Archive for janeiro 2023
Depósito de desenhos - Floresta do Grafaiai #03
Desenhos Aleatórios
Notas da Autora #01 - Prólogo e Capitulo 1
As minhas origens criativas para a escrita do Prólogo foram bem interessantes, e, como não sei bem o que escrever mais nestas Notas iniciais, será o que por agora irei desbravar. Para começar, eu escrevi este Prólogo de rajada numa noite depois de ficar inspirada. Eu não escrevia à vários dias e ''záss'', acabei madrugando nesse dia. Foi uma noite bem louca. Depois adicionei pouca coisa, aqui e ali sempre que ia reler o texto. Não sei o que vocês acham, mas é um dos meus melhores trabalhos em nível de escrita nos últimos meses.
A parte final deve ser uma das partes mais recente do Capitulo em termos de escrita. Eu o escrevi antes de mandar para meu revisor junto com o Capitulo 1. Ao Sombrinha - Autor de Aventuras em Hoenn - agradecimentos especiais, não sei que macumba ele faz mas os Capítulos depois de passarem pelas mãos dele ficaram ainda melhores. Antes o Prólogo só acabava quando a Sada dizia seu nome e era isso, mas achei que precisava de um final melhor, que relembrasse que a história é um romance recém publicado como decidi enquanto escrevia o Capitulo 1.
Um rascunho inicial do Prólogo contava com uma cena final descartada onde a Sada lia um livro ao seu filho, Arven, semelhante a uma cena do filme de animação da Disney, Planeta do Tesouro (amo esse filme e essa cena, não me julguem, me inspira sempre). Decidi cortar essa parte, deixando bem em aberto quem seria o autor do romance. Foi também esse o final que me fez usar o Arven como protagonista do Capitulo 1, (re)escrevendo em outro contexto.
Sobre a ideia do Prólogo em si: Para a minha base de inspiração principal na altura, utilizei um facto interessante de uma quest do jogo Pokémon Legends: Arceus. A quest em questão chama-se Traces of a Lost Village, onde diz que um membro da Guilda Ginkgo tem descendência de uma civilização antiga em Alabaster Icelands. Não utilizei a história indicada na mesma quest (que tem relação com Snorunt), mas serviu de referência para um background sobre as possíveis origens da Guilda, já que é a família do Santiago, um dos meus protagonistas futuros da fanfic. O Santiago protagonizou o Oneshot que utilizei para concorrer à vaga da região. Em breve pretendo dar uma polida e publicar por aqui no Blog esse Capitulo, não se preocupem.
Então, imaginei, num antigamente muito distante, uma seca enorme que tenha sido o gatilho para famílias saírem de suas casas, começaram a se relacionar com outras trocando comida e abrigo para sobreviverem. Assim a Guilda fundou-se.
Sempre imaginei que os restos de civilizações que se encontram por Hisui eram parte da velha Ransei, ou seja, a ‘’Pangeia’’ do mundo Pokémon, que foi a Região que eu escrevi antes aqui na Aliança. Assim, podemos considerar o Prólogo como uma espécie de ''transição'' minha como Autora de uma região para outra, pois no fundo, comecei a escrever este Prólogo a trabalhar com ambas as regiões ao mesmo tempo (apesar de agora desconsiderar isso na história da fanfic).
Sempre quis usar qualquer coisa com os Ginkgo fora de Hisui, e dar um toque especial meu a essa Guilda na tal Oneshot. O Prólogo começou por ser uma maneira de dar sentido à família do Santiago. Uma das referencias mais marcantes que deixei a essa ideia fora a folha da árvore. Palavras e nomes usados com relação a Hisui/Ransei foram removidas, para entregar a ideia de a Sada vir de um passado desconhecido e assim não tocar muito mais em outras regiões além de Paldea.
Além de Legends Arceus que foi um jogo que adorei de inspiração, também me inspirei em lendas de amantes e lendas de amores proibidos, muito típicas de Portugal, isto inclui a lenda portuguesa do milagre das rosas e a lenda portuguesa das amendoeiras em flor, para dar um toque mais ‘’Paldea’’. O final era para ter uma referência maior a essas lendas, mas preferi a forma como terminou assim.
Naquela altura eu não sabia nada sobre a história dos jogos, como já referi, mas eu via os rumores mencionarem um amor proibido sobre um casal que vive em linhas temporais diferentes. Ou seja, que Sada e Turo eram um casal. Acontece que os leaks se referiam era a eles serem pais de Arven (já que nunca são vistos juntos dentro do jogo).
Bom, eu vou me arranjar para adaptar o verdadeiro significado do Prólogo mais tarde, tenho uma mão cheia de ideias que parecem promissoras, além disso, fanfics não precisam ser 100% fieis ao jogo. O que farei será consoante as ideias e inspiração me permitirem. Vários rascunhos foram feitos e descartados, mas cheguei a um bom caminho por onde começar graças a eles!
Sobre o Capitulo 1, por muito que eu ame este jogo e suas História, tenho sempre um pouco de sal para alguns dos seus elementos. Um que não faz lá muito sentido é o Koraidon/Miraidon e Arven em Cabo Poco, pois o jogo não explica exatamente como Arven tem em mãos o Pokémon. Fui pegando em umas coisinhas que os diálogos do jogo indicam mais tardiamente, tentai fazer uma correção e adaptar à minha própria maneira esse encontro, como também as motivações que levaram o Arven até ''sua aventura''.
Foi bem refrescante trabalhar com Arven, não era propriamente a personagem que eu queria usar para iniciar a fanfic, mas as coisas foram fluindo com natureza e adorei o resultado. Também consegui um pouco de espaço no meio das cenas para a nossa protagonista, que apareceu na sua caçada ao Cyclizar estranho. Próximo Capitulo em principio terá mais dela. Muito mais, e dos seus Pokémon.
Capítulo 1 – A Visita ao Farol
–
Não acredito que eles tornaram a história da professora Sada num romance piroso
– comentou um garoto, com reprovação – Botando uns bichos imaginários à
mistura.
–
A Sada não aparece na midia faz anos, eles tinham que lucrar com alguma coisa
em nome dela – comentou outro jovem, na mesa do café das proximidades.
Um
rapaz carregado com uma enorme mochila, descia a rua, cabisbaixo, acompanhado somente
por um Pokémon cão de pelagem escura, de uma espécie conhecida por Mabosstiff.
Era um dos poucos por ali que não tinha um livro daqueles em mãos.
Apesar
de Los Platos ser uma vilazita pacata, quase insignificante, no meio do nada a
sul de Paldea, as palavras do mais famoso Best-Seller
do ano já chegaram às suas ruas, trazidas pelos alunos da maior Academia da
região que por ali viviam.
A
partir do momento que o livro fora publicado e tornara-se sucesso de vendas, o
rapaz se apercebera que os seus dias de descanso estavam contados. E a chegada
do novo livro sensação do ano a Los Platos significava que agora o descanso
acabava mesmo oficialmente.
–
Além de piroso, tem essa treta toda de passado e futuro, ainda por cima, já não
basta levar com isso nos trabalhos da escola – debochou um dos alunos, com o
livro na mão, esfolheando-o. O título Passado,
Presente, Futuro era o nome gravado em sua capa encarnada, em longas letras
douradas.
–
Então se não gostas porque ainda estás lendo essa porcaria? – provocou uma
outra rapariga, das poucas que não tinha os olhos no seu próprio exemplar.
–
Eu sei lá, eu sei que não passa tudo de ficção, mas… Mas tem aqui qualquer
coisa que… – e calou-se de súbito, quando notou o rapaz de mochila amarela e
seu cão descendo a rua.
Por
onde ele passava, as pessoas eram mesmo assim, paravam de falar normalmente
como de costume, e começavam logo na troca irritante de olhares e sussurros
desconexos, por isso, ele sentia um certo nível de pressão em cima dos ombros,
o que aumentava seu olhar sério sempre que acontecia. O rapaz deu uma dentada
numa berry que trazia, com ar insatisfeito. Até mesmo o Mabosstiff adotava
outra pose, partilhando o mesmo sentimento do dono.
Essa
pressão só não era pior que a presença de um certo grupo de jovens em
específico, estes utilizavam fatiotas bizarras, tais como capacetes cheios de glitter e óculos de sol em forma de
estrela. Era um grupo de adolescentes rebeldes formado à cerca de um ano, após
uns certos problemas entre os jovens da Academia. Mas estes seres enfeitados
como estrelas deviam ser os piores entre todos os adolescentes de lá. Os
adolescentes normais, ou se distanciavam, ou dirigiam apenas olhares tortos com
as bocas caladas.
Já
aqueles, diferente dos demais, sempre que viam a oportunidade certa, tentavam
abordá-lo da forma menos educada possível.
E
ele odiava esse incómodo.
O
Mabosstiff deu uma pequena latida, baixa o suficiente para seu dono só ouvir o
sinal. Graças ao aviso soturno do seu Pokémon, o rapaz notou então um desses
tais jovens, a espreita-lho ao longe, na esquina da rua mais abaixo, se
preparando para uma emboscada, expondo seu capacete ao sol e fazendo-o reluzir
como uma estrela toda cheia de mania.
Soltou
o ar num suspiro muito prolongado, acelerando o seu passo e começando a
formular algum plano na mente para evitar interagir com aqueles tristes. Hoje
não estava mesmo nos seus dias, não tinha disposição nenhuma para os aturar
outra vez.
A
pior parte de passar por Los Platos para chegar a Cabo Poco – outra vila
localizada no meio do nada mais a sul de Paldea, – era mesmo essa, aturar
aqueles adolescentes malditos, pois, infelizmente, Los Platos era um dormitório
infestado por estudantes infelizes que não conseguiam um quarto na grande
Mesagoza, – a maior cidade de Paldea que abrigava a Academia Naranja e Uva.
–
O melhor do livro é o Diretor Clavell dando uma de pesquisador importante no
final do primeiro Capitulo – Comentou mais um jovem, com uma gargalhada irónica,
sentado na esplanada do único Centro Pokémon de Los Platos, mesmo ao lado do
local onde estava o maldito ser com capacete cheio de glitter.
De
facto, este jovem conversava com ele, e, pelas vestes, pertenciam ao mesmo
grupo arruaceiro.
–
Sim, desde quando o velho diretor é assim tão heróico? – o tal adolescente, em
questão, concordou com o companheiro.
Apesar
dos seus passos rápidos, e não estar nada interessado em receber spoilers daquele maldito livro, seus
ouvidos captaram algo deveras interessante: finalmente passava por jovens que não
abaixavam o tom da conversa.
Mas
logo lembrou-se: entre tantos, era uma quantidade insignificante… E de que
valia essa dignidade se eles pertenciam àquele
tal grupo.
O
rapaz do capacete esquisito já estava a meio da rua, a escassos centímetros de
si, pronto para puxar conversa. Mabosstiff deu um desvio para debaixo da mesa da
esplanada sem ser percebido, e mordeu a perna do jovem que esfolheava o romance
lá sentado.
Este
soltou um pequeno ‘’ai’’ que fez o outro desviar sua atenção e atende-lho.
–
O que foi?
–
Alguma coisa mordeu-me! – e olhou para debaixo da mesa, o outro fez o mesmo.
–
Mas não à nada aqui.
Entretanto,
o rapaz de mochila amarela aproveitara a brecha de distração que o mesmo estava
a ter no diálogo com o outro e dera uma corrida, contornando o Centro Pokémon
pelo pátio de uma casa das traseiras e voltando à estrada através do outro
lado, com o cão negro correndo atrás de si.
–
Ei, viste para onde aquele puto foi? –
comentou o jovem ao amigo, completamente atordoado pelo sumiço repentino da
pessoa a quem ele tinha olho. Também devia estar confuso por não ter descoberto
a origem do tal ‘’ai’’.
– Não… Não vi ninguém…– Respondeu-o, sem tirar os olhos do seu livro enquanto esfregava a mão na perna para aliviar a dor da mordida – Hasta la Vistar, a quem quer que fosse…
Arven
não era um aluno com notas lá muito excelentes na Academia. E muito menos era um
escritor ou autor afamado, mas tinha a impressão que o mundo voltara a o tratar
dessa forma a partir do instante que aquele romance fora publicado.
Ser filho de uma pessoa famosa não era nada
fácil.
Agora,
em segurança, já ultrapassava a ponte pelo pequeno riacho que banhava as
proximidades de Los Platos, se dirigindo para o grande farol distante no
litoral. Por ali a caminhada era agradável. As árvores ofereciam uma sombra
refrescante, e o aroma do mar se intensificava consoante a chegada ao seu destino.
O
cão negro farejava o ar. Não estava se certificando se existia algum perigo à
espreita, pois aquele trilho era sempre seguro. Apenas procurava algum Skwovet
de ar delicioso que pudesse perseguir, ele adorava brincar com aqueles esquilos
gulosos.
Ao
fim de cerca de trinta minutos de caminhada, as árvores começaram a se
dispersar ao longo do trilho, até uma estrutura elevada se erguer no topo de um
promontório. O bom tempo e o sol brilhante banhando as águas do mar que se
estendiam em todo o horizonte de Cabo Poco eram sempre um aspeto bem
convidativo aos habitantes locais, que subiam o grande farol para receberem
aquela bênção de Arceus.
Portanto,
a primeira coisa que fez mal chegara, foi se certificar se estava, ou não,
sozinho. Para isso começou por se atender ao silêncio. Quem ia até ali tinha o
costume de ser bastante barulhento, um barulho que ecoava por todos os cantos,
e parecia mais intenso que os grunhidos dos grupos de Lechonk que por ali
existiam na mata. Depois olhou para o chão, os jovens eram pouco higiénicos e
deixavam sempre qualquer papel, lata de refrigerante, ou qualquer outra coisa
de ar duvidável pelo passeio da rua em vez do interior dos baldes do lixo. Por
último, subiu o farol, só pela certeza se existia mesmo alguém lá em cima
fazendo qualquer coisa na calada. Até mesmo o cão negro ajudou na tarefa, dando
umas corridas nos arredores e inspecionando locais na orla do promontório onde
era demasiado perigoso o seu humano ir.
Mas
nada. Estavam completamente sós, então, o rapaz tentou ser o mais rápido que
pode.
Foi
com a mão ao bolso e tirou uma chave, que encaixou com perfeição na fechadura
de uma das janelas que existia na base do farol, mesmo ao lado da escadaria que
ia para o seu topo. Confundia-se como janela, por ser idêntica à janela do
outro lado da parede, mas era, na verdade, uma porta de madeira velha, cujas
cascas de tinta caiam aos montes pelo chão.
A
porta estava dura, e, depois de destrancada, só se abriria com o auxílio de um
pequeno empurrão.
A
maior parte das pessoas que passavam sobre o sítio (que facilmente passava
despercebido), achavam que era um simplório quarto de algum pescador, onde se
guardavam varas ou linhas de pesca. Ou então pertencia ao faroleiro, e era onde
este depositava todo o material relacionado à manutenção do farol.
Sim,
já fora em tempos ambas as coisas, mas agora… Era algo… Algo mais.
Depois
de investir, mais uma vez, seu tronco inteiro contra a porta, conseguira abrir
a mesma por completo. O ar húmido e empoeirado fê-lo espirrar diversas vezes. Arven
apressou-se a fechar a porta para não chamar a atenção de ninguém depois do seu
Mabosstiff entrar. Foi então abrir a janela que estava virada para o mar,
deixando os raios de sol penetrarem o quarto e a maresia purificar o sítio por
inteiro com o seu aroma salgado.
O
local era bem escuro, apesar da janela aberta com as cortinas arredadas. A
única luz artificial existente era a de uma quantidade exorbitante de
computadores ligados a um gerador próprio que se acumulavam ao lado de livros e
documentos soltos numa grande secretária. Aquela parte do quarto era como uma
grande sala de pesquisa privada, daquelas desarrumadas, que não eram usadas
fazia anos. O quarto também tinha uma pequena cozinha, casa de banho e camas
numa zona à parte.
Era
um sítio muito pequeno e simples, mas tinha tudo o que era essencial para duas
ou três pessoas viverem com seus Pokémon. E, se tudo fosse bem limpo, ficaria
com um ar mais acolhedor.
O
rapaz agradou-se com essa súbita ideia mirabolante. Pousou a sua mochila
amarela em cima da mesa da cozinha, prendeu o cabelo comprido num rabo de Mudsdale,
arregaçou as mangas e pôs mãos à obra na faxina do local, enquanto o seu
Pokémon dormia numa cesta cheia trapos, demasiado pequena para ele nas
proximidades do sofá.
Arven
varreu o chão, lavou o chão, limpou o pó, sacudiu os tapetes, aspirou o sofá,
lavou e mudou os lençóis das camas, limpou o frigorífico, deitando fora restos
de comida estragada que estava para lá acumulada, e repôs com alimentos frescos
que trazia no interior de sua grande mochila. Só não organizou melhor a
papelada da secretária e os computadores pois achou que era melhor não tocar
muito mais neles, os deixando assim, como ela
sempre pretendia.
Sentou-se
no sofá, atirando o corpo para trás, depois de terminar seu serviço. Já era o
final do dia e o sol, baixo no horizonte, se preparava para o início do
crepúsculo. Mabosstiff bocejou, e aproximou-se devagar, deitando-se aos pés do
jovem. Ele deu-lhe uns biscoitos saborosos para Pokémon que removera do bolso.
–
Talvez seja desta… – murmurou ele para o Pokémon, que pareceu responder num
pequeno latido após sentir os dedos do humano roçando em seu lombo.
O
quarto estava completamente diferente do estado degradado pelo qual este se
encontrara antes. Estava mais fresco, novamente habitável, e o rapaz apreciava
sua obra-prima, satisfeito.
Finalmente
reconhecia a cara do seu antigo lar.
Naquele
dia, não soube bem o que o moveu a voltar ali e fazer aquilo, pois, depois de
se mudar para os dormitórios da Academia, se voltava ali uma vez por ano já era
muito. Ele sempre teve um pequeno problema a pensar em organização, germes e
sujidade, o que o levava a limpezas constantes no seu quarto na Academia de
Mesagoza.
Como
o livro fora um sucesso, o nome da sua mãe estava novamente nas bocas do povo
de Paldea, talvez ela voltaria até
ali. Talvez voltasse até ele, e o abraçaria e agradeceria por manter aquele
pequeno cantinho tão especial limpo e arrumado após tantos anos.
Mas,
tal como ele já imaginava… Ninguém que ele queria apareceu por ali nas semanas
seguintes e nem apareceria nos meses vindouros…
Tal
como todas as modas, o mal vinha e logo passava num piscar de olhos, portanto,
agora que o livro já não era tão comentado e caíra no esquecimento algures nas
prateleiras de alguém, Arven se preparava para selar novamente o local por
tempo indeterminado.
Não
iria por lá os pês outra vez assim tão cedo. Não valia a pena continuar a
esperar por quem não aparecia.
Se ela não voltou naquela altura, não iria
mesmo voltar mais.
Fez
uma limpeza superficial, para pelo menos deixar uma ou duas coisas em condições
antes da saída. Se bem que não precisava de nada profundo, em breve já estava
tudo preenchido com poeira, teias de Tarountula, terra pelo chão e os vidros
das janelas cheios de sal.
Numa
breve pausa para descansar e beber água, lembrou-se de ir a um dos
computadores, ver se recebera algum e-mail importante sobre algum trabalho ou
qualquer coisa relacionada com a Academia Naranja e Uva.
Não
tocou nas coisas da mãe, e abriu o e-mail num separador à parte. Aproveitou para
ver se os mesmos computadores ainda funcionavam corretamente e se nunca se
haviam desligado entretanto, como ela pretendia. O rapaz nunca entendera
porquê, mas acreditava ter algo relacionado aos estudos dela. Não entendia
absolutamente nada das equações nem dos dados expostos nos ecrãs, mas isso não
importava muito para ele pois nunca fora fã de ciência nem matemática. Apenas
imaginava que, se os computadores se desligassem, a mãe perdia tudo aquilo, e
era um trabalho que devia ser valorizado.
Suas
manias bateram forte, o que o fez organizar a papelada. Não era sempre, mas das
raríssimas vezes que ia ao computador nas raríssimas vezes que voltava àquela
casa, puxava sempre um papel aqui e ali e empilhava um livro ou outro que
estivesse solto no topo da secretária numa posição que o incomodasse.
Mas
naquele dia em particular, achara algo especial.
Puxou
um pacote de papel bem farto com aquilo que julgou ser cartas importantes
relacionadas com laboratórios aos quais a mãe colaborava, acontece que o envelope
estava aberto, e, em vez de despejar uma chuva de cartas pelo meio do chão,
como se era de esperar, do seu interior saiu um livro de capa encarnada.
O
Livro Escarlate, ou Scarlet Book,
como muitos também o tratavam, era um registo de uma expedição realizada na
Grande Cratera de Paldea por um tal professor Heath. Fora em tempos um livro
famoso devido às criaturas demasiado inacreditáveis que ilustravam suas
páginas, mas agora as pessoas só o referiam nas aulas das escolas vez ou outra
e pouco mais.
Porém,
o rapaz estranhou o livro ali pois ele muito bem sabia o quanto a sua mãe amava
aquele livro desde miúda, e ia sempre com ele para onde quer que ela fosse,
como um amigo inseparável. Tanto que muitas coisas nele foram usadas de
inspiração no tal romance publicado semanas atrás como homenagem a tamanha
paixão.
O
Pokémon cão do rapaz também encarava o objeto no chão, com muito espanto. Pegou
nele com sua boca e entregou ao dono.
–
Obrigado rapaz – agradeceu, dando-lhe uma caricia no focinho e umas palmadinhas
no lombo depois de receber o livro. – É um pouco estranho a mãe não ter levado
isto para a Área Zero consigo, não achas?
O
Pokémon piscou os olhos, abanou a cauda diversas vezes, indo na direção da
porta, rapando na mesma, pedindo para sair. O Mabosstiff estava certo, estava
na hora de ir embora. Mas o rapaz sentiu um incomodo muito grande agora que
encontrara o livro ali e o tinha em mãos.
Se
bem se recordava, era um dos maiores tesouros dela…
E
ali ele se encontrava, sempre esteve ali, aquele tempo todo, aqueles anos
todos, e ela nunca fora à sua procura.
Mesmo
que existisse uma quantidade enorme de exemplares igual àquele pelo mundo todo,
sua mãe não iria trocar aquele em específico por nada.
Ela
não aparecia na midia, não vinha a casa, não correspondia às homenagens por ser
a estrela de um livro de ficção qualquer, não atendia telefonemas nem respondia
e-mails, tanto que o rapaz já desistira de enviar-lhe algo pois não queria
receber outra mensagem automática.
Algo
não estava certo…
Nada
certo…
Na
soleira da porta, antes de a trancar, o jovem desviou o olhar para cima das
árvores, como um gesto automático. Ao longe, entre as nuvens distantes, era
possível ver o cume das montanhas mais altas que contornavam a longínqua
cratera. A Grande Cratera de Paldea sempre contara com um poder anormal em
despertar o interesse de humanos e Pokémon para o que quer que a mesma
escondesse nas suas profundezas.
Então
algo passou pela cabeça do rapaz.
Uma
loucura.
O
Mabosstiff encarou o dono, com entusiasmo, como se lesse o que lhe vinha no
pensamento.
Ambos
estavam prestes a infringir leis e a cometer um ato irracional.
Assim, Arven agarrou o livro escarlate e ao lado de Mabosstiff caminhou então em direção á aventura… Em busca das respostas que ansiava.
Tal
como ele imaginava… Ninguém por ali apareceu nas semanas seguintes e nem
apareceria nos meses vindouros…
Pelo
menos… Ninguém que o rapaz esperava mesmo ver voltar.
Enquanto
o rapaz e o seu cão se ausentavam nas semanas seguintes, lá na sua louca
aventura e se expondo a morte certa, uma criatura alada cruzou os céus certa
noite, pousando bem no topo do farol.
Após
suas patas tocarem na calçada da superfície do topo do farol, o bicho estranho
sacudiu as penas fazendo estas terlintar como peças de uma enorme armadura embatendo
entre si. Depois, farejou o local, e desceu a parede até a porta lá em baixo,
como se fosse um lobo inspecionando uma antiga moradia à luz do luar.
A
chegada daquela criatura desajeitada deu nas vistas. Muito nas vistas. Muito
mais do que devia ter dado originalmente.
Para
começar, o pessoal da Academia Naranja e Uva o avistaram cruzando os céus na
mesma noite da sua chegada, quando este ser saíra da cratera e planara em
direção ao mar, sobrevoando as maiores torres da Academia Naranja e Uva. Um enorme
vulto negro no céu chamava logo as atenções, principalmente se o mesmo surgisse
bem por cima de um edifício histórico e muito frequentado, quer fosse dia ou
noite.
Depois,
vieram os ruídos estranhos que não deixavam a população de Los Platos dormir, nem
a população de Cabo Poco. Os pescadores reclamavam do súbito desaparecimento de
peixe no mar, pois a quantidade de peixe apanhado nas redes e mordendo os iscos
já não era mais a mesma. Grupos de Pokémon que por ali habitavam também andavam
agitados, como se persentissem a existência de um grande predador à solta,
principalmente os Houndour que dominavam as grutas profundas que se estendiam
pela costa.
Uma
lagartixa com penas, um Cyclizar estranho… Eram alguns dos nomes que as
testemunhas inventavam quando tentavam descrever a enigmática criatura, que se
tornara rapidamente uma lenda de Cabo Poco e Los Platos.
Parecia
mesmo um bicho tirado dos livros e contos de fadas. Uns diziam que as criaturas
fantásticas do romance ganharam vida. Já os mais velhos se recordavam da
presença de um ser semelhante anos atrás, mas com uma comparência muito menos
frequente e explícita, pelo infortúnio de muitos.
Se
era ou não a mesma criatura, ninguém, por enquanto, podia saber.
Porém,
Cyclizar selvagens não eram Pokémon lagartos que costumassem tomar Los Platos
nem Cabo Poco como habitat, apesar de serem uma montaria bastante popular em
toda a Paldea.
E
em sítios onde aparece bichos raros e misteriosos, ou, neste caso, um Cyclizar
selvagem, aparece sempre alguém aventureiro, com o desejo de domar um.
–
Tentai não olhar para fora.
–
Respirei fundo outra vez.
Nunca
fora fã de livros. Na verdade, ela odiava ler. Mas, naquele mesmo dia, por
coincidência qualquer, quando não tinha mais que fazer, pegara naquele romance
para passar o tempo e o lera todo de uma ponta a outra em poucas horas.
O
havia dado à mãe no seu aniversário à uns meses atrás, a mãe adorava livros de
gente famosa, acontece que a mãe quando tocara naquele nunca fora muito além na
leitura dos primeiros capítulos, e ela tinha interesse em saber o porquê, mesmo
que a mãe afirmasse que amara o seu presente.
Será
que aquele livro era, na verdade, assim tão mau?
Sentira
ruídos estranhos na rua quando recomeçara a leitura uma terceira vez, e por
isso, decidiu ir apanhar o ladrão por conta própria.
Já
sabia sobre as noticias locais. Dias antes os vizinhos reclamavam sobre um
Cyclizar peludo em Cabo Poco, e ela sempre sonhou em capturar um desses
lagartinhos incríveis e com ele percorrer o mundo inteiro. Sua casa também
aparecia com os jardins destruídos e os cultivos da sua mãe todos esgravatados.
Os vizinhos reclamavam do mesmo em suas moradias. Não podiam ter nada cultivado
que os legumes logo desapareciam.
– Não.
–
Não estava a sonhar.
Enquanto
narrava para si algumas das frases que mais a marcaram naquele que viria a ser
um dos seus mais novos romances favoritos, (como se ela já tivesse lido uma
biblioteca inteira em sua vida toda) a jovem caminhava, procurando ser mais
leve que uma pena, indo sempre em frente de forma furtiva.
Sua
perseguição e investigação a levara até uma praia mais abaixo de sua casa. A
areia fria debaixo dos seus pés amansava o barulho dos seus passos, tanto que
ela só conseguia ouvir as ondas da maré, o respirar da criatura, e o bater do
seu próprio coração.
Ainda
estava longe, mas conseguiu avistar o vulto, reconhecendo ser o mesmo dos
rumores.
No sopé do promontório, um grande lagarto esgravatava numa lata de lixo caída, comendo restos de comida à boca cheia.
A
rapariga tremia da cabeça aos pés. Ele era muito maior do que ela imaginava,
principalmente quando aquele bicho abria a sua crista para cima, esticando a
coroa de penas como um grande rei.
–
Queria ficar ali assim com ele. Queria
que isto durasse para sempre.
Imobilizou
os passos, e ficou analisando aquela coisa vários minutos que mais pareceram
horas. Ela viu a parte do corpo que devia ser a cabeça a erguer-se para cima,
com a coroa toda esticada.
Num
movimento súbito. O lagarto olhou para trás.
Olhava
para ela, surpreso, pois se apercebera finalmente que não estava sozinho.
A
jovem amava música, e achava aqueles pequenos excertos do romance magníficos.
Eram inspiradores. Enquanto pensava neles, deixou-se levar demasiado pelo ritmo
que cada palavra formava em sua língua, pois falar sozinha e dizer em voz alta
os seus pensamentos, era uma das suas características mais marcantes.
–
Mas um trovão ressoou ao longe, e foi
como se eu fosse atingida pelo raio – narrou, baixinho, saboreando as palavras.
Deixar-se
levar foi um pequeno erro que podia ser insignificante, mas em situações como
aquela, foi um erro muito tolo.
O
lagarto agitou-se, como se dança-se ao som da melodia que a humana soltara, e
ela foi rapidamente com a mão ao bolso, agarrando uma esfera bicolor.
Ele
não podia fugir agora que ela já estava tão perto!
Mas,
infelizmente, foi o que acontecera.
Num
abrir e piscar de olhos aquele bicho enorme deu um pulo e voou para além
daquilo que a sua vista conseguia alcançar no meio da penumbra. Muito antes da
Pokéball atingi-lho.
A
rapariga fracassada começou a rir, a rir muito, para lá sozinha, a rir de
nervosa, no meio da praia naquela noite particular. Riu tanto, mas tanto que
deixou seu corpo cair para trás, ficando deitada na areia entre as dunas, de
barriga para cima, observando as estrelas cintilando lá no alto.
Aquilo
tudo fora uma das coisas mais assustadoras que já lhe acontecera na vida.
– Queria que isto durasse para sempre…
Respirou
fundo, continuando a cantarolar e a buscar as palavras certas para alguma
melodia sua. Esfregou os braços e as pernas na areia, como se tivesse a
desenhar algum anjo na neve. A luz do farol, vez ou outra, rasgavam o céu
cintilante, e ao ser hipnotizada pelo fenómeno, a rapariga sentiu-se viva por experimentar
uma noite tão selvagem como aquela.
Tirou
do bolso o seu Rotom Phone e começou a anotar as letras da sua nova canção.
Ficar acordada até bem tarde na madrugada dava-lhe sempre frutos na
criatividade. Também tirou do bolso um pequeno cantil com um líquido suspeito.
Sua
família ficaria decepcionada se descobrisse que ela bebia aquilo, mas no
momento não se importava e não pensou nisso. Afinal, só um bocadinho não fazia
mal.
Quando
terminou de escrever no Rotom Phone, então, do nada, num gesto de revolta por
saber que ela não devia ter cantado pois cantar estragara sua caçada ao
Cyclizar, gritou tão alto, mas tão alto, que se tivesse mais perto de casa, de
certeza absoluta que furaria os tímpanos dos vizinhos:
–
ESTA MOTOCA UM DIA SERÁ MINHA!
Naquele
mesmo dia, não era apenas uma adolescente louca qualquer no meio de uma praia
distante a usar o romance para proferir uma canção.
Horas
mais tarde, onde quer que estivesse, algo semelhante acontecera com Arven bem
no final da sua pequena missão, que rapidamente se provou desastrosa.
–
Vento…
–
Um vento frio…
As
palavras soavam como uma canção de embalar. O ar deixou de ser escuro e
abafado, e, quando deu por si, estava muito mais além.
Voava
além das nuvens.
Não
se recordava de muita coisa do que acontecera. Sentia-se zonzo, como se
acordasse a meio de um sonho. A claridade súbita da luz do sol não o deixava
abrir os olhos, mas sentia que estava em cima de algum Pokémon voador, que
atravessava o céu a uma velocidade impressionante.
–
Finalmente vento!
Em
breve estaria longe do local onde tudo aquilo acontecera. Não sabia se tinha
mais alguém com o Pokémon que o resgatara, mas sentia as suas feridas a
latejar, e tinha certeza absoluta que o sangue ainda lhe escorria pela testa ou
outros ferimentos que tivesse no corpo.
As
letras da canção eram-lhe familiares, como também a voz de quem as cantava, mas
não se lembrava. Não conseguia se lembrar de nada.
Pelo
menos até, entre a melodia, ouvir um grunhido familiar.
–
Ma… Mabosstiff… – tentou dizer,
reconhecendo o som do latido.
Só
então se apercebera que tinha o seu cão ao seu lado.
Tentou
forçar um pouco mais a vista para tentar ver como o seu companheiro estava após
o incidente.
Mas
sentia-se tão cansado, tão tonto, tão dolorido, que deixou-se ser embalado pelo
vento, pela melodia, por toda aquela sensação de proteção e serenidade.
E
então, apagou outra vez, muito antes de descobrir para onde o seu salvador o
levava.
Prólogo – Passado, Presente, Futuro
Fechei os
olhos, respirando o ar abafado da manhã.
As
rodas da carroça que me mantinham em cativeiro continuavam o seu ritmo monótono
do costume, nunca aceleravam, nem nunca abrandavam. Por vezes, eu mal notava
que estávamos em constante movimento.
O
céu claro conservava seu horizonte pintado por uma montanha distante, limpa, sem
nuvem alguma a encobrindo. Meus avós sempre diziam: Quando nuvens dominassem aquela
montanha em questão, adotando o formato semelhante a um chapéu no seu cume, era
sinal de chuva intensa nos próximos dias – quantos mais dias a montanha
continuasse descoberta, mais meses a terra não seria refrescada pelas lágrimas
sagradas de O Todo-Poderoso Sinnoh.
E
nosso povo temia tal superstição, pois não existia sinal de nuvem nenhuma há
semanas, para não dizer meses.
Grande
parte do continente estava a passar por uma fase de seca extrema, o que não era
usual tendo em conta o seu típico clima frio. Colheitas secaram, reinos caíam, pessoas
e Pokémon morreram à fome e sede. A onda de calor misteriosa estava a obrigar
muitos povos e Pokémon a adaptarem-se a novos estilos de vida, ou então, tal
como nós, saírem de suas casas e partirem para outros lados da região em busca
de abrigo e melhores condições.
Sentia
muito a falta da neve e gelo que cobria toda a minha terra natal. Nossa aldeia
fora literalmente reduzida a areia por causa do calor abrasador que o sol assombrava
por cima de nossas cabeças. Era difícil perceber para onde tanta água oriunda
da neve derretida fora parar, mas não dava para fazer nada quanto a isso, além
de procurar por um novo lar.
Muitos
mistérios ficariam para sempre por resolver – uma verdade que muitos tinham que
aprender a engolir.
Rumores
vindos de todos os lados descreviam batalhas entre monstros gigantes no
litoral, provocando tremores de terra aterradores, que logo faziam pedaços
enormes de rocha se separar do continente, formando ilhas cujo mar bravio
levava para longe, muito longe.
Mas
não passavam de rumores e não tínhamos opção de sobrevivência se ficássemos
naquele deserto escaldante. Queríamos descobrir a verdade por nossa conta em
risco e só então temeríamos tais desgraças.
Pegamos
em todas as nossas coisas, abrigámos nossos Pokémon, montámos carroças, e
parti-mos, cautelosos, para destino incerto.
Em
nossas poucas paragens, negociávamos por comida e água, trocando ou vendendo o
pouco que tínhamos em mãos e ajudando outros.
De
momento, estávamos afastados de quaisquer civilizações, caminhando por uma área
outrora lamacenta.
Tentai
não olhar para fora.
Era
muito triste avistar, em pleno dia, vários tipos de Pokémon esqueléticos esfregando
as patas na terra em busca de comida. Estes evitaram migrar, pois dependiam do
pântano que aqui existira para sobreviver, mas, mais tarde ou mais cedo, iriam
ceder ao chamado da natureza, afinal, já se encontravam a contrariar seus
comportamentos diurnos.
Respirei
fundo outra vez.
Não
sei se foi a minha respiração ou não, mas senti a lona que me encobria a
mover-se. Dentro da carroça estava, mal por mal, mais fresco do que lá fora, e
isso era uma das poucas coisas boas que me mantinham presa naquela escuridão
solitária e sufocante.
Senti
a aragem outra vez, passando pelo tecido grosso e impermeável, tocando na minha
nuca.
Não.
Não
estava a sonhar.
Persenti
toda a carroça abrandar, em segundos, até se imobilizar completamente. Ainda
esperei para saber se estava mesmo imaginando, mas não estava. O guincho das
rodas rudimentares da carroça, resultante da madeira e metal sobre a terra, deixou
de penetrar meus ouvidos.
Olhei
para fora, espreitando por uma pequena fissura da lona na parte da saída da
carroça. Vi meus cabelos serem movidos por uma brisa fresca.
Vento.
Um
vento frio.
Finalmente
vento!
Nossas
faces foram inundadas por um longo sorriso. Uma alegria descontrolada
inundou-nos a todos! Vi meus familiares saírem das suas carroças e saltitarem
de emoção.
Era
um bom sinal.
Só
foi uma pena que o momento milagroso durara pouco.
Muito
pouco.
Minha
família encontrou-se apreensiva. Eles realmente acreditaram que, com aquele
vento forte, viriam as nuvens, e, com as nuvens, a chuva tanto cobiçada.
Olhando
para o céu, lambi os meus lábios ressequidos, ainda jurei sentir neles o
refresco da rasada fria que me inundara a face escassos momentos atrás.
Meu
pai fumava um cachimbo, encostado na sua carroça, mais á frente. Eu mal tinha
notado sua presença folgada no exterior. Ele olhou para mim, com desdém.
–
Volta para dentro – mandou, de modo inegável. Sua voz era árida, tal como o
solo seco que pisávamos.
E,
sem pestanejar, obedeci á sua ordem.
Minha
família decidiu acampar mesmo ali naquela noite. Prepararam, em diversos pontos
estratégicos, inúmeros baldes de madeira vazios para coleta de água. Esperavam
desejosos o início da tempestade, uma presença futura que o vento pareceu
sussurrar-lhes nos ouvidos.
Ainda
era difícil saber se aquele vento fora imaginação nossa ou não, mas uma rajada
daquelas era sempre sinal de tempestade eminente. Apesar de eu não acreditar. Se
fosse mesmo para chover, já estava a chover a potes – a montanha sem nuvens
estava ali para provar isso.
Não
sai, nem me juntei aos meus familiares ao jantar. Era a ordem do meu pai. Não
podia.
Estava
de castigo.
Ele sabia o meu segredo.
Minha
irmã foi a responsável em me trazer o jantar, mas eu fui privada de lhe falar,
ouvir sua voz, acariciar, abraçar, tocar, ou até mesmo de ver a sua face
carinhosa. Mantive-me, por obrigação, de costas viradas, no momento que ela
penetrou os pratos no interior da minha carroça.
Não te tivesses metido em bruxarias, só vais
sair quando cumprires o castigo – As palavras escuras do meu pai ainda me
assombravam a mente.
Toda
a nossa discussão, a bofetada que ele me dera na face…
Era
uma sorte eu ter direito ao pouco alimento que tínhamos em mãos, sabia que ele
tinha sido – e ainda estava a ser – bem generoso a medir o peso das minhas
ações.
Junto
com o jantar, minha irmãzinha deixara um diário seu, o mesmo que ela usava para
escrever, desenhar e anotar tudo um pouco sobre as nossas viagens. Ler aquelas
páginas e recordar momentos antigos era uma viagem encantadora. Encontrei algo
interessante quando esfolheava-o só para passar o tempo. Uma folha seca de uma
árvore cujo nome eu ainda desconhecia encontrava-se escondida entre as páginas.
Que melhores tempos venham – Esta era a
descrição, em letras bem bonitas, gravada na superfície amarelada, por debaixo
do local da página de onde removi a folha seca.
Analisei
aquele pedaço ressequido na ponta dos meus dedos, procurando aponta-lho para a
lanterna que pendia no teto da carroça. As chamas entregavam uma luz que
penetrou na folha, tornando-a quase translúcida, e era interessante analisar a
mesma nesta perspectiva: a folha parecia um coração, com seu rebordo recortado,
quase como uma asa perdida de uma borboleta.
Liberdade – Foi a única coisa que aquilo
me lembrava, apesar de nunca ter avistado um Butterfree na minha vida. Vários
locais por onde passei tinham Venomoths, não as imaginava assim tão diferentes
– Borboletas são símbolos da liberdade.
Eu
sabia que aquelas árvores eram vistas como tão antigas como este mundo,
significavam a vida, a longevidade. Minha irmã as conhecera e ficara encantada
por elas, sua beleza e seu significado na nossa última paragem.
Só
era uma pena que a única árvore exemplar que eles tinham na aldeia estava a
morrer, com as folhas caídas encobrindo o chão, e os ramos parcialmente nus.
Mas ela ainda assim considerou aquele exemplar esplêndido, e isso foi algo que
eu apreciei bastante vindo dela.
Olhei
os alimentos. Não estava com fome alguma.
Sabia
que alguém precisava daquele pão e
daquele naco de carne mais do que eu.
Estava
a ficar cansada de seguir ordens. Cansada de continuar presa sem o ver.
Encarei
a folha seca… Liberdade… A palavra
continuou a ressoar no pensamento, como se a mesma fosse a força necessária que
eu precisava para me mover.
Esperei
mais umas horas. Até a noite encobrir todo o acampamento completamente e certificar-me
que todos já dormiam a sono solto.
Eu
podia ser apanhada por alguém em plena fuga, e sabia que era muito perigoso me
afastar do acampamento à noite, com tanto Pokémon esfomeado por ai a caçar pela
calada da penumbra.
Mas
eu não tinha medo nenhum do escuro.
E
também não estava totalmente sozinha na travessia.
Certifiquei-me
que todos já se encontravam a dormir. Agarrei numa bolsa de couro onde guardei
a comida e amarrei-a à minha cintura.
Respirei
fundo, saí da carroça em rebeldia, apesar de reconhecer todos os riscos que eu tomava,
estava mais do que na hora de ser a Venomoth que eu sentia que era.
Mantive
passos vagarosos para ninguém me sentir, esgueirando-me por detrás das outras
carroças enfileiradas em semicírculo pelo local.
Fugia
dali.
Para
o mais longe possível.
Não
sabia bem para onde iria dirigir-me primeiro. Mas isso não importava.
Ele seguia-me. Ele vinha atrás de mim para todo o lugar.
Ele estava sempre comigo. De qualquer
das maneiras, eu o iria encontrar.
Mais
cedo ou mais tarde.
Ele levar-me-ia até lá.
Eu
visitaria novamente o meu Paraíso.
E,
nem que demorasse uma eternidade, estaria novamente nos braços do meu amor.
Fica aqui em Paldea, comigo – Ouvi sua
voz doce, sussurrar-me no ouvido.
Espreguicei
meu corpo, abraçando-o mais para mim. Apenas um fino lençol branco separava o
corpo dele do meu.
Ao
nosso lado, dois lagartos repousavam, com a cabeça pousada por cima das patas
dianteiras, e, para nós dois, serviam como um género de parede de proteção. Uma
muralha impenetrável que nos separava do restante mundo, tal como todas as
altas paredes de cristal que nos circundavam.
Estava no meu mundo mais precioso… O meu Paraíso…
Do
meu lado, via a cabeça do lagarto escarlate coroada por penas brancas e azuis,
que por vezes se transformavam em asas. E do outro lado, do lado do meu
companheiro, o lagarto violeta, coroado com raios por cima dos olhos, que
exibiam o único feixe de luz que clareava todo o local. Esta luz ao atingir as
paredes claras de cristal, faziam todo aquele cantinho do mundo brilhar em
arco-íris.
Não
estava demasiado frio, nem um calor abrasador. Era um clima agradável e
reconfortante, nada parecido com o da minha terra natal – nem antes quando esta
era dominada por frio e neve, nem agora, com seu sol doentio.
Eu
sabia que estava longe, muito longe da terra que eu conhecia. Ainda não
entendia como, nem porquê, mas sabia. E, ao mesmo tempo que estava ali, desfrutando,
no meio da penumbra multicolorida, daquele espacinho tão especial com ele, sentia que não podia permanecer
por ali para sempre.
Infelizmente...
Não era a lei da vida.
Fica aqui em Paldea, comigo – ouvi sua
voz doce, sussurrar-me no ouvido, questionando-me mais uma vez a mesma pergunta.
– Por favor… Fica comigo…
Seu
tom parecia desesperado, pois queria manter-me sempre ao seu lado.
–
Desculpa… – murmurei, entristecida, enquanto lhe respondia. Uma lágrima
escorreu-me pelo rosto, cintilando, até ele
a limpar numa carícia com as costas da sua mão. – Não posso…
Desde
o momento que eu encontrara aquela fenda no tempo e aqueles Pokémon, que tem
sido sempre assim. Eles levam-me para todos os lugares que se podem imaginar. Corríamos
outros tempos, outros espaços. Quando montava no lagarto escarlate e entrava na
fenda de cristal, era como se eu recuasse no tempo, e depois, quando montava no
lagarto violeta e entrava na mesma fenda de cristal, era como se eu avançasse
no tempo.
Umas
vezes, eles atendiam meus desejos, já em outras, eles levavam-me apenas para
onde eles próprios desejavam que eu fosse. Em muitas circunstâncias, as viagens
eram uma questão de segundos, outras, pareciam horas que não teriam fim.
Muitas
vezes, eu não entendia nada do lugar que visitava, nem sua história, nem as
suas pessoas nem contextos. Já em outras, estava demasiado familiarizada com o
ponto histórico onde me encontrava.
Mas
não importava quanto tempo demoraria, por mim, podia ser todo o tempo que fosse
preciso. Para mim, podia ser a minha vida inteira. Eram viagens viciantes,
repletas de autêntico conhecimento. Poder ir onde eu quisesse e quando eu
quisesse, sem me preocupar com muita coisa, e sentir a história dos meus
descendentes e dos meus antepassados passar-me sobre a pele.
Ao
lado daqueles Pokémon de outras eras, ao lado daquele homem, e sabendo que
éramos os únicos que conhecíamos aquele Paraíso,
eu sentia que dominava o mundo todo.
Obrigado querida, pela comida, estamos a
passar imensas dificuldades – comentou ele – Não sabes o quanto eu estou grato por te ter agora nos meus braços.
–
Eu também… Espero que me perdoes. Queria mesmo ficar contigo para sempre… -
respondi, segurando a respiração para não desatar em mais lágrimas.
Eu
sentia que eu era verdadeiramente feliz ao seu lado. Não me queria separar
dele! Não me queria afastar dele! Nunca mais!
Enquanto
lhe acariciava o rosto, deliciava-me como o picadinho da sua barba na ponta dos
meus dedos. Ele encostou os lábios aos meus, e senti suas mãos suaves cercarem
o meu corpo.
Não sei se sobreviveria mais tempo sem ti,
não vás agora… Fica mais um bocadinho… Por favor… Fica.
Ele
sentia o mesmo que eu sentia, compartilhávamos a mesma vontade em ficar. Nossos
interiores gritavam revoltados com as leis da nossa existência.
Ele era o amor da minha vida, e eu, o
amor da vida dele. Mas eu sabia que
ele era uma pessoa de outro tempo ou de outra dimensão, que eu encontrara nas
minhas viagens. Nunca entendi bem de onde ele veio, nem suas origens, mas uma
coisa eu tinha certeza, depois de todo o nosso tempo juntos: Ele era o meu maior achado!
Mas
eu não podia ficar com ele para sempre…
Abri-me,
retribuindo as caricias, envolvendo meus braços em seu pescoço, puxando-o mais
para mim, deixando que ele me dominasse enquanto trocava-mos mais beijos
escaldantes.
Queria
tornar-me um só, mais uma vez, com ele.
Pelo
menos… Só mais uma vez… Uma última vez…
Estremecia
de prazer, desejosa por mais. Desesperada em aproveitar todo o tempo que eu
podia ao lado dele.
Nós
dois sempre ambicionávamos mais.
Muito
mais.
Queria
ficar ali assim com ele. Queria que isto durasse para sempre.
Mas
um trovão ressoou ao longe, e foi como se eu fosse atingida pelo raio.
Foi
o trovão que me trouxe de novo à realidade.
À minha realidade.
As
paredes de cristal que nos rodearam tremeram, e, lentamente, iam deixando de
brilhar e tremeluzir seus sons encantados. Os tremores se intensificavam, e as
rochas iam caindo uma após outra até se tornarem numa chuva sem fim.
Toda a nossa ousadia… Já tinha sido…
Demasiada para aquele poder.
Afastei-me
dele, parecia que nós dois nunca
antes nos havíamos tocado de tão distantes que agora nos encontrávamos.
–
CORRE! SALVA-TE – o ouvi gritar, na
minha direção, um grito que terminou em apenas um eco distante, cujo final ninguém
conseguia ouvir.
O
lagarto escarlate rugiu, tomando-me nos seus braços face ao perigo que agora
sentíamos quando tudo estava para se desmoronar. Quando dei por mim, estava
montada no seu lombo, e ele, lá ao
longe, seguindo uma estrada completamente oposta na gruta de cristal, montado
no lagarto violeta. Ambos éramos separados por uma barreira impenetrável de
cristal invisível e uma chuva de estalactites.
O Paraíso estava a se desmoronar.
O nosso Paraíso...
E
eu… Eu não podia. Não podia deixar-me levar novamente ao seu toque. Não podia
ceder novamente àquela paixão incontrolável.
Respirei
fundo. Aguentava não desatar a soltar rios de lágrimas.
Nossas
respirações pesavam de tristeza. Sentia a dele, angustiante, e a minha.
Dois
corações destroçados. Dois corações loucamente apaixonados, tão longínquos um
do outro.
Meu
interior lamentava. Tal igual como o dele por estar tão longe de mim agora.
Ainda
fugi da proteção do lagarto escarlate e tentai alcançá-lo, ainda tentai esticar
o meu braço na sua direção, ainda corri, corri… Corri tanto, tanto até ele. Mas tropecei, e caí… E o lagarto
escarlate alcançou-me, e, mais uma vez nos braços dele, puxou-me para mais
longe, para mais longe dali, na direção contrária ao do meu amado.
Não
consegui. Todo o esforço fora em vão.
Não
segurei a sua mão.
O
lagarto escarlate acelerou, acelerou tanto sua fuga até ficar sem fôlego,
escalando as paredes e fugindo dos cristais que caíam por todo o local e se
estilhaçavam por todo o chão, tornando-se numa fina poeira branca.
Toda
a minha vida passou-me em frente aos olhos, cegada pelo espectáculo intemporal.
Eu
ainda era nova, muito nova, talvez devia ter ligado ao que meu pai dissera,
talvez não me devia ter metido naquelas aventuras.
Aquelas malditas aventuras… Ou bruxarias,
como meu pai as chamava.
Parecia
que estava tudo sobre controlo, seguindo o trilho marcado de regresso à
realidade. Ao passar por um caminho estreito, o lagarto escarlate rugiu alto,
quando parte de seu corpo fora atingida por uma pedra pesada do teto, que havia
cedido em poucos instantes. O chão inteiro, debaixo de nós, estremeceu outra
vez e desmoronou-se devido ao peso súbito da queda da pedra e do lagarto sobre
sua superfície.
E
nós os dois caímos num abismo tão escuro que pareceu um poço sem fim.
Nós
dois tínhamos que aceitar, por muito que nos custasse.
Tínhamos
que abraçar a realidade do presente que nos encobria.
Eu
era do Passado.
Ele
era do Futuro.
Vivíamos
um amor proibido.
Vivíamos
um amor impossível.
Há
muito tempo que eu não recordava o quanto era difícil sentir o meu corpo assim
tão dolorido.
Abri
os olhos devagar, tentando processar o que acontecera. O meu Pokémon estava
deitado no chão, mesmo ao meu lado. O dragão continha partes do seu corpo
enfaixadas, mas parecia bem e saudável tendo em conta o brilho das suas escamas
escarlate.
Pisquei
os olhos novamente, ainda a tentar retornar à consciência.
–
Não façam barulho, ela está a acordar
– ouvi alguém dizer, próximo do sítio onde eu me encontrava deitada.
Quando
dei por mim, encontrava-me no interior de uma casa, só que era uma casa muito
estranha, cujas paredes pareciam revestidas totalmente por metal. Objetos
estranhos e de dimensões variáveis enfeitavam o meu redor, soltando bipes que
mais tarde vim a descobrir serem máquinas que mediam meus sinais vitais.
Pessoas de uniforme branco me rodeavam, com olhares curiosos e um tanto
hesitantes.
Olhei com medo para a multidão de espectadores curiosos.
–
De onde vieste? Sentes-te melhor? Encontramos-te
desmaiada ao lado daquele Cyclizar estranho – disse um deles na minha
direção, quando sentiram ser a melhor altura para falar.
Neguei
com a cabeça. Não conhecia aquele homem de parte nenhuma, nem mais ninguém.
Devia confiar neles? O idioma de cada um também era muito estranho, e eu nem
tinha a certeza como eu o compreendia. Pisquei os olhos várias vezes, e mais
umas quantas outras. Eles deram-me água, calculando eu estar com sede. Aquele
líquido transparente era a única coisa que vi como familiar no meio de tudo
aquilo, que logo saciou-me a cede, apesar de, mais tarde, ter notado um quadro
com vários exemplares de mariposas exposto na parede, entre eles um Venomoth de
tamanho colossal.
Por
instantes esqueci-me da minha real identidade, mas minha mente ainda ia
avivando aos poucos.
–
Chamo-me Clavell – apresentou-se o
único pesquisador do grupo que se aproximou, com um sorriso, apesar de não ser
o sorriso mais indicado para a ocasião, transmitiu uma sensação de conforto
indescritível. – O teu Cyclizar foi avistado a sair da cratera contigo nos
braços, estavas inconsciente, e te resgatámos.
Cratera? Cyclizar? Do que eles estavam a
falar?
Pisquei
os olhos mais uma vez, apesar da minha incerteza se devia ou não confiar
naquelas pessoas estranhas, meus lábios abriram-se, automaticamente,
entregando-lhes a resposta que eles ansiavam ouvir e que eu própria não soubera
bem porque viera.
–
Sada. Chamo-me Sada. É um prazer conhecer-vos.
Fiquei
vários dias ali com eles, aprendendo sobre aquele estranho mundo e eles
aprendendo mais sobre o passado mundo que era o meu.
O mais estranho de tudo isso foi que, quando exposta a testes, aquela equipa de pesquisadores rapidamente viu algo na minha inteligência que não haviam encontrado em mais nenhum lugar. Era algo que eles gostavam de chamar de dom ou talento, pois, sem saber bem como, eu tinha a capacidade de solucionar quaisquer problemas ou equações cuja resposta muitos não conseguiam lá chegar. Não sei se era por isso, ou por eu ser uma completa estranha, mas eles me tratavam sempre muito bem. Eles me davam uma atenção e carinho bem especial e é difícil exprimir-me no quanto sou lhes grata por isso.
Na
altura, eu não sabia, mas agora posso garantir a todos vocês: foi, a partir
daquele fatídico encontro e naquela maré nova de aprendizado e amizade, que as minhas
asas se abriram nas correntes que me levariam ao caminho da luz.
O
caminho que me faria quebrar todas as normas, e tornar o meu paraíso impossível na mais bela das realidades
possíveis, ao lado do meu amor.