Posted by : Shiny Reshiram 13 de nov. de 2024


No início da mudança, os primeiros passos são sempre os mais assustadores… Mas Juliana rapidamente se apercebeu que os passos que vieram logo a seguir ao primeiro também fariam parte de um dos seus maiores traumas em Mesagoza.


Mas que remédio a adolescente tinha além de subir tudo aquilo? O famoso ‘’rito de passagem’’, como sua mãe o chamou e como todos os alunos pareciam entender como tal.


Outros estudantes, já habituados, passavam por ela, despreocupados e sem problema algum, mas vários deles também mostravam a mesma dificuldade de Juliana: a cada degrau que subiam, era como se uma força anormal os puxasse para trás e tornasse seus pés cada vez mais pesados.


Em certo ponto, Juliana quase se arrastava, e, de facto, subir aquilo tudo de gatas parecia deixar a tarefa bem mais fácil.


A subida requeria mesmo muito esforço físico, pois os degraus eram enormes. Já havia subido uns dez e ainda estava longe de chegar ao topo. A escadaria da escola tinha cerca de cento e cinquenta e cinco degraus, mas Juliana não sabia o número exato, portanto, eram milhares para ela, numa escalada sem fim à vista.


Queria poupar seus Pokémon daquele inferno, mas a sua bagagem e a guitarra não estavam ajudando em nada devido ao peso. Foi com a mão ao bolso, e materializou um Krokorok gentil ao seu lado. Tolya e Rosa eram mais fracas, e ela ainda não estava à vontade de mostrar Moto-Moto em público, logo, Tamar, entre todas as opções que tinha, era o seu amigo mais adequado à ocasião.


O Krokorok sorria olhando para todos os lados, disposto a ajudar. Juliana apoiou-se no corrimão e largou suas coisas, exausta e arfando, e deu um trago numa garrafa de água pequena que tinha consigo. Em casa, dissera à mãe que a garrafa seria inútil, mas ela insistia ter sempre uma consigo pois água é essencial e nunca se sabe quando a sede pode bater.


Naquela altura, Juliana entendia perfeitamente os reais motivos. Quando deu por si, a pequena garrafa ficara vazia.


– Ótimo… Ainda vou a metade desta porcaria e estou cheia de sede e cansada e já não tenho mais água… – resmungou para si própria.


Tamar foi uns degraus acima. O Pokémon parecia fazer a tarefa com facilidade, e se Juliana o tivesse visto a caminhar, de certeza que invejá-lo-ia. Poucos momentos depois, regressou ao lado da treinadora e entregou-lhe uma garrafa com água, maior do que a que a treinadora tomava.


Se tivesse distraída, ela beberia tudo num trago, mas Juliana olhou o objeto alguns instantes, pois ele tinha um nome que não era o seu marcado a tinta preta no plástico da garrafa, perto da sua tampa.


– Tamar. Onde arranjaste esta garrafa de água? – questionou ela, com tom severo.


O Krokorok encolheu os ombros, sentindo um peso na consciência. Esfregou o cocuruto, tentando passar despercebido.


– Não a roubaste, pois não Tamar?


– HEY! Alguém viu minha garrafa de água? – ouviu-se a voz de um aluno, cerca de uns vinte degraus mais acima.


Juliana fitou o seu Pokémon com bastante repreensão.


– Vai devolver essa garrafa àquele menino. – ordenou.


E assim, o Krokorok o fez, num jeito lento, mas sem pestanejar. O rapaz agradeceu ao Krokorok, sem saber que o mesmo também fora o responsável pelo pequeno furto.


Quando regressou à companhia da treinadora, Juliana entregou-lhe algumas das suas coisas para ele carregar: a mochila e a sua mala de viagem. Pelo menos, de mãos ocupadas, o Krokorok não iria conseguir incomodar mais ninguém.


– Não voltes a por o focinho na água dos outros, okay? – repreendeu-o.


Enquanto descansava, Juliana analisou melhor a principal vista que iria preencher os seus dias a partir de agora.


No topo da escadaria, o grande edifício histórico embelezava a paisagem com a sua enorme torre. A vasta Pokéball de metal nesta exposta era inundada por um toque cintilante da luz do sol, que disfarçava a cordilheira que ia além, pois a Academia de Mesagoza se localizava mesmo próxima às montanhas da orla da Grande Cratera de Paldea, na parte mais alta da cidade.


Depois olhou para baixo. A grande praça central de Mesagoza era notável por um campo de batalha inserida no meio de uma rosa dos ventos na calçada, cuja pedra em mosaico de diferentes cores procurava representar os dezoito tipos de Pokémon existentes. Na orla deste campo, cafés, bares, lojas e restaurantes se amontoavam no rés-do-chão de altos edifícios antigos e suas explanadas eram lotadas de gente.


Fios com bandeirinhas multicoloridas estendiam-se de um edifício a outro ou de um poste de electricidade a outro, por tudo o que era lugar. Diversos Starly, Swablu e outros Pokémon voadores pousavam nesses fios, ou nos telhados, dando uma graça selvagem.


Mas não tinha muito mais tempo para mais contemplações.


A jovem respirou fundo, e seguiu então caminho ao lado do seu Pokémon.



O último degrau, no topo da escadaria da Academia tinha um elemento particular: sua superfície era composta por várias chapas metálicas estriadas, antes de dar continuação à típica calçada Paldeana. O padrão destas chapas antiderrapantes servia para sinalizar melhor o início da longa escadaria, e entregava uma maior aderência à sola dos sapatos, evitando o risco de escorregamento, o que seria uma ajuda subtil aos alunos no final daquele desafio terrível de escalada, pois os mesmos podiam descambar devido ao cansaço.


Mas nem isso evitou Juliana de se atirar com a cara ao chão, dando graças a Arceus por estar viva.


– Espero não enfrentar mais escadas se não eu vou exigir um elevador nesta porcaria – resmungou para si própria, enquanto recuperava o fôlego.


Os estudantes passavam por ela, alçando a perna, aos risinhos, mas Juliana os ignorou. Quando elevou o corpo, seguiu os alunos com o olhar, para ter a certeza para onde devia se dirigir primeiro. Existia um intervalo de espaço entre a escadaria e um grande portão que dava acesso ao pátio principal da Academia. O portão tinha um formato curioso, pois lembrava um livro, o objeto que sustentava todo o conhecimento, e este se abria e fechava automaticamente, como um virar de página, sem ruído algum, permitindo as entradas e saídas, sempre que os alunos passavam um cartão de identificação de estudante numa pequena máquina que lembrava uma campainha no muro.


Os pilares do muro que sustentavam o portão eram adornados com os dois famosos símbolos da Academia: no pilar do lado esquerdo, o emblema da Casa Naranja, e, por sua vez, no lado direito, o emblema da Casa Uva.


Tamar foi em frente. Juliana hesitou, pois ela não tinha cartão algum que fosse sua permissão de entrada. A jovem forçou a vista, tentando ler as inscrições que existiam debaixo de cada emblema, talvez elas tivessem alguma pista sobre o que fazer.


Tirando lições da tradição. Para crescer, sempre fortes e cada vez melhores. – leu no lado esquerdo, em voz alta, depois virou-se para o lado direito. – Liderando o caminho para o futuro. Ao valorizar nossa individualidade…


Quando deu por si, Tamar estava do outro lado dos portões, e ela nem dera conta disso. Agora, ambos eram separados por aquela longa barreira metálica.


Juliana começou a se desesperar ao notar o sucesso dele.


– Tamar!! Como foste parar ai dentro? COMO ATRAVESSASTE ISTO??! – questionou bem alto, batendo nas grades, quase em pânico.


Não existia sinais no chão de nenhum buraco, por isso, o Krokorok não usara Dig. Juliana bateu com força nas grades, com esperança destas se abrirem, mas as mesmas não se moveram nem um milímetro. Esticou o braço entre as barras e quase ficara presa, para se certificar se tinha alguma maçaneta oculta no outro lado.


O crocodilo fez um gesto, para ela se acalmar, e apontou para um dos muros. Sua patinha tinha um papel com uma senha, que a humana não conseguiu decifrar devido à distância.


– Onde arranjas-te isso?...


Juliana procurou ver para onde ele apontava e onde arranjara aquele papel, com mais atenção.


Foi ai que notou que a campainha na lateral do muro era composta por dois botões, um maior, por onde passava os cartões dos alunos numa rachadura, e outro um pouco mais pequeno, quase camuflado no meio das pedras da parede.


Apesar da diferença entre ambos não ser muita, este mais pequeno era um botão normal, sem o orifício de passar um cartão. ‘’Alunos’’ e ‘’Visitantes’’ eram descrições que podiam ser lidas, claramente, nos respectivos lugares, ao lado do horário de funcionamento das instalações e números de telefone talhados em belas letras de bronze.


Por instantes, ponderou a diferença, mas logo soltou uma golfada de ar, aliviada pela solução encontrada. As letras eram bem marcadas, e Juliana sentiu-se ridícula por não as ter notado.


– Obrigado Tamar, se não fosses tu eu acho que nunca ia entrar… – disse, ao tocar no botão classificado como ‘’Visitantes’’, cuja cor mudou para um verde florescente, assinalando a permissão.


Antes das portas se abrirem, um papel saiu de um orifício que existia debaixo dos dois botões da campainha. Juliana não viu o mesmo surgir quando os alunos de antes passaram os seus cartões, logo calculou ser destinado a quem não era (ainda) estudante, por isso, estava fazendo tudo correto. Agarrou no papel, fazendo os portões se abrirem após a retirada dos mesmos.


Adentrou o local, enquanto fixava o que existia escrito no pequeno bilhete. A senha era 1772 e continha, em letras miúdas, a seguinte descrição: Aguarde sua vez na Recepção. O Krokorok soltou uma pequena gargalhada, quando Juliana voltou para o lado dele, pois a situação era mesmo simples.


Ela deu-lhe uma pequena cotovelada no braço.


– Não gozes, nunca tive jeito para estas coisas. Para a próxima espera por mim, ou chama minha atenção se eu estiver distraída, para entrar contigo, okay?


Ali em cima, dava para ter uma visão mais significativa de Mesagoza por inteiro e sua praça central no centro da cidade, pois, afinal de contas, a Academia ficava no ponto mais alto da cidade. Ao longe, parte do topo do farol de Cabo Poco cintilava como um pequeno pontinho branco no meio de uma vastidão azul.


Juliana ficou imóvel alguns minutos, analisando com calma toda a restante paisagem, calculando para onde se dirigir a seguir. Não tinha muito que adivinhar.


Depois de entrar no pátio principal, as pedras no chão formaram um círculo colorido que relembrava uma rosa-dos-ventos, um pouco semelhante à que adornava o campo de batalha na praça central de Mesagoza. O caminho seguia-se numa linha reta, até o edifício, que, assim de perto, mostrou-se maior e mais intimidante do que visto ao longe lá em baixo na cidade.


A jovem então seguiu o passeio, com os olhos fixos na enorme porta de madeira antiga que existia mesmo em frente, ciente que esta devia ser a entrada, pois não existia mais nenhuma porta assim tão chamativa nas restantes paredes, além de janelas de áspero antigo devido a sua arquitetura barroca. Por cima da porta principal, era notável os dois emblemas da Academia na fachada. Inúmeros jovens e adultos entravam e saíam pela porta, sempre a deixando fechada.


O pátio principal encontrava-se apinhado de gente, ciprestes cresciam livremente nas beiras dos passeios e em áreas de relvado, onde jovens brincavam com seus Pokémon ou descansavam sentados em suas sombras, esperando o início das aulas. Viu um menino acariciando um Cyclizar genuíno, e sentiu uma vontade louca de se atirar a ele ou de abraçar o seu Moto-Moto.


– Oh por Arceus que coisa mais fofinhaaaaaaa… – murmurou para si, e só não se atirou àquele dragão pois a ansiedade não lhe permitiu, apesar de conter-se ter sido uma tarefa difícil ao inicio.


Agarrou com mais firmeza a correia da sua guitarra, e tentou acompanhar o ritmo de Tamar, que puxava a bagagem metros à frente. As rodas da sua mala de viagem faziam um ruído constante na calçada e chamava bastante as atenções, mas o Pokémon não se importava com a troca de olhares.


O corpo da humana, atrás dele, ficou mais tenso quando uns quatro jovens, surgidos do nada, correram, atravessando o caminho, poucos centímetros à sua frente.


Podia ter sofrido um encontrão se não tivesse parado seus passos a tempo.


– Mais cuidado, não? – soltou, mal humorada, e Tamar soprou também contra eles, pois também ia sendo atropelado.


Mas eles não pareceram ouvir sua repreensão, e se o fizeram, apenas ignoraram.


Alguns dos indivíduos se esconderam atrás das árvores, esperando o momento certo para atacar seus companheiros. Eles assopravam canetas estragadas, com o canudo partido, como pistolas, e com elas disparavam bolotas de cipreste entre eles como se fossem um bando de Pokémon do tipo planta brincando com o movimento Bullet Seed.


Juliana estava prestes a abrir a porta quando sente algo bater na sua cabeça.


Foi com a mão ao cabelo, e lá estava, entre os seus fios castanhos, uma pequena bolota de cipreste. Olhou para trás, de forma quase instintiva, mas a única coisa que avistou de suspeito foi uns vultos escondidos atrás de umas árvores, no outro lado do pátio, a uma distância considerável da sua.


– Idiotas… – murmurou.


Puxou com cuidado a maçaneta, e as grandes e pesadas portas de madeira se abriram de par em par. O cheiro a livros e a antiguidade rapidamente penetrou suas narinas. Não esperava que o espaçoso hall de entrada da Academia de Mesagoza também servisse como Salão de Convívio e Biblioteca.


E que grande biblioteca o era!


Juliana aguentou a respiração.


A notável arquitetura do estilo barroco fazia qualquer um sentir-se como se estivesse a regressar no tempo. Várias paredes eram recheadas de prateleiras de livros e estantes de madeira trabalhada, tão altas que tocavam o teto e se perdiam de vista. A luz artificial que iluminava o recinto era proveniente de candelabros negros que davam uma graça única ao ambiente.


Aqui e ali, mesas, sofás e cadeirões confortáveis eram ordenados em pequenas alas mais reservadas, destinavam-se aos alunos que quisessem um pouco mais de conforto e de sossego ao longo dos estudos. As paredes também contavam com quadros belíssimos de paisagens de terras distantes, e trabalhos notáveis em exposição, realizado pelos próprios alunos de anos anteriores.


Um estranho que não soubesse que aquilo era uma escola, facilmente o confundiria com algum tipo de palácio bem conservado pelo tempo.


O edifício tinha três andares (com sótão aproveitado), e apesar de tanto luxo indescritível que ela podia ter apreciado, uma das coisas que mais desagradou Juliana à primeira vista foi ver mais escadarias. Eram menores que as do exterior que davam acesso ao edifício, mas depois de passar aquele trauma enorme lá fora, o que ela menos queria era subir mais degraus.


Vários metros, em frente à porta, debaixo de um arco de mármore, via-se um longo balcão de madeira escura.


Uma senhora de meio peso e de pele morena encontrava-se atrás desse mesmo balcão, e tinha um ar bem simpático. O sorriso constante em sua face indicava que a mesma adorava o seu trabalho, mas não o fazia sozinha. Estava acompanhada de um Psyduck e de um assistente que, por sua vez, também tinha ar agradável.


Ela conversava com vários alunos, que logo se dispersaram nas suas devidas direções, se camuflando entre outros grupos de jovens que conversavam no meio do hall de entrada. A mulher analisou o computador, e deixou os alunos comuns da Academia nas mãos do seu assistente. Em pouco tempo, virou o ecrã do mesmo para a frente, mostrando o número da próxima pessoa a ser atendida.


– Seguinte! Visitante com a senha número 1771! Por favor, pode vir até aqui à Recepção! Quem tem a senha 1771? – falou alto, certificando-se que era ouvida pelas pessoas que estavam em frente.


A sorte da mulher é que, o hall de entrada, apesar de também ser salão de convívio, também era uma biblioteca, logo, o local tinha a regra de ser silencioso, portanto, sua voz de chamamento era bem sentida e ecoava, distinta, entre os sussurros dos jovens em seus diálogos de café.


Juliana olhou sua senha, o seu número era 1772, por isso, distraída, acreditou que ainda iria esperar mais um bocadinho pela sua vez, e, mais uma vez, não deu-se conta do avanço precipitado de Tamar, pois se esquecera que Tamar também tinha a sua própria senha.


Esta senhora da recepção estava com os olhos fixos numa folha, e quando olhou para cima, para atender o cliente, deu-se conta do olhar curioso de um crocodilo cor de areia com sua bagagem, a deslizar um papel com uma senha por cima do balcão.


Ela piscou os olhos, com uma gargalhada, acreditando que aquilo só podia ser uma brincadeira.


Bienvenido al Academia Naranja y Uva, muchacho. – brincou.


Bom-dia, minha linda dama. – o Krokorok sorriu de modo galã, mostrando seus belos dentes afiados e bem ordenados.


– Então, fofinho… És um novo aluno? Vens sozinho? Estás perdido? Não tens nenhum treinador? O que estás aqui a fazer? – a mulher questionou-lhe.


Juliana examinou, atrapalhada, todos os lados, procurando a presença do Krokorok desparecido. Ainda agora ele estava ali, e não podia ter ido para muito longo naqueles breves segundos de sua distração com o papel da senha.


Deu uma pequena corrida quando o notou a conversar gentilmente com a senhora da recepção da Academia.


– Olhem só se não é a Juliana! – foi a primeira reação da mulher, ao por o olhar na jovem tímida, para a receber.


Juliana encolheu os ombros, deslizando o seu papel com a senha por cima do balcão, o posicionando ao lado do Krokorok, que foi tomado pela senhora. A mulher encarou Tamar, compreendendo o que estava ocorrendo, com grande disposição.


– Parece que o teu Krokorok também quis sua própria senha, não é? Seu marau!


– A… A senhora sabe meu nome???


A mulher soltou uma gargalhada animada face à confusão da mais nova.


– Então? Até parece que eu não sou uma cliente habitual da tua mãe? – aquela frase fez um clique na mente de Juliana, pois a cara da mulher, vista de perto, não era mesmo nada estranha. Ela prosseguiu a sua apresentação. – Sou a esposa do senhor Andrew, que vive em Los Platos. A tua mãe mostra-me sempre fotografias tuas, principalmente de quando eras bebé, quando eu vou tomar chá com ela lá a casa. É impossível não te reconhecer, és a cara toda chapada dela!


Juliana encolheu-se, ainda mais tímida com a revelação. Sabia que sua mãe era conhecida, mas não imaginava que alguém a referisse no meio da enorme cidade, e ainda falasse aquela informação constrangedora.


– P… Prazer… Senhora…


A recepcionista continuou. Ela parecia ser o tipo de pessoa que adorava conversar, puxando sempre diálogo por qualquer coisa, por mais mínima que fosse.


– Meu marido ficou mesmo encantado com aquele Dachsbun. Deixa-me contar-te um pequeno segredo, minha pequena. – e encolheu-se por cima do bar, começando a sussurrar para ela, para a ouvir, Juliana quase se obrigou a se enterrar no tampo do balcão, para escutar o que esta iria dizer. – Estava tão bom que hoje só sobra migalhas…


Juliana forçou um sorriso. A mulher então recompôs a pose atrás do balcão.


– Bem… Voltando ao assunto, querida. O que te trás aqui hoje à Academia Naranja e Uva?


Ela estava prestes a comentar algo para responder, quando é interrompida pela recepcionista, que, obviamente, sabia a resposta na ponta da língua.


– Espera! Tens ai um ajudante bem carregado! – exclamou bem alto, fixando o Krokorok e a bagagem. – Deixa-me adivinhar… És uma das nossas estudantes novas deste ano lectivo!


Juliana acenou a cabeça.


– Nesse caso acredito que queres desfazer-te da tua bagagem e conheceres o dormitório primeiro. Certo? Vais ter que ir até o gabinete do Diretor depois disso, para ele explicar melhor como nossa escola funciona, mas ainda temos um bocadito de tempo antes do início das aulas. – e confirmou as horas. – Agora diz-me, mi amor. Como é o teu nome completo. Tens ai a tua documentação?


– Juliana… Juliana Rodriguez Garcia. – falou, procurando desajeitadamente tudo o que precisava no interior da sua carteira para lhe entregar.


Deu-lhe várias coisas, sem saber ao certo se a mulher precisava de tudo aquilo. A recepcionista sorriu com a incerteza da jovem, tomando apenas um dos cartões e inserindo o seu número no computador. Logo depois o devolveu, junto com os outros documentos.


– Que nome encantador. Pelo menos é curto e fácil de decorar…  Tem alunos com nomes enormes e horríveis… Vejamos… – e abriu um grande arquivador, dentro de uma gaveta atrás no balcão, começando a procurar o nome na papelada das fichas por ordem alfabética. –  J… J… Juliana… Interessante que a Academia não tem muitas Julianas… hummm... Não tenho nada aqui com o teu nome e dados, querida. – e depois conferiu o computador. – Nem sequer estás no nosso sistema.


Ao início, a jovem ficou confusa, prestes a dar meia volta para ir embora, com sorte sua mãe ainda estava pela cidade e lhe podia levar a casa sem ter que esperar muito tempo por ela. Mas logo a seguir recordou-se de um detalhe importantíssimo, que a fez perder a esperança sobre o não ter aulas naquele dia.


– O diretor falou que teve um problema com as matrículas.


– Ah! Pois é!… Esse maldito problema! Então é por isso que eu ainda não tenho nada  sobre ti aqui! Não sei o que o pessoal executivo anda a fazer, talvez a dormir… Enfim. Espera ai um segundo, se me der licença. – pediu.


Fez as rodas da sua cadeira deslizarem até um telefone que existia num dos extremos da bancada da recepção, perto de mais papelada. Enquanto conversava, Juliana fixou melhor a arquitectura interior da biblioteca, analisando as arcadas e abobadas bem trabalhadas que sustentavam os balcões dos pisos superiores da biblioteca. Vários Pokémon de porte menor brincavam com alguns alunos de ar simpático, e Tolya e Rosa talvez se divertiriam com aqueles Pokémon se soltas, mas Juliana não quis correr riscos, pois Tamar já chamava atenções.


– Alô? Sim? Tenho aqui na Recepção uma aluna nova e preciso da sua documentação atrasada… Sim… É das tais matrículas que tiveram o problema no sistema… Isso mesmo… Okay… O nome dela é Juliana Rodriguez Garcia… Certo. Até breve então, queriduxa!


E baixou o telefone, desligando a chamada, voltando atenção para a jovem que a aguardava.


– Eles já vem ai entregar as coisinhas atualizadas. – e apontou para um conjunto de cadeirões existentes perto da porta de saída. – Senta-te ali, ou onde preferires, que eu já volto a te chamar. Se quiseres, podes ir até as prateleiras e tirares um livro ou revista para ler enquanto esperas, afinal, és uma aluna nova daqui, trata a Academia como se fosse a tua segunda casa, pois é o que ela será a partir de agora. Mas por enquanto, só não te afastes muito daqui, está bem? Pequena? Esto llevará un rato.


Como se estivesse a seguir uma ordem invisível, Juliana sentou-se no mesmo cadeirão sugerido pela recepcionista, e durante muito tempo, não tirou os olhos dela, aguardando a sua vez em ser atendida no balcão.


Como é comum em qualquer momento de longa espera, até as paredes e sua textura são elementos interessantes no ambiente, e, portanto, a jovem logo atentou-se a alguns detalhes ao redor da recepção, reparando em coisas que até então não notara no local, as analisando por um ângulo diferente. Uma das árvores decorativas que existiam ao redor das prateleiras era uma macieira, com fruta madura em seus galhos, tão encarnada que dava vontade de dar uma dentada, e isso a fez preocupar-se outra vez sobre a hora do almoço.


– O que será que vamos comer?... – murmurou os pensamentos. – Estou cheia de sede… As minhas pernas… Aquela porcaria de escadaria… Aposto que amanhã não me vou conseguir mexer…


Juliana tentou não reparar no vai vem de alunos a passar à sua frente, que podiam ser de qualquer faixa etária. Os lugares ao seu redor estavam vagos, e rezou a Arceus para ninguém os ocupar ou puxar conversa enquanto ela estivesse ali à sua vontade. Apertou os joelhos, incomodada por possíveis olhares pouco discretos, pois para ela, podia estar a ser observada de qualquer direção, e não queria que outra situação igual ao ocorrido em Los Platos se repetisse, apesar da probabilidade ser grande.


Tamar deixou a bagagem ao lado da sua treinadora, e deu os primeiros passos na exploração do local, indo até as estantes de livros mais próximas. A jovem o seguiu com o olhar por alguns momentos, para não o perder, mas logo distraiu-se com outros assuntos pendentes.


Juliana foi ao seu Rotom Phone, mas não tinha nada de interessante… Então começou a escrever várias mensagens.

 

Nemona, sempre é para nos encontrar-mos aqui na biblioteca logo pela manhã?


Já estou aqui!


Nemona??

 

Mas se Nemona não lhe respondera às últimas mensagens, não iria responder aquelas assim tão cedo.


O Krokorok aproximou-se dela, com um livro de capa encarnada em mãos que removera de uma das estantes mais próximas.


– O que é isso, Tamar? – questionou, curiosa, tomando o livro para si. – Não roubas-te isso de ninguém, pois não?


Ele fez não com a cabeça, apontando para a estante de onde removera o livro. Um pequeno espaço vago entre os outros era visível na prateleira.


A primeira coisa que realçou-se naquele exemplar foi a sua capa encarnada com adornos dourados e desenhos a negrito. A grande ilustração retratava uma fera com penas enormes na cabeça, que ao longe, relembrava imenso Moto-Moto. Em letras bem grandes, apesar de desgastadas pelo tempo, ela conseguiu ler o título do livro.


Scarlet Book.


O Livro Escarlate.


Juliana tinha certeza absoluta que já ouvira falar daquele livro em algum lugar, mas como estava ansiosa demais pelo seu primeiro dia de aulas, ainda demorou algum tempo a assimilar a informação.


– É o tal livro usado como inspiração para aquele romance!… – concluiu, após algum tempo de reflexão, começando a folhear as primeiras páginas. – Ótima descoberta, Tamar! Nunca imaginei que iria por as minhas mãos num exemplar destes. Vai ser agora que vou conseguir concluir aquela música que eu estava fazendo.


O crocodilo estufou o peito, cheio de orgulho do elogio. Depois olhou para todas as prateleiras, imaginando o conhecimento escondido em todas elas. É claro que a Internet tinha acesso a tudo, mas certos segredos só são acedidos em bibliotecas, pois estão recheadas de tanta coisa antiga que nunca ninguém os achou para pôr online.


O Livro Escarlate, ou Scarlet Book, era um registo de uma expedição realizada na Grande Cratera de Paldea. As suas informações fascinaram, durante anos, a famosa Professora Sada. Grande parte das informações neste contidas foram utilizadas para o cenário do romance do último livro de ficção sensação do ano, que pretendia retratar a história de vida desta mesma professora.


A jovem esquecera o mundo que a rodeava, pois tinha em mãos uma chave fundamental para terminar a canção que estava a trabalhar baseada naquele livro na noite que caçara o Cyclizar.


– Quando o tempo apagou o paraíso aos meus pés… – a jovem murmurou, procurando o tom certo da sua música e os motivos dela não lhe parecer tão bem.


Nada melhor do que pegar nas origens de algo para construir nossa própria dedicatória sobre o assunto. O Krokorok sentou-se ao lado dela, também a analisar as páginas e suas ilustrações fascinantes.


– Olha isto… – a humana apontou para uma das páginas. – Isto não estava no romance.


Interessado, Tamar acenou, encarando o que a página dizia e tentando interpretar suas ilustrações.


 

Herba Mystica


A Área Zero é um o lar de plantas maravilhosas que fazem milagres quando ingeridas.


Uma delas chama-se Herba Mystica, e aumentam a força e o vigor.


Tentámos cultivar vários exemplares ao redor de Paldea, testando a adaptabilidade da planta em diversos ambientes fora da Cratera, no entanto, antes de termos a oportunidade de as colher, as ervas foram consumidas por Pokémon. Estes, por sua vez, cresceram e cresceram, tornando-se maiores e mais fortes que o usual.


Nós os chamamos de Titãs.


 

– Tamar! Imagina se isto estivesse no romance! – Juliana comentou, com uma certa empolgação. O Krokorok acenou, com interesse nas suas teorias. – Imagina se o professor Turo tivesse que procurar o poder destas plantas mágicas para ajudar na doença da Professora Sada! Ou melhor ainda, se ele tivesse enfrentado um desses tais Pokémon Titãs!


Miss Juliana, adorei! Dava um excelente tema para uma fanfiction… – disse-lhe o crocodilo.


– Juliana! Juliana! Desculpa incomodar a tua leitura, queriduxa, mas as tuas coisitas já estão aqui, prontinhas! – ouviu a voz repentina da recepcionista, ecoando por ela. – Vamos continuar então? As horas estão passando…


Juliana deu um pulo de sobressalto, devido àquela interrupção repentina. Distraíra-se com o livro e quase ia perdendo a sua vez na recepção. Uma mulher de ar importante chegara ao balcão, deixando um caixote bem farto com a recepcionista, mas logo se retirara para os pisos superiores.


– Já… Já vou ai... Só vou arrumar este livro… – Juliana disse, um tanto tremula, na direção da recepcionista.


Estava prestes a fechar o livro, para o devolver ao seu lugar, mas a mulher a impediu com um aceno.


– ESPERA AI MENINA! Se estavas gostando assim tanto da leitura, podes requisitar o livro comigo, queriduxa. Mas se não o quiseres levar contigo e o preferires deixar aqui, tens ali na prateleira um papel à parte onde podes anotar a página onde estavas e usares um marcador de livro, para continuares a leitura mais tarde por aqui.


A jovem olhou para Tamar e para a sua bagagem breves momentos, envolta em memórias. Dirigiu-se então à estante para arrumar o livro, analisando a folha mencionada e compreendendo como aquele sistema funcionava. Ao lado da folha tabelada, existia vários marcadores de livros que não passavam de cartões coloridos sem nada escrito. Também tinha uma caneta presa à própria estante por um fio com o objetivo desta não se perder ou não ser roubada.


A mulher fora bem gentil com ela até agora, mas a jovem não achou correto levar o livro consigo logo no primeiro dia, sendo que ela ainda nem se tinha tornado uma aluna oficialmente, apesar da proposta do livro ser-lhe útil na sua criatividade.


– Acho que vou preferir deixar aqui marcado do que requisitar… – murmurou para si, enquanto anotava o necessário na folha. – Eu sou um pouco distraída e posso esquecer-me de o devolver... Humm… Como se assina isto?


As informações a anotar eram bem simples, e consistiam em, basicamente, a data do dia, o nome do aluno, o título do livro, e a página a marcar. O mais complicado a descobrir foi o Número de Chamada, usado para organização e classificação dos livros no arquivamento da biblioteca. Mas este pequeno requisito encontrava-se numa barra lateral na lombada da capa, e a jovem não tardou a o descobrir com a ajuda de Tamar e a analisar os exemplos que outros alunos já tinham marcado na folha.


– Tem alunos que nunca devolveram os livros requisitados porque os perderam, e tem outros que nunca mais tocaram nas páginas nos livros que marcaram nessas folhas. No outro dia, no terceiro piso, encontrei uma folha debaixo de uma das estantes, que estava marcada por um aluno há cinquenta anos. Céus. Acreditas Juliana? – a mulher tagarela puxou dialogo, quando a jovem botou o marcador no livro, o arrumando, e retornou para o balcão.


A recepcionista abria o caixote que lhe tinha sido entregue. Juliana viu ela remover alguns sacos transparentes com uniformes muito bem dobrados e engomados no interior. Tamar ofereceu-se para ajudar, pois o assistente dela estava ocupado a falar com outros alunos ali ao lado. Agora saber se o Krokorok ajudava por pura gentileza, ou interessado apenas em saber o que tinha dentro da caixa, é um mistério.


– Oh! Que simpático! – agradeceu ela ao crocodilo.


No fundo do caixote, a mulher removeu então uns arquivadores numerados por ordem alfabética e um pacote com vários cartões.


– Está tudo aqui, querida! – informou ao abrir um dos arquivadores para confirmar.


Juliana notou imensas folhas cheias de informações que não compreendia, e outras com espaços em branco, ainda por preencher. Era difícil acreditar como é que aquela mulher conseguia se organizar no meio de toda aquela confusão.


– Já tivemos outros alunos com matrícula atrasada, mas ainda falta muitos deles comparecer… Mandei-os embora ontem e antes de ontem porque não sabia do problema. Só fui informada hoje mesmo! Este ano lectivo começou mesmo com todos no mundo da lua…


A jovem acenou, sem saber bem o que dizer mais, pois sempre fora péssima com diálogos. A mulher rapidamente separou o que precisava e deu-lhe as diversas coisas que eram para ela.


– Preciso que assines aqui, aqui e aqui, e esta folha fica comigo. – e Juliana assim o fez. – E esta ficha aqui é para entregares ao teu Diretor de Turma quando tiveres aulas com ele, que é o Professor Jacq. Não te preocupes, vais gostar dele.


Depois foi ao pacote com os cartões, a jovem sentiu uma pontada de embaraço com a sua fotografia (que fora escolhida pela mãe dela) quando viu o seu cartão de estudante deslizar até ela por cima do balcão. Também entregou vários exemplares do seu uniforme. Juliana engoliu a seco quando viu a cor violeta que adornava o seu cartão e o uniforme, pois ela queria ficar na casa Naranja. Infelizmente não tivera essa sorte.


– Nunca percas esse cartão, ele é super importante! Vais precisar dele para passar pelas barreiras de controlo de acesso da Academia. É o teu cartão de crédito por aqui, mas o diretor explicará isso melhor para ti. Quando vestires esse uniforme vais-te tornar uma uvinha bem gira! Depois não te esqueças de mandar foto a tua família, eles vão se derreter! E bem, ainda faz dias quentes em pleno Setembro, por isso por enquanto ficas apenas com o uniforme de verão. Vais ter depois mudas, cada uma para cada estação do ano, mas a encomenda ainda não chegou. Agora está na hora de ires conhecer o teu dormitório e vestires esse uniforme! E depois estarás entregue ao diretor, pequena! E a tua vida de estudante aqui na Academia pode começar oficialmente!


Ela não gostou nada da animação toda usada para proferir aquilo, pois sentiu um mau presságio enquanto a recepcionista conversava tudo aquilo sem parar e quase sem recuperar o fôlego, tamanha sua empolgação face à aluna nova. Pensou que ela já tinha parado, mas a mulher prosseguiu, com mais informações confusas, para sua infelicidade.


– Estás a ver este computador aqui? – questionou, apontando para a tecnologia que existia na lateral do balcão.


– P… Para que serve? – a jovem questionou, olhando Tamar que quase encostava a ponta no focinho no objeto, analisando todas as cores e formas mostradas no ecrã com fascínio.


– É o mapa da escola, tudo o que precisas de saber para te guiar à distância de um simples toque. A Academia é enorme, e vocês alunos podem ficar facilmente perdidos, principalmente os novatos. É por isso que tem um computador desses em quase todo o lugar.


Juliana engoliu a seco.


– Eu… Eu não vou saber usar nada disto!


A mulher saiu detrás do balcão para a ensinar a usar o equipamento.


– Calma, meu bombom. É bem fácil de utilizar. – ela comentou, ao passar o dedo no ecrã, fazendo a imagem se manipular. – Olha. É só assim, vês?


Tamar encostou-se mais ao computador. A jovem notou um pequeno protótipo em três dimensões da escola preencher a tela. A Academia era dividida em sete áreas, classificadas por cor para sua melhor distinção e navegação por parte dos alunos. O formato circular do edifício facilitava essa mesma divisão, pois as diversas alas e seus corredores irradiavam a partir da torre central.


– A Academia segue um estilo radial panótico, não me perguntes o que isso significa, pois isso eu não sei dizer ao certo, mas sei que foi o formato que os arquitectos quiseram na época que a Academia foi construída, e é um formato que muitos dizem ser ideal para estabelecimentos prisionais – disse, com uma farta gargalhada, apontando para as diversas alas. – Uma escola com uma arquitetura pensada em ser aplicada em prisões. Não é incrível?


Juliana torceu o nariz, pois odiou ouvir a palavra prisão, e ainda mais acompanhada pela gargalhada chantagista da recepcionista. Mas ela não podia negar que era basicamente isso que ela, e muitos outros alunos, sentiam pelas escolas, e nenhuma delas precisava de seguir aquele estilo arquitetónico para serem sentidas como tal.


– A Ala Amarela do edifício dedica-se aos dormitórios. Já tens as chaves, certo? É sempre a primeira coisa entregue a novos alunos, bem antes deles chegarem aqui. O teu dormitório fica localizado no terceiro piso e é o número onze. – informou a ela, ao confirmar um dos papéis. – O Gabinete do Diretor fica na Ala Vermelha. Navegue à vontade pela escola como um barquito em alto mar, só não se aproxime das zonas ainda em construção. Sim! Isso mesmo, a construção da Academia nunca se concluiu desde que ela foi fundada, e continuam até os dias de hoje. Mas esse mapa tem tudo o que precisas saber.


Estou em apuros… – Juliana engoliu a seco.


Tamar agarrou na mão suada da sua treinadora, que por sua vez, agarrou com força na correia da sua guitarra. Era tanta coisa para processar ao mesmo tempo que Juliana se apercebeu que metade do que a mulher dissera naquele dialogo todo entrara por um ouvido e saíra por outro.


Só esperava que o seu Krokorok tivesse fixado as coisas por ela.


– Podia levar-te até lá, bombom, para fazer-te uma breve visita guiada, mas tenho que organizar este caixote que eles deviam ter-me entregue mais cedo. E nada melhor que explorar o mundo por conta própria, não é? – A Recepcionista disse toda debochada, voltando para o outro lado do balcão. – Geralmente temos a Nemona, a nossa fabulosa Presidente da Associação de Estudantes a cargo dos novos alunos para as visitas guiadas, mas parece que ela está ocupada com algo importante agora pois não apareceu por aqui agora de manhã, e isso não é um atraso comum dela.


– Ela… Ela não me responde ás mensagens… – Juliana murmurou, com a boca seca, voltando a conferir o seu Rotom Phone.


– Vai ficar tudo bem, queria. Ela vai aparecer, mais tarde ou mais cedo. Aqui a Biblioteca é o centro da escola, e se te perderes, é como o velho ditado diz: Todos os caminhos vão dar à grande Cratera de Paldea. Agora se me deres licença, tenho que continuar os meus serviços. E qualquer dúvida estou sempre por aqui, e tem professores e funcionários em quase todos os corredores, a quem podes pedir auxilio. Tenha uma boa estadia Juliana! Tchau! Tchau!...  SEGUINTE! Visitante com a senha 1779? Quem tem a senha 1779?


Tamar agarrou no que fora entregue a sua treinadora e afastou-se com ela do balcão, dirigindo-se a um outro computador próximo de uma das portas. Juliana seguiu o Krokorok, e agradeceu a Arceus por ele ser das suas melhores opções fora da Pokéball. Sem ele ela não sabia o que seria da sua vida ali.


Ela disse dormitório onze… Vamos lá deixar nossas coisas e vamos depois falar com o diretor, Lady Juliana. Falta uma hora para a primeira aula, tem tempo bastante. – O Krokorok disse-lhe com seus grunhidos enquanto explorava o computador.


– Quem me dera entender a tua língua, meu amigo… – a adolescente murmurou, prestando atenção aos movimentos inteligentes do seu Pokémon. – Desculpa se sou um zero completo nestas coisas de mapas e afins, Tamar… Isto não se compara nada às praias de Cabo Poco… Pelo menos és mais atencioso do que eu nas explicações daquela senhora… E bem, pelo menos, tivemos explicações de alguém sobre onde devemos ir.


Ele sorriu para ela, a tentando acalmar e afugentar aquelas memórias ruins.


A imagem da Academia expandiu-se, e o Krokorok tocou na Ala Amarela. A imagem tridimensional aumentava e diminuía de tamanho consoante os movimentos dos seus dedos, e apesar da simplicidade das figuras, mostrava o nome dos locais e o número das salas com precisão, e assim ele facilmente descobriu onde ficava o dormitório e qual o caminho que precisavam seguir através da Biblioteca para lá chegarem.



Na tela, o hall de entrada era representado por uma casinha com um pequeno livro aberto fazendo de telhado o centro de tudo, por cima do pátio frontal da escola e bem debaixo da grande torre principal, onde ficava os arquivos da escola, balneários e o pátio interior da escola. No centro da torre, cercado por janelas enormes, este mesmo campus era o local onde as aulas de educação física e batalhas Pokémon eram realizadas.


A partir do pátio frontal da escola, Tamar passou brevemente o dedo nas restantes áreas da Academia, em sentido horário. A Ala Vermelha era onde ficava as salas dos professores, gabinete do Diretor, reprografia e tudo o que era relacionado ao lado executivo da Academia. Ala Amarela era exclusiva aos dormitórios, tanto femininos como masculinos.


A Ala Verde, Ala Turquesa e Ala Azul eram as regiões da escola que concentravam as salas de aulas. Tamar deu uma pequena espreitadela no que podia ser encontrado em cada uma delas. A Ala Verde era onde se situava os laboratórios, incluindo os das aulas de ciências e biologia. Ala Turquesa com destaque para a sala de música da orquestra da escola e a sala de artes. E a Ala Azul com mais salas de aula, incluindo a sala de Economia Doméstica, uma oficina para as aulas de Educação Tecnológica, e vários clubes de atividades extracurriculares.


Por último, já de retorno ao pátio frontal da escola, a Ala Roxa, onde ficava a cafetaria, refeitório da escola, loja da escola, papelaria, enfermaria e o auditório.


A jovem olhou para todos os lados possíveis, e depois virou-se para seu crocodilo que já marchava em direção à porta. A porta contava com a descrição ‘’Ala Amarela’’ em letras grandes, mas Juliana estava tão cega e nervosa que não a viu, apesar da informação ser bem visível mesmo à sua frente. Tamar agarrou no cartão de estudante de Juliana, passando numa maquineta que existia fora da porta e que impossibilitava a entrada e saída de qualquer um. A passagem do cartão na máquina fez o torniquete dar permissão para a passagem de ambos.


– Que Arceus nos guie aqui neste inferno... – Juliana murmurou, ao dar os próximos passos.


Mais uns quantos passos primários e assustadores, na sua nova e ainda confusa rotina.



Juliana estava tão confusa e cega com tudo aquilo que mal deu conta que estava a ser observada por um certo aluno, no meio de tantos outros da biblioteca, que achavam o Krokorok carregando a bagagem uma presença deveras curiosa.


O rapaz de mochila amarela tinha cara de que passara um mau bocado naquela manhã, pois seus olhos estavam inchados e seu corpo ainda mais enfaixado do que na tarde anterior.


Mas quando a jovem que bem reconheceu ao longe, desapareceu de sua vista pela porta, ele sentiu o alívio tomar-lhe o corpo com a saída da outra, deixando o seu esconderijo.


Ela não o podia reconhecer de maneira alguma.


O rapaz iria até a recepção entregar umas papeladas importantes, mas antes, a sua curiosidade foi maior quando passou por uma certa prateleira de livros.


Deu um breve analisar na estante.


O que será que aquela rapariga marcou ali?...


Deu um passo em frente para continuar a travessia, mas logo hesitou e voltou à estante.


Porque será que ela estava tão interessada naquele livro de capa encarnada?...


Com tom desconfiado, certificou-se que não existia muita gente nas proximidades. As pessoas iam e vinham distraidamente, que era difícil darem conta que ele abriria um livro qualquer numa página qualquer que não fora marcada por ele.


Pouco tempo depois, olhou o papel das marcações e agarrou no Scarlet Book.


Então aquela rapariga estranha com os pijamas cheios de farinha chama-se Juliana… – pensou, para si, ao confirmar a nota na folha tabelada.


Abriu a página onde se encontrava o marcador de cartão que ela deixara, e parou alguns momentos, refletindo sobre o título que nesta página se encontrava, e sobre o significado de todas as informações nesta contidas.


Herba Mystica…


E assim, o rapaz misterioso de mochila amarela, sentiu os pensamentos se conectarem.



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