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- ✨✨DOIS ANOS DE AVENTURAS EM PALDEA!!!✨✨ 🐊🐊
Escadarias.
Mais e mais escadarias.
A palavra escadarias já era uma maldição bem conhecida, transmitida de boca em boca entre os alunos e ex-alunos da famosa Academia Naranja e Uva, tanto dentro do edifício, como fora dele. O uso restrito dos elevadores era um elemento marcante entre as bocas dos jovens, tanto que poucos dificilmente esqueciam, e muitos levariam o trauma para a vida inteira em memórias aterrorizantes de proporções inimagináveis.
E essa mesma maldição carregada de grandes e demoradas subidas e descidas afetava quase, de forma imediata, os alunos recém-chegados…
Principalmente aqueles que penetram no campo escolar, pela primeira vez, logo com os primeiros passos sendo proferidos pelo pé errado.
– Fomos ENGANADOS! Afinal, onde é o Gabinete do Diretor?! – Juliana disparou, em desespero. – Eu não aguento mais subir mais escadarias! Onde estamos???
O corredor parecia igual ao da Ala Amarela ou qualquer outra Ala da Academia Naranja e Uva, tanto que, por instantes, Juliana questionou-se se teria voltado ou não para os dormitórios da escola ou se andavam os dois às voltas e mais voltas há horas.
A maior diferença, que a garantia não estar perto dos quartos, era o número da porta que os identificavam. Apesar de não ter memorizado os números dos quartos vizinhos ao seu, não avistou nenhum icónico onze enfeitado por um coração partido em tinta escorrida, e muito menos uma porta de ar chique que daria para algum gabinete executivo.
Tamar caminhava devagar atrás da treinadora, e o mesmo também já demonstrava claros sinais de stress e exaustão – apesar dele ter um maior controlo sobre si em relação a tais sentimentos, diferente da treinadora.
Portava tanto a mochila como a viola dela igual o bom mordomo que era, para, pelo menos, a aliviar daquele peso, enquanto Juliana tivesse um peso maior em si – os das preocupações. A cada passo, dava uns toques breves nas cordas, só para ver se distraia e acalmava mais a treinadora.
Vai correr tudo bem. Afinal, é como o velho ditado diz: Todos os caminhos vão dar á Grande Cratera de Paldea. – Tamar grunhiu, dando mais uns toques breves no instrumento.
Juliana esboçou na face um sorriso discreto, apesar de breve e forçado pois a situação onde estava inserida não permitia maiores alegrias. Mas o seu maravilhoso Tamar precisava de receber tal sorriso, pois o seu crocodilo estava a aprender rápido a tocar no instrumento musical só a observá-la, pois poucas instruções foram aquelas que ela lhe dera.
– Devia ensinar-te a tocar mais vezes… Já que não conheço ninguém para fazer um grupo musical, pelo menos teria meus Pokémon de confiança ao meu lado. – ela resmungou para si. – Fazer que nem minha mãe faz na equipa da padaria. Vocês seriam melhores que pessoas.
O crocodilo podia tocar á vontade, pois não iria incomodar ninguém já que tudo por ali parecia solitário e desértico. Pelo menos, fora essa a sensação que Juliana tivera sobre o corredor numa hora ao qual ele devia estar era apinhado de gente apressada para as aulas. Nenhuma alma viva misturava-se na paisagem.
Vez ou outra, o crocodilo também cantarolava, lá na sua língua característica de Krokorok. Pelo tom de suas vocalizações, era alguma canção da treinadora, que este aprendia só a ouvir e tentava copiar a melodia conforme podia. Se ele fosse um Chatot, copiava as frases da treinadora com maestria.
Porém, em certo ponto, uma outra melodia misturou-se com a música melancólica que Tamar formava com a ponta de seus dedos.
E essa mesma melodia fez Juliana imobilizar-se por completo no meio do corredor vazio.
Tamar, que a seguia, quase desequilibrou-se contra ela, devido á súbita paragem. Ele próprio parou de vibrar as cordas.
– Esta música… É me familiar… – refletiu, fixando Tamar. – Parece mesmo a mãe a tocar…
Estamos mesmo perdidos… Aqueles adolescentes nos devem ter enganado como eu previa. E até agora não vi ninguém por aqui… – grunhiu o Krokorok, ao prestar mais atenção ao som. – Vamos procurar o autor desta canção. Talvez ele nos consiga ajudar com indicações.
Ambos deixaram-se guiar pelo som mágico das teclas do piano que inundavam o cenário, e os passos de ambos apressaram-se à medida que a música distante ganhava mais vida.
Muitas das portas do longo corredor encontravam-se entreabertas, revelando em seus interiores o formato distinto das diversas salas de aulas vazias com seus quadros, mesas e cadeiras características. Umas salas eram autênticas oficinas, tanto que as portas se diferenciavam por contarem com enormes janelas que davam acesso a uma visão recheada de materiais complexos, ferramentas de construções simplórias que não passavam de confusos trabalhos inacabados em peças de madeira, cerâmica, ou outros materiais comuns em artesanato.
Mais uma vez, não se avistava ninguém, pelo menos até chegarem e uma grande porta dupla, aberta de par em par, de onde a música saia, bem nos fundos do corredor, distante das restantes salas.
– Esta música parece a que a minha mãe tocava quando ela ainda usava o seu piano… – a jovem acrescentou, fitando a entrada, apreciando a música bem mais perto.
Com os olhos esbugalhados de curiosidade, Juliana espreitou para dentro, e prendeu-se em tudo o que ouvia e via por alguns momentos, pois todas aquelas notas lhe enchiam de memórias.
E agora, se encantava com a visão.
Uma visão que era carregada de genuína emoção e nostalgia.
O espaço era um autêntico paraíso para amantes de música, pois estava recheado de instrumentos de todo o tipo e feitio, expostos em mesas enfileiradas em U. As paredes eram forradas com placas de cortiça, pois tal material era um excelente isolador acústico, e assim evitava o barulho dos alunos com os instrumentos durante aulas propagar-se mais alto até as restantes salas e áreas do edifício. O ar era inundado pelo desinfectante dos materiais e aroma característico das placas das paredes, e tal simples lado olfactivo parecia diferenciar bastante aquela sala dos restantes espaços da Academia por si só.
Porém, o que mais se realçava no cenário, era um grande piano em frente a todas as mesas da sala, como um músico em frente a uma grande plateia invisível.
O homem que o tocava devia ter mais de cinquenta anos, e portava uma capa verde presa a um casaco da mesma tonalidade, que contrastava com uma blusa interior preta e uma gravata vermelha. Os seus dedos enrugados e esguios dançavam em cima das teclas do seu piano tamanha a sua perícia, e Juliana nunca antes vira habilidade igual.
Os olhos amarelos do homem eram penetrantes e serenos, como os de um dragão errante, mas ele era tanto experiente que não precisava de encarar as teclas para sentir a música e saber que estava na tonalidade certa.
Juliana recuou um passo, e encolheu os ombros, quando por fim, notou que ele a fitava intensamente, apesar dela se ter aproximado da porta sem fazer barulho algum.
Foi como se ele já a esperasse.
Mas o homem entregou um sorriso discreto, e não parou.
Continuou a tocar.
Sabia que aquela jovem e seu Krokorok apreciavam a melodia tanto quanto ele, deixando-se flutuar no mundo ao ouvi-la, e não queria estragar para já a experiencia de seus dois únicos espectadores.
Juliana, ali, parada, engoliu a seco, mas não conseguiu mover um músculo sequer, pois sabia que aquela música era especial de alguma maneira e o seu mínimo movimento tornar-se-ia uma ofensa. Era uma melodia que lhe recheara a infância, e contribuíra imenso para o seu gosto por música, e continuava tão boa, tal igual ao que se lembrava, apesar de executada por uma pessoa distinta, sendo que ela já não a ouvia há anos.
Ela não conhecia o pianista, mas não queria que ele parasse, e continuou parada fora da porta, observando toda aquela habilidade e paixão, pois seu talento era evidente, enchendo a sala de paz e tranquilidade.
Passados uns dez minutos, o homem rasgou um sorriso mais forte, e entregou as últimas notas nas teclas, num clímax final da melodia.
Então? Gostaram? O que acharam?...
...