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Ela sempre amou dias de chuva. E aquele em particular, parecia o dia mais chuvoso que ela vira nos últimos anos. Era cada pancada de aguaceiro na janela, com tanta força capaz de assustar muitos, mas ela não.
Amava demasiado aquele clima escuro para ter medo de apenas umas gotinhas.
Desligou as luzes e, deitada de barriga para cima na cama, deixou-se levar. Levou o pensamento até outros tempos, tempos distantes, quando era menor, mais baixa, mais nova. O seu eu de criança. Era ele que agora ali estava em seu lugar.
E um dos mais marcantes momentos da sua infância nos dias de chuva, era um velho jogo de simulação de vida que ela jogava em dias como aqueles, no sofá da sala da casa. Sempre amara aquele jogo particular, e sempre viajara com ele para outros mundos, escapando da sua realidade fria.
Era como se ainda sentisse o peso do pequeno aparelho eletrónico em suas mãos, enquanto ouvia a faixa de musica melancólica do jogo. Tentou lembrar-se dos detalhes mais a fundo. E aos poucos as recordações começaram a ficar mais nítidas.
Uma delas era um cenário que, certa vez, ela própria construira com os recursos do jogo que tinha. Uma velha casa de madeira, uma cabana, rodeada de árvores, cujo o único recheio era um piano vulgar, no centro das paredes vazias.
A personagem do jogo foi até lá e começou a tocar. Cada tecla era o ping ping da chuva lá fora, e era como se cada melodia copiava ou acompanhava a própria soundtrack do jogo.