno, e sentiu uma vontade louca de se atirar a ele ou de abraçar o seu Moto-Moto.
– Oh por
Arceus que coisa mais fofinhaaaaaaa… – murmurou para si, e só não se atirou
àquele dragão pois a ansiedade não lhe permitiu, apesar de conter-se ter sido
uma tarefa difícil ao inicio.
Agarrou com
mais firmeza a correia da sua guitarra, e tentou acompanhar o ritmo de Tamar,
que puxava a bagagem metros à frente. As rodas da sua mala de viagem faziam um ruído
constante na calçada e chamava bastante as atenções, mas o Pokémon não se importava
com a troca de olhares.
O corpo da
humana, atrás dele, ficou mais tenso quando uns quatro jovens, surgidos do
nada, correram, atravessando o caminho, poucos centímetros à sua frente.
Podia ter
sofrido um encontrão se não tivesse parado seus passos a tempo.
– Mais
cuidado, não? – soltou, mal humorada, e Tamar soprou também contra eles, pois
também ia sendo atropelado.
Mas eles não
pareceram ouvir sua repreensão, e se o fizeram, apenas ignoraram.
Alguns dos
indivíduos se esconderam atrás das árvores, esperando o momento certo para atacar
seus companheiros. Eles assopravam canetas estragadas, com o canudo partido,
como pistolas, e com elas disparavam bolotas de cipreste entre eles como se
fossem um bando de Pokémon do tipo planta brincando com o movimento Bullet Seed.
Juliana estava
prestes a abrir a porta quando sente algo bater na sua cabeça.
Foi com a mão
ao cabelo, e lá estava, entre os seus fios castanhos, uma pequena bolota de
cipreste. Olhou para trás, de forma quase instintiva, mas a única coisa que
avistou de suspeito foi uns vultos escondidos atrás de umas árvores, no outro
lado do pátio, a uma distância considerável da sua.
– Idiotas… –
murmurou.
Puxou com
cuidado a maçaneta, e as grandes e pesadas portas de madeira se abriram de par
em par. O cheiro a livros e a antiguidade rapidamente penetrou suas narinas. Não
esperava que o espaçoso hall de entrada da Academia de Mesagoza também servisse
como Salão de Convívio e Biblioteca.
E que grande
biblioteca o era!
Juliana
aguentou a respiração.
A notável
arquitetura do estilo barroco fazia qualquer um sentir-se como se estivesse a regressar
no tempo. Várias paredes eram recheadas de prateleiras de livros e estantes de
madeira trabalhada, tão altas que tocavam o teto e se perdiam de vista. A luz
artificial que iluminava o recinto era proveniente de candelabros negros que
davam uma graça única ao ambiente.
Aqui e ali, mesas, sofás e cadeirões
confortáveis eram ordenados em pequenas alas mais reservadas, destinavam-se aos
alunos que quisessem um pouco mais de conforto e de sossego ao longo dos
estudos. As paredes também contavam com quadros belíssimos de paisagens de
terras distantes, e trabalhos notáveis em exposição, realizado pelos próprios
alunos de anos anteriores.
Um estranho
que não soubesse que aquilo era uma escola, facilmente o confundiria com algum
tipo de palácio bem conservado pelo tempo.
O edifício tinha
três andares (com sótão aproveitado), e apesar de tanto luxo indescritível que
ela podia ter apreciado, uma das coisas que mais desagradou Juliana à primeira
vista foi ver mais escadarias. Eram menores que as do exterior que davam acesso
ao edifício, mas depois de passar aquele trauma enorme lá fora, o que ela menos
queria era subir mais degraus.
Vários metros,
em frente à porta, debaixo de um arco de mármore, via-se um longo balcão de
madeira escura.
Uma senhora de
meio peso e de pele morena encontrava-se atrás desse mesmo balcão, e tinha um
ar bem simpático. O sorriso constante em sua face indicava que a mesma adorava
o seu trabalho, mas não o fazia sozinha. Estava acompanhada de um Psyduck e de
um assistente que, por sua vez, também tinha ar agradável.
Ela conversava
com vários alunos, que logo se dispersaram nas suas devidas direções, se
camuflando entre outros grupos de jovens que conversavam no meio do hall de
entrada. A mulher analisou o computador, e deixou os alunos comuns da Academia
nas mãos do seu assistente. Em pouco tempo, virou o ecrã do mesmo para a
frente, mostrando o número da próxima pessoa a ser atendida.
– Seguinte! Visitante
com a senha número 1771! Por favor, pode vir até aqui à Recepção! Quem tem a
senha 1771? – falou alto, certificando-se que era ouvida pelas pessoas que
estavam em frente.
A sorte da
mulher é que, o hall de entrada, apesar de também ser salão de convívio, também
era uma biblioteca, logo, o local tinha a regra de ser silencioso, portanto,
sua voz de chamamento era bem sentida e ecoava, distinta, entre os sussurros
dos jovens em seus diálogos de café.
Juliana olhou
sua senha, o seu número era 1772, por isso, distraída, acreditou que ainda iria
esperar mais um bocadinho pela sua vez, e, mais uma vez, não deu-se conta do
avanço precipitado de Tamar, pois se esquecera que Tamar também tinha a sua própria
senha.
Esta senhora da
recepção estava com os olhos fixos numa folha, e quando olhou para cima, para
atender o cliente, deu-se conta do olhar curioso de um crocodilo cor de areia
com sua bagagem, a deslizar um papel com uma senha por cima do balcão.
Ela piscou os
olhos, com uma gargalhada, acreditando que aquilo só podia ser uma brincadeira.
– Bienvenido al Academia Naranja y Uva,
muchacho. – brincou.
Bom-dia, minha linda dama. – o Krokorok
sorriu de modo galã, mostrando seus belos dentes afiados e bem ordenados.
– Então,
fofinho… És um novo aluno? Vens sozinho? Estás perdido? Não tens nenhum
treinador? O que estás aqui a fazer? – a mulher questionou-lhe.
Juliana
examinou, atrapalhada, todos os lados, procurando a presença do Krokorok
desparecido. Ainda agora ele estava ali, e não podia ter ido para muito longo
naqueles breves segundos de sua distração com o papel da senha.
Deu uma
pequena corrida quando o notou a conversar gentilmente com a senhora da
recepção da Academia.
– Olhem só se
não é a Juliana! – foi a primeira reação da mulher, ao por o olhar na jovem
tímida, para a receber.
Juliana
encolheu os ombros, deslizando o seu papel com a senha por cima do balcão, o
posicionando ao lado do Krokorok, que foi tomado pela senhora. A mulher encarou
Tamar, compreendendo o que estava ocorrendo, com grande disposição.
– Parece que o
teu Krokorok também quis sua própria senha, não é? Seu marau!
– A… A senhora
sabe meu nome???
A mulher
soltou uma gargalhada animada face à confusão da mais nova.
– Então? Até parece
que eu não sou uma cliente habitual da tua mãe? – aquela frase fez um clique na
mente de Juliana, pois a cara da mulher, vista de perto, não era mesmo nada
estranha. Ela prosseguiu a sua apresentação. – Sou a esposa do senhor Andrew,
que vive em Los Platos. A tua mãe mostra-me sempre fotografias tuas,
principalmente de quando eras bebé, quando eu vou tomar chá com ela lá a casa.
É impossível não te reconhecer, és a cara toda chapada dela!
Juliana
encolheu-se, ainda mais tímida com a revelação. Sabia que sua mãe era
conhecida, mas não imaginava que alguém a referisse no meio da enorme cidade, e
ainda falasse aquela informação constrangedora.
– P… Prazer…
Senhora…
A
recepcionista continuou. Ela parecia ser o tipo de pessoa que adorava
conversar, puxando sempre diálogo por qualquer coisa, por mais mínima que fosse.
– Meu marido
ficou mesmo encantado com aquele Dachsbun. Deixa-me contar-te um pequeno
segredo, minha pequena. – e encolheu-se por cima do bar, começando a sussurrar
para ela, para a ouvir, Juliana quase se obrigou a se enterrar no tampo do
balcão, para escutar o que esta iria dizer. – Estava tão bom que hoje só sobra
migalhas…
Juliana forçou
um sorriso. A mulher então recompôs a pose atrás do balcão.
– Bem…
Voltando ao assunto, querida. O que te trás aqui hoje à Academia Naranja e Uva?
Ela estava
prestes a comentar algo para responder, quando é interrompida pela
recepcionista, que, obviamente, sabia a resposta na ponta da língua.
– Espera! Tens
ai um ajudante bem carregado! – exclamou bem alto, fixando o Krokorok e a
bagagem. – Deixa-me adivinhar… És uma das nossas estudantes novas deste ano
lectivo!
Juliana acenou
a cabeça.
– Nesse caso
acredito que queres desfazer-te da tua bagagem e conheceres o dormitório
primeiro. Certo? Vais ter que ir até o gabinete do Diretor depois disso, para
ele explicar melhor como nossa escola funciona, mas ainda temos um bocadito de tempo
antes do início das aulas. – e confirmou as horas. – Agora diz-me, mi amor. Como é o teu nome completo.
Tens ai a tua documentação?
– Juliana…
Juliana Rodriguez Garcia. – falou, procurando desajeitadamente tudo o que
precisava no interior da sua carteira para lhe entregar.
Deu-lhe várias
coisas, sem saber ao certo se a mulher precisava de tudo aquilo. A
recepcionista sorriu com a incerteza da jovem, tomando apenas um dos cartões e
inserindo o seu número no computador. Logo depois o devolveu, junto com os
outros documentos.
– Que nome
encantador. Pelo menos é curto e fácil de decorar… Tem alunos com nomes enormes e horríveis…
Vejamos… – e abriu um grande arquivador, dentro de uma gaveta atrás no balcão,
começando a procurar o nome na papelada das fichas por ordem alfabética. – J… J… Juliana… Interessante que a Academia
não tem muitas Julianas… hummm... Não tenho nada aqui com o teu nome e dados,
querida. – e depois conferiu o computador. – Nem sequer estás no nosso sistema.
Ao início, a
jovem ficou confusa, prestes a dar meia volta para ir embora, com sorte sua mãe
ainda estava pela cidade e lhe podia levar a casa sem ter que esperar muito
tempo por ela. Mas logo a seguir recordou-se de um detalhe importantíssimo, que
a fez perder a esperança sobre o não ter aulas naquele dia.
– O diretor
falou que teve um problema com as matrículas.
– Ah! Pois é!…
Esse maldito problema! Então é por isso que eu ainda não tenho nada sobre ti aqui! Não sei o que o pessoal
executivo anda a fazer, talvez a dormir… Enfim. Espera ai um segundo, se me der
licença. – pediu.
Fez as rodas
da sua cadeira deslizarem até um telefone que existia num dos extremos da
bancada da recepção, perto de mais papelada. Enquanto conversava, Juliana fixou
melhor a arquitectura interior da biblioteca, analisando as arcadas e abobadas
bem trabalhadas que sustentavam os balcões dos pisos superiores da biblioteca.
Vários Pokémon de porte menor brincavam com alguns alunos de ar simpático, e
Tolya e Rosa talvez se divertiriam com aqueles Pokémon se soltas, mas Juliana
não quis correr riscos, pois Tamar já chamava atenções.
– Alô? Sim? Tenho
aqui na Recepção uma aluna nova e preciso da sua documentação atrasada… Sim… É das
tais matrículas que tiveram o problema no sistema… Isso mesmo… Okay… O nome
dela é Juliana Rodriguez Garcia… Certo. Até breve então, queriduxa!
E baixou o
telefone, desligando a chamada, voltando atenção para a jovem que a aguardava.
– Eles já vem
ai entregar as coisinhas atualizadas. – e apontou para um conjunto de cadeirões
existentes perto da porta de saída. – Senta-te ali, ou onde preferires, que eu
já volto a te chamar. Se quiseres, podes ir até as prateleiras e tirares um
livro ou revista para ler enquanto esperas, afinal, és uma aluna nova daqui,
trata a Academia como se fosse a tua segunda casa, pois é o que ela será a
partir de agora. Mas por enquanto, só não te afastes muito daqui, está bem?
Pequena? Esto llevará un rato.
Como se
estivesse a seguir uma ordem invisível, Juliana sentou-se no mesmo cadeirão sugerido
pela recepcionista, e durante muito tempo, não tirou os olhos dela, aguardando
a sua vez em ser atendida no balcão.
Como é comum
em qualquer momento de longa espera, até as paredes e sua textura são elementos
interessantes no ambiente, e, portanto, a jovem logo atentou-se a alguns
detalhes ao redor da recepção, reparando em coisas que até então não notara no
local, as analisando por um ângulo diferente. Uma das árvores decorativas que
existiam ao redor das prateleiras era uma macieira, com fruta madura em seus
galhos, tão encarnada que dava vontade de dar uma dentada, e isso a fez
preocupar-se outra vez sobre a hora do almoço.
– O que será
que vamos comer?... – murmurou os pensamentos. – Estou cheia de sede… As minhas
pernas… Aquela porcaria de escadaria… Aposto que amanhã não me vou conseguir
mexer…
Juliana tentou
não reparar no vai vem de alunos a passar à sua frente, que podiam ser de
qualquer faixa etária. Os lugares ao seu redor estavam vagos, e rezou a Arceus
para ninguém os ocupar ou puxar conversa enquanto ela estivesse ali à sua
vontade. Apertou os joelhos, incomodada por possíveis olhares pouco discretos,
pois para ela, podia estar a ser observada de qualquer direção, e não queria
que outra situação igual ao ocorrido em Los Platos se repetisse, apesar da
probabilidade ser grande.
Tamar deixou a
bagagem ao lado da sua treinadora, e deu os primeiros passos na exploração do
local, indo até as estantes de livros mais próximas. A jovem o seguiu com o
olhar por alguns momentos, para não o perder, mas logo distraiu-se com outros
assuntos pendentes.
Juliana foi ao
seu Rotom Phone, mas não tinha nada de interessante… Então começou a escrever
várias mensagens.
Nemona, sempre é para nos encontrar-mos aqui
na biblioteca logo pela manhã?
Já estou aqui!
Nemona??
Mas se Nemona
não lhe respondera às últimas mensagens, não iria responder aquelas assim tão
cedo.
O Krokorok
aproximou-se dela, com um livro de capa encarnada em mãos que removera de uma
das estantes mais próximas.
– O que é
isso, Tamar? – questionou, curiosa, tomando o livro para si. – Não roubas-te
isso de ninguém, pois não?
Ele fez não
com a cabeça, apontando para a estante de onde removera o livro. Um pequeno
espaço vago entre os outros era visível na prateleira.
A primeira
coisa que realçou-se naquele exemplar foi a sua capa encarnada com adornos
dourados e desenhos a negrito. A grande ilustração retratava uma fera com penas
enormes na cabeça, que ao longe, relembrava imenso Moto-Moto. Em letras bem
grandes, apesar de desgastadas pelo tempo, ela conseguiu ler o título do livro.
Scarlet Book.
O Livro
Escarlate.
Juliana tinha
certeza absoluta que já ouvira falar daquele livro em algum lugar, mas como
estava ansiosa demais pelo seu primeiro dia de aulas, ainda demorou algum tempo
a assimilar a informação.
– É o tal
livro usado como inspiração para aquele romance!… – concluiu, após algum tempo
de reflexão, começando a folhear as primeiras páginas. – Ótima descoberta,
Tamar! Nunca imaginei que iria por as minhas mãos num exemplar destes. Vai ser
agora que vou conseguir concluir aquela música que eu estava fazendo.
O crocodilo
estufou o peito, cheio de orgulho do elogio. Depois olhou para todas as
prateleiras, imaginando o conhecimento escondido em todas elas. É claro que a
Internet tinha acesso a tudo, mas certos segredos só são acedidos em
bibliotecas, pois estão recheadas de tanta coisa antiga que nunca ninguém os
achou para pôr online.
O Livro
Escarlate, ou Scarlet Book, era um registo de uma expedição realizada na Grande
Cratera de Paldea. As suas informações fascinaram, durante anos, a famosa Professora
Sada. Grande parte das informações neste contidas foram utilizadas para o
cenário do romance do último livro de ficção sensação do ano, que pretendia
retratar a história de vida desta mesma professora.
A jovem
esquecera o mundo que a rodeava, pois tinha em mãos uma chave fundamental para
terminar a canção que estava a trabalhar baseada naquele livro na noite que
caçara o Cyclizar.
– Quando o tempo apagou o paraíso aos meus
pés… – a jovem murmurou, procurando o tom certo da sua música e os motivos
dela não lhe parecer tão bem.
Nada melhor do
que pegar nas origens de algo para construir nossa própria dedicatória sobre o
assunto. O Krokorok sentou-se ao lado dela, também a analisar as páginas e suas
ilustrações fascinantes.
– Olha isto… –
a humana apontou para uma das páginas. – Isto não estava no romance.
Interessado,
Tamar acenou, encarando o que a página dizia e tentando interpretar suas
ilustrações.
Herba Mystica
A Área Zero é um o lar de plantas
maravilhosas que fazem milagres quando ingeridas.
Uma delas chama-se Herba Mystica, e aumentam
a força e o vigor.
Tentámos cultivar vários exemplares ao redor
de Paldea, testando a adaptabilidade da planta em diversos ambientes fora da
Cratera, no entanto, antes de termos a oportunidade de as colher, as ervas
foram consumidas por Pokémon. Estes, por sua vez, cresceram e cresceram,
tornando-se maiores e mais fortes que o usual.
Nós os chamamos de Titãs.
– Tamar! Imagina
se isto estivesse no romance! – Juliana comentou, com uma certa empolgação. O
Krokorok acenou, com interesse nas suas teorias. – Imagina se o professor Turo
tivesse que procurar o poder destas plantas mágicas para ajudar na doença da
Professora Sada! Ou melhor ainda, se ele tivesse enfrentado um desses tais
Pokémon Titãs!
– Miss Juliana, adorei! Dava um excelente tema
para uma fanfiction… – disse-lhe o crocodilo.
– Juliana!
Juliana! Desculpa incomodar a tua leitura, queriduxa, mas as tuas coisitas já
estão aqui, prontinhas! – ouviu a voz repentina da recepcionista, ecoando por
ela. – Vamos continuar então? As horas estão passando…
Juliana deu um
pulo de sobressalto, devido àquela interrupção repentina. Distraíra-se com o
livro e quase ia perdendo a sua vez na recepção. Uma mulher de ar importante chegara
ao balcão, deixando um caixote bem farto com a recepcionista, mas logo se
retirara para os pisos superiores.
– Já… Já vou
ai... Só vou arrumar este livro… – Juliana disse, um tanto tremula, na direção
da recepcionista.
Estava prestes
a fechar o livro, para o devolver ao seu lugar, mas a mulher a impediu com um
aceno.
– ESPERA AI
MENINA! Se estavas gostando assim tanto da leitura, podes requisitar o livro
comigo, queriduxa. Mas se não o quiseres levar contigo e o preferires deixar
aqui, tens ali na prateleira um papel à parte onde podes anotar a página onde
estavas e usares um marcador de livro, para continuares a leitura mais tarde
por aqui.
A jovem olhou
para Tamar e para a sua bagagem breves momentos, envolta em memórias.
Dirigiu-se então à estante para arrumar o livro, analisando a folha mencionada
e compreendendo como aquele sistema funcionava. Ao lado da folha tabelada, existia
vários marcadores de livros que não passavam de cartões coloridos sem nada
escrito. Também tinha uma caneta presa à própria estante por um fio com o
objetivo desta não se perder ou não ser roubada.
A mulher fora
bem gentil com ela até agora, mas a jovem não achou correto levar o livro
consigo logo no primeiro dia, sendo que ela ainda nem se tinha tornado uma
aluna oficialmente, apesar da proposta do livro ser-lhe útil na sua
criatividade.
– Acho que vou
preferir deixar aqui marcado do que requisitar… – murmurou para si, enquanto
anotava o necessário na folha. – Eu sou um pouco distraída e posso esquecer-me
de o devolver... Humm… Como se assina isto?
As informações
a anotar eram bem simples, e consistiam em, basicamente, a data do dia, o nome
do aluno, o título do livro, e a página a marcar. O mais complicado a descobrir
foi o Número de Chamada, usado para organização e classificação dos livros no
arquivamento da biblioteca. Mas este pequeno requisito encontrava-se numa barra
lateral na lombada da capa, e a jovem não tardou a o descobrir com a ajuda de Tamar
e a analisar os exemplos que outros alunos já tinham marcado na folha.
– Tem alunos
que nunca devolveram os livros requisitados porque os perderam, e tem outros
que nunca mais tocaram nas páginas nos livros que marcaram nessas folhas. No
outro dia, no terceiro piso, encontrei uma folha debaixo de uma das estantes,
que estava marcada por um aluno há cinquenta anos. Céus. Acreditas Juliana? – a
mulher tagarela puxou dialogo, quando a jovem botou o marcador no livro, o
arrumando, e retornou para o balcão.
A
recepcionista abria o caixote que lhe tinha sido entregue. Juliana viu ela
remover alguns sacos transparentes com uniformes muito bem dobrados e engomados
no interior. Tamar ofereceu-se para ajudar, pois o assistente dela estava
ocupado a falar com outros alunos ali ao lado. Agora saber se o Krokorok
ajudava por pura gentileza, ou interessado apenas em saber o que tinha dentro
da caixa, é um mistério.
– Oh! Que
simpático! – agradeceu ela ao crocodilo.
No fundo do
caixote, a mulher removeu então uns arquivadores numerados por ordem alfabética
e um pacote com vários cartões.
– Está tudo
aqui, querida! – informou ao abrir um dos arquivadores para confirmar.
Juliana notou
imensas folhas cheias de informações que não compreendia, e outras com espaços
em branco, ainda por preencher. Era difícil acreditar como é que aquela mulher
conseguia se organizar no meio de toda aquela confusão.
– Já tivemos
outros alunos com matrícula atrasada, mas ainda falta muitos deles comparecer…
Mandei-os embora ontem e antes de ontem porque não sabia do problema. Só fui
informada hoje mesmo! Este ano lectivo começou mesmo com todos no mundo da lua…
A jovem
acenou, sem saber bem o que dizer mais, pois sempre fora péssima com diálogos.
A mulher rapidamente separou o que precisava e deu-lhe as diversas coisas que
eram para ela.
– Preciso que assines aqui, aqui e aqui, e esta folha fica comigo. – e Juliana assim o fez. – E esta ficha aqui é para entregares ao teu Diretor de Turma quando tiveres aulas com ele, que é o Professor Jacq. Não te preocupes, vais gostar dele.
Depois foi ao
pacote com os cartões, a jovem sentiu uma pontada de embaraço com a sua
fotografia (que fora escolhida pela mãe dela) quando viu o seu cartão de
estudante deslizar até ela por cima do balcão. Também entregou vários
exemplares do seu uniforme. Juliana engoliu a seco quando viu a cor violeta que
adornava o seu cartão e o uniforme, pois ela queria ficar na casa Naranja.
Infelizmente não tivera essa sorte.
– Nunca percas
esse cartão, ele é super importante! Vais precisar dele para passar pelas
barreiras de controlo de acesso da Academia. É o teu cartão de crédito por
aqui, mas o diretor explicará isso melhor para ti. Quando vestires esse
uniforme vais-te tornar uma uvinha bem gira! Depois não te esqueças de mandar
foto a tua família, eles vão se derreter! E bem, ainda faz dias quentes em
pleno Setembro, por isso por enquanto ficas apenas com o uniforme de verão.
Vais ter depois mudas, cada uma para cada estação do ano, mas a encomenda ainda
não chegou. Agora está na hora de ires conhecer o teu dormitório e vestires
esse uniforme! E depois estarás entregue ao diretor, pequena! E a tua vida de
estudante aqui na Academia pode começar oficialmente!
Ela não gostou
nada da animação toda usada para proferir aquilo, pois sentiu um mau presságio
enquanto a recepcionista conversava tudo aquilo sem parar e quase sem recuperar
o fôlego, tamanha sua empolgação face à aluna nova. Pensou que ela já tinha
parado, mas a mulher prosseguiu, com mais informações confusas, para sua
infelicidade.
– Estás a ver
este computador aqui? – questionou, apontando para a tecnologia que existia na
lateral do balcão.
– P… Para que
serve? – a jovem questionou, olhando Tamar que quase encostava a ponta no
focinho no objeto, analisando todas as cores e formas mostradas no ecrã com
fascínio.
– É o mapa da
escola, tudo o que precisas de saber para te guiar à distância de um simples
toque. A Academia é enorme, e vocês alunos podem ficar facilmente perdidos,
principalmente os novatos. É por isso que tem um computador desses em quase
todo o lugar.
Juliana
engoliu a seco.
– Eu… Eu não
vou saber usar nada disto!
A mulher saiu
detrás do balcão para a ensinar a usar o equipamento.
– Calma, meu
bombom. É bem fácil de utilizar. – ela comentou, ao passar o dedo no ecrã,
fazendo a imagem se manipular. – Olha. É só assim, vês?
Tamar
encostou-se mais ao computador. A jovem notou um pequeno protótipo em três
dimensões da escola preencher a tela. A Academia era dividida em sete áreas,
classificadas por cor para sua melhor distinção e navegação por parte dos
alunos. O formato circular do edifício facilitava essa mesma divisão, pois as
diversas alas e seus corredores irradiavam a partir da torre central.
– A Academia
segue um estilo radial panótico, não me perguntes o que isso significa, pois
isso eu não sei dizer ao certo, mas sei que foi o formato que os arquitectos
quiseram na época que a Academia foi construída, e é um formato que muitos
dizem ser ideal para estabelecimentos prisionais – disse, com uma farta
gargalhada, apontando para as diversas alas. – Uma escola com uma arquitetura
pensada em ser aplicada em prisões. Não é incrível?
Juliana torceu
o nariz, pois odiou ouvir a palavra prisão, e ainda mais acompanhada pela
gargalhada chantagista da recepcionista. Mas ela não podia negar que era
basicamente isso que ela, e muitos outros alunos, sentiam pelas escolas, e
nenhuma delas precisava de seguir aquele estilo arquitetónico para serem
sentidas como tal.
– A Ala
Amarela do edifício dedica-se aos dormitórios. Já tens as chaves, certo? É
sempre a primeira coisa entregue a novos alunos, bem antes deles chegarem aqui.
O teu dormitório fica localizado no terceiro piso e é o número onze. – informou
a ela, ao confirmar um dos papéis. – O Gabinete do Diretor fica na Ala
Vermelha. Navegue à vontade pela escola como um barquito em alto mar, só não se
aproxime das zonas ainda em construção. Sim! Isso mesmo, a construção da
Academia nunca se concluiu desde que ela foi fundada, e continuam até os dias de
hoje. Mas esse mapa tem tudo o que precisas saber.
– Estou em apuros… – Juliana engoliu a
seco.
Tamar agarrou
na mão suada da sua treinadora, que por sua vez, agarrou com força na correia
da sua guitarra. Era tanta coisa para processar ao mesmo tempo que Juliana se
apercebeu que metade do que a mulher dissera naquele dialogo todo entrara por um
ouvido e saíra por outro.
Só esperava
que o seu Krokorok tivesse fixado as coisas por ela.
– Podia
levar-te até lá, bombom, para fazer-te uma breve visita guiada, mas tenho que
organizar este caixote que eles deviam ter-me entregue mais cedo. E nada melhor
que explorar o mundo por conta própria, não é? – A Recepcionista disse toda
debochada, voltando para o outro lado do balcão. – Geralmente temos a Nemona, a
nossa fabulosa Presidente da Associação de Estudantes a cargo dos novos alunos
para as visitas guiadas, mas parece que ela está ocupada com algo importante
agora pois não apareceu por aqui agora de manhã, e isso não é um atraso comum
dela.
– Ela… Ela não
me responde ás mensagens… – Juliana murmurou, com a boca seca, voltando a conferir
o seu Rotom Phone.
– Vai ficar
tudo bem, queria. Ela vai aparecer, mais tarde ou mais cedo. Aqui a Biblioteca
é o centro da escola, e se te perderes, é como o velho ditado diz: Todos os caminhos vão dar à grande Cratera
de Paldea. Agora se me deres licença, tenho que continuar os meus serviços.
E qualquer dúvida estou sempre por aqui, e tem professores e funcionários em
quase todos os corredores, a quem podes pedir auxilio. Tenha uma boa estadia
Juliana! Tchau! Tchau!... SEGUINTE!
Visitante com a senha 1779? Quem tem a senha 1779?
Tamar agarrou
no que fora entregue a sua treinadora e afastou-se com ela do balcão,
dirigindo-se a um outro computador próximo de uma das portas. Juliana seguiu o
Krokorok, e agradeceu a Arceus por ele ser das suas melhores opções fora da
Pokéball. Sem ele ela não sabia o que seria da sua vida ali.
Ela disse dormitório onze… Vamos lá deixar
nossas coisas e vamos depois falar com o diretor, Lady Juliana. Falta uma hora
para a primeira aula, tem tempo bastante. – O Krokorok disse-lhe com seus
grunhidos enquanto explorava o computador.
– Quem me dera
entender a tua língua, meu amigo… – a adolescente murmurou, prestando atenção
aos movimentos inteligentes do seu Pokémon. – Desculpa se sou um zero completo
nestas coisas de mapas e afins, Tamar… Isto não se compara nada às praias de
Cabo Poco… Pelo menos és mais atencioso do que eu nas explicações daquela
senhora… E bem, pelo menos, tivemos explicações de alguém sobre onde devemos
ir.
Ele sorriu
para ela, a tentando acalmar e afugentar aquelas memórias ruins.
A imagem da Academia expandiu-se, e o Krokorok tocou na Ala Amarela. A imagem tridimensional aumentava e diminuía de tamanho consoante os movimentos dos seus dedos, e apesar da simplicidade das figuras, mostrava o nome dos locais e o número das salas com precisão, e assim ele facilmente descobriu onde ficava o dormitório e qual o caminho que precisavam seguir através da Biblioteca para lá chegarem.
Na tela, o
hall de entrada era representado por uma casinha com um pequeno livro aberto
fazendo de telhado o centro de tudo, por cima do pátio frontal da escola e bem
debaixo da grande torre principal, onde ficava os arquivos da escola,
balneários e o pátio interior da escola. No centro da torre, cercado por
janelas enormes, este mesmo campus era
o local onde as aulas de educação física e batalhas Pokémon eram realizadas.
A partir do pátio
frontal da escola, Tamar passou brevemente o dedo nas restantes áreas da
Academia, em sentido horário. A Ala Vermelha era onde ficava as salas dos professores,
gabinete do Diretor, reprografia e tudo o que era relacionado ao lado executivo
da Academia. Ala Amarela era exclusiva aos dormitórios, tanto femininos como
masculinos.
A Ala Verde, Ala
Turquesa e Ala Azul eram as regiões da escola que concentravam as salas de
aulas. Tamar deu uma pequena espreitadela no que podia ser encontrado em cada
uma delas. A Ala Verde era onde se situava os laboratórios, incluindo os das
aulas de ciências e biologia. Ala Turquesa com destaque para a sala de música
da orquestra da escola e a sala de artes. E a Ala Azul com mais salas de aula,
incluindo a sala de Economia Doméstica, uma oficina para as aulas de Educação Tecnológica,
e vários clubes de atividades extracurriculares.
Por último, já
de retorno ao pátio frontal da escola, a Ala Roxa, onde ficava a cafetaria, refeitório
da escola, loja da escola, papelaria, enfermaria e o auditório.
A jovem olhou
para todos os lados possíveis, e depois virou-se para seu crocodilo que já
marchava em direção à porta. A porta contava com a descrição ‘’Ala Amarela’’ em
letras grandes, mas Juliana estava tão cega e nervosa que não a viu, apesar da
informação ser bem visível mesmo à sua frente. Tamar agarrou no cartão de
estudante de Juliana, passando numa maquineta que existia fora da porta e que
impossibilitava a entrada e saída de qualquer um. A passagem do cartão na máquina
fez o torniquete dar permissão para a passagem de ambos.
– Que Arceus
nos guie aqui neste inferno... – Juliana murmurou, ao dar os próximos passos.
Mais uns
quantos passos primários e assustadores, na sua nova e ainda confusa rotina.
Juliana estava
tão confusa e cega com tudo aquilo que mal deu conta que estava a ser observada
por um certo aluno, no meio de tantos outros da biblioteca, que achavam o
Krokorok carregando a bagagem uma presença deveras curiosa.
O rapaz de
mochila amarela tinha cara de que passara um mau bocado naquela manhã, pois
seus olhos estavam inchados e seu corpo ainda mais enfaixado do que na tarde
anterior.
Mas quando a
jovem que bem reconheceu ao longe, desapareceu de sua vista pela porta, ele
sentiu o alívio tomar-lhe o corpo com a saída da outra, deixando o seu esconderijo.
Ela não o
podia reconhecer de maneira alguma.
O rapaz iria
até a recepção entregar umas papeladas importantes, mas antes, a sua
curiosidade foi maior quando passou por uma certa prateleira de livros.
Deu um breve
analisar na estante.
O que será que aquela rapariga marcou
ali?...
Deu um passo
em frente para continuar a travessia, mas logo hesitou e voltou à estante.
Porque será que ela estava tão interessada naquele
livro de capa encarnada?...
Com tom
desconfiado, certificou-se que não existia muita gente nas proximidades. As
pessoas iam e vinham distraidamente, que era difícil darem conta que ele
abriria um livro qualquer numa página qualquer que não fora marcada por ele.
Pouco tempo
depois, olhou o papel das marcações e agarrou no Scarlet Book.
Então aquela rapariga estranha com os
pijamas cheios de farinha chama-se Juliana… – pensou, para si, ao confirmar
a nota na folha tabelada.
Abriu a página onde se encontrava o marcador de cartão que ela deixara, e parou alguns momentos, refletindo sobre o título que nesta página se encontrava, e sobre o significado de todas as informações nesta contidas.
Herba Mystica…
E assim, o rapaz misterioso de mochila amarela, sentiu os pensamentos se conectarem.