Posted by : Shiny Reshiram 21 de nov. de 2023



Cerca de doze anos atrás, as duas crianças entraram pelos portões numa correria, após se despedirem dos pais.


Cerca de doze anos atrás, uma delas, que era a mais nova da dupla, perdeu-se da outra no meio do pátio e da multidão que nesta se formava, pois não conseguira acompanhar o ritmo da mais velha.


Era o seu primeiro dia naquela escola pacata à beira mar, e aquele que devia ser um dia agradável e divertido, recheado de amizades novas, tornara-se um pequeno pesadelo que incomodaria seus sonhos pelo resto dos seus dias.


Pois, por muito simplório que alguns momentos possam ser, podem ser traumatizantes para quem ainda está a compreender o que é a vida.


A menina perdida, que não era nada extrovertida, não soube para onde se virar primeiro. A mais velha já conhecia o local de anos anteriores, quase de cor e salteado, e, portanto, compreendia como funcionava os primeiros passos.


Mas ela não.


Era a sua primeira vez naquele ambiente novo e estranho, e apesar da sua inteligência, a ansiedade dentro de si a deixara moribunda face à realidade.


As funcionárias mal encarijadas passavam por ela, sem palavras. Estavam habituadas a crianças, e a presença da menina solitária tornara-se mais um fardo qualquer da rotina delas, igual a todos os outros.


Ela que se desenrascasse sozinha e se quisesse.


A campainha tocou, marcando o início da reunião do primeiro dia de aulas, e a população presente dispersou-se.


Todas foram na mesma direção, mas a criança, que ainda assimilava o que estava a ocorrer, não notara isso, e sua falta de orientação dera a entender que as pessoas dirigiram-se para diferentes salas, e não apenas para a mesma porta.


Tentou seguir alguém, mas rapidamente perdeu-os de vista, e assim, começou a deambular nos corredores, sem saber o que fazer, sem saber para onde ir, e sem ouvir a voz de alma alguma nem os grunhidos de nenhum Pokémon que fosse presente.


Sentia-se a única criança no mundo.


Caminhava devagar, e de ombros encolhidos.


Ainda demorou muito tempo a encontrar alguém a quem tentar pedir instruções.


A primeira pessoa que a avistara, ao fundo de um certo corredor, torceu o nariz mal a viu, olhando-a de cima a baixo, e começou, bem antes da menina abrir a boca, impossibilitando-a de falar:


– O que esta está aqui a fazer? Porque não está no auditório como os outros? – logo comentou a pessoa, com tom estúpido.


E instantes depois, virou as costas, desaparecendo para o interior de uma das salas. A porta bateu num baque um tanto violento.


A criança, que julgara encontrar abrigo nas palavras de alguém, ficara ainda mais abalada por receber uma hospitalidade bravia daquelas, pois não sabia a direção, e muito menos o que era um auditório.


O tempo ia passando, e a população, surgiu outra vez, após mais um toque repentino da campainha que fizera a criança arrepiar-se.


Mas passavam pela menina de olhos lacrimejados, sentada na escadaria do corredor, sem a fitarem, como se ela não fosse ninguém.


Crianças da sua idade juntavam-se em grupinhos risonhos, que pareciam dividir-se em turma ou classe social, mas a menina introvertida não compreendera isso, e não se aproximou de ninguém.


Era muito confuso a forma como aquele novo mundo funcionava.


Tanta gente entusiasmada, com uma rota já traçada, e ela ainda ali, parada, esperando começar o trajeto, olhando as pessoas e as paredes, sem soluções.


Quando a multidão desaparecera outra vez, subindo para os andares superiores do edifício, ficara só ela ali, outra vez a sós com seus pensamentos e medos, imóvel no mesmo local, esperando quem não iria aparecer.


Ninguém lhe dissera nada, e não tinha nenhuma mão amiga para lhe mostrar aqueles corredores nem dizer diretamente para onde ela devia se dirigir.


A pequena criança abraçou as suas pernas.


Ela não soube bem quanto tempo ficou ali parada, vendo o vazio, até ouvir outra vez alguém, que surgira no fundo do corredor e viera a seu encalço.


Uma voz de uma adulta, que chamava por ela.


Mas não com o melhor tom, não pelas melhores intensões.


– Estava à tua procura! Faltaste à reunião com os professores e o diretor no auditório! E agora faltando às aulas?! Logo no primeiro dia! Vais ter sérios problemas, minha menina!


E então, como alguém tão jovem assim, que não estava a conseguir assimilar o que acontecia ao seu redor, iria se defender de tamanha acusação?


Ela não sabia, e então, deixou os adultos interpretarem seu silêncio cabisbaixo como a confirmação daquilo que eles imaginavam mesmo ouvir.



– E de quem será filha aquela ali muito quieta? – começou uma voz.


– Ela não fala com ninguém. – ouviu outra voz.


– Uma bicha do mato. – cochichou ainda mais outra voz,  bem sibilante.


As vozes rodeavam-na, e era impossível não ouvir o modo como tanto adultos como outras crianças a encaravam e interpretavam por ela parecer tão diferente.


E o pior disso era que ela não estava a conseguir perceber.


Mas a pressão do julgamento foi mais forte, e em vez de o combater, a criança começou a agir a favor dele.


– Que nojo. – disse uma menina, sentada na mesa do refeitório, olhando o jarro de água que todos ali compartilhavam em seus copos. – Eu não vou beber isto.


– Parece que alguém cuspiu aqui dentro, que nojo. – outra criança ao lado daquela disse, copiando o tom enojado da amiga. – Alguém vá pedir mais água! Isto é um tremendo horror!


A criança solitária mordiscava o seu pedaço de pão com doce de Oran Berry, com os olhos fixos em todos os detalhes que a rodeavam. Tanto o pai como a mãe a ensinaram a comer tudo, e, portanto, mesmo que ela não gostasse e eles estando ausentes, sentia a obrigação de ingerir cada um dos alimentos, logo, aquele doce no pão era uma feroz batalha.


Ouvir a conversa da mesa, mesmo ao seu lado, a fez encarar o jarro da sua própria mesa vazia. A água no interior parecia normal, mas mesmo assim, foi impossível não sentir uma espécie de repulsa a dominando.


Logo botou o seu copo para o lado e não voltou a beber.


Todos os outros iam até uma outra bancada buscar mais água quando a dos jarros de cada mesa acabassem, mas a criança preferiu passar sede em vez de se levantar do local e ir lá. Quem sabe, alguém fizesse algo ruim a suas coisas e à sua comida da bandeja na sua ausência, ou pior ainda, todo o ressinto se silenciasse só para a verem passar, com sussurros de fofoca sobre si a cada uma das suas passadas.


Lambeu os lábios, procurando matar a sede com sua própria saliva. Não iria resultar, mas talvez encher a boca de saliva impossibilitasse durante um tempo o seu desejo em beber água. Um pensamento tolo, ela sabia.


E mesmo que não resultasse, ela não iria se levantar e atravessar todo o refeitório.


Em certo ponto, ela nota uma cara familiar com um tabuleiro em mãos, procurando um local para se sentar.


Por momentos, seu coração solitário acalmou.


E seguiu-a com o olhar.


A outra criança posicionava os pratos com comida na sua bandeja sem problema algum, sempre acompanhada de um sorriso contagiante para os adultos. Elogiando as funcionárias e conversando com cada uma, bem confortável com todo o clima circundante. E, principalmente, pedira um jarro carregado de água fresquinha para levar, pois de anos anteriores ela bem sabia o famoso problema que os jarros da cantina tinham devido às partidas de algum jovem pouco higiénico.


Sua esperança caiu por terra em pouco tempo… Pois a mais velha passou por ela e por aquela mesa vaga, sem lhe olhar nos olhos, e juntou-se a um grupo de amigas que comiam a umas cinco ou seis mesas de distância da sua.


Juntou-se a suas amiguinhas, e não a ela. E magoava o facto que todos pareciam prestar-lhe a devida atenção. Todos a elogiavam.


– Aquela é muito esperta… – ouviu a voz repentina de uma funcionária, ali perto, que conversava com uma outra adulta.


Esperta


Mais uma palavra que lhe doía nos ouvidos.


E a mais nova ficou cabisbaixa, outra vez, envolta nos pensamentos enquanto tocava com o garfo nos restos de comida do prato.


Ela não tinha culpa de ser assim.


Mas o mundo ao seu redor fazia os outros ganharem um ar muito superior a ela.


E quando alguém mais terminou de comer, a jovem esperou…


Esperou… E esperou…


Toda atenciosa, ver o que essa criança faria com a sua bandeja, para onde ela seguiria, para o conseguir fazer também logo a seguir, e sair dali o quanto antes. Pois mais uma vez, não sabia para onde se virar, já que nada daquilo era simples que nem o virar de uma página de um pacato livro.


Passaria o resto do intervalo do almoço sozinha, sem brincar, sentada na escadaria do costume daquela manhã, até a hora da aula.




A pequena maquete da Grande Cratera de Paldea fascinava olhares curiosos das crianças, que desde bem novos eram ensinados em não pisar nem penetrar naquela área tão perigosa da região Paldea.


Uma pequena reação química deixara a Cratera realista, pois o fumo subiu até o teto da sala, simulando as nuvens que de lá constantemente saiam, que nem um vulcão em erupção.


Mas não era a maquete a única surpresa que o grupo teria na sua primeira aula de ciências.


De facto, a sala estava carregada de surpresas, como o ambiente era novo no observar daqueles pequenos exploradores. Desde as pedras, ossos, plantas, posters coloridos expostos nas prateleiras, transmitindo uma curiosidade irreal.


A menina não se chegou perto dos outros, aguardando pacientemente o que aí vinha em seu lugar, enquanto todos eram inundados por gritos histéricos quando avistaram o professor soltar uma pequena criatura de uma esfera bicolor para cima da bancada.


A ave de penas roxas e brancas era caracterizada por uma pena encarnada em sua testa. Parecia um Pokémon inocente, e esticou as asas, se exibindo, para receber as crianças.


– Meninos, este Rufflet nasceu na parte superficial da Grande Cratera. Mas não pensem que todos os Pokémon da Cratera são pequenos e inofensivos como ele. A maioria é grande e perigosa. Este Rufflet foi um dos poucos Pokémon que a mais recente equipa de exploradores conseguiu fazer amizade na sua ultima missão. – explicou o professor. – Digam Olá! E podem tocar nele… Estão a ver, como as penas são macias?...


A criança solitária arregalou os olhos com a oportunidade. Ela sempre amou mais Pokémon que pessoas.


Mas deixou-se estar para trás, enquanto todos os braços se esticavam para acariciar a pequena ave, em todas as direções possíveis.


Acontece que ela também queria muito o fazer, e então navegou atrás dos colegas, caçando algum buraco entre eles. Mas não tinha nenhuma oportunidade à vista.


Quando ela tentou penetrar entre os corpos, empurraram-na para fora, não a deixando.


– Eu estou aqui, não vês? Não empurres! Vai para outro lado! – um deles lhe disse, brusco, apesar dela nem lhe ter empurrado, apenas feito a força necessária para tentar alcançar aquilo que também era de seu direito.


– Calma, meninos. – disse o professor, vendo a confusão enquanto segurava o Rufflet, para este não se assustar com a enorme onda de mãos irrequietas que o agarravam e inundavam de mimos. – Todos vão ter a oportunidade de tocar nele.


Mas ela não devia estar incluída nesses todos.


Ela não existia para os colegas.


Mas… Por fim, lá conseguiu dar a volta e no outro lado da mesa achar uma brecha entre a onda de crianças.


Infelizmente, não foi das melhores, pois era a brecha descartada por todos, por ficar mesmo em frente à região traseira do animal.


O Pokémon estava visualmente limpo, com as penas bem emplumadas, mas era claro que ela sentiu desconforto, pois o cheiro da área que sua mão alcançou não era o melhor.


E quando a onda de mãos e caricias parou, não teve outra oportunidade de tocar nas penas do pequeno Rufflet, pois o mesmo fora retornado para o interior da sua Pokéball.



            Cerca de doze anos atrás, no final do dia, as duas crianças aguardavam ansiosamente o retorno dos pais.


Uma delas estava mais entusiasmada do que a outra, não querendo ir embora. Já a outra, muito quieta, só se queria ver livre daquele local e nunca mais ali voltar.


Infelizmente, iria levar com aquele estabelecimento uma boa porção dos seus dias.


E muitos mais dias desagradáveis iguais àquele viriam.


A funcionária se certificava que as duas não saiam do local e não se afastariam. O olhar pesado desta fissurava apenas uma das crianças, a mais nova delas, no caso.

           

        Crianças são sempre mais sensíveis às energias do que os adultos, logo, pode-se dizer que toda aquela pressão não lhe estava a fazer muito bem, reunindo ao cansaço do primeiro dia e a todos os eventos antecedentes.


Não podia realizar movimento algum, nem o mínimo que fosse, que as pessoas ao redor logo a julgavam, como se ela estivesse prestes a cometer algum crime grave.

       

       A menina não conversava com a outra, e esta, por sua vez, parecia ter mais regalias, como uma maior liberdade em mexer as pernas sentada lá no banco, como se estivesse sustentada num baloiço, ou agarrar numa pedra do chão que tivesse um formato curioso.


Se fosse a mais nova a o fazer, já levaria um sermão por isso.


– Posso ir à casa de banho? – A mais velha questionou, recebendo a aprovação da outra.


E assim foi o que aconteceu, a mais velha desaparecera, e demorou tanto tempo para onde fora que mais pareceu ter-se ido embora para casa e deixado a companheira mais nova ali, sem seu amparo, sem a sua única mão ‘’amiga’’.


A mais nova, viu-se sozinha, e perdida de novo, sem nenhum guia, sem nenhuma instrução.


Solidão foi a sua primeira e real amiga.


Enquanto isso, a funcionária suspirou, impaciente, fixando o portão frontal da escola.


Ao longe, no final de uns trinta minutos, avistou a outra criança ao lado de vários adultos, no aguardo da mais nova.


E então, virou-se para a menina.


– O que estás aqui a fazer ainda? Não vês que os teus pais já estão ali?! – resmungou. – Agora vai para casa, e reflete sobre os teus erros de hoje.


A menina pequena, que ainda não os tinha avistado, e muito menos conseguiu os distinguir fora do portão na estrada principal, apressou-se então a sair do estabelecimento.


Os pais a receberam com um sorriso, mas também a repreenderam pela demora, mesmo que a criança não tivesse culpa disso, não teve jeito algum de se defender das queixas que recebera sobre aquele primeiro dia.


E assim, aprendera a primeira lição de sua vida naquela escola simplória: No início do dia, apesar de todos a terem menosprezado, no final do dia, a verdadeira culpa era sempre a sua.


             

            Anos depois daquele inicio conturbado, uma jovem portava um enorme casaco cumprido.


Um grande e pesado casaco.


Como quem escondia algo.


Como quem tinha vergonha de si e do seu corpo.


Por ter sido humilhada, jurou que, mal saísse por aqueles portões uma última vez na sua vida, não iria voltar ali.


Não botaria os pés ali assim tão cedo.


Todas as crianças e pessoas que por ali conhecera eram tão perversas…


E não desejaria encarar outra vez aquelas quatro frias paredes e suas gentes mesquinhas, pois pode-se dizer que ela nunca conseguiu se adaptar a sério ao ambiente, apesar de todos os anos passados ali.


Espalhadas por todo o pátio principal, as pessoas se concentravam à sua volta, que nem grandes espectadores apreciando um espectáculo ao ar livre.


Mas ela não se importava se essa gente existia ou não, nem seus olhares de reprovação.


Durante muito tempo, ela não existiu para eles, não precisava da atenção de cada um agora. Não precisava que lamentasse a sua saída.


Era hora de retribuir na mesma moeda.


E então esticou as costas, mantendo o ritmo de cada uma das suas passadas bem firme no chão de concreto. Agarrou na mochila com força, e respirou fundo, com os olhos fixos na paisagem que estava mesmo em frente.


Pois ir sempre em frente é que era o caminho.


Ir em frente até todo aquele universo desaparecer, sempre com a cabeça bem erguida.


Mas se hoje em dia lhe perguntarem, onde ela arranjou coragem suficiente para tal posição de força e superação em frente a tal multidão, ela não saberá o dizer.


Fora algo momentâneo…


Algo que apenas na altura se consegue sentir e viver…



O sol batia nas águas que que marcavam todo o horizonte em Cabo Poco, fazendo-as cintilar como prata, e várias embarcações pesqueiras aproveitavam o clima calmo e abundante que as ondas proporcionavam.


A jovem analisou o mar durante a sua travessia, como sempre fazia quando saia daquela escola maldita e se encontrava longe dela o suficiente. Talvez seria a última vez que passaria por aquela mesma estrada do promontório. A maresia que refrescava o pensamento, e acalmava o calor abrasador que o casaco pesado lhe dava, talvez seria a sua única boa recordação daquela rotina que estava a abandonar.


Parou uns instantes, e ficou olhando para a praia mais abaixo do promontório, esperando disfarçadamente algumas pessoas passarem por ela, já que estas vinham na sua direção contrária.


Encolheu os ombros e espreitou-as de lado, até estas desaparecerem de vista, para só assim voltar à sua caminhada, sempre pela mesma rota que estabelecera anos atrás, sem desviar um único passo mais para a esquerda, ou sem desviar um único passo mais para a direita, sem mudar de faixa no caminho.


Quando precisava de atravessar a estrada, o faria sempre nos mesmos locais, próximos a uma rocha ou muro específico. Uma mania vista como estranha, mas para ela, confortável.


Quando saiu da escola, saiu com uma pose de superação.


Uma pose falsa de superação. Um falso triunfo.


E em pouco tempo, quanto mais longe da escola caminhava, e quanto mais perto de casa ficava, deixou-se desabar, após sentir a ficha cair.


Existia uma verdade inegável naquelas lágrimas: ainda se tem um longo caminho a trilhar.


Afinal…


Qual era o seu problema?...


Porque todos a tratam daquela maneira? Porque ela não consegue aprender mais rápido ou manusear o seu próprio mapa com mais precisão? Porque ela se sentia sempre inferior a todo o mundo?


Iria precisar de muitos anos para aprender a lidar com aquela pressão.


Aprender a lidar com a falta de orientação e confusão sempre que enfrentasse novos locais e pessoas.


E começar a aprender a trilhar seus próprios caminhos sozinha com mais confiança, descobrindo que aquela sensação de culpa não era exatamente culpa sua.


E isto não é um processo que vai da noite para o dia.


Apesar de, por vezes, ser necessário uma mão amiga, ou ouvir as palavras que carregam o incentivo certo… Pouco a pouco, lá a nova marinheira aprende a manobrar o leme, guiando o barco no mar bravio das suas emoções.


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