Não. Não estavas a sonhar. O sol incidia sobre o mar calmo, fazendo as ondas radiarem em brilho, um brilho que entrava em perfeita harmonia com a música que os teus ouvidos captavam. Dás mais uns passos em frente, e a melodia parece se intensificar, além de se familiarizar. Ao longe consegues avistar o farol de Cabo Poco, com sua impecável torre acariciando a copa das árvores verdinhas que o circundavam.

    Mas apesar de fazer parte icónica daquele cenário, não é o farol que realmente chama a sua atenção.

    Uma jovem, com seus cabelos balançando ao vento, tocava numa velha guitarra paldeana, tão envolta pela brisa e perdida na sua própria paixão que nem dá conta da tua aproximação. Ela apoiava-se no parapeito do miradouro, sem medo algum da altura que este dividia com o mar e praias no outro lado.

    Respiras fundo, emocionado com a canção que a jovem entoava. Cada letra, cada vibração dos instrumento, desperta e ti uma magia surreal.

    Ao fim de uns cinco minutos, ela para, constrangida, ao finalmente notar a tua presença.

    ''Oh... Olá...'' - disse ela, ao te receber.

    Mas tu não querias que ela parasse.

 

    ''Por favor... Continua'' - É o que lhe pedes.

    A jovem ao inicio, não sabe bem o que dizer. Dá para notar que ela não se sente confortável a falar com estranhos. Mas naquele momento especial, ela estava inspirada, e ganha então uma certa coragem em prosseguir com o que tocava.

    Quando dás por ti, ela mostra-te o seu Rotom Phone e quase todas as canções que ela construiu até então estão na tela anotadas.

    ''Algumas eu não canto nem toco há muito tempo'' - Disse-te. - ''Mas escolhe a que tiveres mais interesse. Estou enferrujada, mas sinto que devo tentar''.

    Não, não estavas a sonhar.

    Aquela jovem tímida e reservada estava mesmo a partilhar contigo, um mero desconhecido, parte da sua paixão.