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- O Arquivista - Máquina do Tempo - Capítulos Aventuras em Ransei
Posted by : Shiny Reshiram
10 de nov. de 2023
Está página faz parte do projeto O Arquivista e visa preservar vários materiais antigos. Lembre-se que muito deste material foi ''descontinuado'', e não voltará a ser atualizado, sendo que só fora publicado no blog por motivos de arquivamento. Saiba mais sobre o projeto clicando aqui.
Desejo a todos vocês uma boa viagem nos nosso Arquivos!
Aventuras em Ransei
Abaixo pode ler os Capítulos publicados em Aventuras em Ransei. A Fanfic fora descontinuada, não vai continuar, como também a mesma não recebera muitas revisões profundas, portanto, espere erros. Tenha uma boa leitura!
Prólogo - Não é necessário acreditar
Todos conhecem a História de Arceus e a criação do universo, o majestoso grande deus Pokémon com seus milhões de braços construiu cada coisa no meio do nada durante tempos do sei lá, além de seus companheiros lendários que o ajudam a manter tudo na ordem natural que ele próprio, á muito tempo desejava.
Porém, existe uma parte das lendas da origem de todo este universo, lenda tal cuja versão original e mais fiel é realidade ficou perdida algures nas palavras dos nossos avós, ou nas descrições de degradadas ruinas desconhecidas que aos poucos já não existem mais.
O máximo que eu ouvir falar, inúmeras versões de tal lenda passadas e desse modo alteradas foram as palavras de avós, a pais, a filhos… Através de livros ou materiais infantis cujas finalidades contém pouca, ou até mesmo nenhuma seriedade. Fora isso, também é possível ver as teorias sobre tal, teorias criadas por alguns cientistas pouco levados a sério tendo em conta vestígios, vestígios demasiado desgastados para contar a total verdade e comprovar aos maiores cientistas a existência daquilo que eu acredito, de modo a marcar tal firmemente nos grandes documentos que representam toda nossa história. Tudo isso pode não estar certo, mas ao mesmo tempo, não está errado. Ainda mantém a essência daquilo que eu considero a realidade.
Mas… Sempre existe um Mas… Sempre existe algo que nos faz acreditar em alguma coisa, por muito mais louca que seja, por muito mais irrealista que seja…
Basta vivenciar tal coisa, ver, sentir, cheirar, tocar, para acreditar ainda mais, que tal lenda, não é lenda nenhuma, tal história, suas personagens, seus Pokémon envolvidos… Ela realmente aconteceu. Só porque mais ninguém experienciou ou conseguiu provar, não é necessário acreditar que tal não existe…
E por isso, não é necessário acreditares em qualquer uma das minhas palavras.
Eu não tenho provas científicas, artefactos ou qualquer outro objeto em excelentes condições datado de tais tempos para comprovar, mas eles, os elementos de tal lenda, existiram sim, estão na minha mente, serão descritos pelas minhas palavras, serão essas memorias as minhas provas relacionadas com as coisas existentes antes do lendário grande continente se separar, criando as regiões no mundo Pokémon que conhecemos exatamente como são, hoje em dia.
Durante minhas viagens, típicas jornadas ao redor do mundo como simples e cliché treinadora, caçadora de insígnias que outrora fui, descobri algo em mim, algo incrível. Algo que eu não acreditava conseguir fazer. Não foi obra de nenhuma magia de algum poderoso Pokémon, não foi obra dos poderes e bênçãos de Arceus… Não foi obra de mais ninguém.
Foi MINHA obra… Eu não estou maluca, e não, não me arrependo, nunca me arrependerei, pois graças a isso, eu experienciai e conheci coisas incríveis que mais ninguém hoje em dia conseguiu assim.
Eu não sei quem neste momento segura este livro meu, não sei quem neste momento está a ler estas minhas, desajeitadas palavras. Deixarei este livro escondido na minha casa, entregue a descendentes que neste preconceituoso mundo atual, dedicam a esconder as inaceitáveis práticas minhas.
Escrevo isto sem qualquer propósito além de deixar minha experiência e parte da minha grande e importante história de vida, registada. E eu espero que um dia, minhas palavras aqui gravadas ao serem encontradas por algo, ou alguém, possam ser mais divulgadas, mais apreciadas, e principalmente mais aceites ao redor do mundo.
Meu nome é Elocin Somel Vaxrei.
Eu sou uma bruxa, velha sacerdotisa que nasceu em Unova.
Eu viajei no tempo, por minha própria vontade, graças a meus próprios poderes da mente e força de vontade.
Eu vou entregar a cada um de vocês, meus filhos, neste meu sagrado livro, a história de uma realidade que neste mundo seus vestígios são para muitos pouco credíveis e foram á muito tempo perdidos graças ao desgaste de quem os suportava.
Vou entregar a vocês o que eu conheci na minha viagem, histórias de guerreiros, histórias de heróis, lutas e conquistas, histórias de perdas, histórias de felicidade e sofrimento. Histórias antigas sobre pessoas desconhecidas… Desconhecidas, mas que tiveram grande influência no mundo, para ele ser o que é hoje…
Eu vou entregar a vocês… Aventuras em Ransei.
O pequeno Pokémon, num delicado desespero, estendeu sua pequena cauda, que brilhava em uma forte cor metálica. O grande crocodilo estava próximo o suficiente para sentir sua garganta e barriga serem rasgadas, num golpe certeiro, pela curta lâmina do mais pequeno.
Os danos não foram graves, mas suficientes para Krookodile recuar alguns passos atrás, analisando com interesse e certa surpresa a ferocidade em que o tal Iron Tail fora utilizado contra si, uma técnica que Pokémon iguais aquele pequeno adversário raramente continha em estado natural.
Ele, simplesmente, não espera tal golpe súbito, apesar de não ter sido derrubado e ainda se manter bem imponente em campo.
Era notável que o mais pequeno se encontrava em uma delicada situação contrária ao da grande besta à sua frente, seu corpo esverdeado adotava inúmeros cortes, graves, profundos, inúmeras gotas de sangue escorriam e no solo formavam uma pequena poça de água encarnada, que só aumentava à medida que o pequeno tentava, uma, e mais outra vez, mover seu corpo e continuar em frente.
Se aquilo continuasse, o pequeno não teria mais nenhuma hipótese senão desistir, desistir de proteger seu lar, desistir de proteger sua família daquele assassino, desistir de sua própria vida… NÃO! Ele não podia! Teria que continuar… Mas continuar, seria, também, arriscar a tudo aquilo. Estava metido em um beco, sem qualquer saída, sem qualquer caminho de retorno, sem qualquer salvação.
E a criatura encarnada sorria, ele sabia que iria triunfar, só bastava mais um golpe mortífero para acabar com tudo aquilo de uma só vez, rasgou um sorriso ainda mais sádico em sua face, e com ar selvagem, fez sua grande fileira de dentes afiados brilharem e crescerem, correndo então em direção ao fraco oponente. Pode ter aguentado bastante até ali, mas ele aparentemente não escaparia desta, nem de mais nenhuma vez que respirasse para viver.
…
O sangrento e inesperado ataque desta noite no parque era a principal notícia espalhada nas capas dos principais jornais e nas bocas daqueles que mais frequentavam as tabernas logo nas madrugadas em Cragspur. Localizado na área centro de Ransei, Cragspur era um reino considerado em parte agradável – quando não existia derrocadas, claro, e Pokémon considerados mais violentos atacando civis – dominado parcialmente pela tipagem Rock, era o representante do tipo em toda a região, tal como os demais dezessete reinos também adotavam seu papel na representação de um único tipo em toda a Ransei.
A população se mantinha alerta, com medo de que aquele ataque tenha sido provocado pelas guerras existentes entre os reinos no norte da região. Ujiyasu, o guerreiro que dominava aquela área rochosa, declara bastante confiança por parte dos civis.
— É preciso lutar para proteger o que é caro — foi a frase que utilizou na abertura do seu discurso matinal, para uma tentativa de acalmar a população alarmada depois do que ocorrera anteriormente. — E esse ‘’caro’’ pode ser interpretado de diversas maneiras.
Em frente ao palácio, lá estava ele, um homem alto e corpulento, em cada cicatriz que marcava em seu corpo gostoso, um, ou inúmeros outros conflitos em que ele participara durante toda sua vida, que foram tantos que já nem tinha conta. Apesar de parecer inicialmente rude e desinteressado, era um Warlord profundamente preocupado com tudo, e todos, até mesmo com seus mais próximos aliados.
— Cabe a cada um de vocês descobrir o que é precioso proteger — continuou o discurso, de maneira carismática. — Todos os outros ainda independentes reinos sabem o que para eles é caro. NÓS TAMBÉM SABEMOS! O nosso mais precioso tesouro está marcado mesmo nas rochas do chão que pisamos, ele está mesmo debaixo dos nossos pés, ao nosso redor, neste momento! Nossa independência é cara, mais cara que pedras preciosas, e não deixaremos NINGUÉM comprá-la e usar-lha para seu proveito!
Os civis bateram palmas, admirados com as palavras que confortavam seus corações. Ujiyasu realizou um gesto de despedida, que dissipou a população, encerrando igualmente o pequeno evento matinal, com todos a voltarem a suas rotinas.
Acompanhado pelo seu Pokémon pedra, um poderoso Boldore, entrou dentro do grande edifício que se estendia no local. O palácio era reconfortante, inúmeras estátuas ilustrando os mais diversos Pokémon do tipo representante do reino eram a principal decoração que se podia contemplar a cada passo que se realizava. Alguns guardas, guerreiros comuns, guiaram o Lord e seu Pokémon para os seus respectivos aposentos.
Ao abrir a porta de seus aposentos, surpreendeu-se pela presença súbita de uma figura feminina, era Kaihime, uma guerreira de alta categoria, tal como ele, que habitava Cragspur. Ela o esperava no quarto. Eram amigos de longa data, talvez, um pouco mais do que isso em certas ocasiões, Ujiyasu tinha permitido a ela viver ou visitar o palácio sempre que quisesse devido a tal proximidade. Desde crianças que ambos treinavam e lutavam juntos em jornadas ao redor de toda Ransei.
— Desculpa Kai – começou, parado à porta, analisando tudo o que se ali desejava ao ver a moça deitada em sua cama numa pose desajeitada, mas ao mesmo tempo, sensual. — Hoje não tenho disposição.
— Querido, eu posso te ajudar com um Rock Polish se for necessário — ela deu um sorriso ainda mais sedutor. — Eu sei que tens dificuldades ai em aumentar a velocidade.
— Não, hoje, não — negou, mais rude. — Tenho outros assuntos mais importantes a tratar.
Ela então, desanimada, sentou-se, mas logo depois manteve um sorriso maroto na face. Era uma rapariga de um visual encantador, qualquer menino conseguia ser conquistado pela sua beleza. Roupas conquistadas por tonalidades de preto, dourado, e vermelho com pequenos detalhes brancos, lhe entregavam uma elegância fenomenal.
— Quais assuntos, além de mim? — questionou ao cruzar os braços, com ar de mimada.
O homem foi em direcção a uma secretária no outro lado do quarto. Era notável a quantidade de papeladas, tais como cartas, pergaminhos e jornais que se acumulavam todos os dias, cada um com uma noticia especifica, ou retratando a mesma noticia, de modo único, diferente aos demais. Observou atencioso tudo.
— Por acaso ouviste falar do que aconteceu noite passada? — comentou, com cara de desaprovação.
Ela riu.
— Posso ser distraída, mas é impossível não ouvir isso com praticamente todos a fofocar sobre. Além do teu discurso que não deixou ninguém dormir — ela aproximou-se dele e murmurou. — Eu amo ouvir a tua voz.
— Ótimo – ele suspirou. — Então, está ai os motivos de minha má disposição e ocupação. Agora se me dares licença, sai do meu quarto. Quero continuar as investigações sozinho com meu Boldore.
— Calma ai meu menino — ela o agarrou pelo braço, antes que ele desse mais algum passo, o impossibilitando de se sentar. — Possivelmente foi um ataque, discórdia entre Pokémon selvagens, acontecia muito por aqui com alguns gangues de Krookodile, mesmo antes da guerra começar.
— Achas mesmo? — ele deu um sorriso, um tanto forçado, indicando ironia. — Em tempos de guerra, temos que estar atentos a qualquer acontecimento anormal — e seu sorriso então se desvaneceu. — Agora, sai.
E ele se soltou dos braços dela, mas ela, deu um pulo súbito, agarrando-se ao pescoço forte do homem, devido a súbito desequilíbrio, ambos caíram em cima da cama, ele sobre ela.
— Andas muito tenso ultimamente, faz uma pausa, vamos relaxar, amor — murmurou no seu ouvido — Transformar esse ‘’tenso’’ em algo mais produtivo.
O homem ficou em silêncio, corou um pouco observando a jovem mulher debaixo dele, aquele sorriso, os seus olhos brilhantes, sua beleza ao final de um tempo era bem impossível de negar.
— Hoje o dia nem começou e já queres fazer uma das tuas famosas pausas? — ele não hesitou, dando um sorriso, ao começou a beijar o pescoço da guerreira.
— Vais ver que depois desta, estarás bem melhor para prosseguir o que quer que tu andas sempre a fazer — comentou ao agarrar-se ainda mais a ele.
— Eu sei que és uma preguiçosa, mas… Talvez hoje tens mesmo razão — ele reflectiu. — Preciso de uma pausa de tudo o que está a acontecer ultimamente.
— É muita coisa e não tens andado com qualquer tempo para ti — ela comentou, com um ar triste e manipulador. — Hoje tira uma folga, vamos curtir o dia todo, nós os dois por ai, como já não fazemos a várias semanas. Recuperar tempo perdido. Quase que me ignoravas quando eu voltei da minha viagem estes dias.
— Sim… Já a muito tempo que não passamos o dia assim, juntos, admito que eu estava com saudades — comentou em tom leve que penetrava no ouvido dela, enquanto o mordiscava com carinho. — És linda, impossível de negar. Engraçado como consegues sempre convencer-me.
Ela deu uma pequena gargalhada.
— Eu sei que sou magnífica. Mas menos conversa ai, querido — ela murmurou enquanto o agarrava com ainda mais força. — Vamos logo. Já tenho saudades de sentir o teu famoso Rock Smash.
…
Chegava naquela manhã ao palácio um jovem que era seguido por um género de raposa castanha de orelhas grandes. Era notável não ser um iniciante no ramo dos guerreiros na região devido a simplicidade das roupas que suportava, mas também não era grande experiente. O pequeno Pokémon manteve-se agarrado ao ombro do humano. O olhar de ambos se mantinha sério, apesar de que arfavam cansados devido a uma aparente longa caminhada que realizaram até chegarem ali.
— Espero que o mestre não esteja ocupado hoje, certo Swift? — comentou para o companheiro e o Pokémon fez um barulhinho em resposta. — Temos assuntos urgentes a tratar.
Um guarda logo interrompeu o avanço do rapaz quando estavam quase a abrir a entrada do alto edifício.
— Bom te ver hoje, Aerrow — saudou o guarda que encarou o Pokémon do visitante logo em seguida. — E o teu Eevee também tem cara bastante saudável. Bom, lamento mas não pode avançar mais, o Lord encontra-se neste momento ocupado com sua dama, por favor, volte mais tarde.
— Mas posso deixar uma mensagem, senhor? – questionou educadamente.
— Claro, ela será entregue dentro dos possíveis.
— Diga ao Lord que eu irei até Aurora visitar a Oichi e a minha irmã, por isso irei faltar aos nossos treinamentos nas próximas semanas — começou. — E alguns civis já descobriram a causa do ataque desta madrugada, e ele não contou com qualquer relação com a guerra, apenas uma briga entre Pokémon selvagens.
O guarda assim concordou bem compreensivo.
— Mais alguma coisa?
— Sim — e o rapaz entregou um pergaminho ao guarda de confiança. — Entregue isso ao Lord, só a ele, tem ai todas as coisas que eu descobri nas investigações do ataque, entre outras coisas. São documentos importantes.
— Bom, boa sorte com a viagem, tenha cuidado com a guerra — e assim o guarda despediu-se, tentando se manter imparcial, apesar de saber de todos os riscos que o jovem iria acabar sujeito.
Retiraram-se então da entrada do palácio para seguirem viagem. O pequeno Eevee parecia mais aliviado agora e tentava animar o companheiro de alguma forma, ao correr em cima dos ombros. Apesar de irrequieto, o humano conseguia-se manter bem equilibrado de tais movimentos.
— Infelizmente não deu para fazer uma despedida decente ao Lord — comentou com ar desanimado. — Bem… Não sei o que vai acontecer nesta jornada, e talvez, seja melhor assim.
Era notável que este jovem não era um guerreiro experiente, mas ao mesmo tempo, não era nenhum iniciante, sua força devia estar num nível médio considerando os padrões comuns dos guerreiros de Ransei.
Afinal, o titulo de Warlord não era entregue a qualquer um, e apenas os mais dedicados com seus Pokémon conquistavam o privilégio de serem conhecidos assim nas sociedades onde habitavam. Claro, Aerrow ainda estava longe de conquistar esse titulo.
No final da ladeira existente após a escadaria do palácio, dois Pokémon de ar mais poderoso o esperavam, um deles logo se realçava devido a seu corpo branco que adotava marcas avermelhadas e característica cara de impaciente, pelo retorno que seria para este, demorado. O outro, uma ursa com ar simpático, apesar de ao mesmo tempo, olhar intimidante. Dois Pokémon que este guerreiro tinha conseguido confiança e amizade durante suas viagens.
De ar sério, sem grandes diálogos, ambos seguiram seu treinador e seu Eevee, e depois de um breve desviar de olhar como despedida do reino, como se sentissem a possibilidade que já lá não voltariam mais, chegaram aos limites do local depois de algumas horas calmas de caminhada e atravessaram a fronteira, desaparecendo então da vista dos habitantes de tais rochosas terras, que durante tanto tempo, os tinham acolhido com carinho.
Aerrow não sabia se iria voltar assim tão cedo à medida que caminhava, parecia refletir alguma coisa sobre o que iria encontrar em frente. Seus Pokémon admiraram-se da preocupação, principalmente ao repararem que acabaram desviando um pouco da rota comum, estavam a regressar a Cragspur, indo em direção a sul do reino através de um trilho abandonado, directamente até alguma praia sem porto que ainda se encontrava dentro dos limites. A confiança com o treinador não os fez chamar sua atenção, acreditavam que ele sabia para onde ia, e, de facto, sabia.
Na pequena praia escondida entre rochedos, uma área pouco extensa de areia recheada de pedregulhos ao acaso repousava. Ainda era possível contemplar algumas torres distantes do palácio de Cragspur no topo dos rochedos mais longínquos. Ali, algumas das rochas expeliam água proveniente dos altos locais do reino, no formato de pequenas cachoeiras que caiam directamente no mar.
Alguém ali os esperava. De ar galã, saudou a presença de Aerrow com uma delicada vénia. Estava acompanhado por duas aves, uma delas de grande porte, um Braviary e um Staravia, um pequeno Emolga, sobrevoava um grande balão de ar quente que estava boiando no mar, bem perto da costa.
— Muneshige, há quanto tempo — saudou Aerrow.
— Aerrow, sempre pontual — comentou, enquanto acariciava um dos seus pássaros.
Muneshige era um líder militar, conhecido por Aerrow ao acaso durante as suas viagens. Era um habitante de Violight, além de um dos líder militar deste mesmo reino representante da tipagem Electric, de tecnologia considerada mais avançada tendo em conta os limites dos outros reinos de Ransei. Apesar de ser especialista em aves, permaneceu treinando por lá entre os possíveis, como favor a sua companheira, a guerreira mais poderosa que dominava tais terras acompanhada por um Luxio.
—Vamos, antes que fique tarde — comentou de imediato o homem.
Num gesto, chamou seu roedor voador, ordenando à ordem. O bicho entrou dentro do balão e com ataques eléctricos, começou a aquecer o motor para mover toda a máquina.
Os guerreiros foram até lá, a água da praia não era lá muito profunda tendo em conta a distância, por isso, até chegarem à maquina voadora, só ficaram alagados até a cintura. Aerrow e seu Eevee entraram dentro do mediano dirigível arcaico, acompanhado por seus dois Pokémon que também cabiam lá dentro, e ainda restava espaço.
Braviary e Staravia ajudaram a controlar o ar ao redor do balão, a pedido do seu treinador, elevando assim a maquina e controlando contra as correntes do mar. Por sorte, os ventos provenientes do alto mar não estavam lá muito fortes naquele dia calmo.
— A viagem irá durar vários dias — comentou sem grandes detalhes o guerreiro experiente, enquanto mexia numas configurações dos motores. — Chegaremos ao destino ao dentro de sete noites.
Aerrow olhou pela janela da câmara do dirigível arcaico onde se encontrava. Manteve-se em silêncio. O grupo não trocou quase nenhuma palavra. Quando já estavam a uma altitude considerável, Muneshige decidiu então tomar uma aproximada do rapaz, e então, cruzou os braços.
— Sem assunto para discutir… O dia está chato, não é?
Ele o encarou. E respondeu. Óbvio que seus pensamentos estavam voltados para outra coisa, mas ele preferiu não desabafar.
— Sim… — afirmou então.
Um momento breve de silêncio se passou até o líder militar tentar puxar palavras novamente.
— Amanhã pela madrugada vamos estar a sobrevoar Terrera, terei que fazer uma paragem urgente para reabastecer.
— Melhor ter cuidado… Nobunaga está de olho — avisou logo Aerrow, de modo superficial.
Muneshige concordou com a cabeça e decidiu não questionar. Já desconfiava sobre o verdadeiro contexto de tal informação.
Capítulo 2 - Quando ele vier
Um sol desvanecido do final da tarde invadia as janelas, iluminando toda uma sala de aulas de um edifício arcaico, recheada de crianças das mais variadas idades. Todas estas pareciam fissuradas em alguém.
Umas das mentoras do local era uma jovem de roupas rosa bem detalhadas. Aparentava contar com por volta de dezoito anos, estava de frente a todos e rodeada por tais olhares curiosos que pediam cada vez mais conhecimento. Ela continuou seu discurso, seu dever, satisfazendo igualmente o desejo dos ouvidos de tais jovens crianças.
— Lendas muito antigas contavam que conquistar os 17 reinos deste nosso grande e lendário continente despertaria um Pokémon extremamente poderoso, que teria o poder de criar tudo o que nós desejassemos – explicou ela enquanto desenhava com giz em um quadro nas paredes algumas figuras, meros rascunhos que ilustravam suas palavras em símbolos simples e de fácil compreensão. — Esse Pokémon era, nada mais, nada menos, que o nosso próprio grande deus… — fez um último desenho no quadro, pronunciando em tom bastante revelador. — Arceus.
Uma pausa foi feita antes da jovem mulher que pronunciava tal conto — que podia ser também quem sabe, a mais pura e interessante realidade — continuar. As crianças pareciam inquietas, desejando saber ainda mais sobre tudo aquilo que lhe fora apresentado.
— O Pokémon primordial, aquele que criou o mundo e o universo como tal e qual o conhecemos — ela explicou sobre Arceus desenhando uma silhueta dele em uma pose majestosa no centro do quadro de giz.
Apesar de tudo, seus gestos em toda sua explicação pareciam extremamente tímidos, indicando que não estava habituada àquilo. Talvez fosse sua primeira vez como mentora no local, o que explicava em parte toda a atenção das crianças perante a figura nova. Olhares curiosos que desejavam conhecer quem seria aquela, além daquilo que suas palavras tinham para contar. De vez em quando ela deixava seu giz cair enquanto desenhava no quadro, demonstrando ainda mais suas tremuras, ou partia sua ponta, mas com calma, fez tudo para continuar a agradar seu público alvo, era bastante claro o esforço em suas palavras e gestos delicados.
— Em cada reino existe uma relíquia. Relíquia essa que está escondida em lugares espalhados por aí desde tempos desconhecidos e por questões desconhecidas até então. Conhecidos como Plates, acredita-se serem partes do antigo corpo do tal grande Pokémon, e quando novamente unidos, podem igualmente invocá-lo. — Ela fez uma pausa para beber um pouco de água, apesar de ter entornado uma parte dela sobre a mesa. Com a garganta refrescada, retomou. — Atualmente, é dito que todos esses plates estão a salvo, escondidos, protegidos dentro das paredes de cada palácio ou em alguma terra dos dezessete reinos. É necessário muita sorte para conseguir vê-los e quem os ver será abençoado por um desejo que pode ser qualquer coisa, tal como dinheiro, oportunidades de vida e muita sorte no dia a dia.
— Uau! — As crianças que ouviam a história gemeram admiradas.
A jovem mulher prosseguiu então mais firme e confiante por tal explicação sua estar a fazer, aparentemente, sucesso, entre seus ouvintes.
— Mas tudo começou quando, há cerca de 50 anos, um antigo investigador lunático acreditava na existência de mais um plate além dos 17 já comprovados e por isso, decidiu viajar em toda a Ransei em busca dele.
No quadro, na área que ainda não sofrera qualquer tipo de risco, desenhou dezessete símbolos que representavamo cada uma das plates.
— Ele descobriu coisas esplêndidas, conseguiu uma mulher, teve filhos… Mas faleceu nessa jornada, nunca conseguindo comprovar sua teoria.
Uma pausa foi feita. O público pareceu desanimado com aquela informação, mas continuaram a ouvir. A jovem preparou-se para o grande final, a lição que toda a lenda sua narrada pretendia transmitir.
- Mas… faleceu feliz pois descobriu que a felicidade e sucesso não se conquistam graças ao poder de um simples objecto mágico cuja existência nem foi totalmente comprovada, mas sim, graças a muito esforço, trabalho e dedicação.
Um sorriso voltou a invadir as faces dos jovens ouvintes. A cada nova palavra, pareciam aprender uma mensagem importante e única para eles naquela tenra idade.
Como se aquela informação tivesse sido extraordinária para suas jovens mentes, começaram a aplaudir, enquanto a jovem se despedia com uma vénia e agradecia a sua presença, pronta para sair. Davam gargalhadas e entravam num estado de algazarra total como veneração da história. Muitos, apenas aproveitaram a situação para brincar, jovens inocentes procurando um momento de relaxamento com aquilo que gostavam de fazer depois de um longo dia de aulas massacrantes.
Até que, repentinamente, pararam quando viram alguém se aproximando e acabaram, sem qualquer desejo nem tom animado, por ouvir, logo a seguir, uma parte que não desejavam sequer conhecer em toda aquela lenda.
- E pode ter fracassado em parte das investigações, mas suas outras descobertas geraram documentos muito cobiçados por todos. E as provas necessárias da existência desses plates e os locais dentro dos palácios e reinos onde cada um possivelmente pode ser encontrado, o que levou às origens de uma guerra.
As crianças surpresas olharam para a nova figura que surgiu na porta da sala. A jovem professora ficou com uma expressão admirada ao o ver assim do nada a entrar num gesto tão rápido e logo ouvir aquelas palavras, nem dera tempo de o impedir. Era um rapaz que apenas entrou de modo oportuno na sala com objetivo de interromper logo o discurso da jovem dama, concluindo tudo em tom pesado, revelando algo trágico para tantos.
- A guerra que atualmente estamos a viver.
Tal frase pareceu cair como um trovão. Agora, o grupo de crianças ali no chão sentadas pareceu ficar incomodado, e muito, ao ouvir aquela última sentença. Uns escondiam sua cara, outros demonstraram certa angústia por aquilo ter sido referido, algumas das crianças até mesmo começaram a choramingar.
Afinal todos tinham por volta dos seus 5, 10 anos e não entendiam nada de nada sobre aquilo, ou talvez tinham uma leve noção do modo pesado como a situação era descrita.
A jovem puxou o rapaz imediatamente para fora da sala, numa tentativa de este não estragar ainda mais o dia dos miúdos, além de o confrontar depois de tal interrupção que não era suposta acontecer. O bater com força da porta, depois de puxar-lho e expulsa-lho da sala, assustou os mais novos com o estrondo feito, o que lá dentro pareceu piorar ainda mais a situação. Sem contar que algumas das crianças até mesmo acreditaram que o jovem faria algum mal repentino à dama que todos tanto simpatizaram e adoraram conhecer.
- O que estás a fazer? – Lá fora, ela o repreendia. Sua voz não era grossa, nem alta o suficiente, a pergunta fora realizada numa atenuação inocente.
- Vim melhorar as coisas! – Sua resposta foi entregue mais rápido do que aquilo que ela gostaria e no ritmo que não desejava de ouvir. – Sua aulinha estava massacrada demais.
Aquelas palavras foram difíceis de engolir para ela. Sentiu um calafrio no corpo, mas tentou prosseguir com calma, escondendo seus nervos.
- Já bastava a parte da morte desse homem... Isto era para ser uma aula genérica aqui no orfanato! – Ela tentou aumentar o tom de sua voz, explicando seu ponto de vista da situação.
- Não podes privá-los da verdade para sempre, Oichi. – O rapaz encolheu os braços.
- Eles não estão prontos para isso! – Ela exclamou, inocentemente. – Agora como irei explicar o resto a eles?
- Bom…
Ele fez uma pausa, cochando o pescoço, pensativo, olhou algum tempo para os lados, procurando um modo claro de explicar e defender seu ponto de forma inteligente.
- Se isto fosse uma quinta de criação de humanos que serviriam como carne para servir Giratina, eles teriam que ser forçados a achar um modo para sobreviver um dia ao descobrirem.
- Eles são muito novos! – Oichi alevantou mais sua voz, magoada com tais palavras.
- Exatamente. Novos, mas mais espertos do que tu julgas. Idade não define maturidade, não podes privá-los de certas informações pesadas. É desde pequenos que se aprende certos assuntos.
O rapaz levou a menina até a porta com um puxão. Ela não gostou, mas ficaram se encarando escondidos sem mostrarem sua presença. Outras mentoras do orfanato e alguns Pokémon mais fofos e inocentes que as acompanhavam tentavam acalmar toda a agitação, com abraços e palavras aconchegantes, além de brincadeiras de ar forçado e apressado. Tudo parecia voltar ao normal, mas em geral, ainda se sentia dificuldade no meio de tal situação feia.
- Olha para eles. Acredite ou não, muitas destas crianças sabem que estão aqui porque perderam suas famílias nesta estúpida guerra!
- Sim, e nosso dever aqui é distrai-lhos da tristeza que invade seus corações por isso. – Oichi soltou suas palavras, o que fez o rapaz não criar uma boa cara.
- És bem teimosa, não és? Será que nunca irei conseguir abrir os teus olhos perante a razão? – Concluiu. – Parece que não.
Pois antes que se estressasse mais, o rapaz saiu do orfanato, atravessando um corredor e indo em direção a outra porta.
Oichi observou este desaparecer para ter certeza do seu distanciamento do local, e, de seguida, olhou pensativa para baixo e deu um suspiro. De certa forma, sentia-se culpada por tudo aquilo, por todo o sofrimento que via naquelas crianças. Pelo menos era o que sua expressão facial dava a entender em tais angustiantes instantes entre o choro e gritos das crianças agitadas que ecoavam no corredor, que quase lembravam os gemidos de algum campo de batalha daquela mesma guerra.
Acabou por se sentar numa cadeira ali no corredor, perto da porta, sem saber exatamente o que fazer ou o que focar em seu pensamento. Inúmeras reflexões invadiam sua mente numa confusão extrema que não era causada somente por aquela conversa rápida e extremamente questionável da visita, mas também, por algo mais.
…
Anoitecia.
O palácio de Aurora naquela noite parecia bem mais brilhante que o usual, as paredes e suas fachadas limpas e de decoração aconchegante reflectiam um ótimo brilho, quase como se fosse uma das próprias estrelas do céu limpo daquela noite.
Um pequeno lago que existia nas traseiras do palácio, habitado por Magikarp, parecia um espelho que demonstrava de modo claro o reflexo de uma pessoa que o observava, além da lua e todo o vasto universo cintilante que a rodeava.
Um Sylveon, com suas fitas esvoaçando ao vagaroso vento sentido naquela altura, estava deitado ao lado dela, acompanhando-a na sua solidão. De cabelo castanho, a jovem continuava focando no que olhava na superfície da água, quase como num estado de meditação.
Os peixes nadavam em movimentos circulares, o que dava a impressão de que misturavam suas cores entre si, criando um efeito visual bonito e hipnotizador, principalmente para alguém distraído nos seus pensamentos, como aquela pessoa de roupas simples, pouco coloridas, mas elegantes e repletas de detalhes dourados, um sinal de que devia ser alguém importante para aquelas terras.
Outra figura surgiu com um olhar exausto, que logo despertou a atenção da pessoa que ali já estava. Para receber sua visita, esta ergueu seu corpo de imediato, pois também, se tinha assustado com tal presença. Não esperava alguém surgir do nada. Os Magikarp do lago, igualmente pararam sua dança, curiosos, e foram até a margem para receber a nova dama.
- Oichi! – Pronunciou, ao erguer a mão, como quem a quisesse abraçar carinhosamente. – Tudo bem? Como correu o seu dia como voluntária no orfanato?
Mas a jovem, com seu gorducho e peludo Jigglypuff abraçando-o com força entre seus braços, ignorou, andou alguns passos a frente e sentou-se apenas numa rocha perto do pequeno lago, observando o cardume de Magikarp nadando de forma pacifica naquelas calmas águas.
Atirou umas migalhas de pão que trazia consigo, e aqueles peixes encarnados logo foram comer o alimento inabitual para eles. Agora, era Oichi que parecia a mais distraída ao observar e ficar enfeitiçada pela dança dos peixes.
Algum tempo depois, decidiu desanuviar.
- Difícil. – Foi sua resposta, direta, simples, sem grande coisa que desejasse no momento acrescentar.
- Então?… - A outra argumentou, requisitando mais informação sobre o que acontecera com ela.
Oichi deu um suspiro, era claro que não queria aprofundar muito mais o assunto.
- Kiyomasa invadiu novamente o orfanato com suas lições de moral.
- Mas ele não tinha sido expulso? – A jovem do local, deu uma pequena gargalhada, de imediato, enquanto acariciava seu Pokémon que fez um barulhinho mimoso de satisfação. Pronunciou aquilo, como se tivesse sido algo bem comum de acontecer.
A outra deitou-se, pensativa, sobre a pedra. Era lisa, uma pedra daquelas comuns de se encontrar na costa, que sofreram desgaste do mar. Por isso, não a incomodava nem sua superfície a deixava desconfortável, pareceu até ficar ainda mais aliviada do corpo ao se deitar de tal maneira.
- Foi… - Ela realizou mais um suspiro ao pronunciar aquilo. – Mas sabes como é… Aquele grupinho arranja sempre um modo de se safar.
Um silêncio foi tomando no local. Passado algum tempo a observar o limpo céu nocturno e suas estrelas cintilantes, a jovem do Jigglypuff encarou-a, com seus brilhantes olhos. A outra que já ali se encontrava, também não parecia ter uma das melhores caras, ao observar os magikarp na sua dança esquisita.
- E tu, Eilonwy? – Oichi soltou as palavras com calma, quase murmurando, de forma a serem confundidas com o silêncio do local e barulho dos Magikarp naquelas águas ali ao lado, o que despertou muito a atenção da amiga, que a olhou com certa preocupação. – Eu sei que quando vens aqui é porque ocorreu algo.
Ela desfez seu sorriso provocado pela sua própria piada. O que ouviu era verdade, Oichi já a conhecia bem e aquilo a atingiu de certa forma, mas com dificuldade, sua resposta foi bem rápida, em comparação ao ritmo que Oichi expressava seus pensamentos.
- Estou preocupada… - Começou.
Oichi virou a cara, serrando os olhos, como se já soubesse o que aquilo se podia tratar. Esperou somente a outra fluir com suas palavras.
- E se o povo não me aceitar?... Acho que afinal não estou pronta para isto… - Comentou, se questionando sobre suas próprias capacidades com palavras calmas enquanto pausava com certa dificuldade para as admitir.
- Eu é que lamento. – a outra apertou mais seu Jigglypuff, que também adotava um olhar pensativo ao ver o estado da sua companheira. – Eu é que te meti nesta situação, eu sou uma… incapaz.…
Uma pausa foi sentida. Depois, continuou em seus murmúrios.
- Não sei se incapaz é a melhor palavra para me descrever, mas... Eu não devia ter desistido… Eu devia continuar… Quer dizer… Ainda estamos a tempo de quebrar o nosso acordo!
- Não! Oichi. – A resposta da companheira foi direta - Eu estou a fazer isto porque me preocupo bastante contigo e com o teu bem-estar. Irei quebrar um antigo elo hierárquico ao ocupar o teu lugar como governante de Aurora, somente para preservar o teu bem-estar, eu sei que não és alguém que sabe lidar com toda esta pressão, principalmente tendo em conta que…
A jovem pausou, acariciou a cabeça de seu Sylveon ao pronunciar aquilo, tentando fazer um esforço para continuar sabendo que a outra estava incomodada, demonstrava sinais disso. Todo o assunto atingia uns bons níveis de delicadeza entre elas. Ela não queria descrever a cena, mas achou o melhor para explicar seu pensamento, mesmo que tal implica-se magoar a outra. Engoliu em seco antes de acabar por falar.
– Tendo em conta que alguém da tua família tem relação direta com todo este terror que se está a fazer sentir em quase toda a Ransei…
Oichi abaixou sua cabeça, pensativa, serrando os seus olhos, para impedir uma expressão de sofrimento. A outra continuou, com mais calma ainda, e longas pausas em seu discurso.
- Já conversamos sobre isto... E bem… Em breve, acredito que vários grupos virão nos atacar, do mesmo modo que o povo ao descobrir a verdade iria te querer derrubar do teu próprio trono. Estamos no mesmo barco, mas vamos mudar de capitão, a presença do novo guiará o barco até outras águas, diferentes tempestades se aproximam e nenhum caminho é certo. Mas eu irei fazer todos os possíveis para conquistar aquele que será o mais seguro para todos nós.
- Eu… Depois de ouvir toda sessas palavras... Não duvido das tuas capacidades como líder. – Oichi elogiou a amiga, bastante envergonhada. – Mas… Pareces empenhada e confiante sobre… Tens a certeza que é isso que te incomoda no momento?
Eilonwy pareceu apanhada com a informação, ela corou, afinal, os motivos para ela estar ali naquele lago a observar tudo perdida em reflexões distantes não era o medo pela sua liderança em Aurora, não era o medo em ser rejeitada pelo povo, como a opção mais na cara da situação. Mas sim, o que a preocupava, era outro além.
- Sim… Talvez um pouco, não sei, mas… - A jovem guerreira pareceu incomodada, como gesto acabou por segurar e apertar seu Sylveon num esforço em tentar desabafar ao repetir suas palavras de incerteza. - Para piorar…
Eilonwy olhou para o céu brilhante daquela noite, concluindo depois de uma longa pausa, ganhando coragem para o que iria expulsar de suas palavras a companheira pela qual tinha tanta confiança.
— Meu irmão vem à cerimónia.
Capítulo 3 - Sopa de Rhydon
— Tens fome?
A outra encarou-a.
— Se queres fazer o que eu estou a pensar, então, eu aceito a ideia — comentou enquanto usou uma das espinhas entre os dentes para remover restos de comida que a incomodava.
Depois de revelações pesadas, para descontrair, Oichi e Eilonwy eram amantes de um bom churrasco.
As brasas ainda acesas entre blocos que suportavam grelhas numa área ao lado das paredes do palácio, davam uma iluminação brilhante misturada com o luar a todo o local, o embelezando ainda mais.
A muito que ambas as garotas não faziam uma destas refeições, para elas, momentos assim eram só momentos mais íntimos entre ambas, quase como típicas reuniões entre jovens amigas, e assim aproveitavam a fragilidade sentimental para construírem mais uma destas reuniões especiais com comida naquela madrugada, apesar do horário tardio e pouca variedade e quantidade de alimento à disposição, mas o suficiente para ambas afogarem suas mágoas.
— Estes Magikarp são sempre uma delícia — comentou a guerreira do Sylveon entregando um pedacinho ao Pokémon que apreciou de forma alegre, em seguida comendo outro.
— Espere só até provar as costeletas de Tauros e os bifes e bacon de Emboar de alta qualidade que eu consegui com um comerciante que veio de Ignis — afirmou a amiga, pegando em algumas peças de carne da churrasqueira e colocando dentro de um prato, entregando a Eilonwy.
Ela embocanhou tudo em várias dentadas, como se não se alimentasse há eras.
— Que delicia! Prometo que na cerimónia terá churrasco assim ainda maior!
— Sim… Espero… — Oichi suspirou. — Aerrow gosta também, não é?
Eilonwy parou novamente ao ouvir aquele nome. Deitou o prato ao seu lado sobre a relva florida. De repente, já não sentia tanta fome.
— Meu irmão é difícil de conquistar — entregou um suspirou deprimido. — Nunca mais eu me dei bem com ele desde que nós….
— Shhs… — Oichi mandou fazer silencio. — Vai correr tudo bem, vai ver. Se for preciso, minha Jigglypuff dá porrada nele! — Disse entregando um sorriso.
E nesse momento, a bolha cor de rosa inchou de ar, demonstrando um ar intimidador. Apesar da tensão sentida com a conversa, aquilo rendeu umas boas gargalhadas.
— Bom… Irei começar os preparativos amanhã, no caso. — Eilonwy realizou um suspiro — Quanto mais cedo, melhor. Não sei quando ele vem… Queria preparar tudo, pois apesar de tudo, espero que ele esteja bem…
***
Naquela mesma hora tardia da noite em um reino um pouco mais distante, Muneshige ordenou seus Pokémon pararem a maquina voadora, fazendo com que tal seu peculiar balão descesse na encosta dos prédios mais altos da região. A capital de Terrera era situada entre planaltos, mas devido a luz da lua escondida nas nuvens, só se podia contemplar muito pouco das estranhas construções.
Todos os edifícios, salvos algumas excepções — tais como o palácio real —, eram torres altas separadas umas das outras em distâncias que pareciam estratégicas. As pedras desta região seca e desértica eram conhecidas por serem douradas quando o sol batia com muita força sobre elas em tempos de maior calor, mas agora, à noite, apenas revelava pequenas luzes no topo dos edifícios que indicavam sua presença.
Aerrow dormia no meio de seu Zangoose e da Ursaring, que estranhamente o aconchegavam como se fossem seu filho. Muneshige tentou acorda-lho anunciando a chegada ao destino, mas o olhar de aviso sério de Zangoose, súbito, o fez recuar.
‘’— Isto é só assunto teu, não nosso’’ — foi o que tal expressão lhe dizia.
Então, saiu sozinho do balão. Prendeu este a umas rochas próximas com várias correntes para não voar devido a rajadas de vento ocasionais que de vez em quanto se faziam sentir. Pouco tempo depois surgiram algumas figuras na escuridão.
— Estava a ver que vocês não chegavam — comentou.
Muneshige era um homem de muitos contactos, e apesar dele receber as visitas com um sorriso na cara, os visitantes não retribuíam do melhor modo.
Os corpos dos homens eram grossos e vinham parcialmente acompanhados de Pokémon da tipagem Ground e Rock. Vinham acompanhados de vários Rhyhorn e alguns outros Pokémon de porte menor, mas pesados, e destes começaram a descarregar várias caixas de mercadoria, que Muneshige tentava organizar no porão do seu balão.
Aquelas pessoas nada disseram enquanto trabalhavam e entregavam ao visitante o que ele havia pedido previamente, mas Muneshige, no seu típico cortejo galã, decidiu tentar caçar por alguma informação, virando-se em direção a um careca corpulento e a sua mulher que usava uma estranha burca, que entre todos contavam com um ar mais simpático.
O Rhydon do casal saltou em frente, impossibilitando a passagem de Muneshige, o Emolga do homem escondeu-se atrás da cabeça do seu dono com bastante medo devido ao ar intimidante do grande Pokémon, mas seus Braviary e Staravia puseram-se firmes em sua frente, prontos para atacar a ameaça apesar da desvantagem.
— Não quero lutar meus caros… Desculpa incomodar, mas me digam… Vocês por mero acaso do destino sabem se existe alguma informação especifica do posicionamento actual do exército de Nobunaga?
Os dois integrantes do casal se entreolharam desconfiados.
— Pelo que sabemos, eles ainda não saíram da região norte de Ransei — comentou o homem. — Mas aos poucos avançam até nós, mas isso qualquer um sabe.
— Entendo, entendo… — afirmou Muneshige com um olhar confiante.
Ele deu alguns passos serenos com um belo sorriso na sua face e continuou a encarar o casal de forma interessada. Depois olhou ao redor, as pessoas já tinha descarregado o máximo de mercadorias possíveis e as colocado dentro de sua maquina e só esperavam pelo pagamento do serviço. Até que algo se realçou nas desconfianças do cavaleiro, e o fez agir rapidamente.
— Então… Como explica isto?
— O-o quê...?
Muneshige, numa súbita corrida que apanhou todos de surpresa, desviou-se do Rhydon e agarrou a burca da mulher, revelando debaixo dela um outro homem mais magro disfarçado com uma estranha armadura negra. Ele estava segurando uma criança com um pequeno Drilbur entre os braços. A criança e seu Pokémon estavam algemados e imobilizados, não conseguindo nem comentar nada além de fazer gemidos simples, suas bocas estavam presas por um pano encardido. Pareciam ambos tontos, como se estivessem drogados e sem saber exatamente onde estavam nem o que vinha a acontecer.
— Emolga, Braviary, Staravia, VÃO! — gritou Muneshige.
Emolga tremendo de medo voou rapidamente para o interior do balão onde ligou os motores com descargas eletricas, Braviary construiu lâminas de ar ao bater suas asas, num poderoso Air Slash que soltou o balão das cordas e correntes de ferro de pouca qualidade que o agarravam ao chão, enquanto Muneshige ficara em terra, observando os outros companheiros subirem e desaparecerem nas nuvens. Staravia lutava e distraia quem os atacava nos instantes seguintes, com esforço devido a sua fraqueza, mas com muita dedicação.
— Boa sorte Aerrow — comentou para si próprio observando sua maquina sem controle ser levada pelo vento. — Mas eu tenho muitos assuntos a tratar por aqui.
A maior parte dos homens do tal grupo tinha corrido para longe dali agora que foram descobertas suas reais identidades, apesar das intenções pouco claras. Mas a dupla que aprisionava a criança manteve-se firme, aquilo não ia ficar como estava e o próprio Muneshige igualmente não tinha ar de alguém que fosse virar as costas e dar tréguas assim de mão beijada.
Os golpes de Staravia eram pouco eficazes contra Rhydon e o restante dos Pokémon que os atacavam com ar feroz e um tanto desesperado, entre eles um Onix dominado pelo próprio portador da criança. Muneshige e Staravia em certo momento trocaram alguns olhares. E assim, enquanto Braviary voava para longe dali guiando o balão entre os altos edificios, o pássaro menor baixou sua guarda contra Rhydon, sendo atingido por um poderoso Rock Slide que derrubou uma das torres mais próximas da área, uma estratégia que a dupla de treinadores tinha utilizado minutos antes com um Earthquake misturado para reforçar a demolição, além de vários explosivos que aparentemente os bandidos tinham instalado. Muneshige sorriu observando seu pássaro debaixo dos escombros, mas sabendo que algures no céu Aerrow estava são e salvo com seus restantes Pokémon.
Num movimento galã, ajoelhou-se, com a mão no peito, e outra sobre o joelho, ainda sorridente, um sinal de redenção.
Os dois homens sorriram triunfantes, enquanto o garoto se remexia e tentava soltar-se, já ganhando alguma credibilidade no pensamento.
— Soltem o Lukaian, peço gentilmente. — Muneshige comentava ainda com a face envolta num estranho sorriso.
— Soltar a criança? — um dos homens riu freneticamente. — Agora que nossa vitória está no papo?! Ele tem informações valiosas para nosso senhor Nobunaga. Não tens para onde ir agora Shige. E o teu queridinho Staravia está morto. Finalmente vou ter o que eu tanto queria…
— Não, meu velho amigo, mas por pouco tempo… — murmurou ele. — Seus idiotas…
De repente, um alarme alto pode ser ouvido em toda a região e vários Pokémon começaram a cercar o local acompanhados de guardas e cavaleiros cujas luzas de fogo e tochas combatiam a escuridão de toda a área. Numa mistura de frustração e ódio, o homem ordenou que o Rhydon atacasse Muneshige com o objetivo de mata-lo. A raiva estava estampada em seu profundo olhar enquanto o seu companheiro em pânico tentava correr e fugir dali o quanto antes com o jovem em mãos.
— O que foi? — Muneshige não conseguiu se controlar e o provocou, o que fez o homem querer arrebentar com a cabeça do inimigo o quanto antes. — Minha ajuda vem ai…
Rhydon já se preparava para o avanço enquanto seus ouvidos se cansavam dos gritos em formato de ordem que o dono lhe entregava. Porém, no ultimo instante em que Rhydon se preparou para chutar a cabeça do humano com um Stomp, o Pokémon sentiu algo debaixo do seu pé que o desequilibrou. Foi arrastado alguns centímetros para atrás devido a uma poderosa rajada de vento e acabou caindo para o lado ao desequilibrar-se da única perna que suportava todo seu pesado corpo, segundos antes de atingir o humano.
A forma de Staravia estava ali na suposta área onde Rhydon iria pisar com seu pé monstruoso segundos antes, o pássaro protegia impune e sem praticamente nenhum dano seu treinador, apesar de visivelmente cansado. O grande dinossauro elevou seu corpo com dificuldade, sem saber exatamente o que aconteceu, tal como seu mestre que parou.
— O que… O que aconteceu? — disse em confusão. — De onde veio esse passarinho?
— Meu Staravia usou uma mistura de Double Team, Quick Attack e Whirlwind enquanto não estavas a olhar… Choraste?
— E… Ele… Estava morto debaixo da torre…
— O que ficou enterrado com os destroços da torre era apenas uma cópia — Muneshige deu um sorriso simples ao homem.
O homem entregou igualmente um sorriso em troca, como se não fosse a primeira vez que lutavam, parecia recordar alguma coisa em sua velha mente, mas ao mesmo tempo, era um sorriso falso e nervoso.
— Muneshige, sempre inteligente com suas estratégias, exigindo demais das capacidades de seus Pokémon… Um dia irá correr mal, e ai espero que consigas ser derrubado.
O cavaleiro ficou sério depois de ouvir aquilo vindo daquela pessoa.
— Não sou a única pessoa nesse mundo que aprendeu tais métodos, sabes bem como copiar um antigo mestre… — comentou vagamente apontando para Rhydon.
O Pokémon dinossauro parecia igualmente exausto, e sentado sobre o chão recuperava o fôlego antes de voltar a erguer-se nas suas duas pernas na terra arenosa.
— Como descobriste que estavamos aqui? Por que querias tanto aquelas mercadorias? — Questionou depois de cuspir no chão como forma de intimidação.
— Burro… Tu é que sabias dos teus próprios planos… Eu apenas decidi dar uma mãozinha… Masayuki — E o rival estremeceu ouvindo seu nome ser pronunciado no meio de tal longa discussão pela primeira vez. — Terás tempo que sobra de contar tudo às autoridades, ou a Yukimura, seu próprio filho… — e ele encarou o segundo homem presente, pronunciando igualmente o nome daquele que segurava o jovem. — Nobufusa… Era isso que eu precisava realmente de saber… Senhor Shingen vai amar saber de sua traição…
— Nem mais uma palavra ou eu esmagarei este rapaz sem precisar do meu Onix — disse friamente enquanto apertava o rapaz com uma faca quase rasgando a carne de seu pescoço.
O jovem grunhia como um porco em pânico durante sua matança. Os guardas chegavam enquanto o alarme ecoava entre as torres de Terrera, a dupla estava completamente cercada naquele momento de tensão por cavaleiros e nobres experientes. Quando deu por si, viu que seus aliados, e todas as mercadorias estavam confiscadas, nas mãos do tais homens de armadura e seus monstros alarmados.
— Afinal, derrubar uma torre e fazer um enorme estrondo não foi lá muito inteligente — Muneshige comentou friamente. — Ainda tinhas muito a aprender comigo ainda, meu rico aluno… Rendam-se.
Ambos os homens olharam ao redor, não tinham opção, estavam em minoria face a um enorme exercito que se preparava para atacar e matar quase de imediato todos os presentes da faixa inimiga.
Nobufusa soltou o garoto, que ainda meio sonolento, caiu sobre a areia. Enquanto Masayuki dava ordens para seu Rhydon e o Onix do amigo recuarem e não atacarem mais.
Quando deram por si, estavam presos nos braços dos guardas e acorrentados a grossas placas e cordas de ferro junto de seu Pokémon exaustos. Em breve seriam levados para a torre mais forte de Terrera, também conhecida como uma das piores prisões de toda Ransei.
Um dos homens da justiça tentou ajudar o jovem caído, mas Muneshige fez-lhes um sinal.
— Eu trato dele.
— TU? – O homem riu.
— Sim, meu caro senhor — e mostrou um dispositivo, um símbolo em ouro gravado em suas roupas indicavam sua importância e status. — Como pode constatar, vim aqui como serviço à Violight. Sirvo directamente Miss Ginchiyo, que viu muitas das mais recentes invenções dos seus cientistas roubadas por mercenários. Eu, estava somente em processo de negociação oficial, vejam lá como me tratam.
— C-Certo… — comentou o homem, entregando o jovem a suas mãos.
***
O exercito inteiro de Terrera já se tinha dispersado e voltado para seus aposentos, do mesmo modo que os prisioneiros foram levados para longe dali e as mercadorias restantes enfiadas num comboio em constante vigilância que iria partir para Violight na manha seguinte. O rapaz e seu Drillbur já se mostravam bem despertos depois do stress passado, do mesmo modo que Muneshige tinha um ar descansado.
Felizmente, a noite escura agora reinava, e com isso, mais ninguém pode ver o rapaz daquela forma facilmente. O homem acompanhado de seu Staravia atravessavam a área desértica que existia entre uma das torres até uma outra mais longinqua, e pareciam ir em direção aos subúrbios da cidade.
O jovem, apesar de tudo, ainda estava estranhamente acorrentado e era arrastado na areia entre os edifícios, não podia correr e fugir do desconhecido devido a tal, mas, com sua boca livre, já podia comer e beber o que Muneshige lhe oferecia, algo que ele sempre aceitava de bom grado e achou bastante gentil por parte do adulto desconhecido que aos poucos começava a apreciar.
Pararam na torre mais distante de Terrera, onde uma barraca de comida ainda estava aberta e servia algumas iguarias simples da região, devia ser das poucas ainda servindo clientes àquele horário tardio. O jovem comeu tudo tal como se nunca sequer tivesse comido algo tão delicioso como aquela refeição em sua vida inteira. A sopa de pedra de Rhydon era feita com a gordura da grossa pele dos Rhydon que quase lembravam pedra e era imensamente resistente, cortar aqueles pedaços da pele devia ser uma tarefa quase impossível por parte dos matadores. O jovem achou irónico e incrível como Muneshige se deliciava com aquilo, apesar de quase ter sido morto por um naquela mesma noite.
— Então… — O jovem começou a puxar assunto. — Para onde o senhor me leva, o que o senhor deseja de mim e o que raios aconteceu exatamente?
Questionava, confuso, enquanto alimentava o seu pequeno Drilbur com pedaços da pele da sua sopa. O pequeno comia só por comer, não parecia gostar da ideia de comer outro Pokémon para sobreviver e matar a fome.
O homem não respondeu, pelo menos não até acabar de comer sua refeição por completo. Depois de dar a ultima garfada num pedaço bem grosso de pele acinzentada — que chupou com imenso prazer durante vários minutos —, prosseguiu e entregou as respostas. O rapaz já estava cheio da comida, não queria mais e aparentava estar aborrecido esperando suas respostas.
— Deves ser o Lukaian, estou correto? — O jovem arrepiou-se ao saber que o companheiro sabia seu nome e começava a criar um drama em sua mente.
— O senhor vai me raptar? — logo disse.
— Não… Não exatamente. — Muneshige manteve-se pensativo, fazendo várias pausas para procurar suas palavras mais corretas. — Pelo menos não como aquele bando de traiçoeiros que eu derrubei. Eu sei que o menino tem informações preciosas sobre uma coisa especifica que todos nós temos interesse…
— O que isso quer dizer? — Ele pareceu confuso. — E toda essa barafunda? Eu não estou a entender nada. — O jovem coçou seus cabelos sujos e desengonçados. — É muita informação para processar na jovem vida de minha história, pelamor a Arceus. Eu nem tenho oito capítulos ainda nesta minha vida.
Por algum motivo, aquela frase fez Muneshige tirar o seu olhar sério e novamente entregar um sorriso galã, aquele sorriso que só ele conseguia entregar e conquistar inúmeras mulheres em uma só dentada.
— Ouvi rumores da criança órfã que vivia sozinha com um Drilbur nas ruas de Terrera, roubando viajantes e lojas e tudo o que podia numa tentativa desesperada em sobreviver… — E com aquelas palavras o jovem acabou em ar entristecido. — Um garotinho que teve um contacto muito especial com uma Pokémon muito especial… Calculei de imediato que Nobunaga iria querer utilizar seus conhecimentos… Por isso vim atrás de ti.
— Como assim? Se pensem que eu vou comentar sobre a Pearllutina, pode acreditar que... Nem fodendo!
— Já comentaste para começar. — Muneshige entregou um sorriso traiçoeiro ainda maior. — E olha o vocabulário com que falas, meu menino…
— Agora ficaste a parecer meu pai falando, mas pelo menos ele me explicava o mundo onde eu vivo.
— Vim para cá, Terrera, com dois objetivos em mente. O primeiro seria recuperar as mercadorias roubadas, minha querida mulher conseguiu negociar a um bom preço com os bandidos, não passavam de mercenários comprados pelo poder da moeda, e eu só as vim buscar. E o segundo passo, seria encontrar-te a ti. Eu sou daquele tipo de pessoa que tentar sempre pensar antes do inimigo, e estudo tudo antes de agir, ou quase tudo. Tentei reunir o máximo de informações possíveis sobre os culpados mais prováveis. Nem sempre dá resultado, mas fiquei impressionado em como aqueles bandidos caíram no meu pequeno jogo de palavras e me revelaram mais do que eles deviam, além de serem pessoas que eu conheci antigamente…
O jovem tentava processar tudo, mas de alguma forma, pareceu já entender o método de como tudo tinha acontecido.
— E eu, como me descobriste?
— Tu foste a minha maior surpresa, a cereja no topo do bolo no final das contas. Calculei que uma pessoa aleatória com uma burca seria suspeita imediata, por aqui já não se usam esses trajes há cerca de 40 anos. Além de que eu sou um treinador de aves, logo aprimorei muito minhas habilidades de visão, observei logo que os movimentos da suposta mulher estavam errados. Acho que neste caso foi mais culpa dos bandidos serem desajeitados e não conseguirem disfarçar seu prisioneiro do que propriamente uma qualidade minha.
— O senhor é bem inteligente… — o rapaz comentava com um sorriso.
— Parando para analisar, acho que não sou tanto inteligente assim… — comentou com ar misterioso.
Um minuto de silêncio se passou, o rapaz ainda assimilava algumas coisas, mas prosseguiu.
— Ainda não te vou dizer onde está Pearllutina.
Muneshige pediu ao empregado de mesa uma bebida, que entregou quase de imediato, ele bebeu o liquido de cheiro forte em vários segundos, e prosseguiu.
— Eu não preciso exatamente de saber nada sobre ela, se queres que eu seja sincero… — Aquela informação de certa forma, impressionou a criança, que agarrou seu Drillbur de forma surpresa. — Eu só preciso da tua presença neste lado, no lado bom, desta guerra... Eu te darei comida, abrigo e toda a protecção necessária contra Nobunaga e toda a guerra que se está a sentir que tirou tudo o que tu tinhas… Bem, vais precisar daqui para a frente, os rumores estão bem fortes e algumas pessoas vão pagar mais do que aquilo que imaginas em sacos de ouro somente pela tua cabeça… O que achas?
Lukaian engoliu em seco.
— Eu acho que não tenho opção, nem tenho para onde ir mesmo… — comentou cabisbaixo, olhando directamente para seu pequeno Pokémou toupeira.
— Bom… Então está combinado! — Muneshige disse com certa empolgação. — Só precisamos de um bom esconderijo, pelo menos até eu encontrar algum transporte ou conseguir que algum dos meus outros Pokémon ou aliado venha me buscar…
— O quê? Como assim? Não tinhas um balão aleatório gigante? Eu podia estar tonto mas eu lembro de ver aquela coisa nos céus voando sem rumo aparente entre as torres vermelhas.
Muneshige colocou a mão sobre seus cabelos, e acariciou seu Staravia por breves momentos.
— O que eu te acabei de dizer, menino? Afinal de contas, eu não sou tanto inteligente assim do que aquilo que eu aparento.
Capítulo 4 - Meu querido irmão
Preso entre os penhascos altos de uma montanha próxima de Terrera, a grande saliência de uma máquina construída por mãos humanas se encontrava presa entre as rochas. A parte de cima do balão de Muneshige tinha arrebentado, logo a máquina não poderia ser movida assim tão facilmente do local. Estavam a uma elevada altitude entre um intenso nevoeiro, o que dificultava a visão do jovem no interior do balão para o exterior. Ele acordara há pouco tempo e obviamente não entendia o que havia acontecido e nem sabia onde estava o amigo humano que lhe tinha dado a viagem gratuita.
Se arriscasse sair dali, iria cair no precipício profundo, por entre algumas árvores e suas espessas lianas. Para piorar, um incêndio parecia eminente, o pequeno Emolga tentava com suas asas acalmar e absorver algumas correntes eletricas, fazendo com que a falha no sistema não acabasse prejudicando o fluxo de ar do balão ou arrebentando o motor. Mas aos poucos, o esquilo voador ia ficando sobrecarregado e cansado. Braviary não podia fazer muita coisa, mas tentava manter o balão ali preso o mais estável possível, manipulando seus poderes contra algumas correntes de vento forte que soprava.
Andava de um lado para o outro na área interior da maquina do balão, sua Ursaring também adotava um ar preocupado. Já Zangoose surgiu sobre um ramo, com várias frutas num dos braços, entregando ao pequeno grupo como alimento ao entrar no cesto do balão. Aerrow segurou uma Oran Berry e deu uma dentada, não apreciava muito o sabor da fruta, mas sabia que uma oferta de um dos seus Pokémon não era algo que devesse rejeitar.
— Obrigado, mas temos é que nos preocupar em sair daqui… Se movermos muito mais o balão isto tudo vai explodir… — Aerrow encarou Emolga quase em estado de exaustão. — Temos que ser rápidos o quanto antes e pensar num plano.
De entre as frutas trazidas por Zangoose, avistou um pequeno Joltik que caminhou de um lado para o outro, procurando a saída. Deve ter vindo nos braços do Pokémon. De seguida, outro surgiu, e mais outro e mais uns quantos, de entre alguns buracos de peças da fruta que possivelmente estavam podres e de entre o próprio pelo do Zangoose, que logo chamaram mais Joltik que vieram do exterior.
— Devemos estar na fronteira, as montanhas a norte de Terrera que dividem as regiões de Chrysalia e Illusio — pensou Aerrow para si próprio. — Ouvi dizer que por aqui existem bastantes Joltik… Quase como uma praga.
De repente, um click em sua mente. Aerrow segurou num dos Joltiks com cuidado e posicionou-o próximo à descarga eléctrica. O pequeno Pokémon foi até lá e alimentou-se com satisfação, algo que chamou por completo a atenção de todos os outros Joltik presentes. Os Pokémon correram para lá, eram tantos que a bateria da maquina pareceu diminuir sua potencia e aos poucos ficar completamente vazia, sem a electricidade que a alimentava. Emolga finalmente saiu da corrente e pode contar com algum descanso, apesar do Pokémon quase estar entrando num estado de muita energia sobrecarregada no corpo, disparando e correndo feito um louco contra a sua vontade para tentar diminuir tanto poder eléctrico dentro de si.
Quando finalmente parou, adormeceu exausto no meio do chão. Os Joltik selvagens pareciam satisfeitos. Alguns pararam de comer e evoluíram devido a satisfação, grandes Galvantula logo começaram a construir um lar mesmo ali — parecia um ótimo sitio para eles — ao atirarem teias e mais teias ao redor. Aos poucos, eles prendiam bem a nave às altas paredes das escarpas montanhosas.
De repente, Aerrow avistou um Galvantula diferente dos demais. Seu corpo contava com cores mais avermelhadas. Aparentemente era a rainha, a chefe do grupo dos Joltik. Ela chegou-se até ele e o agradeceu.
Zangoose riu, parecia que tudo tinha sido parte de um plano seu. Segurou Aerrow e Emolga e fez um sinal a Braviary. O grande pássaro aos poucos carregou os companheiros até o chão firme, uma tarefa que devido ao vento entre as escarpas altas, foi bastante difícil e demorada. Mas a Galvantula deu-lhes uma mãozinha com uma teia forte o suficiente para todos se agarrarem como suporte para se segurarem caso tivesse maior medo ou se desequilibrarem.
— Como vamos sair daqui agora? Tenho que chegar a tempo da comemoração de minha irmã. — Comentou o humano, olhando para a nave com os Joltik e Galvantula lá no alto entre o nevoeiro que se intensificava – Pelo menos ir só fazer meu papel e resolver as coisas…
Braviary fez-lhe um sinal — ele iria procurar Muneshige por ele próprio ou procurar alguma direção ou ajuda. Após recuperar as energias comendo mais algumas das Berrys trazidas por Zangoose, alçou voo em direção àquilo que parecia ser Terrera. Emolga quis ir com ele. Swift, o pequeno Eevee de Aerrow, pareceu irrequieto algum tempo depois. Era melhor não permanecerem muito tempo por ali. Swift, Ursaring e Zangoose então começaram a sentir ruídos próximos, passos de alguém.
Aerrow correu com eles, escondendo-se atrás de uma árvore próxima e viram um grupo de guerreiros armados marchando por ali. O rapaz bem pensou em pedir ajuda, mas quando viu eles pararem a marcha, apercebeu-se que seria melhor esperar e escutar, já que eles não pareciam estar caçando coisa boa, especialmente aqueles guerreiros em especifico.
***
Eilonwy andava de um lado para o outro. Suas roupas cerimoniais agarravam-se a seu corpo de forma desconfortável, mas ela teria que se manter firme e aguentar. Não era pessoa de gostar de roupas extravagantes e apertadas, preferindo sempre algo leve e fresco para usar como vestimentas. O brasão de Aurora marcava os ornamentos de tais trajes extravagantes. Guerreiros ao estilo samurai rondavam o local, a acompanhando. Até agora não existia nenhum sinal de seu irmão, nem mesmo uma carta, nada, nenhum aviso, nenhuma confirmação de que ele realmente viria ou estava a caminho.
A mulher parou e deu um soco na parede. Ela já sabia que isto iria acontecer e que ele não iria aparecer no dia. Oichi, de ar reprimido, apareceu no outro lado do corredor carregando sua Jigglypuff nos braços, que tal como as humanas, também usava trajes cerimoniais.
— Eu sabia que ele não iria aparecer, mas que filho da puta — Eilonwy resmungou. — Eu precisava realmente de conversar com ele cara a cara.
— Eily… — Oichi lembrou-se das conversas que ela tivera dias antes com a amiga, cerrou os olhos e respirou fundo. — Está na hora da coroação.
Eilonwy respirou fundo, era notável o quanto estava nervosa, e Oichi ainda mais. Entrelaçou os seus dedos nos dedos dela, que igualmente tremia. Oichi serrou lentamente os olhos e beijou calmamente a superfície dos lábios de Eilonwy quando mais ninguém estava olhando. Aquilo não era nenhuma revelação, e de certa forma aquilo a confortou.
— Quem me dera agora ser de noite para termos mais um jantar tipo aquele nas traseiras… Mas já que não temos mais opção… Vamos.
Eilonwy ajeitou seus cabelos e trajes. A sua Sylveon também utilizava algumas roupas extravagantes, os sinos começaram a tocar, os soldados a marchar no corredor, obrigando a dupla caminhar em frente também. Fora do palácio a população das terras do reino de Aurora estava em peso, aguardando o momento mais alto do evento.
Oichi tentou se desviar, acompanhando os passos da amiga, mas vários soldados a empurraram com força de modo acidental e, como consequência, acabou por se perder no meio dos soldados e da multidão. E ao tentar fugir, acabou por ir parar ao terraço exterior do palácio, o jardim real, enquanto Eilonwy, sozinha e inquieta, estava a tentar proceder a um discurso no pátio central para tantas pessoas que ouviam-na interessados no evento.
No inicio, seu jeito pareceu desajeitado, mas estava a fazer o melhor que pode dentro dos seus limites. Apesar de não conseguir explicar nada, precisava de Oichi ao seu lado. Eilonwy estava a começar a entrar em certo pânico quando as pessoas começaram a recuar e a questionar onde estava Oichi, a actual rainha de Aurora, e a se perguntar ainda mais sobre quem era aquela que do nada subira em palco com um discurso confuso e explicação tão complicada que no final nada mais explicava assim.
— Eu… Eu não… Não consigo fazer isto sozinha… — comentou quase sussurrando para a Sylveon, que a segurava como um suporte mostrando apoio — Procura a Oichi, depressa, por favor!
Sylveon com suas tranças ao vento começou a correr entre as pessoas, se soltando bruscamente das roupas que vestia e libertando ainda mais seu corpo, aumentando sua agilidade de corrida. Percorreu o interior do palácio, incluindo quartos e a cozinha, até chegar nas traseiras. O jardim parecia o mesmo, tirando o facto de um homem de armadura negra estar frente a frente com a jovem dama que pretendia encontrar.
Sylveon parou, aterrorizada observando o que estava a acontecer. De repente, sentiu um raio de um trovão atingir seu corpo. Ela não conseguiu se desviar e caiu para o lado, paralisada.
Um grande dragão negro se encontrava-se a sobrevoar, silencioso, escondido, entre as nuvens mais altas, parecendo sobrecarregar seus poderes. Os guardas estavam atentos em todo o resto do pátio frontal, a ponto de se esquecerem completamente de uma eminente ameaça voadora. Apesar do súbito trovão abafado ter despertado o alerta de várias pessoas, outras confundiram com os sinos e foguetes que davam inicio à cerimónia, ou aos aplausos e risos que as pessoas entregavam à desengonçada Eily.
— Por favor, pare! — Gritou Oichi.
O homem entregou-lhe um sorriso um tanto sombrio.
— Parar? Não, eu tinha que continuar minha viagem vindo até aqui, não podia perder isto, ver minha irmãzinha abdicando do trono.
— Por que estás aqui afinal?
— Acabei de te dizer… Sempre tão pouco inteligente... — ele sussurrou. — E por que eu não fui convidado? O mensageiro esqueceu-se do meu convite?
— Mais ninguém, além da própria população de Aurora, o foi!
— Tens a certeza? — Nobunaga suspirou, elevando o braço em direção ao céu.
O homem de roupas negras apontou para a árvore próxima. Logo em seguida, o dragão negro que ele controlava desceu dos céus, largando exatamente ali a sua carga extra. Um rapaz com vários Pokémon acorrentados com pesadas correntes caíram no chão, imóveis. Pareciam estar nesta situação há alguns dias visto seus corpos sujos de terra e sangue e olhar esfomeado, sinais de eminentes torturas corporais como marcas recorrentes.
— Não é como se que aquele garoto ali fosse filho de Aurora. Não é como se tivesses dado o trono da nossa família a uma estrangeira qualquer de outro mundo.
Oichi ficou sem reacção ao ouvir aquelas palavras.
— Se o queres ver vivo, se queres que a tua amiga tenha seu irmão de volta são e salvo, se queres as vidas da população inteira de Aurora salvas, entrega-me o que me pertence, o trono de Aurora e a sagrada Placa de Arceus. Devolve-me o que nossos pais nunca tiveram coragem de me voltar a dar.
Oichi permaneceu quieta. Lágrimas desceram de seus olhos, por mais que ela quisesse mexer seu corpo, não conseguia. Era como se tivesse levado um choque que a tivesse deixado presa a uma longa corrente eléctrica que nada mais podia fazer além de estremecer seu corpo.
— Por que estás a fazer tudo isto? Muitas pessoas estão a sofrer por tua causa! Eu amo-te do fundo do meu coração, irmão, e eu sei que também me amas. Para com tudo isto! Vamos voltar ao que éramos!
O homem parou, com um olhar distante que preencheu uma direção ao céu. Zekrom rugiu quando várias lâminas desceram e guerreiros começaram a atacá-lo depois de avistar a sua tremenda figura de grande dragão eléctrico. Já não era sem tempo de os guardas fazerem alguma coisa a respeito. Nobunaga suspirou enquanto observava seu dragão negro lutar deixando marcas quase irreparáveis e estrondos tremendos nas paredes e todo o pátio do jardim traseiro. Um Typhlosion enorme surgiu rodeado em chamas e deu um soco no focinho do dragão, que recuou atordoado á medida que se defendia de correntes, ataques de espadas e lâminas que tentavam perfurar sua pele grossa.
— Não te preocupes. Amor tem sempre lugar nesta guerra. Meu motivo é o mais cliché possível de se prever, eu quero invocar Arceus… Oichi, junta-te a mim e poderemos reconstruir tudo o que é nosso. Poderemos mudar as pessoas.
— Não! Não é assim que se muda as pessoas! Eu não te entendo, eu nunca te entendi! Não é assim! Isto é loucura!
— Eu sei… Sempre foste a favorita… — Ele comentou frio, ela mais uma vez não entendeu o que ele quis dizer com aquilo.
Um vulto surgiu atrás das costas de Nobunaga. O grande rato de fogo preparava uns bons sopros flamejantes. O homem, naquele preciso momento, correu na direção da irmã, empurrando-a contra o chão fazendo ambos esquivarem-se de uma parede enorme de chamas, e, ao mesmo tempo, fazendo o Typhlosion recuar para não atacar tão próximo assim a uma aliada que pretendia proteger.
Naquele momento, o Pokémon de fogo rosnou e Nobunaga olhou-o bem fundo nos seus olhos. Ele reconhecia aquele Pokémon de algum lugar.
— E afinal, o outro que eu procuro também está aqui… Agora só falta localizar o maldito pirralho de Terrera.
Zekrom conseguiu se soltar das correntes que o circundavam e das espadas que o perfuravam, além dos ataques daquele rato enorme que pareceu ter surgido do nada.
— Espera? O que queres dizer com isso? — Oichi gritou para ele, em meio da confusão – Porque não explicas tudo directamente de uma vez! Tu não eras assim louco antes! O que se passa irmão? Porque estás assim?!
Nobunaga a encarou, com uma expressão carinhosa.
— Mudança de planos. Tenho outras coisas a tratar... Mas deixo-te avisada para pensares bem, MUITO BEM, na minha proposta... Adeus querida irmã.
E naquele instante, Zekrom o agarrou e, com a cauda cuspindo electricidade fervente, apertou Nobunaga contra seu peito e disparou-se ao céu, numa velocidade tão grande que em pouco tempo pareceu somente um pequeno ponto negro sobrevoando ao longe as terras de Aurora em direção ao horizonte.
Ao longe, ouvia-se gritos das pessoas ao se aperceberem que Nobunaga esteve ali e que havia liderado um eminente ataque. Depois de se recuperar brevemente do susto, Oichi encarou Aerrow caído e correu para ajudar os guardas a soltarem o pobre rapaz das correntes pesadas. Do outro lado, viu a sombra de um Typhlosion e um rapaz de roupas completamente estranhas descerem do telhado do palácio e desaparecendo de vista na direção contrária da aglomeração de gente como se nunca tivessem estado ali.
Aerrow tentou recuperar o fôlego. Os Pokémon que o acompanhavam estavam muito fracos e maltratados, o próprio humano de ar abatido tinha que ser escoltado para cuidados médicos. Vários guardas do palácio apareceram com tecidos e macas arcaicas para carregar os feridos. Aerrow tossiu e encarou Oichi que estava se segurando para não fazer qualquer tipo de questionamento naquele momento delicado.
— A guerra só estando no norte, é mentira, existem grandes traidores e soldados inimigos entre nós… — Murmurou em grande esforço.
Ela apertou mais seu Jigglypuff, nervosa, afinal, o grande inimigo da guerra, seu irmão que ela acreditava ainda amar, tinha vindo parar ali sem ser detetado pelos guardas e mais ninguém. Ela ajoelhou-se, vendo Aerrow desaparecer no interior do palácio e seus Pokémon, para alguma sala onde iriam sofreu cuidados eminentes.
Se Nobunaga tivesse tido a real vontade, ele poderia ter conquistado Aurora naquele exato momento, tudo parecia mais um jogo que surgira num piscar de olhos, e ela tinha sido incapaz de defender aquelas terras ou até mesmo fugir e avisar a sua amiga ou os guardas mais próximos quando viu seu irmão do nada aproximar-se dela. A Sylveon de Eilonwy também tinha sido escoltada para cuidados, já que o enorme choque a atingira imenso, e a sua dona, preocupada pelo som sentido nas traseiras e os avisos dos guardas, procurava tanto a Sylveon como a Oichi com imensa preocupação.
Em pouco tempo a dita cerimónia tinha dado o anúncio de cancelamento devido ao ocorrido, e a população se dispersou, preocupada mas ao mesmo tempo alerta e desapontada com sua governante que naquele momento ainda era Oichi, que estava sendo vista como fraca, ainda mais do que aquilo que era.
Os guardas tentaram fazer um levantamento dos estragos e questionavam Oichi, mas ela não parecia em estado de responder grande coisa com clareza. Quando se apercebeu, sentiu o abraço aconchegante e familiar, o abraço da sua Eilonwy.
— Vai descansar — Ela comentou com calma. — Eu tento trato do resto, e depois do meu irmão.